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2.2. A PERSPECTIVA DE HOFFMAN ACERCA DA EMPATIA

2.2.5. SENTIMENTOS EMPÁTICOS

A partir do modelo de espectador inocente, Hoffman (1975a, 1990, 2003) discorreu acerca dos afetos básicos que podem ser gerados no individuo ao observar alguém em sofrimento, são eles: angústia empática e angústia simpática. Além desses afetos, a raiva empática, a culpa e o sentimento de injustiça empática podem ser gerados, dependendo da atribuição causal do observador.

A angústia empática é um sentimento que traz desconforto para a pessoa que percebe o infortúnio do próximo. Ela é compreendida como um sentimento de sofrimento, pena, ao observar o próximo em uma situação de dor, aflição. Assim, ela é desencadeada em relação à pessoa que foi agredida, em relação à vítima. A angústia empática não traz maiores descentrações cognitivas (Hoffman, 1982, 2003).

A angústia empática faz com que o individuo procure se liberar da angústia, mas não há a motivação necessária para procurar amenizar o sentimento da vítima por meio de ajuda, de comportamentos pró-sociais (Hoffman, 1990, 2003). Com o desenvolvimento do sentido cognitivo do outro e com a transferência de parte dos afetos empaticamente sentidos no self para a imagem do outro, a angústia empática pode ser parcialmente transformada em um novo tipo de sentimento, chamado de angústia

simpática. Por meio desse sentimento empático, há a possibilidade do sofrimento

estimular uma forma de motivação para buscar a resolução de conflitos, a fim de procurar a diminuição deste sentimento negativo nele e, principalmente, no próximo.

A transformação da angustia empática em angústia simpática ocorre por meio dos quatros estágios de apreensão cognitiva do outro, mencionados no tópico anterior, que envolvem o desenvolvimento da noção de permanência do objeto (pessoa), desenvolvimento do role-taking e da identidade, no final da infância / início da adolescência. A angústia simpática também pode ser chamada de compaixão empática (Hoffman, 1975a, 1990).

Hoffman (1990) afirma que, para o surgimento dos sentimentos de angústia

empática e angústia simpática, não há necessidade de sinalização de causalidade

situacional poderosa para chamar a atenção do sofrimento do outro. Todavia, as pessoas fazem atribuições de causalidade espontaneamente e parece razoável supor que, quando se vê alguém em sofrimento, naturalmente se faz uma atribuição causal do caso, e uma atribuição particular pode determinar qual afeto empático será experimentado.

A raiva empática pode ocorrer quando as pistas situacionais indicam que alguém causou dor na vitima. A atenção do observador é desviada da vítima para o ofensor. A

raiva empática é o sentimento desencadeado em relação ao agressor. Este sentimento

ocorre, por exemplo, quando um menino de dezoito meses de idade, em um consultório médico, vê outra criança recebendo uma injeção. A situação observada por ele faz com que responda batendo no médico, com raiva. Este sentimento pode ser deslocado, mesmo estando no mesmo contexto. Isto ocorre quando, por exemplo, o observador compreende que a vítima maltratava o ofensor em uma situação anterior. Uma criança que não possui ainda excitações empáticas de ordem superior, e o seu desenvolvimento do sofrimento empático ainda não atingiu estágios mais avançados, fica confinada para a situação imediata. O sentimento de raiva também pode emergir quando o ofensor não está presente, sendo este o representante de um determinado grupo social que oprime outros grupos (Hoffman, 1990).

Até o presente momento, a análise da situação foi feita por um observador inocente, mas, dependendo das condições, o sofrimento do outro pode levá-lo a sentir culpa. O sentimento de culpa é a combinação da angústia simpática com uma consciência de ser a causa do sofrimento do outro. O sentimento pode ser experimentado diretamente, como resultado de algo que o individuo fez, como também por omissão, isto é, a culpa pode ocorrer quando o observador não ajuda, ou seu esforço para ajudar fracassa, ainda

que por razões legítimas. Ele se vê como o causador da continuidade do sofrimento da vítima, podendo transformar este sofrimento empático em culpa – a culpa é pela falta de ação.

A culpa por omissão é provavelmente um sentimento mais avançado do que o do que a culpa por ter causado um mal, uma vez que requer uma maior capacidade para visualizar algo que poderia ter sido feito, mas não foi (Hoffman, 1975a).

A empatia, transformada em sentimento de culpa, pode fazer com que o indivíduo passe a ajudar, a emitir comportamentos altruístas em momentos futuros (Hoffman, 2003). Ela pode desencadear um processo de auto-exame e reestruturação de valores que podem ajudar a fortalecer motivações altruístas. Este sentimento pode ocorrer, por exemplo, em um encontro disciplinar em que os pais apontam as conseqüências prejudiciais das ações das crianças nos outros. Há a possibilidade do sentimento de culpa ocorrer pela associação do observador com um grupo que está causando sofrimento na vítima ou está beneficiando um sistema social que prejudicou a vítima.

Hoffman (1975a, 2003) ainda contempla em seus estudos a culpa existencial. Sentimento que emerge no indivíduo quando este se sente em uma posição de vantagem quando comparado com a vítima, mesmo sendo uma circunstância fora do seu controle. A capacidade humana para experimentar culpa mesmo quando nada de errado foi feito é ilustrada ainda mais dramaticamente em situações que envolvem sobreviventes de um desastre ou de uma guerra.

A culpa existencial pode assumir algumas das características encontradas na “verdadeira” culpa: alguém pode concluir que sua posição privilegiada torna possível fazer algo para aliviar a condição dos menos afortunados, e que se ele não faz nada, ele torna-se pessoalmente responsável por contribuir com a perpetuação das condições que ele lamenta (Hoffman , 1975a).

A injustiça empática ocorre, segundo Hoffman (2003), quando o observador se depara com uma pessoa considerada boa, inocente, submetida a um sofrimento. O observador sente injustiça, ao concluir que o sentimento da vítima não era merecido. Para a ocorrência deste sentimento, pode ser necessário um maior nível de desenvolvimento cognitivo, pois, muitas vezes, a situação da vitima, do necessitado, exige uma capacidade elevada de tomada de perspectiva – capacidade de assumir e coordenar diferentes pontos de vista (Sampaio, Monte, Camino & Roazzi, 2008).

Além dos sentimentos mencionados acima, Hoffman (1990) mencionou a respeito das combinações complexas de sentimentos que podem emergir em um encontro moral. Ele constata também que, dependendo do observador, a mesma situação pode ser interpretada de diferentes formas.

2.2.6 SENTIMENTOS EMPÁTICOS E COMPORTAMENTO ALTRUÍSTA