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SETOR DO COMÉRCIO

No documento NEGOCIAÇÕES COLETIVAS (páginas 125-131)

TEMPORÁRIO

3. ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DAS CLÁUSULAS

3.2 SETOR DO COMÉRCIO

No setor de comércio, as cláusulas novas respondem por 35,5% e as reincidentes 41,0% do total, com predominância de cláusulas novas nos acordos coletivos e de reincidentes nas convenções coletivas. O expres- sivo número de cláusulas novas entre os acordos coletivos indica maior pulverização das negociações coletivas característica deste setor, além de sugerir que o tema está presente pontualmente em algumas empresas.

Tabela 7

Tipo de cláusulas Acordo coletivo Convenção coletiva Total Participação (%)

Cláusula nova 22 17 39 36,5

Cláusula reincidente 8 36 44 41,0

Cláusula suprimida 6 18 24 22,4

FONTE: PAINEL EXTRAÍDO DO MEDIADOR – ELABORAÇÃO PRÓPRIA.

NEGOCIAÇÕES COLETIVAS PÓS-REFORMA TRABALHISTA (2017) 642

O conteúdo da amostra das cláusulas do setor de comércio indica a adequação a nova legislação, ao mesmo tempo em que se observa conteú- dos idênticos entre os dois períodos analisados e a presença de conteúdos que restringem ou limitam a sua adoção.

Quadro 2

Cláusulas novas

Prevê o cumprimento da norma coletiva

da categoria preponderante. (2) Cumprimento dos direitos estabelecidos na Convenção Coletiva de Trabalho. Reitera o que está na Lei. (3) A contratação obedecerá ao disposto na lei nº 13.429 de 2017. Prevê a autorização de terceirizados, mas

estabelece o acesso aos mesmos direitos e vantagens. (1)

É devido aos empregados terceirizados os mesmos direitos e vantagens, ainda que se trate de trabalho temporário.

Cláusulas reincidentes

Em 2016 a cláusula limitava e em 2019

reitera o que está na legislação. (2) Por um prazo máximo de trinta dias em 2016 e amplia para o disposto na Lei nº 13.429 em 2019. Prevê o cumprimento da norma coletiva

da categoria preponderante

Os conteúdos são idênticos para 2016 e 2019. (3)

Proibida a contratação que desobedeça às normas desta convenção.

Os conteúdos são idênticos para 2016 e 2019. Estabelece limites para a contratação de prestação de serviços. (1)

As Empresas ficam impedidas de contratar terceiros para a execução de serviços de enchimento, entrega automática domiciliar e industrial e manutenção. No caso de Máquinas e/ou Equipamentos em garantia não haverá impedimento para a contratação de serviços de manutenção de terceiros.

Estabelece regras para a contratação, mas não discrimina a modalidade de contratação. (2)

Os empregadores se obrigam a não aceitar no interior de suas lojas, empregados de outras empresas sem carteira assinada.

FONTE: PAINEL EXTRAÍDO DO MEDIADOR – ELABORAÇÃO PRÓPRIA.

A presença de cláusulas que reforçam o cumprimento da norma cole- tiva pela categoria preponderante, pode sinalizar um esforço das entidades sindicais em assegurar aos contratados como prestadores de serviços que os direitos previstos na convenção coletiva também sejam extensivos a eles.

3.3 SETOR DE SERVIÇOS

No setor de serviços, as cláusulas novas e reincidentes respondem por 82,4% do total e, em relação às cláusulas suprimidas, o seu peso é menor

quando comparado com os outros segmentos. Os dados sugerem a ma- nutenção das cláusulas para os dois anos.

Tabela 8

Tipo de cláusulas Acordo coletivo Convenção coletiva Total Participação (%)

Cláusula nova 81 75 156 37,0

Cláusula reincidente 89 103 192 45,4

Cláusula suprimida 21 53 74 17,5

FONTE: PAINEL EXTRAÍDO DO MEDIADOR – ELABORAÇÃO PRÓPRIA.

