• Nenhum resultado encontrado

Esta pesquisa buscou (1) avaliar o perfil dos integrantes dos Comitês de Gerenciamento de Bacia Hidrográfica gaúchos, (2) verificar a sua percepção quanto a gestão do recursos hídricos e ao exercício da representatividade, (3) elaborar e propor indicadores de desempenho e consolidá-los através dos estudos de caso, tendo como resultado a análise do desempenho obtido, por meio da aplicação destes indicadores propostos e do cálculo do índice de desempenho do comitê. De forma complementar apresentou-se um índice da influência do Estado no desempenho dos comitês.

Por conseguinte tiveram-se as seguintes conclusões:

Pela amostra estudada, concluiu-se que o perfil dominante entre os integrantes dos comitês de bacia gaúchos é composto por pessoas brancas, do gênero masculino, com alta escolaridade e renda familiar acima da média da população do Estado. Não há representante da população indígena, ainda que existam esses povos vivendo em algumas das bacias hidrográficas. Ainda quanto a questão da participação indígena, sabendo-se a precariedade em que este povo vive no RS, em aldeias na beira de estradas, conclui-se que há necessidade de outras medidas para a sua efetivação. Por este motivo, ainda que agora exista uma resolução do Conselho de Recursos Hídricos do Estado criando a vaga, deve haver uma preocupação em proporcionar condições financeiras para que essa representação ocorra de fato.

A constatação do predominio do gênero masculino leva a concluir que este tema deve ser revisto, criando-se estratégias para aumentar a participação das mulheres, inclusive como sugerem os organismos internacionais ligados a gestão das águas.

Quanto à percepção sobre a gestão de recursos hídricos e representatividade identificaram-se falhas, observadas nas recorrentes falas transcritas nas atas sobre a necessidade de capacitação e pelo elevado número de respondentes ao questionário que demonstrou não possuir conhecimento mínimo sobre a gestão integrada dos recursos hídricos e da lei que define as atribuições dos comitês de bacia. Contrariando isso, na percepção dos membros, os mesmos acreditam que exercem a representatividade de forma satisfatória. Portanto, torna-se evidente a necessidade de programas de capacitação.

O ponto central dessa tese foi o desenvolvimento de indicadores de desempenho para a análise do funcionamento dos organismos de bacia. Foram propostos 44 indicadores, com

base em consulta aos comitês sobre os principais temas relevantes a serem avaliados. Após consulta a especialistas, os mesmos foram hierarquizados e aprimorados, permanecendo 15 como proposta final, divididos em duas categorias: comitês individuais e conjunto de comitês. Pode-se concluir, a partir da simulação realizada aos estudos de caso que: os indicadores se mostraram relevantes para os objetivos aos quais foram propostos; os dados para a aplicação dos indicadores são de fácil obtenção, de baixo custo e auditáveis; os indicadores se mostraram úteis para análise ao longo do tempo; os indicadores se mostraram de fácil interpretação. Portanto, conclui-se que podem ser úteis para avaliar o desempenhos dos comitês e para o estudo das possibilidades de melhoria desses organismos de bacia.

Adicionalmente, foram propostos dois índices que sintetizam os dois grupos de indicadores pelas respectivas categorias, os quais perimitiram estabelecer um parâmetro de comparação entre comitês. Pelo índice de desempenho calculado para os casos de estudo depreende-se que a maioria dos comitês ainda não apresenta bom desempenho. No entanto, os fatos demonstram que um melhor desempenho pode ser alcançado, a exemplo do Comitê Sinos, cuja evolução pode facilmente ser identificada pelo IDC. Da interpretação dos resultados da aplicação dos indicadores e índices propostos ficou evidente que a existência da agência de bacia é fator importante para o desempenho dos comitês tendo em vista que fornecerá o apoio técnico para embasar as decisões do colegiado.

Ainda, o índice proposto para cálculo da influência do ente Estado (IIE), nas competências dos comitês mostrou-se capaz de indicar fragilidades na gestão, como a ainda forte concentração das tomadas de decisão por parte do Estado, fato que se pode atribuir a falta das agências de bacia. Assim, conclui-se que a segunda hipótese desta tese, que presume a falta da efetividade nas ações dos comitês devido a implantação incompleta do sistema (não implantação das agências de bacia) se confirma.

Finalmente, considerando-se que esta tese teve por objetivo geral contribuir acerca dos desafios e possibilidades relacionados com a participação social pode-se também concluir que os comitês de bacia têm conseguido inserir a participação social, ainda que na percepção dos seus membros poucas vezes essas decisões sejam observadas pelo governo. Os comitês de bacia garantem algum poder de decisão aos participantes, uma vez que o enquadramento das águas, o plano de bacia, as isenções de outorga e os valores da cobrança são decisões do colegiado. E, ainda que o Estado limite as decisões pelos comitês, estes organismos promovem debates, trocas de conhecimento e exercício da cidadania ao praticar consensos pelo bem da sociedade, que não ocorreria se houvesse apenas a participação por meio de uma

consulta pública. Ou seja, a participação social, a questão é complexa e demandará tempo até ser incorporada na sociedade gaúcha, pois envolve a quebra de paradigmas.

Posto isso conclui-se que há inserção da participação, ainda que com algumas deficiências que necessitam ser revistas, logo, a primeira hipótese levantada nesta tese não se confirmou.

A operacionalidade da metodologia desenvolvida, indicadoress e índices, depende dos comitês do estado armazenar e disponibilizar as informações necessárias e da disposição dos mesmos em alterar os procedimentos e práticas que vêm sendo adotados, em busca da excelência.