• Nenhum resultado encontrado

3.5 A INDÚSTRIA DE FUNDIÇÃO: CENÁRIO NACIONAL E LOCAL

3.5.1 Histórico e Especificidade da Fundição no Brasil

Os processos de fundição são conhecidos há milhares de anos. A descoberta do metal e as técnicas de fundição para a sua obtenção tiveram grande influência na vida do homem. Foi a partir da dominação destas técnicas produtivas de fundição dos metais, que os povos da antiguidade passaram a substituir as ferramentas que eram confeccionadas em madeira e pedra, por ferramentas de metal, principalmente para o cultivo agrícola e a caça. Este período ficou conhecido por “idade dos metais”, como o próprio nome diz, é marcado pela dominação dos metais por parte das primeiras sociedades.

O cobre foi o primeiro metal a ser utilizado e usado na confecção de armas de metal, a aproximadamente 5000 a.C., seguido do estanho. Com a união desses dois metais, o homem produziu o bronze, que é a liga metálica constituída dos elementos principais cobre mais estanho; isso por volta de 3000 a.C. A descoberta do ferro ocorreu bem mais tarde, cerca de 1500 a.C. na Ásia. Por isso costumamos dizer que a história dos fundidos no mundo se confunde com a própria história e evolução da humanidade.

No Brasil, os Bandeirantes durante o desbravamento e expansão territorial descobriram e exploraram jazidas de metal, sendo o ouro seu principal fito. O metal tão cobiçado foi encontrado em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, no final do século XVII; sendo o auge deste processo exploratório conhecido como ciclo do ouro ou século do ouro, isto durante todo século XVIII.

Mas, as primeiras descobertas de ouro não foram em Minas Gerais, e sim no Pico do Jaraguá, em São Paulo. Por isso, a primeira Casa de Fundição foi estabelecida em São Paulo, por ordem do Império Português, por volta de 1580, para fundir o ouro extraído das minas do Jaraguá e de outras jazidas nos arredores da vila. A demanda por ferrovias e portos fomentou, por muito tempo, a fundição de ferro no Brasil, que passou a ser feita no século XVII (CASOTTI, et al. 2011).

Esta breve historicidade serviu para ressaltar a importância das indústrias de fundição no processo de desenvolvimento e evolução do homem ao longo do tempo. Para a compreensão da magnitude e diversidade desta indústria e as proporções que esta alcança a nível internacional, nacional e regional, trago um panorama geral tendo como fonte a Associação Brasileira de Fundição (ABIFA).

A indústria de fundição brasileira produz peças fundidas em ferro, aço e ligas não ferrosas, com matérias-primas todas de origem nacional, o que lhe conferem uma independência do mercado externo. Segundo dados da ABIFA, “emprega cerca de 65.000 trabalhadores e faturou 8,4 bilhões de dólares em 2014, com cerca de 1.300 empresas (base 2014). A maioria dessas empresas é de pequeno e médio porte, com predomínio do capital nacional” (ABIFA, 2015, p. 22).

Conforme mostra o Quadro 3, abaixo, no cenário mundial o Brasil é o 7º produtor de fundidos (base 2013), dentre os décimos maiores, com uma produção acima de 3 milhões de toneladas, superando países como Coréia, Itália e França. (ABIFA, 2015).

Quadro 3 - Produção mundial de fundidos em mil ton. (base 2013)

1º CHINA 44.500,0 2º EUA 12.250,0 3º ÍNDIA 9.810,0 4º JAPÃO 5.538,0 5º ALEMANHA 5.186,7 6º RÚSSIA 4.100,0 7º BRASIL 3.071,4 8º CORÉIA 2.562,0 9º ITÁLIA 1.971,0 10º FRANÇA 1.748,2

A representação deste cenário mundial de produção de fundidos pode ser claramente visualizada no gráfico de barras (Figura 3), abaixo, que produzi com base nos dados acima, divulgados pela ABIFA:

Figura 3 – Gráfico da produção mundial de fundidos em toneladas (base 2013)

Fonte: Anuário ABIFA 2015

O cenário nacional referente a produção de fundidos em uma década, no período de 2004 a 2014 apresentou a evolução representada pela Figura 4, abaixo. Conforme pode ser observado, o setor de fundidos no período de 2004 a 2008 apresentou um crescimento contínuo, tendo “uma queda em 2009, em função de uma crise internacional”, recuperando o crescimento em 2010 e 2011, mas oscilando a menor em 2012, 2013 e 2014, este a um nível inferior ao ano de 2004 “por conta, desta vez de uma crise interna no Brasil.” (ANUÁRIO ABIFA, 2015).