Quando se trata de categorias tipicamente terceirizáveis (setor de vigilância, asseio e conservação), os conteúdos tratam: da garantia da manutenção do emprego e da absorção dos trabalhadores pelas novas empresas prestadoras de serviços; da delimitação de direitos que podem ser assegurados pela tomadora de serviços; das condições de saúde e hi- giene no local de trabalho, que devem ser asseguradas pela prestadora de serviços; dentre outros.

Quadro 3

Cláusulas novas

Reitera o que está na lei (5)

As empresas abrangidas pela presente convenção poderão contratar serviços especializados de outras empresas prestadoras de serviços da mesma categoria econômica, ou cooperativa de trabalho especializada.

Para os trabalhadores temporários contratados nos termos da Lei nº 6.019/74 e 13.429/17, para prestarem serviços em empresas tomadoras ou clientes serão cumpridos os instrumentos normativos próprios das referidas empresas tomadoras.

Ficam as empresas autorizadas a contratar trabalhadores autônomos para o exercício de atividades das mesmas, conforme permissivo do art. 442-B, da CLT, de acordo com a Lei Federal nº 13.467, de 13.7.2017, como também ficam as empresas autorizadas a promover terceirização de seus serviços com fulcro no art. 4º-A e outros da Lei Federal nº 6.019/1974, com as redações dadas pela Lei Federal nº 13.429/17 e pela Lei Federal nº 13.467/17.

Reitera o que está na lei e restringe o acesso a convenção coletiva da categoria preponderante (1)

Empregados terceirizados não participam do presente acordo coletivo de trabalho.

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Quadro 3

Cláusulas novas

Prevê o cumprimento da norma coletiva da categoria preponderante (1)

As empresas ficam obrigadas a manter as cláusulas do Acordo Coletivo para os trabalhadores terceirizados.

Recomendações a tomadora de serviços (1)

As empresas que sucederem outras na prestação do mesmo serviço em razão de nova licitação pública ou novo contrato contratarão os empregados da anterior, sendo preferencialmente os sócios do SINTRO/RN.

Cláusulas reincidentes Prevê a descontinuidade de direitos mediante a alteração de local de trabalho (1)

Em virtude de afastamento formal ou por transferência do empregado de seu antigo posto de serviço para um novo local, onde não haja as mesmas previsões contratuais de trabalho, passando o empregado a receber os benefícios convencionados nos termos da legislação.

Reconhece a terceirização (3) Empregado integrante de categoria profissional diferenciada não tem o direito de haver de seu empregador vantagens previstas em instrumento coletivo.

Recomendações a tomadora de serviços (3)

Quando houver descontinuidade de prestação de serviços assegurar que o próximo prestador de serviços contrate o trabalhador.

Proíbe ou restringe a

terceirização (2) Proibição de contratação de terceirizado em atividade fim.

FONTE: PAINEL EXTRAÍDO DO MEDIADOR – ELABORAÇÃO PRÓPRIA.

Um dos aspectos da reforma que foi incorporado amplamente no se- tor de serviços é o cumprimento do artigo 4º C, que trata da garantia de: a) alimentação aos empregados da contratante, quando oferecida em refeitórios; b) direito de utilizar os serviços de transporte; c) atendimento médico ou ambulatorial existente nas dependências da contratante ou local por ela designado; d) treinamento adequado, fornecido pela con- tratada, quando a atividade o exigir; e) medidas de proteção à saúde e de segurança no trabalho e de instalações adequadas à prestação do serviço.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De forma geral, pode-se indicar que a autorização da terceirização irrestrita e a ampliação do contrato temporário foi absorvida pelos ins- trumentos coletivos, mas de forma moderada, já que a ampliação entre 2016 e 2019 foi de 2%.

Essa expansão moderada sugere, de um lado, que a prática já vinha sendo adotada largamente mesmo com as restrições estabelecidas em lei. Por outro lado, a sua efetivação parece estar ocorrendo sem a participa- ção sindical e disso deduz-se dois movimentos distintos: i) a terceirização como forma de contratação e estratégia empresarial já foi incorporada pelo sindicalismo e, portanto, não há como resistir; e, ii) a incapacidade do movimento sindical de impor uma pauta mais reativa à terceirização. Ou os dois processos de forma simultânea.

