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OUTRAS NORMAS REFERENTES A ADMISSÃO, DEMISSÃO E MODALIDADES DE CONTRATAÇÃO

No documento NEGOCIAÇÕES COLETIVAS (páginas 140-145)

DE TRABALHO AUTÔNOMO

OUTRAS NORMAS REFERENTES A ADMISSÃO, DEMISSÃO E MODALIDADES DE CONTRATAÇÃO

CLÁUSULA VIGÉSIMA SEXTA - DA CONTRATAÇÃO DE TER- CEIROS E AUTÔNOMOS

2. As atividades preponderantes de cada setor são: i) Indústria: construção e mobiliário (seis) e ii) Serviços: turismo e hospitalidade (nove).

Ficam as empresas autorizadas a contratar trabalhadores autônomos para o exercício de atividades das mesmas, conforme permissivo do art. 442-B, da CLT, de acordo com a Lei Federal nº 13.467, de

13.7.2017, como também ficam as empresas autorizadas a promover

terceirização de seus serviços com fulcro no art. 4º-A e outros da Lei Federal nº 6.019/1974, com as redações dadas pela Lei Federal nº 13.429/17 e pela Lei Federal nº 13.467/17. Em nenhuma destas circunstâncias e hipóteses e haverá vínculo empregatício entre as empresas e os contratados, prestadores de serviços. (Turismo e hos- pitalidade, Uberlândia/MG, 2019).

Em relação às vinte cláusulas que permitem a contratação, como o exemplo mencionado acima, as categorias buscam remeter ao texto da lei, enfatizando a inexistência de vínculo empregatício. Desse modo, não consideram que o vínculo empregatício se impõe baseado no princípio da primazia da realidade, importando os fatos que ocorrem no transcor- rer da relação de trabalho, independente da formalização de um contrato propriamente dito.

Observando a CF de 1988 e as lacunas presentes na redação do artigo 442-B da CLT, entidades sindicais aproveitaram a oportunidade nas ne- gociações coletivas e inseriram cláusulas impondo condições favoráveis aos trabalhadores ou proibindo a contratação de autônomo exclusivo, conforme redação que segue abaixo:

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CLÁUSULA VIGÉSIMA SEXTA - DO TRABALHADOR AUTÔNO- MO CONTÍNUO E EXCLUSIVO

Fica vedada a estipulação de trabalho autônomo na forma exclusiva e contínua.

PARÁGRAFO ÚNICO: Caso não seja observado o caput da presente

cláusula e presente todos os requisitos da relação de emprego, será reconhecido o vínculo de emprego entre o suposto prestador de serviço e o empregador, uma vez ser a relação de emprego direito fundamental (arts. 1º, III e IV, 5º, caput e 7º da CF/88. (Alimentação,

NEGOCIAÇÕES COLETIVAS PÓS-REFORMA TRABALHISTA (2017) 658

O segundo motivo é a existência de legislações não trabalhista, anterio- res à reforma de 2017, que já possibilitavam a contratação de profissionais sem o vínculo empregatício e apresentavam as regras pertinentes ao con- trato firmado entre as partes. Dessa maneira, as negociações coletivas so- bre os casos de contratação desses profissionais já versavam sobre o tema, tendo em vista o art. 7º XXVI da CF, que possibilita o direito a todos os trabalhadores do reconhecimento de acordos e convenções coletivas.

Em continuidade à análise, foram selecionadas 66 cláusulas reinci- dentes, cláusulas que se repetem nos dois anos: 2016 e 2019. O evento da reincidência é possível, pois apesar da reforma ter inserido o artigo 442- B, em 2017, o ordenamento jurídico brasileiro, por meio de legislação não trabalhista, permitia outras formas de contratação de trabalhadores autônomos, assim, as entidades sindicais já negociavam direitos e garan- tias para esses trabalhadores. Vale ressaltar que a introdução do artigo não atingiu a legislação já existente, com isso, as categorias buscaram manter as cláusulas assegurando direitos e garantias, conforme veremos a seguir. As 33 cláusulas ficaram dispostas conforme a Tabela 8:

Tabela 8 – Tabela cláusulas reincidentes (2016 – 2019)

Classificação Indústria Serviços Total

Mantem inalterada 7 2 9

Mantém inalterada proibindo a contratação 1 1 2

Mantem inalterada com restrição da aplicação 2 2 4

Mantém inalterada ampliando para além da lei 9 9

Mantém inalterada normatizando a sua aplicação 1 8 9

Total 33

FONTE: PAINEL EXTRAÍDO DO MEDIADOR – ELABORAÇÃO PRÓPRIA.

Das cláusulas reincidentes, o setor da indústria na atividade de cons- trução e mobiliário se destaca, pois é uma das categorias que, por meio do contrato de empreitada/subempreitada, possibilita a contratação de trabalhadores autônomos, mesmo antes da reforma trabalhista de 2017.

O contrato de empreitada/subempreitada/pequena empreitada é de natureza civil, em vista disso, não pactua direitos trabalhistas, celebra di-

reitos e obrigações na execução de determinada obra, executada por um prestador de serviços, sendo, no caso da pequena empreitada, um traba- lhador autônomo, em benefício do tomador, mediante remuneração pela execução da obra.