Figura 4 – Gráfico da produção brasileira de fundidos

0 500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500 4.000 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 P ro d u ç ã o ( 1 0 ³) ANOS

Segundo a ABIFA, a produção da indústria de fundição brasileira destina-se, principalmente, ao segmento automotivo, com 59% do consumo da produção de fundidos, abastecendo fabricantes de componentes automotores, autopeças e as próprias montadoras de automóveis, caminhões, ônibus e tratores. Este consumo é evidenciado pela presença de montadoras da Europa, Ásia e Estados Unidos no Brasil. Seguido pelo segmento de bens de capital (principalmente máquinas e implementos agrícolas) com 16%; pelo setor de infraestrutura (que inclui o setor de saneamento), com 7%; o setor ferroviário com 6%; o setor de mineração com 4% e outros setores da economia demandantes de fundidos totalizando 8%. (ANUÁRIO ABIFA, 2015). O gráfico a seguir (Figura 5), mostra a destinação da produção de fundidos no Brasil por setor consumidor.

Figura 5 – Gráfico de segmentos da produção brasileira de fundidos (em mil toneladas)

59% 16% 7% 6% 4% 8% Automotiva Bens Capitais Infraestrutura Ferrovia Mineração Outros

Fonte: Anuário ABIFA 2015, p.25, junho 2015

No gráfico de mão de obra empregada na indústria de fundição (Figura 6), pode ser observada a variação do número de empregados nas fundições no período de 2004 a 2014. Observa-se que em 2009 o setor teve o menor nível de emprego e em 2011 o mercado aqueceu, registrando o maior número de empregados.

Figura 6 – Gráfico de mão de obra de fundição

Fonte: Anuário ABIFA 2015, p.24, junho 2015

A produção brasileira de fundidos por região representa no gráfico (figura 7), abaixo, apresenta os principais consumidores deste mercado de fundição, os quais estão localizados no estado de São Paulo, nos estados da região Sul, no Centro Oeste e mais Minas Gerais correspondendo a 92% do consumo das fundições brasileiras. O Norte/Nordeste concentra só 2% da produção de fundidos. (ABIFA, 2015).

Figura 7 – Gráfico de produção brasileira de fundidos por região

36% 33% 23% 2% 6% São Paulo Região Sul Centro-Oeste/Minas Gerais Norte/Nordeste Rio de Janeiro

Fonte: Anuário ABIFA 2015, p.24, junho 2015

A apresentação deste panorama do setor de fundição visou mostrar a importância da indústria de fundição para o crescimento e desenvolvimento do país,

principalmente fornecer uma visão ampla deste segmento tanto a nível nacional quando internacional e regional. Estes dados vêm corroborar com o que consegui perceber na Fundição em relação à concorrência no setor, demanda e produtividade. Ao questionar sobre as indústrias concorrentes da Fundição, o gestor informou que praticamente não tem. Isto se justifica pela baixa produção de fundidos da região Norte/Nordeste.

Segundo a ABIFA (2015), a Indústria Brasileira de Fundição, fabricante de peças de diferentes qualificações e usos compreende cerca de 1.340 unidades fabris, 48% produzido peças em metais ferrosos (ferro e aço) e 52% fabricando peças em metais não-ferrosos. A Fundição no Brasil é um setor exemplo da convivência de grandes conglomerados industriais com unidades de produção seriada de peças, por exemplo, para a indústria automobilística, com um padrão tecnológico avançado; com empresas familiares de pequenos e médios portes que produzem peças sob encomenda ou por desenho com processos produtivos tradicionais.