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3.3 CAMINHANDO PELAS ETAPAS DA PESQUISA

3.3.1 Levantamento das Empresas

Comecei a me preocupar em procurar uma empresa industrial para a realização da pesquisa empírica depois de ter concluído todos os créditos exigidos pelo programa de pós-graduação e resolvido algumas prioridades particulares e profissionais ainda pendentes. Isto aconteceu em 2014 e a princípio selecionei três empresas (A, B e C).

A próxima providência foi pesquisar sobre as empresas, busquei conhecê-las, história, produtos, perfil, mercado; para então poder entrar em contato, a fim de apresentar meu projeto de tese e negociar a possibilidade de realização da pesquisa na empresa. Comecei pela empresa “A”.

Realizei inúmeras tentativas para acessar a empresa “A”. O primeiro contato foi início de fevereiro/2014 e seguiu os trâmites padrão da empresa explanado no site, o qual solicitava que o interessado agendasse uma visita, por e-mail, expondo o motivo e aguardasse o retorno. Fiquei muito ansiosa esperando o contato da empresa com uma resposta de agendamento da visita.

Como isso não aconteceu, busquei outra alternativa contatando pessoas, meados de março/2014, que já trabalharam na empresa para fazer o link e facilitar o acesso. Isto exigiu muito tempo e espera. Segundo Lapassade (2005, p. 71), alguns pesquisadores “passam por aqueles que têm o poder estatutário de fazer com que

sejam admitidos numa instituição, de abrir-lhes as portas. São chamados de

gatekeepers”. Este autor, ainda, exemplifica relatando que,

W. F. Whyte encontrou a „entrada‟ de seu campo, um bairro italiano de Harvard, graças a um trabalhador social de „Cornerville‟, que lhe apresentou o chefe de um bando de jovens, que deveria introduzi-lo nesse bando e no bairro inteiro. (LAPASSADE, 2005, p. 71)

Identifiquei-me com esta situação ao buscar gatekeepers, ou seja, um tipo de relação facilitadora que possibilitasse minha entrada no campo. Mas essa estratégica também não funcionou. A partir dessas tentativas frustradas, uma vez que foram vários gatekeepers que contatei, por um período de três meses – março a julho/2014, todos tiveram a mesma dificuldade; comecei a perceber o quão difícil seria este primeiro contato.

Diante deste contexto, fui à empresa pessoalmente, início de novembro/2014, quando fui orientada a fazer o contato, exclusivamente, por e-mail, para o setor responsável. Expliquei que já tinha feito este trâmite sem sucesso e acabei deixando na portaria o Projeto Executivo (Apêndice A) para ser entregue ao responsável do setor, apresentando sucintamente a proposta de pesquisa e me disponibilizando a prestar quaisquer esclarecimentos. Acabei conseguindo um novo e-mail, agora da gerente responsável.

De posse deste e-mail, encaminhei mensagem expondo os motivos que me levaram a contatar a empresa. A princípio, o setor responsável respondeu e se mostrou interessado, porém foi postergando até deixar de responder minhas mensagens, não obtive êxito. Este processo demandou muito tempo e me deixou desanimada, além de ter me feito refletir o quanto de tempo gastei esperando um posicionamento da empresa.

Questionava o princípio etnográfico de estar no campo neste processo de acesso, como estou no campo, se não consegui entrar na empresa? Esta situação me deixou com um sentimento de angústia, com uma sensação de dependência e impotência. Sabia que precisava de permissão formal e aceite do outro para realizar o meu trabalho, porém até então não tinha imaginado que enfrentaria tanta dificuldade para efetivar minha pesquisa, o que passou a ser uma grande preocupação agravada com o tempo decorrido.

Todavia não poderia ficar em estado de latência por muito tempo, então continuei a empreitada, busquei a empresa “B”, visando a conseguir a possibilidade de, pelo menos, apresentar-me e de expor a proposta/projeto de pesquisa. Após alguns contatos telefônicos, realizados em fevereiro/2015, finalmente consegui negociar data e horário, agendando para o mês de março/2015 uma reunião com os empresários.

No dia da visita, exatamente 03 de março de 2015, para apresentação e negociação do projeto executivo20 de pesquisa estava muito ansiosa. A empresa “B” fica em outro município, por isso saí cedo para não chegar atrasada, após 1h30min dirigindo, cheguei ao destino, 15 minutos antes do horário. Fui recebida pela secretária que imediatamente avisou a minha chegada ao técnico responsável por me receber. Este veio recepcionar-me e nos dirigimos a sua sala.

O início da conversa foi meio tímido e até nervoso, mas com o passar do tempo e as descobertas que pertencíamos à mesma área técnica – Metalurgia – a identificação desta afinidade e a linguagem técnica facilitou o diálogo. Vencido este primeiro contato, adentrei no fator principal da minha presença ali e comecei a expor o motivo que me levou à empresa, apresentando o projeto executivo, (Apêndice A), impresso que tinha levado.

Vários questionamentos foram-me feitos, as dúvidas esclarecidas, entretanto a resposta quanto a poder ou não pesquisar não saiu de imediato. O técnico responsável disse: “a possibilidade existe, porém se faz necessário consultar os outros membros da família”, por se tratar de uma empresa familiar. Deixei uma cópia do projeto executivo, esta situação deixou-me, novamente, ansiosa.

