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Objecto de Estudo, Objectivos, Hipóteses e Metodologia

4. A construção dos modelos explicativos revele uma análise diferencial entre as configurações familiares, não existindo um modelo comum, mas sim modelos capazes de

2.2.5. Coping Across Situations Questionnaire

Descrição do Instrumento

O Coping Across Situations Questionnaire - CASQ (Seiffge-Krenke, 1995; Adaptado por Cleto & Costa, 1995) visa avaliar as estratégias de coping face a situações adversas, caracterizando o modo como os adolescentes lidam com os agentes de stress quotidiano. Está organizado de acordo com uma matriz bidimensional que inclui 20 estratégias de coping aplicadas a 8 áreas problemáticas específicas da adolescência: estudos, professores, pais, pares, relações amorosas, self, futuro e tempo de lazer. O CASQ é composto por 3 dimensões de coping: 1) Coping Activo (7 itens), que inclui acções tais como a procura activa de informação e a mobilização de recursos sociais (“Falo logo acerca dos problemas quando eles aparecem e não me preocupo mais”- item 2); 2) Coping Interno (6 itens), que enfatiza a avaliação da situação por parte do adolescente e a necessidade de procurar soluções de

Componentes 1- Funcionários da Escola 2- Professores Item 2/ 2* .764 Item 21/12* .730 Item 6/6* .700 Item 14/14* .693 Item 9/9* .698 Item 23/4* .659 Item 11/11* .515 Item 7/7* .784 Item 1/1* .741 Item 5/5* .686 Item 19/3* .545 Item 13/13* .530 Item 17/8* .521

compromisso (“Aceito os meus limites”- item 5); 3) Coping Retractivo (7 itens), que implica uma abordagem fatalista das situações, o que conduz a um afastamento e/ou demissão e incapacidade de resolução de problemas (“Espero o pior”- item 4).

Cada item assinalado conta 1 ponto, sendo somados no final para todas as situações problemáticas, obtendo-se a frequência que essa estratégia específica de coping é usada. O maior número obtido em todas as dimensões implica a estratégia de coping mais utilizada. O coping activo e o coping interno são considerados, de acordo com a autora, estilos funcionais de coping, enquanto que o retractivo é considerado um estilo disfuncional de coping.

Seiffge-Krenke (1995) enfatiza o facto deste modelo de coping se inserir num contexto desenvolvimental, implicando que o seu grande objectivo se centre no desenvolvimento normativo. Por outro lado, este modelo permite em simultâneo a compreensão da desadaptação, facto que a autora tem vindo a comprovar em estudos com jovens que lidam com diferentes tipos de agentes de stress. Nos estudos originais da autora, a avaliação do coping foi realizada de duas formas distintas: coping após confrontação e coping antecipatório, onde foi usado o CASQ.

Mediante a análise da versão original, a autora realiza vários estudos, entre eles, um estudo junto de uma amostra representativa de jovens alemães (1028 indivíduos), com idades entre os 12 e os 19 anos de idade. A análise factorial realizada em componentes principais explicou 53% da variância total. Deste estudo emergiram 3 dimensões: coping activo com 29,9% do total de variância; coping interno com 13,5% da variância e coping retractivo com 9,6% da variância total. Os valores de fiabilidade foram analisados mediante a consistência interna, calculados a partir do coeficiente de Spearman-Brown, sendo de .80 para o coping activo, .77 para o coping interno e .76 para o coping retractivo.

Em relação à estabilidade foi realizado um estudo com uma sub-amostra de 94 adolescentes, retirada da original de 1028 elementos, com idades entre os 12 e os 19 anos de idade, observados em três momentos distintos, no espaço de um ano (Seiffge-Krenke, 1995). Os resultados foram elevados especialmente a nível do coping activo (0.88; 0.87; 0.77), e coping retractivo (0.75; 0.61; 0.65), sendo moderados no coping interno (0.58; 0.66; 0.47), o que leva a acreditar na menor estabilidade deste estilo de coping.

O CASQ já foi utilizado com a população portuguesa, sendo que a versão utilizada neste estudo provém da adaptação de Cleto e Costa (1995), que é constituída por 20 estratégias de coping, mas integrou apenas por 5 domínios: estudos, professores, pais, pares e o self. No

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presente estudo optou-se no entanto, por utilizar a versão original da autora constituída por 8 domínios. A análise das qualidades psicométricas feitas na adaptação, com uma amostra de 574 alunos de idades entre os 11 e 12 anos, consistiu na análise do poder discriminativo dos itens, na estrutura factorial e na consistência interna. O questionário revelou um bom poder de descriminação dos itens na medida em que a escolha de alternativas de resposta se mostrou equilibrada. A análise factorial realizada em componente principais, levou a que as autoras considerassem apenas dois tipos de coping (activo e não activo), dado que apenas surgiram dois factores, sendo que o segundo factor saturou todos os itens do coping interno e retractivo. Face à consistência interna da versão portuguesa, foi calculado o índice alpha de Cronbach para cada um dos factores: .80 e .74 respectivamente para coping activo e não activo, e .80 para o total do questionário (Cleto, 1998).

