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FACEBOOK – LEGIMITIDADE PASSIvA

No documento Revista V. 106 n. 2 (páginas 181-184)

POR CONSTITUIR DIREITO AUTÔNOMO E ABSTRATO, O DIREITO DE AÇãO NãO ESTÁ vINCULADO A QUALQUER PROvA DO DIREITO POS- TULADO EM JUÍZO E ENSEJA QUE AS CONDIÇÕES DA AÇÃO, ENTRE ELAS A LEGITIMIDADE, NÃO SE SUBORDINEM OU SE CONFUNDAM COM A ANÁLISE DE MÉRITO

A autora ajuizou ação cominatória cumulada com indenização por danos morais em desfavor da Facebook Serviços Online do Brasil Ltda.

em sua peça inicial, reclamou do fato de terem sido veiculadas fo- tos suas em trajes íntimos, sem a devida autorização, na rede social ele- trônica administrada pela ré. Sob a alegação de ofensa à sua honra, pugnou o bloqueio do acesso à página do grupo que disponibilizou a sua imagem, o fornecimento dos dados cadastrais do responsável pelo domínio desse grupo e do número do IP da conta respectiva, bem como a condenação ao pagamento de indenização por danos morais.

A juíza de primeiro grau, considerando a autora carecedora do di- reito de ação, indeferiu a petição inicial e julgou extinto o processo, com base nos arts. 295, II, e 267, vI, do código de Processo civil.

conforme consta da sentença judicial, a eminente juíza entendeu não ser possível atribuir a uma rede social de internet, que, a seu ver, é apenas a fornecedora de meios para pessoas trocarem informações e ima- gens, a responsabilidade por eventuais excessos cometidos por seus usuá- rios. Acrescentou que a ré somente poderia responder por eventuais danos morais se tivesse desconsiderado notificação para a exclusão da referida imagem, o que não teria ocorrido in casu. Também concebeu inviável a re-

Acórdão 846773 Des Teófilo Caetano Relator – 1ª Turma Cível

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moção total do perfil reclamado, sob pena de ofensa à livre manifestação do pensamento, direito consagrado constitucionalmente no art. 5º da constituição Federal.

em apelação, a autora pleiteou a cassação da sentença judicial e, no mérito, a procedência do pedido originalmente formulado. Aduziu que, apesar de ter comunicado a ré sobre o conteúdo ofen- sivo da referida postagem, não foi providenciada a sua remoção. Também sustentou que a exclusão do conteúdo denunciado não pode ser considerada como ato de censura, na medida em que a mani- festação do pensamento, a liberdade de comunicação e o acesso à informação não podem prevalecer em detrimento dos direitos à honra e à imagem da pessoa.

O eminente Relator, Desembargador Teófilo caetano, considerando preenchidos os pressu- postos objetivos e subjetivos de recorribilidade, conheceu do apelo.

Inicialmente, ressaltou que “consubstancia verdadeiro truísmo que a legitimidade para a causa deriva da coincidência das partes com os sujeitos da relação jurídica de direito material controversa”.

Para ilustrar o tema, destacou o seguinte ensinamento de Arruda Alvim:

A legitimatio ad causam é a atribuição, pela lei ou pelo sistema, de direito de ação ao autor, possível titular ativo de uma dada relação ou situação jurídica, bem como a sujeição do réu aos efeitos jurídico-processuais e materiais da sentença (manual de Direito Proces- sual civil, 9. ed., p. 359).

O ilustre Relator salientou que, embora a Facebook Serviços Online do Brasil Ltda. não os- tente responsabilidade pelas publicações de seus usuários na rede social que disponibiliza na rede mundial de computadores, pode eventualmente responder por danos morais na hipótese de reni- tência em excluir eventuais veiculações ofensivas após ter sido notificada para esse desiderato.

Também observou que a ré, como provedora da rede social na qual foram divulgadas as foto- grafias da apelante, é a única legitimada, se for o caso, a obstar a veiculação da página eletrônica apon- tada e, sobretudo, a viabilizar a identificação dos responsáveis pela difusão supostamente indevida.