Neste contato, fui informada de que precisaria conversar, também com o gestor geral da Fundição, o que veio ocorrer a posteriori, em 12 de março de 2015. Este me atendeu em sua sala e eu praticamente repeti a apresentação da minha proposta contida no projeto executivo. A conversa foi mais cautelosa, principalmente porque o gestor não tinha vivenciado solicitação desta natureza na empresa, deixei também uma cópia impressa do projeto executivo.

A literatura pesquisada acerca de empresa familiar apresenta uma congruência no que concerne à peculiaridade que a caracteriza. É entendimento entre os autores

20

Minha orientadora solicitou que eu apresentasse um projeto executivo e não um acadêmico, pois aquele era mais apropriado para a negociação com a indústria.

Maximiliano (2002), Lodi (1998), Oliveira (2006), que para ser considerada empresa familiar, esta deve ter uma relação entre propriedade e controle, ou seja, a origem e a história da empresa estão vinculadas a uma família que além de proprietária, detém a gestão dos negócios. Assim, “falar de uma empresa familiar é tornar implícita a propriedade ou outro envolvimento de dois ou mais de uma família na vida e funcionamento dessa empresa”. (LONGENECKER et al. 1997, p. 135)

Diferentemente da empresa anterior, a empresa “B”, doravante denominada Fundição, foi célere na responda e concedeu o aceite para a realização da minha pesquisa empírica. Fiquei muito feliz e aliviada, começava aí uma nova etapa de negociação. Segundo Lapassade (2005, p. 70), “a relação com as pessoas deve ser constantemente negociada e renegociada ao longo da pesquisa. Nada é jamais conseguido de forma definitiva e global”. Ciente deste processo, discutimos o período, dias e horários mais apropriados e, a princípio, ficou acordado a realização da pesquisa por um período de 04 (quatro) meses, as terças e quintas-feiras, das 9 às 16 horas, podendo ser prorrogado com a anuência de ambas as partes.

Com a autorização da Fundição para a realização da pesquisa de campo empírica, preparei uma proposta de cronograma, solicitei uma reunião conjunta com os dois gestores. Pedi também que a Fundição me fornecesse um Termo de Autorização.

Vale salientar que a observação preliminar revelou que a Fundição possui efetivamente dois gestores, um técnico e um administrativo, todavia oficialmente só o gestor administrativo responde pela empresa. Essa situação foi sendo percebida à medida que eu tentava uma reunião conjunta e não conseguia, registrei-a no diário de campo:

Faz três semanas que estou vindo para a Fundição e até o momento não consegui conversar juntamente com os dois gestores da empresa. Inclusive preparei uma pauta para a reunião com os seguintes assuntos: detalhamento/esclarecimento do projeto executivo apresentado; termo de autorização; sigilo/ética na pesquisa/consentimento informado; intenção de deixar minha contribuição para a empresa; restrições (pessoas, espaços, documentos); posição delicada do pesquisador; almoço; comunicação; não me ver como visita; criação de pasta/pesquisa; reunião com os funcionários para expor minha pesquisa. (DIÁRIO DE CAMPO, 12 mar. 2015)

Esta pauta demonstrava minha preocupação em negociar e esclarecer sobre o processo de pesquisa, precisava me situar, colher as primeiras impressões. A reunião se tornou um foco a perseguir, precisava deixar bem claro os assuntos desta pauta com os gestores, por isso, insisti na reunião que não se concretizou. Só conseguia conversar separadamente, esta foi uma situação muito delicada, então, após perceber isso, tive mais cuidado ainda em como me expressar com todos.

Começava aí um longo processo de ambiência e de preparação para a pesquisa empírica junto aos sujeitos. Os registros da negociação de acesso ao campo já vinha realizando-os no diário de campo desde o primeiro contato, entre os quais destaco:

Após longa espera, só na parte da tarde o gestor geral me chamou para conversarmos sobre o Projeto Executivo e o Termo de Autorização. Disse que consultou a família e, também, um amigo da família; os quais foram favoráveis, mas solicitaram acrescentar um texto para eximir a Fundição de questões judiciais futuras. Pediu também uma declaração da orientadora da pesquisa. (DIÁRIO DE CAMPO, 17 mar. 2015)

Minha formação pelo campo estava só começando. Ficou claro que a Fundição se estendia aos limites físicos, característica peculiar de empresa familiar, a permissão para realização da minha pesquisa só foi concedida após consulta à família e a pessoas amigas, percebi que foi preciso um referendo familiar. Segundo Maximiniano (2002), as empresas familiares são, geralmente, influenciadas por uma família e ou pelas relações familiares, as quais são consultadas, muitas vezes, para as tomadas de decisões. Refiz o projeto executivo para atender às sugestões feitas pela família e providenciei a declaração, (Anexo A).

Vale ressaltar, que só após o atendimento destas exigências o Termo de Autorizaçãoo da Fundição, (Anexo B) foi fornecido. As nuances da cultura da empresa exigia de mim sutileza e muito cuidado, por isso esta etapa de adentramento ao campo empírico requeria uma percepção da ambiência.