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O ABUSO COM RELAÇÃO AO DIREITO DE CORREÇÃO VISANDO À EDU CAÇÃO CARACTERIZA O CRIME DE MAUS-TRATOS (CP, ART 136), JÁ A

No documento Revista V. 106 n. 2 (páginas 171-174)

DIREITO À MORADIA – OCUPAÇÃO DE ÁREA PÚBLICA

O ABUSO COM RELAÇÃO AO DIREITO DE CORREÇÃO VISANDO À EDU CAÇÃO CARACTERIZA O CRIME DE MAUS-TRATOS (CP, ART 136), JÁ A

VIOLÊNCIA PROVOCADA POR MERO PRAZER, SADISMO OU ÓDIO TIPI- FICA O CRIME DE TORTURA (LEI Nº 9.455/97, ART. 1º, INCISO II)

A eg. 3ª Turma criminal, por maioria, deu parcial provimento ao re- curso interposto pelo réu apenas para reduzir a pena privativa de liberdade fixada na sentença condenatória para sete anos e sete meses de reclusão.

em embargos de divergência, a defesa pugnou pela prevalência do voto minoritário, que desclassificou a conduta de tortura-castigo (Lei nº 9.455/1997, art. 1º, inciso II, c/c o seu § 4º, por cinco vezes) para maus- -tratos (cP, art. 136, § 3 º, por três vezes).

Inicialmente, o i. Relator, Desembargador Silvanio Barbosa, tra- çou as linhas que diferenciam os dois crimes.

esclareceu que o delito de maus-tratos, previsto no art. 136 do códi- go Penal, requer a presença do animus corrigendi ou disciplinandi. Por sua vez, o crime de tortura-castigo, disposto no art. 1º, inciso II, da Lei nº 9.455/1997, exige do agente agressor a finalidade específica de aplicar castigo pessoal à vítima, podendo ser praticado mediante agressões físicas ou aflições psí- quicas diretas a quem se pretende castigar ou a terceiros a ele afetos.

Assentou que a distinção entre esses crimes está na vontade do autor da conduta e no resultado provocado na criança ou no adolescente. O abuso com relação ao direito de correção visando à educação caracteriza maus-tratos, já a violência provocada por mero prazer, sadismo ou ódio configura o delito de tortura.

R EVI STA DE D OUTRI NA E J URI SPRUD êNCI A . 50. B RAS íLI A . 106 (2). JURI SPRUD êNCI A / JAN- JUN 2015

Para ilustrar o tema, colacionou as considerações de Ana Paula nogueira Franco:

Assim, haveria tortura quando o elemento fosse de dano à integridade física, e maus- -tratos quando a consciência e aceitação se dirigissem, no máximo, a gerar perigo. Outra diferença apontada pela doutrina e pela jurisprudência, embora nem sempre seja fácil a distinção, é que no crime de maus-tratos o sofrimento é imposto com fins de educação, tratamento, ensino ou custódia.

na tortura, o fim é impor castigo pessoal, por ódio, vingança ou outro sentimento vil. Já se decidiu que, na tortura, a intenção é o padecimento da vítima, enquanto no crime de maus-tratos o que se busca é a correção. É claro que, nesse caso, a intensidade do sofri- mento causado é sempre levada em consideração (Distinção entre maus-tratos e tortura e o art. 1º da Lei da Tortura. Boletim do IBccrim, n. 62, jan. 1998, p. 11).

Do contexto fático-probatório, observou o e. Relator que o acusado, pai das cinco vítimas, à época com idade entre sete e treze anos, possuía a guarda dos filhos; a mãe biológica apresentava sérios vícios de comportamento, era, inclusive, usuária de substâncias entorpecentes e não tinha mais contato com as crianças.

Após o falecimento de outra mulher, que se tornara a companheira do réu, a família passou a viver de benefícios previdenciários (pensão por morte) e assistenciais (bolsa-família), em estado de grande penúria e falta de higiene.

no tocante às agressões, assim ressaltou o i. Relator:

O acusado faz o uso abusivo de bebidas alcoólicas e não realiza as tarefas domésticas do seu lar. Os relatos das vítimas e das testemunhas dão conta que eram as crianças mais velhas que cuidavam das mais novas, pois o genitor ou estava embriagado ou estava dor- mindo. elas, por exemplo, faziam a comida, limpavam a casa, lavavam as próprias rou- pas, além de se acompanharem para irem à escola.

