• Nenhum resultado encontrado

A pesquisa foi desenvolvida em quatro etapas distintas. A primeira etapa teve por objetivo contribuir ao conhecimento da inserção pública através dos comitês de bacia, reunindo dados secundários pela bibliografia existente e coletando dados primários por meio de questionários. A segunda etapa constou da análise dos dados primários e secundários para, a partir do entendimento da atuação dos comitês no RS, elaborar indicadores de desempenho e um índice de qualidade da atuação destes organismos. A terceira etapa, consistiu em hierarquizar os indicadores propostos, eliminando aqueles considerados irrelevantes e propor a fórmula de cálculo do índice. Finalmente, na quarta etapa, realizou-se a validação dos indicadores pela sua aplicação nos três comitês de bacia, elencados para os casos de estudo.

A escolha de procedimentos sistemáticos para a descrição e explicação dos fenômenos estudados nesta tese se deu a partir do conhecimento dos principais instrumentos de gestão dos recursos hídricos adotados no Estado do Rio Grande do Sul. Também pelas respostas obtidas nos questionários de percepção e leitura das atas dos comitês de bacia, objetos dos casos de estudo.

Quanto ao desenvolvimento da pesquisa, ponderando-se a relação custo e tempo da investigação para os vinte e cinco comitês de bacia instalados no Estado do Rio Grande do Sul (RS), priorizou-se a escolha de um comitê de bacia para cada região hidrográfica, possibilitando manter o estudo mais apurado nos mesmos.

A pesquisa foi divulgada e explicada pela pesquisadora aos coordenadores dos comitês (presidente, vice-presidentes e secretários executivos) através da participação de reunião do Fórum Gaúcho de Comitês (FGC) ocorrida em Santana do Livramento em 18 de agosto de 2016, reforçando-se a necessidade de apoio para que os membros fossem sensibilizados a responder ao questionário. Ficou acordado na referida reunião que seria enviado um link de acesso para o e-mail da rede e as direções dos comitês se comprometeram de retornar até o dia 26 de agosto do mesmo ano. Já os membros dos comitês, teriam o prazo de um mês do envio do link. O avençado ficou registrado na ata n° 12/2016 do FGC.

Na reunião suprarreferida, aplicou-se o questionário com alguns dos presentes para aferição do mesmo verificando-se, por exemplo, se a linguagem do questionário estava compreensível a todos e se achavam as questões pertinentes. Com o resultado deste pré-teste, reformularam-se as questões e reaplicando-se o questionário ao comitê da Várzea, contando-

se para isso com o apoio da representante da Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH) naquele comitê, que o aplicou presencialmente.

O questionário final, com 25 questões, foi enviado por meio digital e teve 178 preenchimentos. Disponibilizou-se para todos os Comitês, através de suas secretarias executivas, arquivo contendo o questionário e também o link para aqueles que preferissem responder diretamente no formulário do google.drive. O questionário permaneceu aberto, aceitando respostas pelo período de janeiro/2017 a abril/2018.

Após seis meses foi enviado novo e-mail para as secretarias dos comitês relembrando- os sobre o questionário e a importância do retorno para a pesquisa. A amostragem foi probabilística aleatória simples, em que cada unidade amostral teve mesma probabilidade de pertencer a amostra (BABBIE, 1999).

Quanto aos Comitês de Bacia escolhidos para caso de estudo, sejam eles, Comitê Sinos, Camaquã e Santa Maria; além dos questionários, verificou-se o cumprimento de suas atribuições pela análise das atas de reuniões dos últimos dez anos.

A escolha destes Comitês ocorreu em função da junção de dois critérios: antiguidade na região hidrográfica a qual pertencem e a disposição de dados históricos, como por exemplo, registro de todas reuniões através de atas, considerando-se que a investigação envolveu o levantamento do conteúdo das mesmas. O levantamento da frequência nas reuniões das entidades representantes não foi realizado em virtude deste dado não ser disponíbilizado por grande parte dos comitês.

Adotou-se como critério a categorização das pautas, separando-as em gestão de recursos hídricos relacionadas à gestão administrativa do Comitê; a qualidade das águas; a quantidade das águas; a arbitragem de conflitos e a promoção da educação ambiental. Ainda, foram contabilizadas as que geraram resoluções ou moções e seus encaminhamentos.

Na reunião do FGC foi explicado o objetivo da pesquisa e solicitado aos presidentes que respondessem e explicassem em seus respectivos comitês que o questionário seria disponibilizado através de link do formulário do google.drive, salientando-se a importância da obtenção das respostas para ser alcançada uma amostra representativa.

