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Justificando opções metodológicas

No documento neildarochacanedojunior (páginas 113-116)

A respeito dessa adequação entre metodologia e objetivos de uma pesquisa, Borba (2001) argumenta que a pergunta que norteia uma pesquisa e a metodologia nela empregada devem andar juntas. Isso traz para a arena de inquérito a noção de ressonância (LINCOLN; GUBA, 1985), pela qual se enfatiza a importância de se buscar coerência entre os elementos de uma pesquisa, ou seja, entre os objetivos, as concepções epistemológicas do pesquisador e, enfim, os procedimentos metodológicos.

[...] não creio que o pesquisador pense em uma pergunta em uma dada manhã, e pela tarde vá à estante onde estão as diversas metodologias de pesquisa e escolha a mais adequada à sua pergunta [...]. No sentido amplo, adotado por mim, metodologia engloba os procedimentos e a visão do que é conhecimento. Nesse caso, faz menos sentido a idéia de “prateleiras de metodologia” para uma dada pergunta (BORBA, 2001, p. 139-140, aspas no original).

Faz-se necessário esclarecer algumas incompreensões semânticas que costumam acompanhar o termo metodologia de pesquisa e que podem confundir o leitor. Da forma que entendo, metodologia diz respeito ao conjunto de métodos que compõe o todo de uma pesquisa. Dentre os quais se incluem: a especificação dos objetivos por meio da construção da questão diretriz, a revisão da literatura a respeito do tema pesquisado, as concepções epistemológicas do pesquisador e, finalmente, os procedimentos metodológicos adotados no trabalho de campo. Em outras palavras, os métodos aqui adotados no campo de pesquisa, quando da coleta e análise dos dados, integram a metodologia em seu todo.

Ao longo dos capítulos precedentes, tive a preocupação de evidenciar a ressonância que há entre a questão diretriz construída no capítulo 2; minhas concepções e entendimentos sobre Modelagem apresentadas no capítulo 3; e o quadro teórico dentro do qual buscarei compreensões a cerca dos objetivos apontados pela questão central, quadro esse, que foi elaborado no capítulo 4. Seguindo essa tendência, acredito que tal ressonância deva nortear também minhas escolhas sobre os procedimentos metodológicos relativos à coleta de dados e a respectiva análise dos mesmos, no que se refere ao trabalho de campo que passo a descrever no presente capítulo. Uma vez que: “Deve haver, acredito, uma harmonia, um inter-relacionamento entre a opção metodológica e o todo da pesquisa” (ARAÚJO, 2002, p. 65).

A questão diretriz procura evidenciar que a investigação dirige seu foco para a participação dos alunos quando estes estão envolvidos em um ambiente de Modelagem. Pretendo analisar a participação dos alunos nesses ambientes a partir da categoria ação de um coletivo de seres-humanos-com-mídias, considerando tal categoria dentro do escopo teórico da Teoria da Atividade.

Dessa forma, não faz sentido frente aos objetivos apontados pela questão norteadora a adoção de métodos de coleta e de análise de dados voltados para a aferição do resultado final, em termos dos conhecimentos acumulados por esses

alunos. Lançando mão, para tanto, de testes e exames a partir dos quais se atribui uma escala de pontuação. Tais procedimentos chocam tanto com minhas concepções de Modelagem, como com as concepções de aprendizagem que subjazem ao construto teórico que procurei elaborar.

Araújo e Borba (2012) reforçam tais argumentos ao apontarem para a necessidade de haver coerência entre a visão de Educação do pesquisador e os procedimentos metodológicos que adota.

Por exemplo, se se entende que há aprendizagem quando se responde de forma correta a um dado teste, é coerente que se desenhe uma pesquisa buscando a aplicação do teste. Se é privilegiada a compreensão, e não resultados certos, então é importante que se busquem procedimentos como [...] (entrevistas, observação participante, análise de vídeo) para compreender um dado fenômeno (ARAÚJO; BORBA, 2012, p. 48).

Em outras palavras, as concepções educacionais que apóiam meu entendimento sobre Modelagem como ambiente de aprendizagem, deságuam em procedimentos que enquadram essa pesquisa no paradigma qualitativo.

Além da ressonância com os demais elementos da pesquisa, os procedimentos metodológicos devem estar em harmonia com outro aspecto relevante dessa investigação, a saber, o caráter emergente do seu design. Essa característica emergente já foi ressaltada, principalmente no capítulo 2, em que procurei mostrar como a revisão da literatura e minha imersão no campo da pesquisa foram redefinindo os objetivos e o foco investigativo.

Alves-Mazzotti (1998) se ampara nos argumentos usados por Lincoln e Guba (1985) para caracterizar e justificar o design emergente de uma pesquisa na qual se assume o paradigma qualitativo. Segundo a autora, o design da investigação não pode ser definido a priori sob a pena de impossibilitar a apreensão do significado da situação em foco. Pois, no caso das pesquisas de cunho qualitativo, tal situação assume natureza múltipla e socialmente construída.

Dessa forma, “o foco e o design devem emergir por um processo de indução, do conhecimento do contexto e das múltiplas realidades construídas pelos participantes em suas influências recíprocas” (ALVES-MAZZOTTI, 1998, p. 147).

Porém, é mister enfatizar que a assunção de um design emergente não significa se descomprometer totalmente com qualquer tipo de planejamento. Alves- Mazzotti (1998) chama a atenção para os riscos relativos a um projeto de pesquisa

pouco estruturado. Neste caso, além de acarretar em perda tempo, o pesquisador pode se perder em um emaranhado enorme de dados, para os quais se torna muito difícil produzir algum tipo de significado. Ou seja, deve haver um equilíbrio entre a rigidez e a flexibilidade no design de uma pesquisa qualitativa.

Outra característica relevante que permite enquadrar essa pesquisa no paradigma qualitativo diz respeito à sua própria origem. Como procurei evidenciar no capítulo 1, ela brotou de uma inquietação advinda da minha prática letiva. De acordo com Morse (1994) apud Araújo e Borba (2012), eleger um tema que prenda a atenção do pesquisador e suscite seu empenho durante o processo investigativo é a chave para selecionar o tópico de uma pesquisa qualitativa.

Todas essas características revelam um design que aproxima essa pesquisa do paradigma qualitativo. Uma propriedade fundamental desse modelo de pesquisa, ressaltada por Alves-Mazzotti (1998), é a pluralidade de procedimentos no que diz respeito à coleta e a análise dos dados. Porém, faz-se fundamental descrever e justificar a opção por cada um desses procedimentos. Visto que, “uma característica da pesquisa qualitativa é a explicitação de todas as escolhas e suas respectivas justificativas” (ARAÚJO, 2002, p. 67).

Nas seções subsequentes serão explicitadas as escolhas referentes aos procedimentos metodológicos, tanto no que diz respeito à definição do contexto e dos sujeitos, como à opção pelos métodos empregados na coleta e na análise dos dados. Porém, tal descrição não condiz com a ordem cronológica da dinâmica da pesquisa de campo. “No ato de pesquisar, não há linearidade da forma em que há no ato de comunicar os resultados por escrito29” (BORBA; VILLAREAL, 2005, p. 187 – tradução nossa).

No documento neildarochacanedojunior (páginas 113-116)