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Figura 42. Fotografia da oficina-ação “Lavagem”, Salvador. Mariana David, 2017.

Nada a concluir, algo a retomar. Devir Ofélia iça um modo de viver entre mundos, dissolvendo contornos de tal modo, que até o conceito da dissolução é borrado – o que se anuncia como uma poética é uma estética, uma ética, nada disso, tudo um pouco. É criar, meditando à beira do riacho; deixar que o tempo enlouqueça as cronologias e dissolva as margens teatro-vida, pele-paisagem, eu-fantasma; saber que o outro, inapreensível, é também um eu mutável e agenciar, na arte, possibilidades de ser. Nas vias do contra-método, lançamo-nos num trânsito por sutilezas erradias. Algumas placas, espalhadas no percurso, relembram: aceitar o vazio da página, do dia, do coração, do pensamento, da ideia: saber-se precário e, nesta condição, dizer “sim, estou aqui, estejamos”; resistir, movendo-se, todo dia, toda hora, sem descanso – e, ao mesmo tempo, descansando de rotinas e obrigações caducas -, para não fixar-se em estados opressivos e medíocres; recriar-se em cada criação, reinventar o fazer em cada ato.

Ofereço uma pergunta-passo desta aproximação: o que, em nós, se compõe em filetes d’água, cuja afluência, dissolve as ordens do mundo? E deixo um poema- passagem.

O segundo crepúsculo. A noite que mergulha no sono. A purificação e o esquecimento.

O primeiro crepúsculo. A manhã que foi a aurora.

O dia que foi a manhã.

O dia numeroso que será a tarde desgastada. O segundo crepúsculo.

Esse outro hábito do tempo, a noite. A purificação e o esquecimento.

O primeiro crepúsculo… A aurora sigilosa e na aurora

a inquietude do grego. Que trama é esta do será, do é e do foi.

Que rio é este pelo qual flui o Ganges?

Que rio é este cuja fonte é inconcebível? Que rio é este

que arrasta mitologias e espadas? É inútil que durma.

Corre no sonho, no deserto, num porão. O rio me arrebata e sou esse rio.

De matéria perecível fui feito, de misterioso tempo. Talvez o manancial esteja em mim.

Talvez de minha sombra, fatais e ilusórios, surjam os dias.105

REFERÊNCIAS

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Excertos do livreto “Sete saltos para se afogar”. p. 18

Figura 2. Autorretrato, Salvador. Raiça Bomfim, 2011. p. 19 Figura 3. Colagem para o “Caderno Baleia”. Vânia Medeiros, 2012. p. 20 Figura 4. Fotografia de “Ofélia Blue, aprendendo a nadar – Primeiro estudo”,

Salvador. Priscila Fulô, 2011.

p. 21

Figura 5. Fotografia da experimentação cênica em “Empuxo: zona de encontro

de artes cênicas”, Largo Dois de Julho, Salvador. Fábio Tavares, 2012.

p. 22

Figura 6. Ensaio fotográfico “Ofélia vem”, São Paulo. Ditto Leite, 2013. p. 23 Figura 7. Imagem do livro “Manual de Afogamento”. p. 25 Figura 8. Fotografia do “Segundo estudo para Ofélia Blue”, São Paulo. Ditto

Leite, 2017.

p. 26

Figura 9. Ensaio fotográfico “Sereia do asfalto”, São Paulo. Ditto Leite, 2014. p. 27 Figura 10. Fotografia de “OFÉLIA: sete saltos para se afogar”, Espaço Xisto

Bahia, Salvador. Carol Garcia, 2015

p. 28

Figura 11. Fotografia de “Cidade Afogada”, Cajazeiras, Salvador. Aldren Lincoln, 2016.

p. 29

Figura 12. Apresentação realizada no projeto Dominicaos, Salvador. Victor Gargiulo, 2016.

p. 30

Figura 13. Fotografia de “Loucas do Riacho”. Na foto, a atriz/performer Mônica Santana, Casa de Castro Alves, Salvador. Mariana David, 2017.

