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Neoxamanismo e suas categorias

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3.3 O Neoxamanismo urbano como religiosidade autônoma

3.3.2 Neoxamanismo e suas categorias

Em sua atividade cotidiana, o Neoxamanismo parte de uma iconofagia (BAITELLO JUNIOR, 2005) imagética numa sociedade de informação (DE ALMEIDA ASSIS, 2015) de imagens religiosas, xamânicas, e acesso irrestrito às imagens de diversas comunidades, além da própria produção imagética interna ao grupo, que é constantemente reestruturada.

Outra inovação é a ciber-religião (MIZEK, 2008), pois muitos destes grupos disponibilizam formações on line, atendimento via Skype, hangout, vídeos ao vivo no facebook etc. onde a experiência corporal deixa o lugar de magnitude da vivencia religiosa e passa a ser secundário, a exemplo das conhecidas ―cyber churches‖ (MICZEK, 2008) cristãs, onde a participação é feita numa sala on line, e o grupo congrega com horário marcado, relatando inclusive ―milagres alcançados‖(CHILUWA, 2012).

Por outro lado, os grupos de Neoxamanismo urbano oferecem um espaço de vivência corporal incomum, que justamente vêm em contraponto ao mundo digital e sedentário contemporâneo, assim como uma saída para a temporalidade veloz que se é cobrado do indivíduo. O Dr. Magnani aponta bem tal questão no seu estudo (MAGNANI, 1999), no qual se percebe que esses espaços urbanos sempre buscam refúgios em chácaras e sítios nas imediações da metrópole para realizarem seus workshops de imersão, que podem durar um final de semana, ou até mais dias, no caso de feriados.

O que determina outra característica destes grupos são os workshops. O workshop é a reunião de pessoas com objetivos semelhantes em que há troca de experiências e realidades entre pessoas, na maioria das vezes referente a um assunto específico. É uma metodologia norte-americana, em que o público interage, sendo mais que uma palestra, em que ocorrem ―dinâmicas‖ e vivências para as pessoas internalizarem os novos conhecimentos acerca do tema que as impulsionaram a se encontrarem.

A modalidade ―oficina‖ é própria do mundo dos negócios, mas também, comum no campo das artes. ―Oficinas culturais‖ é um termo comum para estudantes iniciantes em formação das belas artes.

Por último, outra característica significativa é que o líder religioso, o neoxamã, não tem uma formação religiosa específica, ele vai seguir e estudar com diversas lideranças do Neoxamanismo urbano, até chegar a conduzir seu próprio grupo ou centro religioso. Então, os lideres vêm de diversas formações profissionais, por não existir uma formação oficial na área, como é o caso dos teólogos no Cristianismo. Assim, os neoxamãs se aproximam mais da formação da cultura popular, onde o discípulo segue um mestre até adquirir habilidades para seguir sua própria carreira no seguimento.

Essa modalidade de ser do Neoxamanismo urbano, de iconofagia, cyber comunicação, formação por workshops e liberdade profissional, cria um ambiente movente, de um rearranjo constante. A incomensurabilidade do discurso pós-moderno e certa impossibilidade de definição, devido à velocidade da mudança, pode ser um indicador importante que ajuda a identificar categorias para o Neoxamanismo. Muitas vezes, como bem coloca Magnani, o

Neoxamanismo carece de estruturas claras e o próprio termo ―xamânico‖ pode ter um emprego que não necessariamente tem sua origem na prática indígena:

O que se propõe, aqui, é entender a lógica desse particular arranjo, o xamanismo urbano, em que o qualificativo ―xamânico‖ é muitas vezes mais evocativo do que realmente constitutivo de uma prática clara e especificamente demarcada, procurando inicialmente mostrar sua inserção – processos de produção, circulação e consumo – no contexto onde se manifesta de forma recorrente e significativa (MAGNANI, 2005, p. 221). Essa definição ajuda a entender possivelmente de onde surge um movimento religioso. Como falado sobre os ―sem religião‖, o movimento ―Nova Era‖ é um espaço contemporâneo e útil para a nascente ascensão do Neoxamanismo urbano. Mas acreditamos, que passados quase vinte anos da pesquisa do Dr. Magnani, o Neoxamanismo urbano ganhou novos contornos e hoje se tornou uma prática religiosa para além do circuíto neoesotérico, pois ganhou sua independência e autonomia ao criar suas próprias referências internas. Como apontado na tese de Juan Scuro, o dispositivo cria estruturas internas de geração e perpetuação.

Por outro lado, como é bem apontado por Magnani, tampouco o termo ―xamânico‖ pode ser empregado. Em muitos casos a metodologia apresentada por Langdon, sobre a existência de xamanismos, no plural, e também muito rica pede que se avance nessa autonomia do movimento. Gostariamos de acrescentar mais uma tese as já existentes. Com o risco de perspectivas e tensões teóricas, mas positivas. Partindo da proposta de que não é um tipo de Xamanismo, nem uma corrente Nova Era, então, o que é o Neoxamanismo urbano?

Na contemporaneidade, com o avanço da comunicação, com a iconofagia e o constante desenvolvimento de Workshops, pode-se dizer que o Neoxamanismo urbano, criou, depois de pouco mais de duas décadas, sua própria tradição.

Hoje, pode-se falar de nomes de referência, como lideranças que falam e representam o Neoxamanismo urbano. Em 2015 e 2017, houve uma atividade própria dessas metodologias indicadas nesta tese. Um congresso de xamanismo na internet43.

Totalmente on line, com as referências, do Neoxamanismo urbano da atualidade, esse congresso, idealizado por Samuel Souza de Paula, um neoxamã e pesquisador de práticas ―bioxamânicas‖ (PAULA, 2014), conseguiu reunir as diversas tendências mais atuais do Neoxamanismo urbano no Brasil, com mais de cem palestras com essas diversas lideranças,

em que se incluem claramente os nomes dos principais líderes do Neoxamanismo urbano, e com isso estabelecer e afirmar que, hoje, o Neoamanismo urbano tem sua própria tradição, com diversos seguimentos próprios que não dependem nem de outros movimentos religiosos para gerar seu campo referencial, nem dos ―Xamanismos tradicionais‖ para compor seu modo

de ser. É totalmente autônomo do ponto de vista de origem ou referencial.44 Isto não quer dizer que a iconofagia e o hibridismo não ocorra constantemente nas bases, nos novos grupos, mas pode-se dizer que existe um centro da semiosfera de sentidos (FIGUEIREDO, 2017) para uma tradição do Neoxamanismo urbano.

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