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AS OLTS NOS INSTRUMENTOS NORMATIVOS DA INDÚSTRIA

No documento NEGOCIAÇÕES COLETIVAS (páginas 73-79)

No setor da indústria, que tradicionalmente apresenta maior poder de organização, foram encontradas somente cinquenta cláusulas. Dessas, so- mente oito cláusulas estão presentes nos instrumentos de 2016. O destaque

se sobrepusesse à função sindical, obrigando – nesses casos – a participação dos sindicatos via negociação coletiva.

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é para 42 cláusulas novas acrescentadas após a reforma, que serão analisa- das a partir da Tabela 6. Mesmo assim, como no setor de serviços, são pou- cos os casos que tratam da expansão da capacidade de representatividade nos termos do Art. 11 da CF de 1988.

Tabela 6 - Classificação das cláusulas no setor da Indústria (2019)

Classificação Qtd

Impeditivas 6

Neutras 26

Restritivas 10

Total 42

FONTE: SISTEMA MEDIADOR DO MINISTÉRIO DA ECONOMIA. BRASIL: 2019. EXTRAÇÃO DE DADOS AMOSTRAIS: DIEESE. ELABORAÇÃO PRÓPRIA.

De acordo com a classificação adotada, identificou-se seis cláusulas consideradas impeditivas, que proíbem a criação das comissões, reconhe- cendo, via instrumento coletivo, que o sindicato já cumpre esse papel. Apre- sentamos a seguir, a título de exemplo, uma cláusula com esse conteúdo:

SALVAGUARDA A TOYOTA estará sempre disposta a receber a pre- tensão sindical. Todavia, a validade dos acordos coletivos negociados livremente pela TOYOTA e SINDICATO deve ser observada por am- bas as partes, comportadas renegociações somente quando ambas as partes formalmente e mediante instrumento próprio reconhecerem a necessidade de tal para se manter o equilíbrio das relações trabalhistas, inclusive no tocante à Reforma Trabalhista. Parágrafo único: A TOYO-

TA reconhece o SINDICATO/CSE (Comissão Sindical de Empresa), res- salvadas as obrigações do contrato de trabalho, como primeira e única instância para negociações individuais ou coletivas, incluídas as atribui- ções dadas pela Lei 13.467/2017, artigo 510-A e seguintes da CLT, assim como para quaisquer outras negociações, tendo em vista que a represen- tação dos trabalhadores de uma Categoria Profissional e a Negociação Coletiva são prerrogativas Constitucionais dos Sindicatos, conforme dis- posto na Constituição Federal de 1988, artigo 8º, Incisos III e VI (Mesa

Registrada em 2019, Segmento metalúrgico, estado de São Paulo).

Dessa forma, 26 delas são consideradas neutras, pois só reafirmavam o que está disposto na lei, abrindo a possibilidade do sindicato partici- par da organização da comissão. Estas cláusulas tratam das regras para

criação e funcionamento da comissão, buscando, assim, definir as regras internas à empresa sem conflito com o que está disposto na lei.

Outras dez cláusulas foram consideradas restritivas, conforme ex- posto na Tabela 6. Observa-se que todas elas reconhecem a formação da comissão, mas, ao mesmo tempo, garantem a participação sindical no processo eleitoral e/ou como membro da própria comissão e/ou como representante sindical nas reuniões da comissão:

CLÁUSULA QUADRAGÉSIMA PRIMEIRA - COMISSÃO DE EM- PREGADOS

Fica facultada às Empresas a implantação da Comissão de Empregados de que trata o artigo 510-A da CLT, sendo que, em caso de implantação

a eleição deverá ser acompanhada e fiscalizada por um representante do sindicato da categoria. As reuniões da referida comissão também deve-

rão contar com a participação do representante do SINDIMETAL-ES e um representante da Empresa (Mesa Registrada em 2019, Segmento metalúrgico, estado do Espírito Santo).

CLÁUSULA SEPTAGÉSIMA SEGUNDA - REPRESENTAÇÃO NO LOCAL DE TRABALHO

Com base na legislação vigente e com fundamento no art. 611-A da CLT, inciso VII, a entidade sindical profissional será responsá-

vel pela organização da eleição dos representantes dos empregados no local de trabalho nas empresas que contarem com mais de 200

(duzentos) empregados, (...) sendo: a) Vedado ao dirigente em exercício de mandato no Sindicato, de se candidatar a cargo de re- presentante dos empregados no local de trabalho; b) Assegurado aos eleitos o pleno exercício do mandato, com todos os direitos e garantias estabelecida na Convenção n. 135 da OIT, ratificada pelo Brasil pelo Decreto n. 131, de 22/05/1991; c) Obrigação do represen-

tante eleito em comunicar oficialmente ao Sindicato a ocorrências de qualquer das hipóteses previstas nos incisos VI (encaminhamento de reivindicações) e VII (fiscalização do cumprimento das leis e CCT’s) do art. 510-B da CLT, para atuação conjunta, a fim de não violar as prerrogativas legais do Sindicato representante dos empregados,

conforme estabelecido no art. 8º da CF c/c art. 510E da CLT (...) (Mesa registrada em 2019.Segmento da cerâmica, construção e do mobiliário, estado de São Paulo).

