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RELAÇÕES SINDICAIS

No documento NEGOCIAÇÕES COLETIVAS (páginas 39-45)

2019-2016 Contrato intermitente 172 2,5% 172

4. RELAÇÕES SINDICAIS

A pesquisa investigou três aspectos da reforma trabalhista que buscaram fragilizar e esvaziar o papel dos sindicatos: a negociação no local de trabalho por meio da comissão de representação dos tra- balhadores; a homologação da rescisão contratual sem a participação dos sindicatos; e o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical. A frequência desses temas em convenções e acordos coletivos revela que, entre os anos 2016 e 2019, o tema do financiamento sindical con- tinuou sendo o tema mais negociado, que a organização no local de trabalho permaneceu sendo pouco tratada nas negociações coletivas e que a homologação prosseguiu sendo objeto de negociação, com leve acréscimo após a mudança da lei.

O primeiro aspecto a ser destacado é a baixa frequência de instru- mentos que tratam do tema relativo à organização no local de trabalho, conforme a Tabela 16 abaixo:

Tabela 16 – Número de instrumentos coletivos sobre relações sindicais, por ano

Temas 2016 Participação 2019 Participação Total

Variação 2019- 2016 OLT 9 0,19% 40 0,59% 49 344% Homologação 577 8,2% 716 10,5% 1.293 38% Financiamento sindical 3.042 43,3% 3.125 46% 6.167 3% Total de instrumentos do Painel 7.030 - 6.793 - 13.823 -

FONTE: SISTEMA MEDIADOR DO MINISTÉRIO DA ECONOMIA. BRASIL: 2016-2019. EXTRAÇÃO DE DADOS AMOSTRAIS: DIEESE. ELABORAÇÃO PRÓPRIA.

Nos instrumentos de 2016 foram encontradas somente nove ocorrên- cias que tratam da organização por local de trabalho. Nos instrumentos de 2019, o tema passa a ter um maior número de ocorrências, embora

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ainda de baixa significância frente ao painel selecionado. Os dados cor- roboram outras pesquisas da REMIR, disponível no capítulo 9, volume I, deste livro, cujos resultados apontam que a comissão de representação não obteve êxito após a reforma trabalhista.

Esse é um tema negociado tanto em acordos quanto em convenções coletivas, de acordo com a Tabela 17, com destaque para os setores indus- trial e de serviços que, entre os instrumentos de 2016 e 2019, mostraram incremento do número de instrumentos que tratam do tema da organi- zação no local de trabalho, conforme Tabela 18.

Tabela 17 – Número de instrumentos coletivos sobre relações sindicais, por ano e tipo de instrumento

Temas ACT 2016 ACT 2019 Variação CCT 2016 CCT 2019 Variação OLT 7 21 200% 2 19 850% Homologação 286 373 30% 291 343 18% Financiamento sindical 1.912 2000 5% 1.130 1.125 -0,4%

FONTE: SISTEMA MEDIADOR DO MINISTÉRIO DA ECONOMIA. BRASIL: 2016-2019. EXTRAÇÃO DE DADOS AMOSTRAIS: DIEESE. ELABORAÇÃO PRÓPRIA.

Tabela 18 – Número de instrumentos coletivos sobre relações sindicais, por ano e setor de atividade

Tema Setor 2016 2019 Variação

OLT Serviços 4 23 475% Indústria 5 17 240% Homologação Serviços 273 330 21% Indústria 217 287 32% Comércio 84 98 17% Financiamento sindical Serviços 1112 1200 8% Indústria 1472 1447 -2% Comércio 449 472 5%

FONTE: SISTEMA MEDIADOR DO MINISTÉRIO DA ECONOMIA. BRASIL: 2016-2019. EXTRAÇÃO DE DADOS AMOSTRAIS: DIEESE. ELABORAÇÃO PRÓPRIA.

O segundo aspecto a ser destacado é o acréscimo de 38%, entre 2016 e 2019, de instrumentos que tratam do tema da homologação, confor- me Tabela 16. O tema continuou sendo negociado, majoritariamente, via convenção coletiva de trabalho, conforme Tabela 17, com destaque para o setor de serviços, com incremento de 21% no número de instrumentos

que tratam do tema entre os anos pesquisados. Para o setor industrial, o incremento foi de 32%, conforme Tabela 18.

