• Nenhum resultado encontrado

INDÚSTRIA

No documento NEGOCIAÇÕES COLETIVAS (páginas 94-98)

O FINANCIAMENTO SINDICAL NAS

OUTRAS CONTRIBUIÇÕES

3.3 INDÚSTRIA

Do universo pesquisado, 78 cláusulas referiam-se a formas de contri- buição já adotadas pelas mesas de negociação analisadas e apenas doze diziam respeito a formas de financiamento não existentes em 2016.

a) Aplicação das formas de sustentação

Na indústria prevalecem as cláusulas que abrangem indistintamente trabalhadores filiados ou não às entidades sindicais, com ligeiro cresci- mento para o ano de 2019.

Tabela 8 - Aplicação das formas de sustentação financeira – Indústria

Formas de aplicação Reincidentes Novas

Nº cláusulas % Nº cláusulas %

Apenas para sócios 24 31% 3 25%

Para sócios e não sócios 39 50% 7 58%

Apenas para não sócios 3 4% 1 8%

Financiada pelo empregador 12 15% 1 8%

Total 78 100% 12 100%

FONTE: PAINEL EXTRAÍDO DO MEDIADOR – ELABORAÇÃO PRÓPRIA.

Chama atenção a significativa incidência de cláusulas de financia- mento cujo contribuinte é a empresa. A contribuição das empresas se dá em duas formas: através do pagamento de contribuição assistencial às próprias expensas da empresa; ou por meio de financiamento de pro- gramas mantidos pelos sindicatos, tais como cursos de formação profis- sional. Cláusulas desse tipo foram observadas nas seguintes categorias: químicos, metalúrgicos, vidreiros, têxteis, papeleiros, trabalhadores na indústria da borracha, do couro e da alimentação.

b) Formalização da contribuição

A maior parte das cláusulas de contribuição analisadas parte do prin- cípio de que o instrumento coletivo é dotado de poder ou autonomia para instituir formas de contribuição para toda a categoria. É o caso de 62% das contribuições preexistentes e de 73% das contribuições presen- tes só em 2019, o que indica uma permanência deste entendimento.

Tabela 9 - Normatização dos descontos sindicais – Indústria

Formas de autorização do desconto Reincidentes Novas

Nº cláusulas % Nº cláusulas %

Vincula toda a categoria abrangida pelo acordo

à contribuição 41 62% 8 73%

Contribuição ocorre por adesão individual 2 3% 0 0%

Aplica-se apenas aos sócios 23 35% 3 27%

Total 66 100% 11 100%

FONTE: PAINEL EXTRAÍDO DO MEDIADOR – ELABORAÇÃO PRÓPRIA.

OBS: EXCLUI TREZE CLÁUSULAS, CUJA FONTE DE FINANCIAMENTO É O EMPREGADOR.

CONCLUSÕES

Duas das maiores fontes de financiamento sindical – a contribuição sindical e a contribuição assistencial – sofreram fortes restrições no ano de 2017. A contribuição sindical (imposto sindical) passou a depender da prévia e expressa autorização dos trabalhadores, por imposição da re- forma trabalhista, e a contribuição negocial/assistencial foi vetada para trabalhadores não sindicalizados, por deliberação do STF.

A análise comparativa dos instrumentos coletivos acordados nos anos de 2016 e 2019 permitiu perceber o esforço de manutenção das formas de financiamento anteriores à RT, com destaque para as contribuições defini- das em assembleia e devidas por toda a categoria abrangida pelo acordo ou convenção firmada (80% das cláusulas no setor de serviços, 86% do setor de comércio e 67% no caso da indústria). Esse dado confirma a tendência verificada pela pesquisa realizada pela REMIR, em 2018 (Campos, 2019).

A tendência de garantir o desconto de toda a categoria, independente- mente de sua associação ao sindicato, é anterior à RT e se consolida nas for- mas criadas em 2019. O posicionamento do MPT exerceu influência sobre esse resultado, o que pode ser verificado em parte significativa dos textos das negociações analisadas que mencionaram a Nota Técnica da CONA- LIS/MPT. Assim, observa-se o baixo cumprimento das determinações da Lei nº 13.467/2017 e do STF sobre o caráter voluntário e individual da con- tribuição dos trabalhadores aos sindicatos representativos (20% das cláu-

NEGOCIAÇÕES COLETIVAS PÓS-REFORMA TRABALHISTA (2017) 612

sulas no setor de serviços e nenhuma cláusula com esse teor nos demais setores) ou que deve ser aplicada apenas aos associados ao sindicato (3% das cláusulas no setor de serviços, 14% no comércio e 25% na indústria).

Além das fontes de financiamento sindical constantes no arcabouço legal (contribuição sindical, confederativa, assistencial e mensalidade), outras formas de custeio já eram praticadas antes das mudanças legisla- tivas, porém com baixa incidência, como por exemplo, o financiamento das ações assistenciais sindicais pelo empregador e a inclusão de valor adicional sobre os ganhos de programas de participação nos lucros e resultados da empresa, para fins de contribuição ao sindicato.

É significativa a quantidade de cláusulas que normatizam as formas de descontar e de repassar os valores arrecadados ao sindicato (20% no setor de serviços, 21% no comércio e 28,4% na indústria). Dada a baixa incidência de instrumentos coletivos que deliberam sobre contribuições associativas e mensalidades sindicais, esse dado pode significar menor dependência do sindicato à negociação coletiva para definir como e quanto seus associados devem contribuir com sua entidade representativa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMPOS, Anderson de Souza. Resistência sindical no Brasil: entre a preser-

vação das estruturas e a construção de novas estratégias. 16. Encontro Nacio-

nal da ABET, UFBA, Salvador (BA), 2019.

CARDOSO, Adalberto. Imposto sindical. Os sindicatos estão maduros para a mudança. Revista IHU Online, 13 de outubro de 2008. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/17154-imposto-sin- dical-os-sindicatos-estao-maduros-para-a-mudanca-entrevista-especial- -com-adalberto-cardoso.

DIEESE. Subsídios para o debate sobre a questão do financiamento sindical. Nota Técnica n. 200. Dezembro, 2018.

GALVÃO, Andreia e TEIXEIRA, Marilane Oliveira. Flexibilização na lei e na prática: o impacto da reforma trabalhista sobre o movimento sindical.

In: KREIN, J. D. et all (Orgs). Dimensões críticas da reforma trabalhista no

Brasil. Campinas: Curt Nimuendajú, 2018.

IBGE (2020). Taxa de sindicalização cai a 11,2% em 2019, influenciada pelo setor público. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia- -noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/28667-taxa-de-sindicalizacao- -cai-a-11-2-em-2019-influenciada-pelo-setor-publico.

OLIVEIRA NETO, Alberto Emiliano de. Contribuições sindicais: o direito

fundamental da liberdade sindical e as modalidades de financiamento dos sin- dicatos. São Paulo: PUC-SP, 2008. Dissertação de mestrado.

CAPÍTULO 5

TELETRABALHO:

MAIOR FLEXIBILIDADE

DO USO DO TEMPO

DE TRABALHO E

DESRESPONSABILIZAÇÃO

DAS EMPRESAS

No documento NEGOCIAÇÕES COLETIVAS (páginas 94-98)