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comunidade de desenvolvimento profissional: um estudo das “vozes” dos participantes

Ana Sofia Pinho | CIDTFF/Universidade de Aveiro

Ana Raquel Simões | CIDTFF/Universidade de Aveiro Resumo

Acreditando que a inovação educacional e a investigação podem ser desenvolvidas atra- vés da criação e sustentação de atmosferas colaborativas e da implementação de projectos baseados no comprometimento mútuo (Hargreaves, 1998; Lieberman, 2000), o projecto

Línguas e Educação: construir e partilhar a formação pretendeu estudar as dinâmicas de

formação de uma comunidade de actores educativos diversificados (professores, formado- res e investigadores). Como muitos autores referem, as comunidades podem assumir-se como um contexto para troca de informação, comunicação de experiências, partilha de reflexões e de aprendiza- gens (Imbernón, 2007; Wenger, 1998). Neste âmbito, as representações que os membros da comunidade têm acerca do que é colaborar (incluindo as vantagens e os constrangimentos deste tipo de trabalho), assim como sobre os papéis desempenhados por cada indivíduo, pa- recem ser cruciais na forma como os sujeitos agem e se envolvem no trabalho colaborativo. O estudo apresentado neste texto tem como objectivo identificar as representações que os membros da comunidade evidenciam sobre colaboração, socorrendo-se para tal de uma análise de conteúdo das interacções presentes nos fóruns de discussão (utilizando a Pla- taforma Moodle), das reflexões escritas dos professores e das transcrições das entrevistas finais feitas aos formadores/investigadores. A apresentação dos resultados da análise será feita a dois níveis: (a) as representações dos participantes sobre colaboração; b) o contributo que professores e investigadores/formado- res atribuem à colaboração para o seu desenvolvimento profissional na área da educação em línguas.

Palavras-chave: colaboração, comunidades, desenvolvimento profissional, representa- ções.

Introdução

Procurando contribuir para a dimensão investigativa do projecto Línguas e

Educação: construir e partilhar a formação1, o estudo aqui apresentado visa

1 O projecto Línguas & Educação: construir e partilhar a formação (PTDC/CED/68813/2007;

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concorrer para a construção de conhecimento sobre comunidades de desenvolvimento profissional (CDP) em educação em línguas, alicerçadas na configuração de uma cultura de formação e colaboração entre diferentes actores educativos, em particular professores, formadores e investigadores.

Sustentado em perspectivas sócio-construtivistas, o estudo relatado tem como referencial a investigação sobre contextos de formação colaborativa, que tem vindo a evidenciar as potencialidades deste tipo de ambientes e dispositivos para o desenvolvimento profissional dos diferentes actores envolvidos (Canha & Alarcão, 2009; Pinho & Andrade, 2010; Simão et al., 2009; Vieira, 2009b; Wenger, 1998). Neste contexto, estudos no âmbito das representações têm salientado igualmente a relevância dos quadros hermenêuticos individuais e colectivos no processo de construção de conhecimento educativo e da identidade profissional dos sujeitos (Andrade et al., 2006; Sanches & Jacinto, 2004), o que nos leva a ponderar a expressividade destes mesmos universos interpretativos na (re)configuração dos discursos, das dinâmicas e das práticas inerentes ao trabalho colaborativo. Assim, é nosso pressuposto que no processo de construção de uma cultura social de aprendizagem, de natureza colaborativa, as representações dos membros da CDP acerca do que é colaborar, das vantagens e dos constrangimentos desse tipo de trabalho, assim como sobre os papéis a desempenhar por cada indivíduo nas dinâmicas colaborativas parecem ser cruciais na forma como os sujeitos agem, se envolvem no trabalho colaborativo e o ressignificam no âmbito quer do seu desenvolvimento profissional, quer da construção da própria comunidade (Hernández, 2007).