O terceiro aspecto a ser destacado é a expressiva ocorrência de ins- trumentos que tratam do financiamento sindical desde 2016, isto é, antes da exclusão do caráter obrigatório da contribuição sindical ou do veto do Supremo Tribunal Federal (STF) à cobrança de taxa para custeio do sistema confederativo e assistencial para trabalhadores não sindicaliza- dos. Conforme a Tabela 16, a variação no número de instrumentos cole- tivos entre os anos analisados é de somente 3%, indicando que esse é um tema que já vinha sendo amplamente negociado pelos sindicatos, tanto em acordos quanto em convenções coletivas, como mostra a Tabela 17, e em todos os setores analisados, com destaque para o setor industrial, conforme Tabela 18.

Sobre o tema da organização no local de trabalho, o conteúdo das cláusulas analisadas entre os anos pesquisados mostra que, antes da reforma, os instrumentos tratavam do reconhecimento de comissões baseado na Convenção nº 135 da Organização Internacional do Tra- balho (OIT)15 e/ou nos termos do art. 11 da Constituição Federal (CF)

de 198816. Após a reforma, 52% das cláusulas analisadas passaram a

impedir ou restringir a formação da comissão de representantes. Essa restrição busca garantir que as comissões só possam ser constituídas mediante regras eleitorais e de funcionamento antes acordadas em ne- gociação coletiva; que os sindicatos participem da organização do pro- cesso eleitoral; ou ainda, que a comissão não poderá substituir o papel

15. “Quando uma empresa contar ao mesmo tempo com representantes sindicais e re- presentantes eleitos, medidas adequadas deverão ser tomadas, cada vez que for neces- sário, para garantir que a presença de representantes eleitos não venha a ser utilizada para o enfraquecimento da situação dos sindicatos interessados ou de seus represen- tantes e para incentivar a cooperação, relativa a todas as questões pertinentes, entre os representantes eleitos, por uma parte, e os sindicatos interessados e seus repre- sentantes, por outra parte.” Disponível em: https://www.ilo.org/brasilia/convencoes/ WCMS_235867/lang--pt/index.htm. Acesso em: 20 set. 2020.

16. Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição de um representante destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendi- mento direto com os empregadores.

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do sindicato. Os outros 48% correspondem a cláusulas neutras, isto é, que somente regulamentam os termos de funcionamento da comissão. Dada a baixa ocorrência do tema nos instrumentos analisados, a preva- lência de cláusulas restritivas e impeditivas após a reforma não pode ser tomada como evidência da capacidade de resistência sindical. A baixa aderência se relaciona tanto à falta de interesse dos atores em criar as comissões, já que existem outras instâncias de negociação em que se sentem mais seguros do ponto de vista das atribuições e das garantias, quanto à cultura do trabalho no Brasil em que as empresas desconside- ram a necessidade de mecanismos democráticos e de diálogo no local de trabalho. Assim, a regulamentação da comissão de representação é um instrumento colocado à disposição pela reforma, mas que não vem sendo utilizado. Entretanto, nos poucos casos verificados em que os sindicatos conseguem pautar o tema, prevalecem cláusulas que impe- dem e restringem a formação das comissões.

No caso da homologação, em 2016, os instrumentos coletivos trata- vam do tema apenas para referendar, conforme a legislação em vigor, que a mesma deveria ocorrer junto à entidade sindical ou no Ministério do Trabalho e Emprego, sendo que a imensa maioria previa sua realização na entidade sindical. Na comparação entre os anos 2016 e 2019, verifi- cou-se que 22% das cláusulas foram suprimidas, sobretudo no comércio, deixando de garantir a assistência sindical no ato da homologação, como a Lei nº 13.467/2017 prevê. Entretanto, 55% das cláusulas analisadas pas- saram a restringir a lei, principalmente nos setores industrial (alimenta- ção e metalúrgico) e de serviços (transportes e turismo e hospitalidades), obrigando a participação do sindicato no momento da homologação. Outros 20% recomendam e/ou facultam que o procedimento seja reali- zado junto à entidade sindical. Somente 3% delas reforçam a lei, determi- nando expressamente que é a empresa que realizará as homologações das rescisões dos contratos de trabalho.

