• Nenhum resultado encontrado

Objecto de Estudo, Objectivos, Hipóteses e Metodologia

4. A construção dos modelos explicativos revele uma análise diferencial entre as configurações familiares, não existindo um modelo comum, mas sim modelos capazes de

2.1.4. Análise comparativa das diferenças encontradas nas diferentes configurações familiares

Todavia, adicionalmente ao trabalho realizado no sentido de homogeneizar a amostra tornou-se relevante para o subsequente prosseguimento das análises determinar se a amostra poderia ser metodologicamente comparável entre si face aos três grupos (famílias intactas, divorciadas e jovens institucionalizados). Desta forma, diferenças sócio-demográficas entre as configurações familiares foram testadas através de análises univariadas ANOVAS e Qui- Quadrado, no intuito de perceber quais os aspectos a ter em conta na homogeneização da amostra, permitindo realizar um estudo diferencial posterior das variáveis da qualidade da relação e adaptação psicossocial, evitando interferências sob o ponto de vista das variáveis demográficas.

Apesar dos esforços realizados constataram-se ainda algumas diferenças significativas entre os diferentes grupos tendo sido introduzidas subsequentemente nos estudos como co- variantes. Entre estas diferenças apontamos o género [χ2(2)=12,083; p=.002], sendo o género feminino superior ao masculino nos adolescentes institucionalizados comparativamente aos provenientes de famílias intactas e divorciadas. Observaram-se ainda diferenças significativas na escolaridade dos jovens, sendo menor no caso dos institucionalizados face aos adolescentes de famílias divorciadas e intactas [F(2,307)=34,318; p=.000]. A diferença face ao facto dos jovens já terem ou não reprovado mostra-se igualmente significativa [χ2(2)=35,569; p=.000], pelo que os adolescentes institucionalizados reprovaram mais vezes comparativamente com os restantes dois grupos. A escolaridade da mãe e do pai é significativamente superior nas famílias divorciadas face às famílias intactas e institucionalizadas [F(2,252)=32,124; p=.000] e [F(2,231)=28,462; p=.000], respectivamente. Por último, o estatuto sócio-cultural da mãe e do pai apresenta diferenças significativas, respectivamente [χ2(8)=57,966; p=.000] e [χ2(8)=136,287; p=.000]. Cabe ressaltar que esta categorização foi realizada atribuindo um critério de organização face à profissão e escolaridade dos pais que se situa entre cinco níveis (de “baixo” a “alto”), constatando-se que o “nível baixo” é significativamente superior nas mães de famílias intactas e mães e pais de adolescentes institucionalizados comparativamente com a amostra de divorciados. Ainda em pais de famílias intactas, o “nível médio-baixo” apresenta-se significativamente superior face aos restantes grupos (Tabela 5).

Ressaltamos ainda face a esta análise que diversas variáveis demográficas não manifestaram quaisquer diferenças face à configuração familiar, nomeadamente, a idade dos sujeitos, a idade do pai e da mãe, o número de irmãos (e também as suas idades). Desta forma torna-se passível realizar um estudo diferencial com a presente amostra face às variáveis pretendidas sem que haja elementos que possam enviesar o processo, já que as diferenças significativas irão ser controladas nas análises realizadas.

TABELA 5. Diferenças significativas da amostra em função da configuração familiar

Configuração

Familiar 1-Família Intacta n= 115 2-Família Divorciada n=101 3-Institucionalização n=109 Direcção das diferenças significativas Variáveis Demográficas M DP M DP M DP Quantitativas Escolaridade 10.16 .560 10.35 1.299 9.02 1.645 3<2; 3<1 Nº reprovações .62 .762 .76 1.065 1.76 1.270 3>2; 3>1 Escolaridade mãe 6.17 2.844 9.48 3.705 5.90 3.270 2>1;2>3 Escolaridade pai 5.68 2.424 9.08 3.915 6.05 3.492 2>1;2>3 Qualitativas Género F > M F > M F > M Já reprovou Sim > Não Sim < Não Sim > Não Estatuto Sócio-

