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AGIOTAGEM E LESãO

No documento Revista V. 106 n. 2 (páginas 132-135)

R EVI STA DE D OUTRI NA E J URI SPRUD êNCI A . 50. B RAS íLI A . 106 (2). JURI SPRUD êNCI A / JAN- JUN 2015

não ficou minimamente demonstrada a prática da agiotagem – haja vista a ausência de prova docu- mental –, o que obsta a incidência do art. 3º da supracitada medida Provisória.

nesse sentido, transcreveu o seguinte julgado deste egrégio Tribunal de Justiça:

PROceSSO cIvIL e cOmeRcIAL. emBARGOS À eXecuçãO. TÍTuLO De cRÉDITO. nOTA PROmISSÓRIA. DIReITO PeSSOAL. TAXA De JuROS. SuPeRIOR AO PeRmITIDO. AGIOTA- Gem. veROSSImILHAnçA DA ALeGAçãO. InveRSãO DO ÔnuS DA PROvA. 

I. Se as notas promissórias que embasam a execução não circularam, é possível a dis- cussão do negócio jurídico subjacente, mormente quando a exceção se fundamenta em direito pessoal.

II. São nulas de pleno direito as estipulações usurárias, assim consideradas as que esta- beleçam, nos contratos civis de mútuo, taxas de juros superiores às legalmente permiti- das (art. 1º da mP nº 2.172-32/2001).

III. verificando-se que há fortes indícios de que o negócio jurídico decorre de prática ilí- cita, mediante empréstimo de dinheiro com incidência de juros acima do permitido, fica configurada a prática de agiotagem.

Iv. Havendo verossimilhança da alegação de prática de agiotagem, cabível a inversão do ônus da prova, incumbindo ao credor ou beneficiário do negócio jurídico o ônus de provar a regularidade jurídica da obrigação (art. 3º da mP nº 2.172-32/2001).

v. negou-se provimento aos recursos (TJDFT, 6ª Turma cível, Acórdão nº 654198, APc20090111434223, Relator Designado Desembargador José Divino de Oliveira, DJe de 19/02/2013, p. 198).

no tocante à pretensão de declaração de nulidade de atos jurídicos, o i. Relator salientou que a lesão, disposta no art. 157 do código civil, consubstancia modalidade de vício do negócio jurídico e exige, para a sua configuração, a demonstração do requisito objetivo, qual seja, a desproporcio- nalidade da obrigação, e do requisito subjetivo, isto é, o estado de premência. confira-se excerto de seu voto, in verbis:

O instituto da lesão justifica-se como forma de proteção ao contratante que se encontra em estado de inferioridade. A vontade é entendida como viciada, contaminada por pres- sões de natureza variada. em sua origem, o instituto da lesão equivalia à alienação da coisa por menos da metade de seu justo preço ou valor.

Há, nesse defeito do negócio, elemento objetivo, representado pela desproporção do pre- ço, desproporção entre as prestações, mas há também elemento subjetivo, representado pelo estado de necessidade, inexperiência ou leviandade de uma das partes.

O requisito subjetivo é o que a doutrina chama dolo de aproveitamento e afigura-se na circunstância de uma das partes aproveitar-se da outra pela inexperiência, leviandade ou estado de premente necessidade. Tais situações psicológicas são aferidas no mo- mento do contrato. não há necessidade de que o agente induza a vítima à prática do ato, nem é necessária a intenção de prejudicar. Basta que o agente se aproveite dessa situação de inferioridade em que é colocada a vítima, auferindo lucro desproporcional e anormal. verificados esses dois pressupostos, o ato é anulável (TJDFT, 5ª Turma cível, Acórdão nº 859711, APc20120910040493, Relator Desembargador João egmont, DJe de 14/04/2015, p. 316).

Para ilustrar o tema, destacou o seguinte ensinamento de maria Helena Diniz:

Lesão. É um vício de consentimento decorrente do abuso praticado em situação de desi- gualdade de um dos contratantes, por estar sob premente necessidade, ou por inexperi- ência, visando protegê-lo, ante o prejuízo sofrido na conclusão do contrato comutativo, devido à desproporção existente entre as prestações das duas partes, dispensando-se a verificação do dolo, ou má-fé, da parte que se aproveitou (in: código civil Anotado, 10. ed., Saraiva, p. 171).

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especificamente em relação ao caso dos autos, asseverou a ausência de conjunto fático- -probatório hábil a demonstrar a desproporção entre o valor do imóvel dado em garantia e o da obrigação – pois não realizada perícia contábil nem provado o valor do débito – e o estado de neces- sidade da autora.

Dessarte, concluiu que a falta de elementos probatórios referentes à existência de vício no negócio jurídico e a presença de todos os requisitos de validade necessários para a sua cele- bração impõem a manutenção da sentença, a qual julgou improcedentes os pedidos formulados na peça vestibular.

A egrégia 5ª Turma cível, à unanimidade, com espeque nos fundamentos expendidos pelo e. Relator, negou provimento ao recurso.

R EVI STA DE D OUTRI NA E J URI SPRUD êNCI A . 50. B RAS íLI A . 106 (2). JURI SPRUD êNCI A / JAN- JUN 2015 Acórdão 841303 Des Flavio Rostirola Relator – 3ª Turma Cível

SOMENTE O TRANSEXUAL QUE JÁ SE SUBMETEU À INTERVENÇÃO CIRÚRGICA PARA A MUDANÇA DE SEXO ENCONTRA-SE AMPARA- DO LEGALMENTE PARA A ALTERAÇãO DO DESIGNATIvO DE SEXO NO REGISTRO CIvIL

O autor, em razão da sua transexualidade, ajuizou ação de altera- ção de registro civil, objetivando a modificação do seu assento de nasci- mento relativamente ao gênero, de masculino para feminino.

O juiz de primeiro grau julgou improcedente o pedido, por con- siderar como condição imprescindível a realização de cirurgia de modi- ficação do sexo.

em apelação, o autor suscitou preliminar de cerceamento de defe- sa, em razão de o juízo a quo ter indeferido o pedido de prova oral, cujo ob- jetivo seria a comprovação de que o apelante se sente, vive e se apresenta em sociedade como se fosse uma mulher.

no mérito, enfatizou que está recebendo acompanhamento médico no Hospital universitário de Brasília – HuB, foi diagnosticado como tran- sexual (cID 64.0), faz uso de hormônio feminino e já foi considerado apto pela equipe médica para a realização da cirurgia de redesignação sexual, contudo, teria que aguardar a sua vez em fila de espera no Sistema único de Saúde. Alegou que a maneira como se reconhece quanto ao gênero não seria alterada com a cirurgia em si, havendo apenas a adequação do seu estado emocional ao físico. Destacou o imenso desconforto e constrangimento que passa em razão da indicação do sexo masculino em seu registro civil, total-

No documento Revista V. 106 n. 2 (páginas 132-135)

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