Assim, os dados indicam que a manutenção da assistência sindical no momento da homologação da rescisão contratual tem se constituído en- quanto uma forma de resistência das entidades sindicais no cenário pós-

-reforma. Entretanto, essa conquista veio acompanhada pela cobrança da prestação do serviço por parte do sindicato, sendo que os valores cobra- dos, de acordo com as cláusulas analisadas, transitam entre R$ 10 e R$ 200 reais. 9% das cláusulas preveem algum tipo de taxa retributiva a ser paga pela empresa e/ou pelo trabalhador para que a homologação se rea- lize no sindicato. Embora residual, existem ainda cláusulas (3% do total analisado) que diferenciam os trabalhadores que têm assistência sindical e os que não têm, segundo critérios que passam, majoritariamente, pela condição de sindicalizado, mas também pela função exercida na empresa ou pela faixa salarial.

Portanto, a pesquisa indica que embora a assistência sindical na homo- logação figure entre as garantias que estão sendo suprimidas após a reforma trabalhista, principalmente no comércio, os sindicatos estão conseguindo, sobretudo no setor da indústria e dos serviços, manter a assistência aos tra- balhadores no momento da rescisão contratual. Entretanto, tal manuten- ção vem seguida pela cobrança pelo serviço prestado e por uma tendência, ainda residual, mas preocupante, de diferenciação entre os trabalhadores.

Sobre a questão do financiamento sindical, a verificação demonstrou que, entre os anos de 2016 e 2019, 50% das cláusulas analisadas somente replicaram as formas de sustentação financeira que já vinham sendo uti- lizadas sem nenhuma alteração no conteúdo da cláusula. Outros 23% são cláusulas normatizadoras, isto é, que apenas regulamentam formas de re- colhimento e repasse dos descontos, o direito de oposição e abrangência do acordo. O terceiro maior grupo, que corresponde a 18% do total anali- sado, é composto por cláusulas que criam novas formas de financiamento, com distribuição equilibrada entre os setores do comércio (19%), indústria (19,6%) e serviços (17,1%).

Das cláusulas que versavam sobre o tipo de contribuição sindical, 42% tratavam da contribuição negocial/assistencial, com destaque para o setor de serviços, e outros 17% tratavam da contribuição associativa. Os outros mecanismos de contribuição sindical são menos represen- tativos e oriundos das negociações coletivas como o estabelecimento de contribuição financeira da empresa para o sindicato e contribui-

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ções sindicais embutidas em ganhos e benefícios, como PLR e planos de saúde. Sobre a forma como ocorre a cobrança da referida forma de sustentação, 63% das cláusulas a determinavam para toda a categoria, independente da associação ao sindicato. Essa prevalência ocorreu nos três setores analisados. Ainda segundo as formas de aplicação, as cláu- sulas analisadas mostram que as deliberações tomadas coletivamente em assembleia, por ocasião dos acordos e convenções firmados, con- figuram como forma majoritária de aplicação, pois aparecem em 67% das cláusulas. Assim, a análise comparativa dos instrumentos coleti- vos acordados nos anos de 2016 e 2019 permitiu perceber o esforço de manutenção das formas de financiamento anteriores à mudança da lei, com destaque para a contribuição assistencial/negocial, definidas em assembleia e devidas por toda a categoria abrangida pelo acordo ou convenção firmada.

Embora os efeitos da lei ainda sejam recentes, a análise comparativa dos instrumentos coletivos antes e depois da reforma trabalhista per- mite algumas reflexões a respeito da maneira como a mudança da lei expõe as contradições do movimento sindical. As negociações coletivas indicam que a preocupação sindical se manteve centrada na sustenta- ção financeira das entidades. O cenário adverso tem reforçado a par- ticipação de outros tipos de contribuição previstas em lei, sobretudo, a contribuição assistencial/negocial. A esse aspecto se soma a contra- dição em torno da cobrança pela prestação de serviços que, antes da reforma, eram gratuitos e de amplo acesso garantido à toda categoria, como a homologação. Há, entretanto, focos de resistências que indicam que a reforma não conseguiu desconstruir experiências históricas de negociação, como no caso da homologação da rescisão contratual. Aqui o objetivo da nova lei parece impor maiores dificuldades de acesso, pelos trabalhadores, à Justiça do Trabalho. Muitos sindicatos consegui- ram manter a participação nesse processo, mostrando que a assistên- cia sindical se torna ainda mais necessária em um cenário de ofensiva patronal. Expor as contradições do movimento sindical e desmontar sua estrutura de atuação são tendências que a reforma tem efetivado.

Entretanto, a pesquisa indica que o golpe aplicado pela reforma não tem sido suficiente para aniquilar relações historicamente estabelecidas de mediação de conflitos.

No documento NEGOCIAÇÕES COLETIVAS (páginas 39-45)