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RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DA EMPRESA INTERMEDIADORA DO PAGAMENTO

No documento Revista V. 106 n. 2 (páginas 151-154)

A FALhA NA PRESTAÇãO DO SERvIÇO DA EMPRESA INTERMEDIADO- RA DO PAGAMENTO REALIZADO PELA INTERNET, AO NÃO DAR EFE- TIvIDADE AO DIREITO DO CONSUMIDOR DE CANCELAR O PEDIDO E REQUERER A DEvOLUÇãO DO DINhEIRO NO CASO DE INSUCESSO DA COMPRA, GERA O DEVER DE INDENIZAR

A 2ª Turma cível, por unanimidade, reconheceu a responsabilidade solidária da empresa contratada para fazer a intermediação do pagamen- to de negociação de compra e venda realizada pela internet, que não deu efetividade ao direito do consumidor de cancelar o pedido e requerer a de- volução do dinheiro no caso de ausência de entrega do produto ou serviço.

As autoras ajuizaram ação de reparação por danos materiais e mo- rais por não terem conseguido usufruir de um pacote de hospedagem em Paris, comprado via internet.

O juiz da 14ª vara cível de Brasília julgou procedentes os pedidos para condenar universo Online S/A a restituir o valor de R$ 1.469,23 (mil quatrocentos e sessenta e nove reais e vinte e três centavos) a tí- tulo de danos materiais e ao pagamento de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de danos morais.

em apelação, a empresa ré suscitou a preliminar de ilegitimida- de passiva, ao argumento de ser mera intermediadora do negócio jurídico entabulado entre as apeladas e a empresa que ofereceu o pacote turístico via internet. no mérito, argumentou que não realiza compra e venda, mas que apenas presta serviço de gestão de pagamento, garantindo, assim, a segurança de compradores e vendedores que realizam transações pela in- ternet, serviço conhecido como PagSeguro. Prosseguiu alegando a exis-

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tência de culpa exclusiva das consumidoras por não terem seguido o procedimento que garantiria a compra com segurança, qual seja, a realização da chamada “disputa”, que viabilizaria a retenção do pagamento pela PagSeguro até a solução do problema ou rescisão do contrato entre as partes, o que poderia ser efetuado no prazo de até 14 (quatorze) dias a contar da confirmação do pagamento.

no tocante à preliminar, a e. Relatora, Desembargadora Leila Arlanch, ressaltando a aplica- ção da legislação consumerista ao caso, consignou que aquele que participa da negociação, mesmo que apenas intermediando as transações entre o consumidor e terceiros, faz parte da cadeia de con- sumo, possuindo, assim, legitimidade para figurar no polo passivo das ações de indenização pelos danos eventualmente causados ao consumidor. Destacou, ainda, que a responsabilidade é objetiva, ou seja, independe da demonstração de culpa. nesse sentido, colacionou o seguinte julgado desta corte de Justiça, in verbis:

JuIzADO eSPecIAL. cÓDIGO De DeFeSA DO cOnSumIDOR. cOmPRA De PRODuTO PeLA InTeRneT. PReLImInAR De ILeGITImIDADe PASSIvA. emPReSA PReSTADORA De SeR- vIçOS. InTeRmeDIADORA nO PAGAmenTO. FORnecImenTO De SITE PARA neGOcIA- çÕeS. DeFeSA PROceSSuAL ReJeITADA. DISPOnIBILIzAçãO De meIO De PAGAmenTO POR InTeRmeDIAçãO. FIXAçãO De PRAzO PARA O ReceBImenTO DA meRcADORIA. POSSIBILIDADe De SuSPenDeR O RePASSe DO DInHeIRO meDIAnTe ABeRTuRA De “DISPuTA”. InOBSeRvÂncIA DAS ReGRAS PeLO cOnSumIDOR. ASSunçãO De RIScO. vÍcIO nA PReSTAçãO DO SeRvIçO AFASTADO. RecuRSO PARcIALmenTe PROvIDO. 1. Tratando-se de prestação de serviços de gestão de pagamentos entre vendedor e com- prador pela internet, aplicável o código de Defesa do consumidor. Quem aufere van- tagem econômica ou de qualquer outra natureza, por intermediar transações entre o consumidor e terceiros, assume a qualidade de participante da cadeia de consumo e, por- tanto, tem legitimidade para responder pela ação de perdas e danos frente aos prejuízos causados ao comprador (par. único do art. 7º e § 1º do art. 25, cDc).