Uma análise por segmentos também sugere que não ocorreu a adesão de novos segmentos econômicos após a aprovação da Lei nº 13.429/17 e que a prática continua circunscrita aos setores e segmentos anteriores à legislação de 2017.

A previsão legal para a extensão da terceirização e do trabalho temporá- rio previstos na Lei nº 13.429 e Lei nº 13.467 contribuiu para a sua amplia- ção, por meio de acordos e convenções no setor de serviços e convenções na indústria, isto é, em segmentos que já estavam praticando essas modali- dades de contratação.

Entretanto, uma queda dos instrumentos coletivos na indústria meta- lúrgica de 55% e uma análise mais detalhada destes conteúdos indica que o seu teor estabelecia limites de acordo com a previsão legal; ou seja, a eliminação do tema na negociação expressa uma perda de direitos, com a autorização legal para esse tipo de contratação. Com isso, os empregadores ficam mais confortáveis em adotar a terceirização e o trabalho temporário sem a necessidade de submetê-los à negociação coletiva. No entanto, os quadros mostram alguma resistência, mesmo que pontual, aos termos da reforma, a exemplo da garantia de extensão dos direitos da representação pela categoria preponderante.

Além disso, as motivações de regular o contrato como prestação de serviços ou trabalho temporário também se alteram quando se analisa a categoria econômica. Os sindicatos de atividades tipicamente tercei- rizáveis tratam do tema com o sentido de proteger emprego, assegurar mais direitos ou de reafirmar sua autoridade como legítimos represen- tantes, garantindo espaço dentro das empresas tomadoras para acessar os prestadores de serviços. Já os tipicamente tomadores de serviços também

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buscam mecanismos de acessar os terceirizados por meio de: a) infor- mação e divulgação do material; b) extensão dos instrumentos para os terceirizados; c) a aplicação dos direitos assegurados pelo Artigo 4ºC que estabelece acesso a refeitório, transporte e equipamento de segurança ou, simplesmente, reproduzindo o conteúdo da legislação e reafirmando a responsabilidade da tomadora com a contratação de prestadoras de ser- viços que atendem às obrigações trabalhistas.

Essa distinção pode ser observada pelos quadros 1, 2 e 3. Os con- teúdos das cláusulas na indústria estão mais associados ao cumprimento do que está previsto na legislação ou buscam ampliar a responsabilidade solidária ou proibir a terceirização em atividades ligadas à produção. Já no setor de serviços, pelo fato de os sindicatos representarem os tercei- rizados, as cláusulas versam sobre condições de trabalho, acesso a equi- pamentos de segurança e a preservação do emprego para o trabalhador terceirizado que eventualmente venha a ser dispensado pelo rompimento de contrato da tomadora com a prestação de serviços.

Por fim, os resultados também podem indicar que a contratação de serviços por meio de PJ´s, MEI ou trabalho autônomo ganha força entre as novas modalidades de contratação propiciadas pela Lei nº 13.429/17, associado ao fato de que a sua implementação não necessita de autoriza- ção sindical, o que dificulta a ação dos sindicatos cuja prestação de servi- ços poderá ser realizada fora do âmbito das empresas e, portanto, de mais difícil regulamentação por meio da negociação coletiva.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BIAVASCHI, M. B; TEIXEIRA, M. O. A regulamentação da terceirização em perspectiva comparada: Brasil, Argentina e Uruguai. In: LEITE, M. de P. (Org). Contradições do Trabalho. 2018, mimeo.

BIAVASCHI, M. B. As reformas estruturantes em um país em que jagun- ços ainda têm vez: A Reforma Trabalhista que não cria empregos e suprime direitos. In: TEIXEIRA, M. O. et al. (Orgs.). Contribuição crítica à Reforma

JUCYARA DE CARVALHO MAIA

CONTRATO

DE TRABALHO

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