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Os exemplos indicam que, dentre poucas cláusulas novas, prevalecem as que legitimam a reforma. A contradição é que, ao legitimarem, buscam ga- rantir a participação da entidade sindical em algum momento do processo de constituição da comissão de representação dos trabalhadores. Ao mesmo tempo, a resistência formalizada nos instrumentos normativos é inexpressiva.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como destacado no início, dos 13.823 instrumentos selecionados pelo DIEESE, somente 49 tratavam do tema da organização nos locais de trabalho, que geraram 77 cláusulas, sendo que a grande maioria é nova, introduzida após a reforma. Deste total, 62 tratavam da comissão de re- presentantes, nos termos da nova lei, concentradas em poucos segmen- tos: transportes do estado do Rio de Janeiro e metalurgia do estado de São Paulo. Trata-se, portanto, de um conteúdo muito pouco regulamentado nos instrumentos normativos analisados.

No setor de serviços, prevalecem cláusulas restritivas que buscam ga- rantir a participação do sindicato no processo eleitoral, bem como asse- gurar que as funções dessa comissão não irão se sobrepor às prerrogativas sindicais. Na indústria, destacam-se as cláusulas neutras, isto é, que apenas negociam os termos para criação e funcionamento da comissão sem con- flito com o que está disposto na lei.

No geral, das 62 cláusulas que tratam da comissão de representan- tes, 52% são casos impeditivos ou restritivos, enquanto outras 48% foram consideradas neutras - pois somente regulamentavam os termos de fun- cionamento da comissão. Isto significa que a maioria das categoriais que regulamentam a comissão em seus instrumentos coletivos o fazem ou para impedir expressamente sua formação ou para implantá-la, buscando garantir a participação sindical nas eleições, na dinâmica de organização ou mesmo assegurar que a comissão não irá se sobrepor às prerrogativas sindicais. Assim, são setores mais organizados e concentrados nas gran- des empresas de automóveis que aderem a esta prática, mas com uma série de ressalvas na tentativa de resguardarem as prerrogativas sindicais.

É importante destacar que a busca de proteção do papel sindical se dá nos setores historicamente mais organizados.

Os dados gerais mostram que as comissões de representantes tive- ram baixa aderência na dinâmica real da relação capital trabalho, afinal somente 0,4% dos instrumentos analisados tratavam do tema. A baixa incidência desse tipo de comissão mostra que o dispositivo criado pela reforma trabalhista não está sendo efetivado na prática. O fato de esse tema pouco aparecer nos instrumentos coletivos poderia indicar que as comissões estão sendo implementadas sem passar por negociação, já que esse era um dos objetivos da nova lei. Entretanto, há poucos indícios de que isso esteja ocorrendo. Levando em consideração as poucas cláusu- las em que o tema aparece, verifica-se que as entidades sindicais buscam participar da regulamentação das organizações no local de trabalho.

Os motivos para a baixa aderência desse tipo de organização no local de trabalho são vários. Em primeiro lugar, é de pouco interesse dos atores criar comissões de representação nessa configuração já que, aos traba- lhadores, não é garantida a estabilidade, uma vez que a empresa pode demiti-los por problemas econômicos, disciplinares e tecnológicos. Além disso, as atribuições da comissão conflitam com o papel dos sindicatos. Já no caso das empresas, a preservação dos espaços de diálogo pressupõe não realizar imposições que possam se chocar com os interesses sindi- cais, ao menos não nesses casos, pois já existem outras instâncias de ne- gociação em que as atores se sentem mais seguros do ponto de vista das atribuições e das garantias. Por fim, a cultura laboral no Brasil atribui um sentido privado ao espaço onde o trabalho se realiza, sendo que as empresas desconsideram a necessidade de mecanismos democráticos e de diálogo no local de trabalho.

Em síntese, a introdução da comissão de representação teve a fina- lidade de esvaziar os sindicatos de seu papel de representação coletiva e fortalecer a perspectiva de uma descentralização das definições das re- gras e da solução dos conflitos para o interior da empresa. Apesar de buscar favorecer as empresas, estas não mostraram grande interesse na

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sua adoção, pois as grandes já têm práticas consolidadas de negociação e buscam este espaço para assegurar segurança jurídica. As pequenas e médias empresas buscam assegurar que não ocorra interferência coletiva nas suas decisões e, simplesmente, rechaçam qualquer forma de orga- nização coletiva, mesmo as favoráveis à sua gestão da força de trabalho. As organizações sindicais também buscam evitar concorrência de poder com outras formas de organização coletiva, sobretudo quanto à comis- são, como regulamentada na Lei nº 13.467/2017, é totalmente indepen- dente do sindicato e voltada para fragmentar a representação coletiva dos trabalhadores. É neste sentido que esse dispositivo foi colocado à dispo- sição, mas não foi utilizado, até porque a descentralização e a prevalência do que é negociado em detrimento da lei podem ocorrer a despeito da existência dessa comissão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

BRASIL. Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (1943). Legislação trabalhista. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto-lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943.

BRASIL. Reforma Trabalhista, Lei 13.467. Disponível em: http://www.pla- nalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13467.htm.

OIT. Convenção 135. Proteção de Representantes de Trabalhadores. Dispo- nível em: https://www.ilo.org/brasilia/convencoes/WCMS_235867/lang-pt/ index.htm. Acesso em 20 set. 2020.

ANDERSON CAMPOS

LUÍS AUGUSTO RIBEIRO DA COSTA

O FINANCIAMENTO

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