Apesar de sua natureza, a CLT no artigo 455 assegura que a responsa- bilidade das obrigações derivadas do contrato de empreitada será solidá- ria, portanto, podendo o trabalhador lesado em seus direitos ingressar na justiça do trabalho para pleiteá-los contra o subempreiteiro e o emprei- teiro principal, respondendo estes de forma paritária.

Na redação das cláusulas reincidentes, de forma recorrente, o con- trato de empreitada e subempreitada reitera a responsabilidade sobre as obrigações trabalhistas, reproduzindo os termos do artigo 455 da CLT.

Abaixo seguem exemplos das cláusulas reincidentes:

CLÁUSULA TRIGÉSIMA TERCEIRA - CONTRATOS DE EMPREITADA

Os contratos de empreitada e subempreitada de mão de obra devem ser celebrados com empreiteiros e/ou subempreiteiros constituídos sob a forma de pessoa jurídica e autônomos, devidamente organizados e re- gistrados nos órgãos competentes e com endereços e sede claramente especificados nos instrumentos contratuais. Além disso, os contratantes deverão fazer a retenção de um percentual mínimo sobre a fatura de pagamento dos subempreiteiros, nos termos da legislação que trata da matéria, para garantia do cumprimento da legislação trabalhista e pre- videnciária por parte desses, exigindo-lhes, a cada mês, prova da satisfa- ção dos encargos pertinentes à mão de obra utilizada na subempreitada, inclusive o Seguro de Vida em Grupo previsto neste acordo.

§ 1º - Nos contratos de subempreitada, responderá o subempreiteiro pelas obrigações derivadas do contrato de trabalho que celebrar, cabendo, todavia, aos empregados, o direito de reclamação contra o empreiteiro principal pelo inadimplemento daquelas obrigações por parte do primeiro. § 2º - Ao empreiteiro principal fica ressalvada, nos termos da lei civil, ação regressiva contra o subempreiteiro. (Construção civil,

Minas Gerais, 2019).

A inserção do artigo 442-B na CLT e o contrato do trabalhador autô- nomo trouxeram prejuízo ao trabalhador da pequena empreitada, eis que

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se caso ele for contratado nos moldes celetista e se sentir lesado em seus direitos, encontrará dificuldades na aplicação do art. 455 da CLT e na condenação da responsabilidade solidária, quando no inadimplemento das obrigações contratuais na empreitada.

O artigo 442-B da CLT não prevê a solidariedade, a aplicação do ins- tituto, conforme o art. 265 do Código Civil não se presume, depende de lei ou da vontade das partes. Assim, o pequeno empreiteiro, o trabalha- dor autônomo (pedreiros, eletricistas, encanadores), sendo contratado nos moldes do artigo celetista, em havendo direitos a receber, poderá apenas ingressar com reclamação trabalhista contra o subempreiteiro, sem o empreiteiro principal no processo. Diante desse cenário, prova- velmente, o trabalhador não receberá pelos direitos sonegados durante a execução do contrato.

Por fim, 156 cláusulas analisadas estendem ou excluem direitos ao trabalhador autônomo, contratado por leis não trabalhistas, sem o vín- culo empregatício. A Tabela 9 demonstra que as entidades sindicais no uso das negociações coletivas, independente da reforma trabalhista de 2017, em razão do art. 7º, XXVI da CF, recorrem aos instrumentos para o debate de direitos trabalhistas, podendo os acordos ou convenções coletivas contemplarem os trabalhadores não celetistas:

Tabela 9 – Frequência de cláusulas dirimindo direitos/benefícios nas negociações coletivas

Setor Concede direitos (Seguro de vida, auxílio creche, auxílio funeral)

Exclui direitos (PLR, ACT/CCT não

estende aos autônomos) Total

Comércio 1 1

Indústria 44 55 99

Serviços 18 38 56

Total 63 93 156

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Antes da reforma trabalhista de 2017, a legislação não trabalhista permi- tia a contratação de trabalhadores autônomos, após a reforma, foi inserido na CLT o contrato do trabalhador autônomo exclusivo. A redação do artigo 442-B ressalta que, com ou sem exclusividade e com ou sem a continuidade na prestação dos serviços, não haverá vínculo empregatício da contratação do trabalhador autônomo. Embora o tema não dependa de instrumento co- letivo para ser implementado, a sua inclusão sinaliza um esforço das entida- des sindicais em atuarem sobre essa forma de contratação burlada.

As negociações coletivas não ficaram alheias à reforma trabalhista de 2017 e aos impactos trazidos por ela. Em sua análise, que trata do traba- lho autônomo, constatou-se a presença de cláusulas que ao enfatizarem a ausência de vínculo restringiam o acesso aos benefícios, por outro lado, constatou-se, também, a presença de cláusulas que estendiam direitos e benefícios a estes trabalhadores.

O segundo aspecto observado nas negociações é de como a legislação não trabalhista permite a contratação de trabalhadores autônomos, com leis especiais, para os profissionais como: prestadores de serviços, constru- ção civil (contrato de empreitada), representantes comerciais, profissionais da beleza, dentre outros. Vale evidenciar que as categorias limitam o debate da negociação, apenas concedendo ou restringindo um direito/benefício específico para o trabalhador autônomo. A sua incidência nos instrumen- tos mesmo antes da reforma trabalhista indica que a alteração introduzida pelo artigo 442-B foi absorvida parcialmente pelas negociações, uma vez que a maioria segue com redação idêntica ao período anterior à reforma.

No documento NEGOCIAÇÕES COLETIVAS (páginas 140-145)