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Ambientes de Modelagem e a Teoria da Atividade

No documento neildarochacanedojunior (páginas 110-113)

4.2. O construto teórico seres-humanos-com-mídias

4.3.2. Ambientes de Modelagem e a Teoria da Atividade

Lembremos que no capítulo 3 assumi as práticas de Modelagem como ambientes de aprendizagem em que os alunos são convidados a problematizar e investigar situações com referências na realidade (BARBOSA, 2001; SKOVSMOSE, 2008). E que nesses ambientes, alunos e professores investigam sobre um tema a respeito do qual compartilham interesse na presença de mídias: oralidade, escrita e informática, as quais se tornam atrizes no processo (BORBA; VILLAREAL, 2005).

No âmbito da Teoria da Atividade, é preciso considerar a possibilidade de analisar as ações praticadas por um coletivo de seres-humanos-com-mídias, no âmbito dos ambientes de Modelagem, a partir das categorias analíticas presentes em um sistema de atividades como aquele representado no modelo triangular da figura 5. Para tanto, é preciso considerar algumas questões.

A primeira delas diz respeito à própria concepção de ambiente de Modelagem dentro do escopo da Teoria da Atividade. Podemos considerar esses ambientes como uma atividade completa, ou tratá-los como ações coletivas independentes, ou, ainda, entendê-los como um conjunto de ações coletivas que habitam um sistema completo de atividade?

Em parte, os próprios princípios da Teoria da Atividade ajudam a responder tal pergunta. Engeström (2013) adverte sobre a incoerência de se analisar um grupo de ações sem considerar um sistema completo de atividade como pano de fundo.

Porém, o mesmo autor sugere que um sistema de atividade carece de um período de tempo relativamente longo para que se estabeleçam regras e uma divisão de trabalho na historicidade de sua comunidade, o que torna razoável considerar os ambientes de aprendizagem como um conjunto de ações coletivas que pode vir a se constituir em um sistema de atividades, sem negligenciar, contudo, as influências das atividades vizinhas nesse sistema emergente.

As ações coletivas como um sistema emergente, em conjunto com as atividades vizinhas, configuram o contexto dessa pesquisa, o qual será discutido nos capítulos seguintes. Porém, a emergência desse sistema de atividades e as possíveis relações com as atividades vizinhas são questões que a pesquisa de campo vai ajudar a responder.

Uma segunda questão se refere ao objeto e o resultado, ou produto, desse grupo de ações. Na prática de Modelagem que será o nosso foco de inquérito, os alunos, com a ajuda do professor, vão escolher um tema e, a partir dele, procurar estabelecer um processo de problematização e investigação (BARBOSA, 2001a). Os critérios sugeridos por Kaptelinin (2005), mencionados na seção 4.1, vão orientar a determinação desse objeto e, sendo o ambiente de Modelagem um coletivo de seres-humanos-com-mídias que produz conhecimento, o resultado das ações desse coletivo é a própria produção de conhecimento.

Não posso me furtar a considerar as colocações de Engeström e Sannino (2010) sobre a dupla natureza, ambígua e pessoal e, ao mesmo tempo, estável e social, que o objeto, em sua relação com o produto de uma atividade, carrega. Nos ambientes de Modelagem, o sentido atribuído por cada um dos alunos ao objeto e, consequentemente, às ações e à atividade, pode, ou não, coincidir com o objeto vislumbrado pelo professor. Na condição de pesquisador e pesquisado28, preciso estar atento a isso.

A terceira (e última) questão se refere ao papel das mídias, sobre o qual já discuti nessa mesma seção e na seção 4.2. No caso específico da Modelagem há uma sinergia entre essa abordagem pedagógica e o uso das mídias informáticas, as TIC. Porém, a presença dessas últimas, não elimina as demais, a saber: a oralidade e a escrita. Dessa forma, assumir os ambientes de Modelagem como um sistema de atividades emergente em que um coletivo de seres-humanos-com-mídias produz

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Quando falo em ser pesquisador e pesquisado estou antecipando o duplo papel que irei assumir na pesquisa de campo. Sobre esse duplo papel, irei me aprofundar no capítulo seguinte.

conhecimento, conduz ao entendimento de que as mídias permeiam todos os vértices e lados dos triângulos da figura 5.

Tais questões remetem ao que Engeström (1999) apresenta como uma das contradições presentes no quadro teórico da Teoria da Atividade. Trata-se das duas facetas que a categoria atividade assume no escopo dessa teoria, tornando-a, ao mesmo tempo, princípio explicativo-analítico e objeto de estudo. Contradição que torna o construto teórico elaborado ao longo desse capítulo objeto de estudo dessa pesquisa, sem deixar de ser o princípio analítico e explicativo das práticas de Modelagem que a própria pesquisa se propõe a investigar.

No capítulo que segue serão apresentados os procedimentos metodológicos referentes à pesquisa de campo. Adianto que a metodologia adotada busca fazer ressonância (LINCOLN; GUBA, 1985) com a questão diretriz, o quadro teórico proposto e minhas concepções de Modelagem.

CAPÍTULO 5

A PESQUISA DE CAMPO E AS OPÇÕES METODOLÓGICAS

Apresento nesse capítulo as opções metodológicas adotadas nos trabalhos de campo relativos a essa investigação. Assim, busco cumprir o objetivo geral posto pela questão norteadora: De que forma os alunos participam dos ambientes de

modelagem, a partir da análise das ações de um coletivo de seres-humanos-com- mídias, pela ótica da Teoria da Atividade?

Nesse sentido, Alves-Mazzotti (1998, p. 160, aspas da autora) parte “do princípio de que não há metodologias ‘boas’ ou ‘más’ em si, e sim metodologias adequadas ou inadequadas para tratar determinado problema”. Tal afirmação ressalta a importância de se adequar os procedimentos metodológicos escolhidos ao todo da pesquisa, além de deixar claro o porquê de tais escolhas.

Outro aspecto relevante que determina minhas escolhas metodológicas e que é coerente tanto com meus objetivos investigativos como com minhas concepções educacionais, refere-se à forma um tanto quanto maquiada que os dados das pesquisas em ambientes educacionais costumam ser apresentados e analisados. Skovsmose (2007) critica essa tradição que acompanha a pesquisa em Educação Matemática, na qual as pesquisas tendem a olhar para alunos apenas como sujeitos epistêmicos, fantasmas desprovidos de características psicológicas como emoção, raiva, afeto, disposição ou apatia. As opções metodológicas relativas a essa pesquisa buscam superar essa tradição.

No documento neildarochacanedojunior (páginas 110-113)