Análise das Propriedades Psicométricas

Análise da Consistência Interna

Os valores encontrados mediante a análise psicométrica revelam uma moderada fiabilidade, a consistência interna, através do alfa de Cronbach é de .69 para a dimensão coping activo; .57 para coping interno e .60 para coping retractivo, tendo sido também determinados os coeficiente de Spearman-Brown, originalmente usados pela autora e cujos valores são sendo de .72 para o coping activo; .60 para o coping interno e .60 para o coping retractivo. A tabela que se segue permite realizar uma comparação dos alphas obtidos nesta amostra com os valores da versão original de construção do instrumento.

TABELA 17. Alfas de Cronbach e Coeficiente de Sperman- Brown na amostra, comparativamente com os valores do estudo original (Seiffge-Krenke, 1995)

Nº Itens Alfa Cronbach N=403 Coeficiente Sperman- Brown N=403 Coeficiente Sperman- Brown (Seiffge- Krenke, 1995) N= 1028 Coping Activo 7 .69 . 72 .80 Coping Interno 6 .57 .60 .77 Coping Retractivo 7 .69 .60 .76

Face aos valores dos alfas de Cronbach e coeficiente de Spearman – Brown obtidos na amostra foram observadas as correlações dos itens totais nas respectivas dimensões de coping. No que concerne ao alfa de Cronbach a proposta de eliminação do item 10 faz com que o alfa aumente no coping interno (.620). Em relação ao coeficiente de Spearman–Brown a proposta de eliminação do item 7 aumenta o alfa do coping retractivo (.601). Contudo, atendendo ao aumento dos valores encontrados face à proposta de eliminação dos itens ser reduzido, optou- se por manter a estrutura original proposta pela autora.

Análises Factoriais Confirmatórias

As análises factoriais confirmatórias foram realizadas no sentido de compreender o ajustamento da presente amostra ao modelo teórico proposto pela autora. Foi realizado o somatório de cada um dos itens para as oito dimensões, obtendo-se o valor total para cada item (designados por casq1, casq2, …, casq20), tal como propõe a autora.

Numa primeira fase foram realizadas análises factoriais confirmatórias para cada uma das dimensões de coping (activo, interno e retractivo), constatando-se que, apesar dos índices de ajustamento não se encontrarem dentro dos valores teoricamente esperados (acima de .90 para AGFI, GFI, CFI e valores abaixo de .080 para os índices RMR e RMSEA) (Bollen, 1986; MacCallum et al., 2001; Yuan, 2005), existe um maior ajustamento da amostra ao modelo teórico quando comparado com a análise do modelo global realizado numa segunda fase, tal como se verifica na tabela 18.

TABELA 18. Análise factorial confirmatória do CASQ- versão original

Coping Activo Coping Interno Coping Retractivo Coping Total

RMR .134 .202 .137 .225

GFI .957 .947 .935 .823

AGFI .913 .876 .870 .778

CFI .875 .785 .726 .605

RMSEA .095 .123 .121 .094

RMR= Root Mean Square Residual; GFI= Goodness of Fit Index; AGFI= Adjusted Goodness of Fit Index; CFI= Comparative Fit Index; RMSEA= Root Mean Square of Error Approximation

A figura 10 representa a análise confirmatória de 1ª ordem do modelo global do CASQ, observando-se uma correlação considerável (.60) entre o coping activo e interno, tal como seria de esperar dado que são dois tipos de coping considerados funcionais. Ao mesmo

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tempo, constata-se que o coping activo tem uma correlação de .28 com o coping retractivo. De ressaltar, contudo, a moderada correlação entre o coping interno e o retractivo (.62), o que levanta a questão relativa à integração dos itens nas dimensões originalmente propostas. Neste sentido, atendendo aos índices de ajustamento obtidos no modelo total e face às correlações obtidas entre as dimensões de coping, optou-se por desenvolver novas análises no intuito de encontrar um modelo explicativo para a presente amostra.

FIGURA 10. Modelo total da análise confirmatória de 1ª ordem do CASQ original

Análise Factorial Exploratória

Numa segunda fase foi então realizada uma análise factorial exploratória em componentes principais por forma a identificar uma organização alternativa dos itens pelos factores. Os valores obtidos no Teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) (.754) e no Teste de Barlett (1403,03; p =.000) consideram preenchidos os requisitos básicos para a realização da análise. Assim, foi realizada uma rotação varimax em 3 componentes, sendo que os resultados, tal como apresenta a tabela 19, revelam que alguns itens saturam em factores diferentes dos originalmente propostos pela autora.

