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Conforme mencionado anteriormente, o quadro funcional de trabalhadores da Fundição é constituído por técnico em metalurgia, moldadores, ajudante de moldação, forneiro, lixadores, operador de máquinas, ajudantes de oficina, motorista/comprador, auxiliares administrativos e sócio-gerente. Não há registro de um organograma oficial da empresa, isto foi percebido por mim e corroborado nas entrevistas de maneira bem explícita “não tem”, principalmente quando questionados sobre as relações hierárquicas, a maioria relatou que possui vários chefes “três irmãos, cada um opina de uma forma diferente”, outros disseram que têm “quatro chefes, os três irmãos mais o outro”. Assim com base nos dados obtidos deste contexto, elaborei um organograma extraoficial (Figura 11), visando a mostrar a estruturação organizacional e complexa dentro da empresa, bem como a representar as relações hierárquicas com o intuito de auxiliar na compreensão destas relações.

Figura 11 – Organograma da Fundição

Fonte: Dados da pesquisa (observação/entrevistas)

A elaboração desse organograma extraoficial, para mim, foi interessante por permitir apreender mais claramente as falas dos sujeitos e alguns problemas que estava percebendo durante a observação, principalmente, a quem devem se reportar os trabalhadores diante de uma necessidade, isto não ficava claramente evidente e também no que concernem às responsabilizações e às definições de funções. Durante a entrevista, questionei como era a relação/interação com a chefia ou as chefias. O trabalhador relatou que:

Sócio-Gerente

Motorista/Comprador Técnico em Metalurgia

Rapaz... Se aqui no caso era pá ter dois chefes, né? Prá atuar, seria, seria o dono, e fulano, mas hoje se, se estende a isso, porque tem fulano, tem beltrano que é motorista, mas também é dono, aí mete também a colherzinha dele, é e tem sicrano também que hoje ele procura também ajudar a, e a, a coisa da empresa, né? Então, o próprio dono dá a oportunidade dele fazer isso, então pronto, então eu procuro, também procuro respeitar, atender os pedido dele, né? De uma forma... (T-09)

A situação aqui exposta era geradora de conflitos e de certo mal-estar vivido pelos trabalhadores e corroboram as falas acima em relação a se ter vários chefes. Então continuei conversando – e quando dão comandos diferentes, como é que você lida com isso? O trabalhador prosseguiu:

Aí eu digo a ele, ó tal pessoa me pediu pá eu fazer isso aqui. Aí ele:- não, deixa isso aqui, eu quero isso. Aí quando o outro vem, eu digo:- aí eu num entendo, porque você mandou, o outo veio mandou parar, aí agora você já qué, venha fazer de novo essa aqui, aí fica difícil. Aí ele diz: - não, não, então faça, faça o dele aí.

Então fica um pouco compricado, mas fica um pouco compricado, mas a gente, a gente num perde a cabeça não. Um oto dia mesmo aconteceu isso, aí, tal pessoa chegou e me disse que era pá eu fazer uma peça, pronto aí eu disse que a caixa tava quebrada que eu ia consertar pá eu fazer. Aí o outro disse que num era mais pá eu fazer, era p‟eu limpar sim a casa, aí eu disse: - não, tal pessoa mandou eu vou fazer, aí quando eu tava lá consertando a caixa, o outro veio: - não deixa aí, vá lá fazer duas peças dessa que o dono quer. Ó, mas tal pessoa mandou fazer aqui a peça, ele disse: - deixe, deixe, faça a peça que ele mandou. (T09)

Estes relatos representam o que discuti no item 4.3, quando abordei as relações de poder e o saber profissional, as quais são geradas na prática social, no cotidiano da vida e que acontecem em níveis variados com constrangimentos sobre os trabalhadores, que na interação, acabam encontrando uma forma de lidar com a situação e, geralmente, de forma inconsciente geram Saberes Profissionais.

Considerando as revelações do campo, foquei especificamente nos trabalhadores que exercem atividades diretamente com o processo produtivo de peças fundidas, os chamados “chão de fábrica” (técnico em metalurgia, moldadores, ajudante de moldação, forneiro, lixadores, operador de máquinas, ajudantes de oficina); embora também tenha dialogado com os demais para dirimir algumas dúvidas e colher dados pertinentes à pesquisa.

Observei que o técnico em metalurgia programa e distribui as tarefas, monitora os processos de fabricação, supervisionando o grupo profissional. Além disso, atua na área de fabricação das peças fundidas, especificamente peças de ferro e bronze, mormente confeccionando os machos e comandando o processo de vazamento do metal líquido.

O sócio-gerente foi escolhido pelos demais sócios para atuar como o administrador geral da Fundição. A peculiaridade de empresa familiar fica bem caracterizada na figura deste gestor que centraliza todas as ações da empresa, controlando as áreas de recursos humanos, patrimônio, materiais, financeira, orçamentária, tecnológica, entre outras, como informações e a área de produção. Esta situação gera pontos de tensão entre as áreas de produção e administrativa, conforme percebido em um dos relatos em que o entrevistado fala:

(...), quando chega um pedido aqui na empresa, eu sempre todo, toda manhã quando chega, chegou algum pedido? Com a secretária, se chegô, ela passa pra mim, muitas vezes eu chego e, quando eu pergunto a ela, chegou aí ela passa pra mim. E quando eu chego na produção, certas pessoas já passou o pedido pra os funcionários e aí eu fico, eu vejo que tá mal distribuída e termina eu dizeno: ah, deixa lá. Aí é por isso como a gente tá aqui conversano que é meio difícil, nunca vai deixar de ser difícil trabalhar numa empresa familiar. (FERRO VELHO)

Este relato demonstra o quão delicada são as relações interpessoais e como interferem no processo produtivo da empresa. Vale ressaltar que todos os trabalhadores da área de produção ficam expostos a situações de imprevistos, de estresse constante, a material tóxico, ruído intenso, poeira e altas temperaturas. As demais ocupações, abordo abaixo à medida que explano as etapas do processo de fundição.