Económico mãe > nível baixo > nível baixo Estatuto Sócio- Económico pai > nível médio- baixo > nível baixo 2.2. Instrumentos

Tendo como ponto de partida os objectivos e hipóteses formulados neste trabalho procuramos encontrar instrumentos de auto-relato cujas dimensões permitissem descriminar as variáveis individuais, relacionais e contextuais a avaliar. Vários foram os instrumentos analisados, contudo, mediante discussão final das vantagens de aplicação foi realizada uma selecção dos mesmos, procedendo-se à tradução e validação de alguns destes instrumentos. Por outro lado, várias adaptações dos instrumentos foram usadas face a estudos portugueses anteriormente realizados. Cabe ressaltar que no sentido de colmatar dificuldades em encontrar instrumentos que permitissem a avaliação da qualidade da ligação a figuras significativas alternativas ao seio familiar fomos levados a construir dois instrumentos que descreveremos mais adiante.

Capítulo V – Estudo Empírico: Objecto de estudo, Objectivos, Hipóteses e Metodologia

__________________________________________________________________________________________________________________155

Nesta medida, tendo em conta o quadro teórico e a operacionalização do estudo foram seleccionados oito instrumentos de auto-relato que nos permitiram avaliar a vinculação aos pais (Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe; Matos & Costa, 2001, versão revista); a ligação a outras figuras significativas (Questionário de Ligação a Figuras Significativas, Mota & Matos, 2005a); a vinculação aos pares (Inventory of Peer and Parental Attachment, Armsden & Greenberg, 1987; Adaptação de Ferreira & Costa, 1998); a ligação a professores e a funcionários da escola, sendo construída em paralelo a versão para adolescentes em institucionalização (Questionário de Ligação a Professores e Funcionários, Mota & Matos, 2005b); as estratégias de coping (Coping Across Situations Questionnaire, Seiffge-Krenke, 1995; Adaptação de Cleto & Costa, 1995); a auto-estima (Rosenberg’s Self-Esteem Scale, Rosenberg, 1979; Adaptação de Rocha & Matos, 2003); as competências sociais (Social Skills Questionnaire, Gresham & Elliott, 1990; Adaptação de Mota, Lemos & Matos, no prelo); e o conflito interparental (The Children´s Perception of Interparental Conflict Scale, Grych, Seid & Fincham, 1992; Adaptação Portuguesa de Andrade & Matos, 2003).

Foi igualmente elaborado um Questionário sócio-demográfico (idade, sexo, escolaridade, nível económico, estado civil dos pais, escolaridade dos pais, composição da família e eventuais suportes externos (avós, instituições, …), dados relativos à situação de divórcio ou de institucionalização), no sentido de ser preenchido aquando dos instrumentos de auto-relato.

Análises Estatísticas

As análises estatísticas realizadas em grande parte dos instrumentos deste estudo consistiram, numa primeira fase, no apuramento da consistência interna dos itens recorrendo ao índice de alpha de Cronbach. Posteriormente foi elaborado o estudo da validade factorial, por um lado recorrendo a análises factoriais exploratórias e, por outro lado, as análises factoriais confirmatórias.

No primeiro caso a análise factorial exploratória foi realizada mediante o programa estatístico SPSS versão 15, efectuando-se a testagem da estrutura original da escala na presente amostra, tentando perceber a existência de saturação dos itens nos diferentes factores de cada escala de acordo com a estrutura original dos autores. No segundo caso, a análise factorial confirmatória, de 1ª e 2ª ordem, realizadas no presente estudo com os programas estatísticos Amos (versão 6) e EQS (versão 6.1), assumem o método de máxima

verosimilhança, testando uma agregação apriorística dos itens de acordo com uma dada teoria ou corpo de hipóteses substantivas. Esta análise permitiu perceber se os instrumentos medem na presente amostra os constructos pretendidos originalmente pelos autores confirmando a estrutura da escala, o que nos permitiu usar os instrumentos com um elevado nível de validade e fiabilidade. Trata-se de um método mais hipoteticista uma vez que testa a hipótese de uma dada relação entre os factores comuns cujo número e interpretação é dada à priori para depois se avaliar o ajustamento do modelo à amostra (Maia, 1996).