No contexto do projecto referenciado, em particular na sua dimensão formativa, as dinâmicas colaborativas foram sobretudo baseadas na comunicação presencial, tanto nas sessões de trabalho em pequeno grupo, como noutros encontros e reuniões gerais. Estes processos dialógicos foram ainda sustentados pelo recurso à plataforma Moodle, como forma de fomentar a comunicação, partilhar documentos e desenvolver algumas das tarefas em torno do projecto comum delineado. Destacam-se, em particular, os fó- runs de discussão na prossecução do trabalho colaborativo, na construção e partilha de conhecimento acerca da educação em línguas, bem como no possível desenvolvimento de um sentido de pertença ao longo do tempo por parte dos membros da CDP (Wenger et al., 2005). Com efeito, enquanto espaços de enunciação, os fóruns de discussão evidenciam-se como espaços privilegiados para a circulação, construção e reestrutura- ção de pensamento e, nessa medida, contextos de revelação, partilha e reconfiguração de representações (cf. Melo-Pfeifer nesta mesma publicação). Visando gizar o imaginário colectivo (Boyer, 1998) sobre colaboração que ha- bitou o contexto do projecto Línguas e Educação, este estudo centra-se na análise dos fóruns de discussão de um dos grupos da CDP, assumindo-o como um caso representativo das práticas discursivas e transaccionais sobre colaboração. A inves- tigação apresentada guia-se, deste modo, pelos seguintes objectivos: (i) identificar as representações dos membros da CDP (professores, formadores e investigadores)

em relação à colaboração e (ii) compreender o contributo atribuído pelos sujeitos às dinâmicas de trabalho colaborativo para o seu desenvolvimento profissional.

1. Enquadramento teórico

1.1. Desenvolvimento profissional colaborativo

Ao longo dos anos, tem-se intensificado a atenção dedicada às questões do desenvolvimento profissional tanto de professores como de investigadores e formadores, sobretudo quando equacionadas ao nível da formação de professores e da construção do conhecimento educacional e investigativo (Cochran-Smith et al., 2008; Darling-Hammond & Bransford, 2005; Guskey & Huberman, 1995; Vieira, 2005; número temático da European Journal of Teacher Education, 2008, 31/2). Este interesse tem-se manifestado particularmente no âmbito de espaços e dispositivos alicerçados numa formação colaborativa, que poderá ser entendida como

“um processo relacional e cognitivo, em que os sujeitos (professores, formadores e investigadores) congregam as suas identidades pessoais e profissionais e se mobilizam em torno de um comprometimento comum para com o seu desenvolvimento profissional, valorizando os benefícios mútuos deste processo e reconhecendo a diferenciação de papéis e funções na construção conjunta dos saberes profissionais e investigativos em educação em línguas” (Pinho & Andrade, 2010: 5).

O conceito de desenvolvimento profissional pauta-se, no entanto, por uma natureza polissémica, visível nas perspectivas e definições diversas que perpassam a literatura da especialidade, mas que se afiguram complementares do ponto de vista investigativo no que concerne à compreensão da complexidade que lhe é intrínseca (veja-se, a título exemplificativo, o número temático da revista Education

& Formation – e-293, de 2010).

A este propósito, uma recensão realizada por Uwamayiya & Mukamurera (2005) dá-nos conta de duas linhas de pensamento centrais sobre desenvolvimento profis- sional: (i) uma perspectiva desenvolvimentista, ancorada numa visão cronológica que corresponde a uma estruturação de estádios ou a uma sucessão de etapas de desenvolvimento profissional. Embora, nesta perspectiva, se confira centralidade ao sujeito, ela parece escamotear o papel do meio e dos modelos organizacionais nesse processo; e (ii) uma perspectiva profissionalizante, segundo a qual o desenvolvimen- to profissional se entende como um processo de aprendizagem (de saberes docentes) através da investigação e da reflexão, atribuindo-se grande relevância à dimensão do contexto profissional (cf. igualmente Sylla & De Vos, 2010). Se enfatizarmos, seguindo Marcelo (2009), a dimensão colectiva e relacional do desenvolvimento profissional, compreender-se-á a relevância atribuída aos espaços, às culturas e às práticas de colaboração, cada vez mais considerados como processos essenciais não só para a construção de conhecimento investigativo sobre a formação