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IMUNIDADE PARLAMENTAR

No documento Revista V. 106 n. 2 (páginas 194-197)

A PRERROGATIvA CONSTITUCIONAL DA IMUNIDADE PARLAMENTAR EM SENTIDO MATERIAL PROTEGE O PARLAMENTAR EM TODAS AS SUAS MA- NIFESTAÇÕES QUE GUARDEM RELAÇÃO COM O EXERCÍCIO DO MANDATO

O conselho especial, ao rejeitar queixa-crime ajuizada pelo ex- -Governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz em desfavor da Deputada Distrital celina Leão, consignou que as imunidades parlamentares consti- tuem verdadeiros instrumentos de garantia da função exercida pelo parla- mentar, na medida em que conferem ao Poder Legislativo independência e autonomia necessárias à representação dos interesses do povo e do país.

na peça inicial, foram imputados à querelada os crimes de calúnia e difamação, supostamente ocorridos em matéria jornalística veiculada em programa televisivo, no qual ela teria acusado o querelante de ser “(...) chefe de uma quadrilha especializada em dilapidar serviços públicos”, bem como afirmado que “(...) por onde ele passa deixa rastros de propi- nas, vários inquéritos, testemunhas debaixo de proteção policial porque foram ameaçadas de morte.”

Frustrada a tentativa de conciliação, a querelada apresentou resposta sustentando a impossibilidade jurídica do pedido, ao argumento de que suas declarações estariam acobertadas pelo manto da imunidade parlamentar.

A princípio, observou o e. Desembargador Relator, mário-zam Belmi- ro, que as referidas declarações foram proferidas pela querelada dentro do seu gabinete na câmara Legislativa Distrital, no exercício do ofício congressual.

Prosseguiu o seu voto ressaltando que, nos termos do art. 53 da constituição Federal, conforme redação dada pela emenda constitucional

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nº 35/2001, os deputados e senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opi- niões, palavras e votos. Sobre o tema, enalteceu o seguinte escólio de Alexandre de moraes:

na independência harmoniosa que rege o princípio da separação de poderes, as imunida- des parlamentares são institutos de vital importância, por buscarem, prioritariamente, a proteção dos parlamentares, no exercício de suas nobres funções, contra abusos e pres- sões dos demais poderes; constituindo-se, pois, um direito instrumental de garantia de liberdade de opiniões, palavras e votos dos membros do Poder Legislativo, bem como de sua proteção contra prisões arbitrárias e processos temerários.

(...) A imunidade material implica subtração da responsabilidade penal, civil, disciplinar ou política do parlamentar por suas opiniões, palavras e votos.

na hipótese de incidência de imunidade material em relação à conduta do parlamentar (opiniões, palavras e votos), importante ressaltar que não resultará responsabilidade cri- minal qualquer responsabilização por perdas e danos, nenhuma sanção disciplinar, fican- do a atividade do congressista, inclusive, resguardada de responsabilidade política, pois trata-se de cláusula de irresponsabilidade geral de Direito constitucional material (cons- tituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. Atlas, 7. ed., p. 1032 e 1035).

O e. Relator enfatizou a importância das imunidades parlamentares para a consecução da democracia, na medida em que garantem aos membros do Poder Legislativo a independência e a autonomia necessárias para o exercício de suas funções públicas.

Aprofundando o exame da conduta da querelada, assim observou:

Logo, considerando que as declarações tidas por caluniosas foram proferidas no exercício do mandato parlamentar, e mais, dentro do Gabinete da querelada, não se evidencia o cometimento de qualquer ilícito a ensejar responsabilização. De se ressaltar que os docu- mentos de fls. 17/19 evidenciam atuação da querelada no exercício de sua função fiscali- zatória, na qualidade, à época, de Presidente da comissão de Assuntos Sociais da câmara Legislativa do DF (fl. 426), tendo a deputada, inclusive, proposto a abertura de comissão Parlamentar de Inquérito (fls. 148/153), cuja instalação não foi possível devido à insufi- ciência de quórum (fl. 451), o que não impediu a formulação de representação junto ao ministério Público do Distrito Federal (folhas 156/164) (TJDFT, Acórdão nº 847050, PeT 20130020249428, Rel. Des. mário-zam Belmiro, DJe 09/02/2015, p. 21).

Por fim, destacou que o Supremo Tribunal Federal consagrou o entendimento de que a imu- nidade parlamentar material, que confere inviolabilidade, na esfera civil e penal, a opiniões, palavras e votos manifestados pelo congressista (cF, art. 53, caput), incide de forma absoluta quanto às decla- rações proferidas no recinto do Parlamento. A propósito, citou o seguinte julgado da Suprema corte:

InQuÉRITO. DenúncIA Que FAz ImPuTAçãO A PARLAmenTAR De PRáTIcA De cRI- meS cOnTRA A HOnRA, cOmeTIDOS DuRAnTe DIScuRSO PROFeRIDO nO PLenáRIO De ASSemBLeIA LeGISLATIvA e em enTRevISTAS cOnceDIDAS À ImPRenSA. InvIO- LABILIDADe: cOnceITO e eXTenSãO DenTRO e FORA DO PARLAmenTO.

A palavra “inviolabilidade” significa intocabilidade, intangibilidade do parlamentar quanto ao entendimento de crime ou contravenção. Tal inviolabilidade é de natureza material e decorre da função parlamentar, porque em jogo a representatividade do povo. O art. 53 da constituição Federal, com a redação da emenda nº 35, não reeditou a ressalva quanto aos crimes contra a honra, prevista no art. 32 da emenda constitucional nº 1, de 1969. Assim, é de se distinguir as situações em que as supostas ofensas são profe- ridas dentro e fora do Parlamento. Somente nessas últimas ofensas irrogadas fora do Parlamento é de se perquirir da chamada “conexão como exercício do mandato ou com a condição parlamentar” (InQ 390 e 1.710). Para os pronunciamentos feitos no interior das casas Legislativas, não cabe indagar sobre o conteúdo das ofensas ou a conexão com o mandato, dado que acobertadas com o manto da inviolabilidade. em tal seara, caberá

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à própria casa a que pertencer o parlamentar coibir eventuais excessos no desempenho dessa prerrogativa. no caso, o discurso se deu no plenário da Assembleia Legislativa, es- tando, portanto, abarcado pela inviolabilidade. Por outro lado, as entrevistas concedidas à imprensa pelo acusado restringiram-se a resumir e comentar a citada manifestação da tribuna, consistindo, por isso, em mera extensão da imunidade material. Denúncia rejeitada (STF, Tribunal Pleno, InQ 1.958/Ac – AcRe, Relator Designado ministro carlos Britto, DJe 18/02/20115, p. 6).

com base nesses fundamentos, o conselho especial, concluindo pela inexistência de conduta de- lituosa a ensejar a persecução criminal, rejeitou a queixa-crime e determinou o arquivamento dos autos.

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No documento Revista V. 106 n. 2 (páginas 194-197)

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