Ressaltamos que aquando das análises confirmatórias, em alguns dos instrumentos recorremos ao método de “parceling” ou emparcelamento dado o elevado número de itens cujas análises recriaram um elevado parâmetros a estimar face ao tamanho da amostra. O procedimento de “parceling” tem um forte suporte teórico e tem vindo a ser cada vez mais a técnica de eleição (Barret & Kline, 1981; Barret & Paltiel, 1996; Coffman & McCullum, 2005; Holt, 2004; Little, Cunningham, Shahar & Widaman, 2002; Marsh, Hau, Balla & Grayson, 1998; McCullum, Widaman, Preacher & Hong, 2001; Takahashi & Nasser, 1996). Esta metodologia que implica a agregação de itens relaciona-se com o aumento de estabilidade dos parâmetros a estimar e a melhoria da relação entre a variável e a dimensão da amostra. A base desta técnica suporta-se na necessidade de aproximar as distribuições à normalidade, na elevação dos níveis de confiança e comunalidade, bem como na optimização do indicador da proporção tamanho da amostra/parâmetros a estimar (Meade & Kroustalis, 2005).

Note-se que neste procedimento houve um especial cuidado na construção do agrupamento dos itens utilizando-se o princípio de similaridade (Bandalos, 2002; Holt, 2004; Little et al., 2002; Marsh et al., 1998; McCullum et al., 1999), para os índices de maior associação de itens e para a sua proximidade semântica. Ressaltamos que em todo o momento houve uma preocupação em manter a unidimensionalidade de cada parcela, preservando o seu direccionamento para o constructo geral de cada dimensão do instrumento.

Os índices usados na análise confirmatória são de extrema importância na compreensão do ajustamento do modelo. Nesta medida, o Goodness of Fit Index (GFI) e o Adjustment Goodness of Fit Index (AGFI) são responsáveis pela quantidade relativa de variância e co-variância na matriz dos dados (Bollen, 1990). O Comparative Fit Index (CFI), também designado por CFI de Bentler (1990) representa outro dos índices significativos; o CFI compara a co-variância da matriz predita pelo modelo face à matrix de co-variância observada, sendo também usado para testar a modificação de variáveis. Ainda o Root Mean

Capítulo V – Estudo Empírico: Objecto de estudo, Objectivos, Hipóteses e Metodologia

__________________________________________________________________________________________________________________157

Square Error of Approximation (RMSEA) é um dos índices mais usados na análise do ajustamento do modelo já que não requer comparação com o modelo nulo nem um modelo plausível que requeira dependência das variáveis latentes. Constitui um dos índices menos afectados pelo tamanho da amostra e tal como o CFI é baseado na não-centralidade. Por último, tivemos em conta o Root Mean Square Residuals (RMR) que representa a média absoluta do valor da co-variância residual. Quanto mais próximo de zero, mais ajustado estará o modelo (Bentler, 1995). Os modelos apresentaram índices de ajustamento dentro dos valores críticos, a referir GFI, AGFI e CFI acima de .90, assim como os índices de RMR e RMSEA com valores abaixo de .080 (Byrne, 1998; Fan, Thompson & Wang, 1999). Mais adiante iremos abordar novamente a relevância dos índices de ajustamento para a construção de modelos de equações estruturais.

De seguida descrevemos cada um dos instrumentos bem como a respectiva análise das propriedades psicométricas dos mesmos.