TABELA 19. Análise factorial exploratória do CASQ Dimensões de Coping

Coping Activo (a) Coping Interno (b) Coping Retractivo (c)

Item 1 .717 Item 6 .682 Item 10 .684 (b) Item 19 .662 Item 18 .575 Item 11 .505 (b) Item 3 .455 .207 Item15 .436 .338 Item7 .653 (c) Item 14 .638 Item 9 .620 Item 5 .610 Item13 .575 .205 Item 16 .434 (c) Item 12 .762 Item 17 .678 Item 4 .216 .576 Item 20 .300 .498 Item 8 .299 .232 .505 Item 2 .285 .421 (a)

Nota. ( ) Itens que saturam em dimensões diferentes da originalmente propostas pela autora

Neste sentido, o coping activo passa a ser composto pelos itens 1, 10*, 6, 19, 18, 11*, 3, 15; o coping interno integra os itens 7*, 14, 9, 5, 13, 16*; e o coping retractivo composto pelos itens 12, 17, 4, 8, 20, 2∗∗∗∗. A Tabela 19 identifica e descreve os itens que se correlacionam

com factores inesperados.

TABELA 20. Representação dos itens que se correlacionam em factores inesperados

Item Dimensão Original Descrição do Item Nova Dimensão

2 Coping Activo “Falo logo acerca dos problemas quando eles

aparecem e não me preocupo mais”.

Coping Retractivo

7 Coping Retractivo “Comporto-me como se tudo corresse bem”. Coping Interno

10 Coping Interno

“Penso nos problemas e procuro encontrar

diferentes soluções” Coping Activo

11 Coping Interno

“Comprometo-me a arranjar soluções alternativas ou de meio termo que implicam mudanças pessoais”

Coping Activo

16 Coping Retractivo “Tento não pensar nos problemas”. Coping Interno

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Numa terceira fase, e mediante os resultados obtidas na análise factorial exploratória, considerou-se relevante realizar análises factoriais confirmatórias tentando reajustar o modelo. Nesta medida, num primeiro momento foram retirados os itens que saturaram em factores diferentes, constatando-se uma melhoria significativa nos índices de ajustamento (sendo esta melhoria, mais notória a nível das análises parcelares), o que evidencia que o novo modelo proposto funciona melhor do que o original, para a presente amostra, tal como se evidencia na tabela 21.

A figura 11 representa o modelo total da nova organização, onde mais uma vez se constatam correlações elevadas (.52) entre o coping interno e retractivo, tornando claro que na presente amostra não existe uma distinção clara na interpretação das duas estratégias de coping, podendo efectivamente estar bastante interligadas. O coping activo mostra-se mais claro face às restantes duas estratégias pelo que as correlações são mais baixas, respectivamente .25 e .27 para o coping interno e retractivo.

TABELA 21. Índices de ajustamento da análise factorial confirmatória sem os itens que saturam em factores diferentes

Nota. RMR= Root Mean Square Residual; GFI= Goodness of Fit Index; AGFI= Adjusted Goodness of Fit Index; CFI= Comparative Fit Index; RMSEA= Root Mean Square of Error Approximation.

Coping Activo Coping Interno Coping Retractivo Coping Total

RMR .062 .016 .053 .161

GFI .992 .999 .990 .925

AGFI .975 .997 .950 .890

CFI .992 1.00 .970 .836

FIGURA 11. Modelo total da análise confirmatória de 1ª ordem do CASQ sem itens que se alteram na análise factorial exploratória

active coping ,58 casq1 ecasq1 ,76 ,12 casq3 ecasq3 ,35 ,29 casq6 ecasq6 ,54 ,14 casq15 ecasq15 ,38 ,39 casq18 ecasq18 ,63 ,35 casq19 ecasq19 ,60 internal coping ,25 casq5 ecasq5 ,50 ,21 casq9 ecasq9 ,46 ,30 casq13 ecasq13 ,55 ,32 casq14 ecasq14 ,56 withdrawal coping ,21 casq4 ecasq4 ,46 ,37 casq8 ecasq8 ,61 ,53 casq12 ecasq12 ,73 ,11 casq17 ecasq17 ,34 ,09 casq20 ecasq20 ,30 ,25 ,27 ,26 -,31 ,52 ,22 ,18 -,42

Num segundo momento procedeu-se a uma análise que respecificou a atribuição de certos itens às dimensões latentes de acordo com a informação proveniente da análise factorial exploratória. Os resultados revelam que, apesar dos índices aparecerem mais ajustados (ver Tabela 22) face à estrutura original, não melhoram significativamente face aos resultados encontrados quando se retiraram os itens que não saturaram na estrutura original.

TABELA 22. Análise factorial confirmatória de 1ª ordem com os itens que saturam em factores diferentes restruturados às novas dimensões de coping

Coping Activo Coping Interno Coping Retractivo Coping Total

RMR .135 .064 .111 .179

GFI .955 .986 .952 .879

AGFI .919 .967 .888 .848

CFI .909 .971 .806 .735

RMSEA .082 .047 .123 .076

Nota. RMR= Root Mean Square Residual; GFI= Goodness of Fit Index; AGFI= Adjusted Goodness of Fit Index; CFI= Comparative Fit Index; RMSEA= Root Mean Square of Error Approximation