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As ciências sociais usam como método de pesquisa principalmente a investigação qualitativa que teve sua origem na prática desenvolvida pela Antropologia, sendo empregada posteriormente pela Sociologia, Psicologia e mais recentemente pela Educação. Segundo André (1995, p. 16), as raízes histórias da

15 Poesia “No Meio do Caminho” Disponível em:

< http://www.algumapoesia.com.br/drummond/drummond04.htm/>. Acesso em: 12 jan. 2016

No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.

abordagem qualitativa remontam do final do século XIX, quando os cientistas sociais passaram a questionar a aplicação do uso das técnicas de investigação das ciências físicas e naturais nas pesquisas sociais, principalmente por estas técnicas serem fundamentadas em uma perspectiva positivista de conhecimento.

Para Poupart et al. (2008), a abordagem qualitativa apresenta-se como um método de análise das realidades sociais baseada nas perspectivas dos atores, ou seja, ela permite compreender suas condutas, na medida em que estas são interpretadas, considerando os sentidos que os atores dão às suas ações. Nesta perspectiva, a etnografia contribuirá com suas técnicas de coletas de dados e princípios, em especial o da “interação constante entre o pesquisador e o objeto pesquisado”. André (1995, p. 28)

O que é uma metodologia ou um método e técnica de investigação? Há vários conceitos para esses termos, por isso é importante o entendimento da questão. Segundo Gil (2009), pode se conceituar método como o caminho para se chegar a determinado fim, enquanto metodologia pode ser entendida como uma estratégia que diz respeito à maneira como investigar; implica uma construção estratégica que articula teoria e experiências para abordar um objeto, estuda os métodos aos quais ela própria recorre. Já as técnicas de investigação, são os instrumentos ou dispositivos de coleta de dados e também de tratamento da informação considerada útil para o estudo.

As investigações de natureza qualitativa se utilizam de métodos e técnicas de investigações que possibilitem a compreensão do objeto de estudo. Nesta perspectiva se preocupa em analisar e compreender aspectos sociais, experiências de pessoas ou grupos, práticas cotidianas e/ou profissionais, significação atribuída pelos sujeitos aos acontecimentos de forma mais detalhada, descrevendo a complexidade do comportamento humano no contexto em estudo. (ANDRÉ, 1995).

Diante disso, a abordagem metodológica mais apropriada para o estudo dos saberes profissionais direcionou-se para a etnografia. Como Ramos (2014) penso que não haja incompatibilidade em se deslocar da abordagem teórico-metodológica do materialismo histórico-dialético para a etnografia, na área Trabalho e Educação, na perspectiva da apreensão dos saberes de grupos profissionais, com o intuito de compreender as dinâmicas e os processos pelos quais os trabalhadores podem se

afirmar como sujeitos das relações sociais de produção e assim constituírem formas de enfrentamento da dominação.

A etnografia contribui para “depreendermos a dinâmica social no plano das interações e do senso comum, no qual cotidianamente se produzem experiências coletivas.” Ramos (2014) A compreensão dos saberes profissionais, ainda consoante a Ramos (2014, p. 107) “pode dar a elucidação científica sobre fundamentos, motivações e limites de produção de conhecimentos pelos trabalhadores na sua prática social”, principalmente no enfoque entre as relações micro e macrossocial que ocorrem nas relações sociais de produção.

Considerando os esclarecimentos e o objeto da pesquisa, escolhi como estratégia de pesquisa o método qualitativo com abordagem do tipo estudo de caso etnográfico que se fundamenta em Yin (2005) e André (1995), por se tratar do estudo de uma realidade específica, a dos trabalhadores, enquanto grupo profissional, que se encontra em situação de trabalho, em uma empresa de fundição e por entender que esta metodologia é a que melhor atende a proposta da pesquisa. Nesta perspectiva, além da pesquisa bibliográfica e da análise documental, realizei as técnicas de observação participante16, entrevistas semiestruturadas, com todos os sujeitos que foram identificados e considerados necessários. E para a coleta e análise dos dados empíricos, utilizei o diário de campo, dispositivo que contém os registros das observações do pesquisador no tocante às diversidades do cotidiano dos sujeitos pesquisados.

Para auxiliar na análise de dados qualitativos, busquei referencial metodológico também na Teoria Fundamentada nos Dados (TFD)17, a qual consiste em analisar os dados extraídos das experiências vivenciadas pelos sujeitos, de modo interpretativo e sistemático, visando a compreender o contexto social sob estudo, como e por que estes sujeitos agem de determinada maneira.

16O termo “observação participante” tem sua incursão em sua acepção atual, aproximadamente no final dos anos 1930. Diferentes denominações foram e são utilizadas para designar esse tipo de abordagem: “observação pessoal”, “observação direta” ou observação “in situ” (POUPART, et al. 2008).

17

A TFD foi desenvolvida por Barney Glaser e Anselm Strauss, no início dos anos de 1960, sociólogos da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, que desenvolveram estratégicas metodológicas sistemáticas que poderiam ser adotadas por cientistas sociais para o estudo de muitos outros temas, as quais estão no livro “The discovery of grounded theory” (1967). Para maiores detalhes ver Charmaz (2009).

A partir dos dados analisados, pude gerar construtos teóricos sobre o fenômeno, denominado teoria. Segundo Charmaz (2009), teoria, aqui entendida não no sentido clássico como algo a ser testado e comprovado, visando à generalização e à universalidade, porém entendida conforme a concepção da TFD, como uma teorização interpretativa do fenômeno estudado. Nessa perspectiva, teoria é o que se conclui do estudo decorrente das análises dos dados, para isso alguns critérios visando ao rigor metodológico devem ser seguidos de forma criteriosa: coletas de dados, codificação, análise e redação da Teoria Fundamentada em Dados; todo esse processo foi explicitado em detalhes ao longo da tese.

Sei que neste caminhar, também fui me formando, uma vez que a pesquisa do tipo etnográfico, escopo deste estudo, tem um caráter formativo tanto para os sujeitos quanto para o pesquisador.

3.2 A ESCOLHA DENTRE AS ABORDAGENS METODOLÓGICAS: A