Apesar de reconhecer que não há como se constatar, de início, a verossimilhança dos fatos alegados pela autora, enfatizou que a legitimidade ad causam deve ser aferida apenas à luz dos fatos alegados na petição inicial, ou seja, in status assertionis, sob pena de ofensa à concepção abstrata do direito de ação, que é adotada em nosso ordenamento jurídico. Pontificou que o direito de ação é autônomo e abstrato, razão pela qual não está vinculado a qualquer prova do direito postulado em juízo. Dessa maneira, as condições da ação, entre elas a legitimidade, não se subordinam ou se con- fundem com a análise de mérito do direito reclamado.

confira-se o seguinte excerto do seu voto, in verbis:

conseguintemente, sob o prisma da teoria da asserção que pauta o exercício do direito subjetivo de ação, a apelada, guardando vinculação com os fatos içados como sustentação das pretensões formuladas, está revestida de legitimidade para compor a angularidade passiva da lide. A apreensão ou não dos pressupostos necessários à sua responsabilização consubstancia, de sua parte, matéria atinente exclusivamente ao mérito, não podendo ser resolvida sob o prisma das condições da ação.

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(...) Assim, para que se possam identificar as condições da ação, basta aferir se, diante das assertivas deduzidas na petição inicial pelo autor, o réu está efetivamente legitimado para se defender em juízo por guardar vinculação subjetiva com os fatos e com a pre- tensão. e isso porque o legislador processual, na expressão do dogma constitucional da inafastabilidade da jurisdição, encampara a teoria eclética da ação. Assim é que o direito subjetivo público de ação não se amalgama com a previsão material do direito invocado nem seu exercício tem como pressuposto de aferição da subsistência de suporte mate- rial apto a aparelhar o pedido. Afigurando-se o instrumento processual adequado para a obtenção da tutela pretendida, útil e necessário à perseguição e alcance da prestação e guardando as partes pertinência subjetiva com a pretensão, as condições da ação e os pressupostos processuais necessários à deflagração da relação processual restam aper- feiçoados (TJDFT, 1a Turma cível, Acórdão nº 846773, APc 20140810049664, Relator Des.

Teófilo caetano, DJe 06/02/2015).

Para corroborar o seu posicionamento, o ilustre Relator colacionou o seguinte julgado:

PeTIçãO. PeDIDO InIBITÓRIO. FACEBOOK. PeRFIL. cOmunIDADe. PReLImInAR De In- cOmPeTêncIA DA JuSTIçA eLeITORAL. ReJeIçãO. LeGITImIDADe PASSIvA DO FACE-

BOOK BRASIL. ReSPOnSABILIDADe PARA ATuAR nO TeRRITÓRIO BRASILeIRO. ReQue-

RImenTO PARA SuSPenSãO De PuBLIcAçãO De PeRFIL De ReDe SOcIAL “FACEBOOK”. IDenTIFIcAçãO DO ReSPOnSáveL PeLAS cOnTAS. LImInAR DeFeRIDA e mAnTIDA PARA O FIm De mAnTeR SuSPenSAS AS cOnTAS. PeDIDO PROceDenTe em PARTe. 1. A Justiça eleitoral é competente para analisar e julgar a presente ação inibitória para impedir a continuidade de suposto ilícito.

2. É o Facebook Brasil responsável para responder às postulações apresentadas na pre- sente ação, em razão de sua constituição para atuar no território brasileiro.

3. A manifestação do pensamento, com intuito eleitoral, não é um universo livre, sujeito ao respeito e convivência pacífica com outros direitos individuais, como a personalidade e, primordialmente, vedação ao anonimato.

4. A partir da suspensão das contas e a identificação do responsável pela criação do perfil, por meio dos dados fornecidos pelo Facebook do Brasil, o objetivo desta ação foi alcançado (TRe-PR, Proc: 51616/PR, Relator Des. edson Luiz vidal Pinto, DJ 31/01/2014).

O eminente Relator finalizou o seu voto assentando que, aferida a adequação da pretensão formulada, a necessidade da interseção judicial para obtenção da prestação e sua utilidade material, a extinção do processo por carência da ação padece de sustentação jurídica.

A egrégia 1a Turma cível, à unanimidade, com espeque nos fundamentos expendidos pelo

ilustre Relator, deu provimento ao recurso para cassar a sentença de primeiro grau e determinar retorno dos autos à origem para o regular processamento do feito.

R EVI STA DE D OUTRI NA E J URI SPRUD êNCI A . 50. B RAS íLI A . 106 (2). JURI SPRUD êNCI A / JAN- JUN 2015 Acórdão 866123

Juiz Fábio Eduardo Marques

Relator – 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal

FALhA EM TERMINAL DE AUTOATENDIMENTO

No documento Revista V. 106 n. 2 (páginas 181-184)

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