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mundo dos provérbios” Teresa Ferreira | CIDTFF/Universidade de Aveiro

5. Análise dos dados

As fichas de trabalho da actividade ‘Mundo de provérbios’ foram recolhidas pela professora no final da aula, para que o subgrupo pudesse analisar as respostas dadas pelos alunos, com os objectivos investigativos de compreender a composição e extensão dos seus repertórios linguístico-culturais e averiguar a necessidade de formação ao nível da literacia plurilingue.

A análise das respostas dos alunos à primeira pergunta – identificação das línguas em que se encontravam os 34 provérbios – revelou que foi muito reduzido o número de provérbios cujas línguas foram correctamente identificadas por todos os alunos (apenas 4 em cada turma). Em relação aos provérbios em Inglês, apesar de todos os alunos estudarem esta língua desde o 5.º ano, dos quatro provérbios ingleses apenas dois foram correctamente identificados por todos os alunos (tanto numa turma como noutra). Outro dado relevante é que numa das turmas houve alguns alunos a colocar a hipótese de se tratar de Alemão em 60% dos provérbios, o que poderá indiciar a percepção, talvez inconsciente, de que esta língua tem tradicionalmente um lugar na escola, ou então poderá ser influência de casos familiares ou próximos relativos à emigração na Alemanha. Na outra turma esta ocorrência foi menor, mas também se verificou. Quanto ao Castelhano, língua-vizinha para a maioria dos alunos, nunca foi correctamente identificado por todos os alunos de uma das turmas (as percentagens de identificações incorrectas variaram entre 20% e 40%). Por outro lado, as diferentes línguas românicas foram, muitas vezes, confundidas entre si e ainda com o Latim, confusão que se estendeu, por vezes, à identificação do próprio Português (quer na variante europeia, quer na variante brasileira). Quanto à segunda pergunta – correspondência entre os 34 provérbios de diferentes línguas-culturas e os 21 provérbios portugueses – verificou-se que dos 34 provérbios, apenas em 7 provérbios numa turma e em 10 na outra houve unanimidade dos alunos quanto à selecção correcta de um provérbio correspondente. Para a correspondência entre provérbios em Português e noutras línguas, os alunos recorreram a semelhanças lexicais com o Português (ex.: “ladrador” – “ladrar”; “mordedor” – “morder”; “Dios” – “Deus”) e aos seus conhecimentos prévios, também a nível lexical (ex.: “bird” – “pássaro”; “hand” – “mão”). Numa das turmas, ao contrário da outra, a descodificação dos provérbios em Francês destacou-se por uma taxa de sucesso, pelo facto de existir na turma uma aluna nascida na Suíça e com alguns anos de percurso escolar naquele país, o que ajudou na desconstrução gramatical e lexical dos provérbios em Francês aos restantes alunos, potencializando, assim, a mobilização de saberes plurilingues. Na outra turma, houve insucesso na descodificação do provérbio russo, apesar de a aluna russa presente ter lido, traduzido e explicado o sentido do provérbio. O insucesso talvez se deva a factores pessoais, por existir alguma rejeição em relação à aluna russa (por ser uma das melhores da escola). Esse facto evidencia a necessidade

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de ser promovido fortemente e de forma mais incidente o respeito pela diversidade linguística e cultural e a sensibilização ao plurilinguismo nessa turma.

Conclusões

Estes resultados demonstram que, apesar dos (eventuais) contactos escolares e extra-escolares com línguas diferentes das suas LM, os alunos revelam muitas dificuldades em identificar línguas que, teoricamente, estarão próximas da sua vida quotidiana, e pertencentes à família de línguas românica. Aliás, o facto de serem confrontados, numa mesma actividade, com diferentes línguas, na sua maioria com elevado grau de proximidade tipológica, leva estes aprendentes a sentirem dificuldades, inclusivamente, em identificar/distinguir a sua própria LM.

Estas constatações indiciam, pois, que os alunos deste nível de escolaridade ainda têm dificuldade em lidar com a “fronteira” entre línguas, o que pode fundamentar a pertinência deste tipo de actividades, no sentido de os ajudar a desenvolver um olhar contrastivo, que lhes permita perceber e rentabilizar as semelhanças entre línguas aparentadas sem, no entanto, deixarem de identificar as diferenças e, consequentemente, a identidade e especificidade de cada uma delas.

A promoção desta actividade fez emergir as dificuldades identificadas, mas potenciou também os casos em que a rentabilização dos repertórios dos alunos permitiu a partilha de saberes e a aprendizagem. Confirmou-se, portanto, a pertinência de se promover este tipo de actividade em aula de língua, nomeadamente de Português – que serve de língua-ponte entre todas as outras apresentadas –, uma actividade que beneficia em particular do tipo de texto trabalhado: curto (o que permite a apresentação de um número relativamente alargado de textos e línguas), com um conteúdo passível de ser facilmente compreendido/ reconhecido pelos alunos – carácter transcultural e popular do provérbio (Parafita, 1999).

Naturalmente, o facto de os textos estarem em diferentes línguas acrescentou dificuldade ao trabalho, mas também o tornou mais interessante, pois os alunos, apreciando a oportunidade deste contacto com a diversidade linguística, mostraram- se, em aula, motivados e empenhados na resolução da tarefa e em discutir os raciocínios e opiniões de cada um. Para concluir, deixamos um excerto do diário da professora que implementou as actividades, no qual fica patente o entusiasmo sentido pela turma e o sucesso das aprendizagens realizadas:

“Opinião geral, e em particular apoiada em alguns alunos, é de que se aprendeu muito,

visto que se aperceberam de que nas outras línguas também existem provérbios, com a mesma estrutura e muito semelhantes no seu significado/ sentido. É de salientar que […] os alunos sentiram euforia e foram muito participativos, com frases como: “Eu sei, eu sei!”. Ainda, como referência, é de salientar o melhor comportamento das duas turmas, atendendo ao entusiasmo e interesse que manifestaram. Sentiram-se à vontade, sem

constrangimentos, e até foram mais sociáveis. […] Perguntei, finalmente, se gostariam de ter outras actividades semelhantes, e aqui verifiquei o entusiasmo e grande vontade de repetir actividades neste âmbito, o que muito me agradou, como professora das turmas.”

Pelo facto das migrações de pessoas e povos se terem tornado uma realidade em Portugal, e num tempo de sociedades multiculturais, as escolas ganham novos contornos neste mosaico de línguas e culturas. Assim, o desenvolvimento de actividades que, como estas, visem a promoção e celebração da diversidade são importantes contributos, não só para a educação linguística como também, a um nível mais global, para uma cidadania democrática.

sensibilização à diversidade linguística e cultural no 1.º Ciclo