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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A COVID-19 E TELETRABALHO

No documento NEGOCIAÇÕES COLETIVAS (páginas 108-112)

ANÁLISE POR SETOR

4. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A COVID-19 E TELETRABALHO

Importante destacar que a pandemia da Covid-19 surpreendeu a todos em 2020 e a alta capacidade de transmissão do coronavírus fez com que todos buscassem segurança, sendo o isolamento social um dos meios mais eficazes indicado pelas autoridades de saúde. Assim, segun- do o PNAD COVID-198, formulado pelo IBGE, entre 02 a 08 de agosto 8. IBGE. Pesquisa nacional por amostra de domicílios contínua – PNAD COVID19,

de 2020, eram 8.6 milhões de trabalhadores em atividade remota. Desta forma, dada a emergência da situação, passou a viger em 22 de março a MP 927 de 20209 (e que caducou em julho de 2020), que dispôs sobre

o teletrabalho, a qual resumidamente permitia às empresas negocia- rem diretamente com os trabalhadores, autorizava o empregador alte- rar unilateralmente o regime de trabalho presencial para o teletrabalho, bem como determinar a volta (com notificação ao empregado com an- tecedência de no mínimo 48 horas). Ocorre que, 8,3% das cláusulas10 do

painel apresentam o mesmo texto da referida MP, mas sem vinculá-las à vigência da mesma, o que pode significar que tais regras ainda estão vi- gendo (mesmo que a Medida tenha caducado) graças à prevalência do negociado sobre o legislado. Alguns instrumentos constam expressa- mente essa “estratégia de prolongamento” dos efeitos da Medida, infe- rindo segurança jurídica ao empregador- “Caso não haja conversão da MP 927 em lei, ou sua eficácia seja, de alguma forma, limitada, as regras dispostas nesta cláusula manterão plenas e válidas de acordo com o Art. 611-A da CLT.” (Serviços – Distrito Federal).

2020. Disponível em: https://covid19.ibge.gov.br/pnad-covid/. Acesso em: 5 set. 2020. 9. BRASIL. Medida Provisória nº 927, de 22 de março de 2020. Disponível em: http://

www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/mpv/mpv927.htm.

10. Esse dado é referente a 34 cláusulas que compõem termos aditivos de instrumentos de 2019 e que foram firmados em 2020 a fim de adequar às condições da pandemia e às medidas provisórias editadas pelo governo federal. Exemplo: “Durante o período de pandemia da Covid-19, as empresas poderão, imediatamente e a seu critério, por escrito ou por meio eletrônico, alterar o regime de trabalho presencial para o teletra- balho, o trabalho remoto ou outro tipo de trabalho a distância e determinar o retor- no ao regime de trabalho presencial, sem a necessidade de cumprimento do período de transição previsto no § 2º do art. 75-C da Consolidação das Leis do Trabalho. PARÁGRAFO PRIMEIRO As disposições relativas à responsabilidade pela aquisi-

ção, pela manutenção ou pelo fornecimento dos equipamentos tecnológicos e da infraestrutura necessária e adequada à prestação do teletrabalho, trabalho remoto ou trabalho a distância e ao reembolso de despesas arcadas pelo empregado serão previstas em contrato escrito, firmado previamente ou no prazo de trinta dias, con- tado da data da mudança do regime de trabalho. (...) PARÁGRAFO TERCEIRO. Fica permitida a adoção do regime de teletrabalho, trabalho remoto ou trabalho a distância para aprendizes.” Comércio – Porto Alegre.

NEGOCIAÇÕES COLETIVAS PÓS-REFORMA TRABALHISTA (2017) 626

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A reforma trabalhista flexibilizou o teletrabalho sob o discurso de se tratar de uma realidade comum na era contemporânea do trabalho, eis que propicia ao empregado “maior autonomia na prestação de labor, me- nor desgaste com deslocamentos à empresa (minoração dos custos com transporte e/ou combustível), economia e racionalização de tempo há- bil para resoluções de problemas particulares ou de seu interesse, maior convívio com seus familiares e, enfim, uma melhoria indubitável em sua condição social”11.

No entanto, a pesquisa realizada nos instrumentos coletivos sobre o tema apontou que, efetivamente, na regulamentação do teletrabalho pre- domina a eliminação do controle da jornada, ou seja, ela excetua o teletra- balhador do limite máximo das jornadas de trabalho e, por consequência, do pagamento de horas extras, garantia de descansos e intervalos, ocorrên- cia encontrada em 80% do total das cláusulas novas sobre o tema.

Além disso, as cláusulas novas reforçam uma tendência já existente que permite a responsabilização do trabalhador pela aquisição e manu- tenção dos equipamentos tecnológicos e da infraestrutura necessária e adequada à prestação do trabalho remoto, na medida em que são defini- dos no contrato individual ou através de políticas internas da empresa. Com isso, perde-se a possibilidade de responsabilizar o empregador por meio da negociação coletiva fragilizando, assim, a proteção do trabalha- dor (art. 75-D, CLT).

Ainda atribuiu ao próprio empregado a responsabilidade pela pre- venção, higiene a fim de evitar doenças e acidentes do trabalho, tirando a responsabilidade do empregador (art. 75-E da CLT).

Outrossim, embora o número de instrumentos coletivos que versem sobre teletrabalho não serem expressivos no todo, analisando a evolução desses, nota-se que a reforma trabalhista ao regular a modalidade incen-

11. Convenção coletiva - Indústria da Construção Civil do Pará. Disponível em: http:// www3.mte.gov.br/sistemas/mediador/Resumo/ResumoVisualizar?nrSolicita- cao=MR033400/2019.

tivou a sua adoção, que teve crescimento em todos os setores econômi- cos, passando de 36 cláusulas em 2016, para 96 em 2019. Ainda sobre os instrumentos coletivos analisados, são 11 cláusulas (8,3% do total do pai- nel) que adotam a redação da MP 927 sem vincular a vigência da mesma, o que pode significar que tais regras ainda estão vigendo (mesmo que a Medida tenha caducado).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Lei n. 12.551, de 15 de dezembro de 2011. Diário Oficial da União, Brasília, 16 dez. 2011. Seção 1. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12551.htm. Acesso em: 1 set. 2020. BRASIL. Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (1943). Legislação trabalhista. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto-lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943.

BRASIL. Reforma Trabalhista, Lei 13.467. Disponível em: http://www.pla- nalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13467.htm.

BRASIL. Medida Provisória nº 927, de 22 de março de 2020. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/mpv/mpv927. htm. Acesso em: 1 set. 2020.

IBGE. Pesquisa nacional por amostra de domicílios contínua – PNAD COVID19, 2020. Disponível Em: https://covid19.ibge.gov.br/pnad-covid/. Acesso em: 5 set. 2020.

LIMA FILHO, J. S. F.; BRASIL, A. L. da S. O conceito legal de teletrabalho e suas repercussões nos direitos do empregado. Revista Juris UniToledo, v. 4, p. 111-126, 2019. Disponível em: <http://www.mpsp.mp.br/portal/page/por- tal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/ bibli_boletim/bibli_bol_2006/Rev-Juris-UNITOLEDO_v.4_n.1.08.pdf.> Acesso em: 30 set. 2020.

CAPÍTULO 6

No documento NEGOCIAÇÕES COLETIVAS (páginas 108-112)