Quanto aos questionários, depois de realizada a coleta dos dados, procedeu-se com a sistematização dos mesmos. Os resultados analisados e tratados estatisticamente foram tomados como base para a análise da percepção. Esses resultados também foram utilizados para elaborar a proposta de indicadores com o auxílio dos modelos Pressão, Estado e Resposta (PER), proposto pela Organization for Economic Cooperation and Development

(OCDE) para os países membros, utilizado internacionalmente para apresentação e análise de estatísticas ambientais, agregando-se a ele as diretrizes do modelo PEG, usado pelo

International Institute for Sustainable Develoment (IISD) para acompanhar a sustentabilidade

da cidade canadense de Winnipeg (IISD, 2018), e ainda, as dez categorias propostas por Hooper (2010), optando-se pela organização dos indicadores para os organismos de bacia do Rio Grande do Sul pela combinação desses modelos (HOOPER, 2010; OCDE, 2015; IISD, 2018).

Pretendia-se apresentar a proposta de indicadores também em reunião do Fórum Gaúcho de Comitês (FGC), composto pelos presidentes dos comitês de bacia, visando ampliar a discussão, elaborar e priorizar conjuntamente os indicadores, e a partir da experiência dessas diversas coordenações, valendo-se da metodologia da matriz estrutural adaptada19, pretendia- se realizar o cruzamento dos dados e verificar o grau de influência de uma categoria de indicadores na outra, assim, priorizando os mesmos.

Ocorre que, uma das dificuldades enfrentadas, foi o cancelamento da referida reunião por diversas vezes. Considerando este impasse, buscou-se outra alternativa para a priorização dos indicadores, escolhendo-se a consulta à especialistas na área de recursos hídricos e áreas afins, como opção viável para manter o cronograma da pesquisa.

A proposta com 44 possíveis indicadores foi inserida em formulário do google.docs e enviada para 40 especialistas de diversas áreas (direito, engenharias geologia, geografia, ecologia, ...), com trabalhos reconhecidos na área de gestão de recursos hídricos ou em áreas afins. Nesse formulário foram apresentados os indicadores e informadas metas, objetivos, fórmula de cálculo, periodicidade, fonte de informação e, para a priorização, elencou-se cinco possibilidades - desde a total irrelevância passível de exclusão até a extrema relevância (Apêndice B). Desta consulta obteve-se 32 respostas.

Deste modo, apresentaram-se duas propostas de indicadores, uma para o conjunto de comitês do Estado, analisando-se o comportamento do grupo de comitês como um reflexo do ente estadual a que fazem parte e, outra, para cada comitê individual, resultado da sua organização na bacia hidrográfica em que estão inseridos.

19 Matriz utilizada em trabalho apresentado por António Eduardo Leão Lanna, consultor da Gama Engenharia,

na reunião da Comissão Permanente de Acompanhamento-CPA do Comitê Camaquã, Cristal, 31 de maio de 2016.

Para a categoria “conjunto de comitês” foram propostos 36 indicadores separados em duas temáticas: fatores externos com influência no desempenho dos comitês e fatores intrínsecos aos comitês para o cumprimento das suas atribuições.

Na proposta de indicadores para categoria “comitês individuais” fez-se a sugestão de oito indicadores dentro de uma única temática: atribuições legais.

De posse do resultado da consulta, foi feito o tratamento estatístico dos dados utilizando-se o software Microsoft Excel 2010. Utilizando-se a análise das médias ponderadas e das frequências fez-se a hierarquização dos indicadores propostos elencando-se uma pontuação para os mesmos. Para a sua priorização utilizou-se a técnica multicritério, propondo-se quatro critérios e a sua complementação com a análise de conteúdo, considerando-se as observações colocadas pelos especialistas (Tabela 10 e Apêndice C), interpretando-se dados quali-quantitativos (MINAYO, 2001, MOZZATO; GRZYBOVISKI, 2011). Para validação dos indicadores, utilizaram-se os dados dos três comitês, um de cada região hidrográfica (Uruguai, Litoral e Lago Guaíba), considerando-os como representativos de um grupo de situações análogas e aptos a fundamentar as generalizações para cenários comparáveis aos demais comitês.

Nesses comitês foram aplicados os indicadores, efetuando-se o cálculo do índice de desempenho dos comitês (IDC). Este índice permitiu a avaliação da evolução dos comitês estudados no período de cinco anos.

Deste modo, priorizou-se a validação dos indicadores da categoria comitês individuais, tendo em vista que o objeto principal desta tese era de avaliar os comitês e não o ente Estado, cuja avaliação foi realizada de forma a complementar às análises.

Para a construção do Índice de Desempenho do Comitê (IDC) foi sugerida uma proposta baseada nos pesos atribuídos pelas médias ponderadas calculadas de acordo com a prioridade estabelecida nas respostas dos especialistas consultados. No cálculo considerou-se os indicadores priorizados multiplicados pelo seu respectivo peso e na interpretação do resultado, adaptou-se a ferramenta proposta por Daronco (2014) para planos de saneamento. Estas informações estão apresentadas no subcapítulo 3.9.

Quanto à sugestão para o conjunto de comitês, buscou-se através dos indicadores propor uma forma de avaliar a influência do ente Estado na evolução do sistema de gestão, no que diz respeito aos organismos de bacia. De forma semelhante, o Índice de Influencia do Estado (IIE) foi calculado pelos indicadores priorizados multiplicados por seu respectivo peso, atribuído pela média ponderada.