p. 31

Figura 14. Fotografia de “Lavagem”, Rio Vermelho, Salvador. Mariana David, 2017.

p. 32

Figura 15. Colagem para o programa de “Loucas do Riacho”. Lucas Moreira, 2017.

p. 33

Figura 16. Colagem integrante do processo criativo de “Loucas do Riacho”. Lucas Moreira, 2016.

p. 34

Figura 17. Fotografia do processo criativo de “Loucas do Riacho”. Na foto, Felipe Benevides e eu, na Casa de Castro Alves, Salvador. Mariana David, 2017.

p. 40

Figura 19. Colagem integrante do processo criativo de “Loucas do Riacho”. Na foto usada na imagem, eu com meu filho, José. Lucas Moreira, 2016.

p. 46

Figura 20. Fotografia do processo criativo de “Loucas do Riacho”. Na foto, Felipe Benevides, na Casa de Castro Alves. Mariana David, 2017.

p. 50

Figura 21. Fotografia do processo criativo de “Loucas do Riacho”. Na foto, Liz Novais, na Casa de Castro Alves. Mariana David, 2017.

p. 52

Figura 22. Colagem integrante do processo criativo de “Loucas do Riacho”. Olga Lamas, 2016.

p. 54

Figura 23. Fotografia do cortejo-oferenda “Lavagem”. Mariana David, 2017. p. 55

Figura 24. Ensaio fotográfico de divulgação de “Ofélia: sete saltos para se afogar”. Carol Garcia, 2015.

p. 59

Figura 25. Fotografia da temporada de “Loucas do Riacho”, na Casa de Castro Alves. Mariana David, 2017.

p. 64

Figura 26. Fotografia do processo criativo de “Loucas do Riacho”. Na foto, Olga Lamas, na Casa de Castro Alves. Mariana David, 2017.

p. 67

Figura 27. Fotografia do processo criativo de “Loucas do Riacho”. Na foto, Camilla Sarno, na Casa de Castro Alves. Mariana David, 2017.

p. 68

Figura 28. Ensaio fotográfico de divulgação “Loucas do Riacho”. Na foto, eu, Camilla, Felipe, Mônica, Uerla e Olga, na Casa de Castro Alves. Mariana David, 2017.

p. 71

Figura 29. Fotografia do processo criativo de “Loucas do Riacho”. Mariana David, 2017.

p. 74

Figura 30. Fotografia do processo criativo de “Loucas do Riacho”. Na foto, eu, na Casa de Castro Alves, Salvador. Mariana David, 2017.

p. 77

Figura 31. Fotografia do processo criativo de “Loucas do Riacho”. Na foto, Camilla Sarno, na Casa de Castro Alves, Salvador. Mariana David, 2017.

p. 83

Figura 32. Vestígios da imersão de “Loucas do Riacho”, Baixios. 2016. p. 88 Figura 33. Fotografia da oficina-ação “Lavagem”, Salvador. Mariana David,

2017.

p. 91

Figura 34. Fotografia do processo criativo de “Loucas do Riacho”. Na foto, Uerla Cardoso, na Casa de Castro Alves, Salvador. Mariana David, 2017.

p. 92

Mônica Santana, Escola de Dança da UFBA, Salvador. Mariana David, 2016. Figura 36. Colagem integrante do processo criativo de “Loucas do Riacho”. Lucas Moreira, 2016.

p. 98

Figura 37. Fotografia da imersão de “Loucas do Riacho”, Baixios. 2016. p. 101 Figura 38. Fotografia de “Lavagem”, Salvador. Mariana David, 2017. p. 104 Figura 39. Fotografia do processo criativo de “Loucas do Riacho”. Na foto,

Mônica Santana, na Casa de Castro Alves, Salvador. Mariana David, 2017.

p. 106

Figura 40. Colagem integrante do processo criativo de “Loucas do Riacho”. Lucas Moreira, 2016.

p. 108

Figura 41. Colagem integrante do processo criativo de “Loucas do Riacho”. Lucas Moreira, 2016.

p. 110

Figura 42. Fotografia da oficina-ação “Lavagem”, Salvador. Mariana David, 2017.