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Alguns antecedentes

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3.2 Xamanismo, Xamanismos e Neoxamanismo urbano

3.2.1 Alguns antecedentes

Além disso, lança-se à possibilidade de citar um fenômeno que em grande número de casos é um elemento agregador. No Brasil, o grande catalisador e formador de grupos é o uso da Ayahuasca. A realização de encontros e trabalhos de cunho espiritual e laico, a partir do uso do Jahré ou Ayahuasca, obtido do preparo das plantas ―Jagube‖ (nome científico

Banisteriopsis caapi) e ―Chacrona‖ (nome científico Psycotria viridis).

O chá produzido pelos indígenas autorizados é obtido pela decocção das plantas ―Jagube‖ e ―Chacrona‖, cujos alcalóides Beta-carbolínicos, ―Hamina‖, ―Harmalina‖, ―Tetrahidrohamina‖ e "Dimetiltriptamina DMT‖, induzem a um estado ampliado na consciência em seus usuários (origenário dos povos indígenas pré-colombianos, sendo considerado como uma bebida sagrada para os Incas e de várias tribos do território nacional, e o seu uso ritualístico é legalmente autorizado para os diversos grupos religiosos do país pelo CONFEN, Conselho Federal de Entorpecentes, bem como pelo CONAD, Conselho Nacional Antidrogas, o qual aprovou o parecer da Câmara de Assessoramento Técnico-Científico que reconheceu a legitimidade jurídica do uso nessas condições).

Finalmente, com o auge das experiências psicodélicas no mundo ocidental, muitas pessoas buscam a experiência da ayahuasca unicamente para experimentar as mais diversas finalidades. Alguns querem uma experiência ―autêntica‖ e viajam em busca de ―verdadeiros xamãs‖, enquanto que outros ingressam nessa experiência guiados pelas oportunidades de seu entorno.36

O contexto de uso das ―plantas de poder‖ aviva a prática do Neoxamanismo urbano, e como um elemento agregador, o yagé passa a figurar como um dos pontos principais de ritualidades, que se apropriam do uso na metrópole e grandes centros urbanos. No Brasil, no início do século vinte, aparecem os primeiros sincretismos religiosos envolvendo o Cristianismo, o Espiritismo e tradições indígenas e africanas a partir da ayahuasca.

Esse processo se relaciona com a urbanização do uso da planta no período da extração da borracha na floresta amazônica, onde diversos grupos sociais de vários estados imigraram para os seringais. O processo de sincretismo como um catalisador social avança como uma resposta à violência simbólica contra os latifundiários, assim como mecanismos de agregação social (TAUSSIG, 1993). Alguns desses seringueiros tiveram contato inicial com os nativos

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que utilizavam a planta sagrada, criando as religiões que se estabeleceram após os ciclos da borracha (MIKOSZ, 2009).

A partir das religiões fundadas após o ciclo da borracha, o Alto Santo, a Barquinha, o Santo Daime (CEFLURIS) e a UDV, surgem muitos outros grupos que, se formaram, buscando uma abordagem mais independente das religiões, os quais deram origens a grupos descendentes.

É interessante notar que o uso da ayahuasca passa constantemente por rupturas e ―reinvenções‖ no Brasil (tomando emprestado o termo de Labate), criando novos grupos religiosos e outros voltados de forma não dogmática ao crescimento do indivíduo, usos terapêuticos e centros de pesquisa. O sincretismo inicial que deu origem aos três primeiros grupos religiosos no Brasil aparece, agora, ainda mais evidente no grande ecletismo sobre o qual esses grupos mais novos são criados. Os exemplos apresentados aqui apenas dão uma pequena ideia desse universo, o suficiente para observar a expansão e os diversos usos atuais da ayahuasca. Não se pretende esgotar de modo algum o tema, pois a cada dia surgem mais grupos entre tantos já existentes e não citados aqui (MIKOSZ, 2009, p. 82 - 83).

Pode-se destacar alguns grupos que estão presentes no contexto paulista, principalmente na capital paulistana, onde encontramos um grande número de grupos e sedes de espaços esotéricos e de Neoxamanismo urbano. Afirma-se que, com o boom econômico dos últimos dez anos, a maioria da população que se encontrava nas classes mais baixas tiveram uma ascensão para a classe média, e, com o avanço da mobilidade social, os espaços terapêuticos, ou mesmo o contexto de participação do indivíduo na Nova Era, ou nas religiões pós-modernas, está vinculado a um excesso de individualidade próprio das classes mais altas. Portanto, na medida em que houve uma diminuição da desigualdade de renda (RIBEIRO, 2012), possibilitou-se que essa faixa da população tivesse acesso a tais espaços. E não só no Brasil e entre as classes abastardas, mas também em grande parte dos países da América do Sul a ayahuasca é usada para fins medicinais. Segundo o um exemplo dado pela professora Dra. Langdon:

Apesar de algumas diferenças entre as práticas de cura indígenas dos Sibundoy e dos Siona serem discutidas mais adiante, pode-se falar, em termos gerais, de um sistema regional na Colômbia meridional que se fundamenta nas práticas xamânicas e no uso de alucinógenos entre os grupos da bacia amazônica, como os Quéchua, os Kofan, e os grupos Tukano ocidentais, incluindo os Siona, os Makaguaje e os Coreguaje. Seus conceitos e métodos etiológicos de diagnóstico e cura são similares, e o xamã é definido como mediador com o mundo invisível. Seu poder de adivinhar as causas das doenças, assim como os eventos passados e futuros, é obtido por

meio da ingestão de yajé, uma bebida psicoativa derivada principalmente da trepadeira Banisteriopsis sp. Nem todas as doenças são atribuídas a causas sobrenaturais, como feitiçaria ou ataques por espíritos, mas aquelas doenças que não respondem a tratamentos habituais com ervas ou drogas biomédicas, que se caracterizam por uma crise súbita ou sintomas incomuns, ou que são mais graves, são suspeitas de terem uma causa que só pode ser diagnosticada e combatida por um xamã, realizando a cerimônia do yajé (LANGDON, 2012, p. 65).

Portanto, o consumo da ayahuasca, tem um apelo significativo para entender a oferta de práticas e espaços que atuam no universo do Neoxamanismo urbano. Mas não só a ayahuasca tem esta assombrosa utilização no meio urbano, outra planta também comum é a Jurema. Menos utilizada em espaços Nova Era, pois é mais tradicional entre os Kariri-Xocó, essa planta está presente em um grande número de religiões populares em periferias, como é o caso do Catimbó e Umbanda. A urbanização da Jurema dá-se também por um segundo interesse repentino nos nativos, em que se evidencia uma maior curiosidade sobre o que é fascinante para a sociedade urbana (Mota, 2005).

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