• Nenhum resultado encontrado

4.2 ANÁLISE DOS QUESTIONÁRIOS

4.2.2 Análise da percepção dos membros

A percepção dos questionados sobre a representatividade do comitê perante à sociedade parte do entendimento de que este deve refletir os desejos de seus representados. Buscou-se colher a percepção sobre as aspirações da sociedade da bacia dentro das ações dos comitês. Assim, quanto à representatividade do comitê os resultados podem ser observados no Gráfico 11.

Gráfico 11 – Percentual de respostas sobre representatividade dos comitês.

Fonte: Elaborado pela autora.

Menos de 12% dos respondentes entendem que o comitê não exerce a representatividade de forma satisfatória, o que é preocupante para o que se espera de fortalecimento do sistema. Porém, quando perguntados sobre a sua percepção a respeito da sua representatividade, verifica-se pelo Gráfico 12 que mais de 50% entende que representatividade é exercida de forma satisfatória.

0 20 40 60 80 100

Não respondeu Não é representativo Às vezes é representivo É representativo Representatividade do Comitê

Gráfico 12 – Percentual de respostas sobre representatividade dos membros.

Fonte: Elaborado pela autora.

Registra-se, pela análise do Gráfico 12, o percentual de 57,9% para os que acreditam na representatividade dos membros dos comitês, entendendo ser a mesma exercida de forma satisfatória. Já pelo Gráfico 11 verifica-se que 61,2% têm o entendimento de que as decisões dos comitês refletem os desejos da sociedade residente na bacia, resposta que confirma a percepção da efetividade da representação pelos membros.

Em pesquisa realizada por Souza Junior (2002) sobre quão representativo era determinado Comitê, o autor relatou que recebeu respostas distintas, inicialmente sendo unânime a afirmação da não representatividade do Comitê, destacando-se entre outras causas, a falta de critérios para garantir a distribuição espacial das vagas e não inclusão de minorias no comitê.

A inexistência de representatividade, no que diz respeito ao segmento de agricultores familiares, foi constatada por Carvalho (2015) ao estudar o Comitê Camaquã:

Notaram-se falhas na cadeia de representação dos membros do Comitê. Assim, há necessidade de construção de redes sociotécnicas, visto que isso é pouco discutido nas reuniões. Os membros atuais precisam salientar e propor ideias de sua categoria, além de construir políticas que visem às necessidades de seus representados. A construção desse processo é o caminho para que, gradativamente, o problema da marginalização de grupos sociais no BGBHRC, como pecuaristas familiares do Alto Camaquã, seja reduzido (CARVALHO, 2015, p. 97).

0 20 40 60 80 100

Não respondeu Membros não exercem representatividade

Membros exercem a representatividade

Pela análise dos gráficos 11 e 12 constata-se que, na percepção dos questionados, os comitês de bacia exercem a representatividade de forma adequada, ao contrário do resultado obtido em pesquisa realizada por Sousa Junior (2002) e Carvalho (2015).

A análise do Gráfico 13 mostrou que na percepção dos questionados a atuação do comitê na arbitragem de conflitos não é satisfatória posto que menos de 50% entendem que o seu comitê resolve os conflitos na bacia, e em torno de 15% acredita que o mesmo não resolve os conflitos, mesmo sendo uma das principais atribuições dos comitês.

Gráfico 13 – Percentual de respostas sobre arbitragem de conflitos pelos comitês

Fonte: Elaborado pela autora.

O resultado observado pode ser um alerta, visto que a arbitragem em primeira instância evita a judicialização e promove a pacificação, sendo esta um dos objetivos da ONU.

Quanto à percepção dos integrantes dos comitês de bacia, no que diz respeito ao tema cobrança pelo uso da água percebe-se que a maioria (83,7%) entende que a mesma irá refletir na melhoria da gestão das águas, consequentemente na quantidade/qualidade dos recursos hídricos. Somente 12,4% acredita que não há influencia entre a cobrança e a gestão dos recursos hídricos.

Vale retomar o que foi citado no subcapítulo 2.3, em relação à investigação que vem sendo realizada pela Promotoria Regional Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí, do Ministério Público (MP), sobre a ausência da agência de bacia. Em documentos desta investigação, disponíveis ao público, consta que, no entendimento da Promotoria, agência e

0 20 40 60 80 100 Não respondeu Não soube responder Comitês não resolvem conflitos Comitês às vezes resolvem conflitos Comitês resolvem conflitos

comitê devem agir em conjunto e em complemento: a agência executando e o comitê planejando e fiscalizando. A dedução do MP confirma a necessidade de instituir a cobrança pelo uso da água para custear parte das ações necessárias para a melhoria das massas de água, e por conseguinte, faz-se necessário a implementação da agência que possibilitará essa cobrança, bem como a destinação dos recursos para as ações consideradas prioritárias pelos comitês em seus planos de bacia (RIO GRANDE DO SUL, 2014a).