O réu demonstrava um comportamento agressivo em relação aos seus filhos, sobretudo em razão do constante uso de bebidas alcoólicas. A prova colhida esclareceu que, por ve- zes sob a justificativa de corrigir o comportamento das crianças e outras vezes por mero sadismo, em diversas oportunidades o réu agrediu as vítimas severamente, utilizando objetos como: chinelos, segmentos de madeira, ferro, fivelas de cinto, cabo de vassoura, borracha de pneu; além de também agredir moralmente, insultando-as com xingamen- tos a todo o momento.

não bastasse isso, em algumas oportunidades o acusado privou as crianças de come- rem o jantar habitualmente oferecido por um vizinho (que se compadecia da situação de penúria da família), fazendo-as dormir com fome para que ele próprio comesse. Além disso, também existem relatos dando conta que o acusado determinava que as crianças ficassem de joelhos olhando para a parede enquanto ouviam a programação da televisão, com o intuito de tão somente demonstrar sua autoridade sobre elas.

(...) vale acrescentar que os laudos de fls. 173-173v, 175-175v e 176-176v indicam em três das vítimas lesões recentes, muito provavelmente causadas por agressões realizadas pelo acusado, conforme seus relatos prestados na fase policial e na fase judicial (TJDFT, câmara criminal, Acórdão nº 844193, Rel. Desembargador Silvanio Barbosa dos Santos, DJe 30/01/2015, p. 64).

com base nas narrativas das vítimas e testemunhas, concluiu o e. Relator que as agressões físicas e psicológicas praticadas reiteradamente pelo réu não tiveram por finalidade corrigir ou educar as crianças, mas sim ocasionar intenso sofrimento físico e psicológico, como forma de lhes aplicar castigo pessoal.

R EVI STA DE D OUTRI NA E J URI SPRUD êNCI A . 50. B RAS íLI A . 106 (2). JURI SPRUD êNCI A / JAN- JUN 2015

Por conseguinte, consignou que as condutas praticadas pelo acusado se amoldam perfeita- mente à figura típica do delito de tortura-castigo, prevista no art. 1º, inciso II, c/c o seu § 4º, inciso II, da Lei nº 9.455/1997.

no mesmo sentido, indicou os seguintes julgados desta corte de Justiça:

(...) 3. estando comprovado nos autos que o recorrente submeteu a vítima, criança de 08 (oito) anos de idade que se encontrava sob sua autoridade, a intenso sofrimento físico e mental inclusive, privando-a de brincar, de se alimentar, de ir para a escola ou sair de casa, encontra-se devidamente configurado o crime previsto no art. 1º, inciso II, da Lei nº 9.455/1997, não havendo que se falar em absolvição e tampouco em desclassificação para o crime de maus-tratos (...) (TJDFT, 2ª Turma, Acórdão nº 806896, APR 20090210022266, Rel. Desembargador Roberval casemiro Belinati, DJe 29/07/2014, p. 341).

(...) não há que se falar em desclassificação do crime de tortura para o de maus-tratos se dos autos ressai, com a certeza necessária, que o acusado agiu movido pela intenção de submeter as vítimas a intenso sofrimento físico e moral como forma de castigo (...) (TJDFT, 1ª Turma criminal, Acórdão nº 759153, APR 20080910130200, Rel. Desembarga- dor Romão c. Oliveira, DJe 24/02/2014, p. 248).

com supedâneo nesses fundamentos, a eg. câmara criminal negou o pleito desclassificató- rio, mantendo integralmente o acórdão embargado.

R EVI STA DE D OUTRI NA E J URI SPRUD êNCI A . 50. B RAS íLI A . 106 (2). JURI SPRUD êNCI A / JAN- JUN 2015 Acórdão 863994 Des João Batista

Relator –3ª Turma Criminal

ESTELIONATO – INTERMEDIAÇãO NA

No documento Revista V. 106 n. 2 (páginas 171-174)

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