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3.3 CAMINHANDO PELAS ETAPAS DA PESQUISA

3.3.2 Ambiência do Campo Empírico

Entendo a ambiência para além da questão do espaço físico, assim, minha concepção de ambiência está relacionada a sentir o clima da empresa, físico e relacional. Ter uma ideia do que seja a empresa, do que acontece, de como as coisas funcionam, esta perspectiva diz respeito à cultura naquele ambiente, às relações desenvolvidas pelos sujeitos que vivem ali, englobando também aspecto psicológico e estético.

Quando tive esta necessidade de perceber a ambiência em todas as suas dimensões, a intenção foi captar o que era possível à primeira vista, os aspectos objetivos e subjetivos, o que se passa na Fundição no âmbito geral e construir uma impressão preliminar. Considerei isto de suma importância para direcionar meus passos naquele lugar ainda desconhecido.

Pesquisando sobre ambiência, o termo é usado principalmente na área da Arquitetura e refere-se ao espaço organizado e animado que constitui um meio físico – estrutura dos arranjos e, ao mesmo tempo, meio estético e psicológico, especialmente preparado para o exercício de atividades humanas, revela aspectos de hierarquia e de poder. (BAUDRILLARD, 1988) Nesta perspectiva, a Arquitetura vê a ambiência alicerçada tanto em aspectos subjetivos, quanto em aspectos objetivos, como a iluminação, a cor, o cheiro, o som e a morfologia do ambiente.

Estes aspectos objetivos, de certa forma, conduziram-me ao comportamento dos indivíduos e à influência no protagonismo e na participação destes. A ambiência abrange um espaço, no caso da Fundição, ocupado por máquinas, equipamentos, dispositivos, ferramentas, fornos e pessoas, as quais interagem constituindo um cenário complexo onde se realizam relações sociais, políticas e econômicas de determinados grupos, sendo uma situação construída coletivamente e incluindo diferentes culturas e valores.

Sentir esta ambiência foi minha primeira necessidade como pesquisadora, os dias que sucederam aos primeiros contatos foram de observação preliminar, uma espécie de sondagem. Chegava no horário combinado e tentava interagir com as pessoas quando tinha oportunidade, preocupada sempre em não atrapalhar, era a primeira experiência da empresa desta natureza.

Esta fase foi muito delicada, precisava primeiro esclarecer detalhadamente meu trabalho de pesquisa e convencer os responsáveis da importância deste e acordar os pormenores da minha tramitação na empresa. Por ser uma indústria, que prioriza a produção, sabia que teria de deixar bem claro meu papel de pesquisadora, bem antes de adentrar ao trabalho de pesquisa na sua essência. A lógica empresarial não compreende com facilidade a subjetividade de uma pesquisa do tipo etnográfica, cabia a mim, esclarecer as implicações deste trabalho. Segundo Lapassade (2005),

falar do papel do pesquisador, de seu grau de implicação, de sua maneira de participar, que pode evoluir no decurso do trabalho, é descrever o trabalho de campo – o fielwork, a partir de sua referência central: o pesquisador na sua relação com a situação. (LAPASSADE, 2005, p. 72)

Não tinha formada uma opinião da ambiência da empresa, fiquei, a princípio na recepção, espaço que me permitia observar o movimento de entrada e de saída das pessoas. Percebi logo que a recepção era um ponto de convergência de pessoas, mas não era de quaisquer pessoas, era do pessoal administrativo. Os funcionários da produção acessavam a empresa por outra entrada e raramente iam à recepção, só o faziam quando eram chamados. Também percebi que entre ser aceita e ser integrada à empresa havia uma diferença, a Fundição era um ambiente novo para mim, precisava ter paciência.

Enquanto aguardava a disponibilidade dos gestores para se reunirem para apresentar mais detalhadamente minha proposta de pesquisa, o cronograma das atividades, acordar aspectos legais e tudo mais que fosse necessário para o bom andamento da pesquisa, ficava atenta a tudo que podia captar. Embora me sentisse uma estranha, especialmente devido aos olhares dos que passavam pela recepção, viam-me, porém não sabiam porque eu estava ali. O estranho é “um agente movido por intenções que se pode, no máximo, supor”. (...) “sua presença no campo de ação permanece desconcertante, tornando absurda a tarefa de prever os efeitos das ações e suas chances de sucesso e fracasso.” (BAUMAN, 2007, p. 91) Era o sentimento que me dominava, estava em uma situação desconfortável.

Sem poder expor coletivamente o projeto de pesquisa, não me sentia em condições de iniciar a observação participante, pois para mim, a questão ética era muito importante, não poderia avançar no trabalho de pesquisa sem antes deixar os princípios éticos que regem este estudo esclarecidos com os gestores da empresa e

a posteriori, com os sujeitos pesquisados. Consonante com Angrosino (2009), os

princípios éticos perpassam pela preocupação em ser transparente quanto aos propósitos do estudo, manter a privacidade e o sigilo de todos os dados de pesquisa, ser cuidadoso e respeitoso com os sujeitos da pesquisa.

Lüdke (1986) defende que o pesquisador deve revelar ao grupo pesquisado, desde o início, os objetivos do estudo e pedir a cooperação, podendo nesta posição ter acesso a informações inclusive confidenciais, contudo terá que ter autorização do grupo do que será ou não tornado público pela pesquisa.

Após algumas negociações sem êxito, finalmente consegui agendar a reunião para apresentação do meu projeto para o quadro de funcionários, especificamente o pessoal da produção, comprometendo-me a não me demorar muito na exposição. A condição era que seria no primeiro horário do expediente, antes de os funcionários iniciarem as atividades cotidianas do dia, para não atrapalhar muito a rotina de trabalho, ou seja, a partir das 7 horas.

Segundo Angrosino (2009), o pesquisador deve estar aberto ao que o campo pode mostrar a princípio, de modo a permitir uma primeira visualização do contexto da pesquisa. O campo mostrava que eu precisava ter paciência e aguardar o dia da reunião, enquanto isso, procurei saber sobre as políticas de contratação, em especial as que se referem aos saberes e às competências demandadas pela empresa, formas de seleção, acompanhamento e avaliação e solicitei permissão para acessar e manusear os documentos que pudessem fornecer dados sistemáticos da empresa.