Apesar deste percentual alto de membros entender a cobrança como influente na gestão, a mesma ainda não foi instituída no Estado. A cobrança é um dos instrumentos de gestão instituídos por lei, desta forma é dever do comitê de bacia exigir a sua implementação para viabilizar a execução do plano de bacia.

As respostas, em relação à percepção dos respondentes sobre o governo do Estado incorporar ou não as decisões dos comitês nas políticas públicas, apenas 1,1% respondeu afirmativamente. Mais da metade das respostas foram de que poucas vezes as decisões dos comitês são observadas pelo governo e 19,7% acreditam que a maioria das decisões são incorporadas nas políticas públicas (Gráfico 14).

Gráfico 14 – Percepção dos membros sobre a incorporação das decisões dos comitês em políticas públicas.

Fonte: Elaborado pela autora.

Este resultado denota a baixa valorização dos membros quanto ao poder de decisão do comitê, conforme percepção dos mesmos. Neste sentido, para embasar esta dedução, cita-se uma intervenção do DRH/SEMA, em reunião da votação do enquadramento do rio Camaquã,

0 20 40 60 80 100

sim, todas Não quero responder Não respondeu Não, nenhuma Sim, a maioria Sim, Poucas

As decisões dos comitês são acatadas pelo Estado?

presenciada pela autora. Na referida reunião determinados grupos direcionavam os participantes no sentido de alterar a classe de “especial” para “classe 2”, em um trecho do rio inserido em um parque estadual. Restava clara a manipulação da decisão na plenária à extinção do Parque, o que seria um retrocesso ambiental, favorecendo momentaneamente somente o setor irrigante. O DRH, presente na reunião, posicionou-se quanto à alteração, informando que a mesma não seria aprovada por aquele Departamento, ressaltando que o enquadramento deveria manter ou melhorar a qualidade das águas. Esta ação, embora necessária naquele momento, tornou evidente aos participantes da reunião que a decisão final não é do comitê de bacia, fragilizando a situação deste dentro do sistema de gestão.

Contudo ficou evidente que o poder de decisão ainda necessita da regulação do Estado, pela falta da agência, que forneceria o apoio técnico para balizar as decisões. Logo, a ausência da agência de bacia, certamente, influencia no desempenho dos comitês e na qualificação de suas decisões e também fornece respaldo ao Estado para não delegar o poder de decisão. Cabe refletir que a implantação da agência de bacia é obrigação do Estado do RS, consolidada pelo artigo 20 da Lei n° 10.350/94 (RIO GRANDE DO SUL, 1994).

Quanto à percepção dos respondentes em relação ao Comitê promover ou não a capacitação aos membros (Gráfico 15), observa-se que quase a metade (47,8%) entende que o seu comitê realiza eventos de capacitação, o que não está em conformidade com os resultados da leitura das atas dos três comitês estudados, visto que nos mesmo é recorrente a fala sobre a necessidade de capacitação dos membros.

Gráfico 15 – Percepção a respeito da promoção de capacitações pelo Comitê

Fonte: Elaborado pela autora. 0 20 40 60 80 100 Não quero responder Não sei responder Comitê não proporciona capacitações periódicas Comitê oroporciona capacitações periódicas

No entanto, ao se questionar sobre o conhecimento de temas relacionados à gestão das águas, constata-se que a maioria não possui conhecimentos suficiente.

Quando questionados sobre os projetos de lei para a alteração da Lei Estadual n° 10.350/94, as respostas causaram perplexidade (Gráfico 16) pelo pouco conhecimento declarado sobre a Lei que estabelece o Sistema Estadual dos Recursos Hídricos por praticamente 25% dos integrantes dos comitês. Isso é preocupante dado que essa Lei define a gestão das águas no Estado, sendo inclusive a responsável pela criação dos comitês de bacia e do estabelecimento de suas atribuições.

Gráfico 16 – Sobre conhecimento da Lei Estadual n° 10.350/94 – Lei Gaúcha das Águas.

Fonte: Elaborado pela autora.

Este dado estabelece diagnóstico sobre a necessidade de estabelecer programa de capacitação para membros de comitês de bacia para a atuação como representantes dos diferentes segmentos e veiculadores da importância daqueles. Ou seja, esse dados reflete a deficiência dos comitês em capacitar seus membros. Observa-se a necessidade da elaboração de uma cartilha de ingresso de novo membro no comitê, constando as principais leis de recursos hídricos, o regimento interno do comitê, as atribuições e o conceito de representatividade. Este material facilitaria o entendimento de novos membros sobre a estrutura do gerenciamento dos recursos hídricos, bem como do seu papel na gestão. Salienta- se ainda a importância de um programa contínuo de capacitação.

0 20 40 60 80 100

Não respondeu Não posso opiar porque

desconheço essa lei

A Lei não deve ser alterada

A Lei deve ser revista e alterada

4.3 APRESENTAÇÃO DOS INDICADORES DE DESEMPENHO DA ATUAÇÃO DOS