2. no caso sub judice, a empresa intermediária é parte legítima para responder às preten- sões do consumidor, onde se alegou a existência de prejuízo decorrente de fato ou vício na prestação dos serviços. A responsabilidade civil é objetiva, ou seja, independe da demons- tração da culpa, porque fundada no risco da atividade econômica. Preliminar rejeitada. 3. A responsabilidade do fornecedor do serviço somente é afastada, se comprovar a ine- xistência de vício, a culpa exclusiva de terceiro ou do consumidor (art. 14, cDc).

4. no caso presente, a negociação de compra e venda foi realizada em site construído para terceiros oferecerem seus produtos e interessados comprarem. De igual modo, foi dispo- nibilizada a intermediação do pagamento entre as partes, de modo a conferir segurança ao consumidor no recebimento do produto adquirido. Para tanto, o produto deveria ser entregue em até 14 (quatorze) dias, caso contrário o comprador deveria comunicar o fato, para que o pagamento fosse suspenso, dando-se abertura ao procedimento de “disputa” (...) (TJDFT, 1ª Turma Recursal dos Juizados especiais cíveis e criminais do DF, Acórdão nº 811133, AcJ20120110592749, Relator Juiz Luís Gustavo B. de Oliveira, DJe 18/08/2014, p. 275).

Quanto ao mérito, a eminente Relatora narrou que as apeladas realizaram a compra de pa- cote turístico de hospedagem no exterior em 09/06/2011, com validade de um ano, e que, somente a partir de 10/06/2012, estaria encerrado o prazo para a entrega da mercadoria ou serviço, bem como configurado o descumprimento da obrigação pelo vendedor. Patente, portanto, a impossibilidade de as apeladas exercerem, dentro do prazo de 14 (quatorze) dias a contar da confirmação do paga- mento, o direito de pedir devolução dos valores pagos, haja vista que, até aquela data, não havia motivo para “abrir a disputa”.

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confira-se o seguinte trecho do seu voto, in verbis:

nota-se, desta feita, a existência de falha na prestação do serviço da empresa/apelante, tendo em vista que, para dar efetividade ao direito prometido ao consumidor de cancelar o pedido e requerer a devolução do dinheiro pela ausência de entrega do serviço, precisaria haver uma coerência entre ofertado pelo vendedor e o oferecido pela empresa/apelante. constata-se que as apeladas confiaram no serviço prestado pela empresa/apelante que oferecia segurança à contratação justamente pela possibilidade de devolução dos valores pagos se não ocorresse o recebimento da mercadoria.

Dessa feita, não há como se imputar desídia, ou culpa exclusiva ao consumidor, que afas- taria a responsabilidade objetiva da empresa/apelante, tendo em vista a falha na pres- tação do serviço da empresa/apelante, na medida em que não dispôs de prazo suficiente para o comprador exercer o seu direito (TJDFT, 2ª Turma cível, Acórdão nº 852605, APc 20130111591895, Relatora Desa. Leila Arlanch, DJe 06/05/2015, p. 245).

Quanto à ocorrência de dano moral, a e. Relatora consignou que a prova se satisfaz, in casu, com a demonstração do fato que ocasionou o dano e pela experiência comum. Aduz que as compras realizadas por meio da internet sujeitam o consumidor a uma vulnerabilidade maior que as feitas de forma presencial, uma vez que as informações prestadas são de difícil comprovação. Dessa forma, a empresa que oferece como objeto principal do seu serviço a segurança nas transações realizadas virtualmente, ao frustrar a legítima expectativa do consumidor de reaver seu dinheiro, no caso de insucesso do negócio, expõe esse consumidor, que já estava em posição vulnerável, a uma situação de completo desamparo.

Assim, concluiu que ficaram configurados dois abalos morais às autoras, o primeiro em de- corrência da não hospedagem no exterior e o segundo em decorrência da sujeição a uma vulnerabi- lidade maior do que a inicialmente prevista.

Destarte, com fulcro nos argumentos apresentados pela Desembargadora Relatora, a eg. 2a

R EVI STA DE D OUTRI NA E J URI SPRUD êNCI A . 50. B RAS íLI A . 106 (2). JURI SPRUD êNCI A / JAN- JUN 2015 Acórdão 842268 Des José Divino Relator – 6ª Turma Cível

No documento Revista V. 106 n. 2 (páginas 151-154)

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