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de alunos face à língua materna e ao inglês língua estrangeira Maria Helena Araújo e Sá | Universidade de Aveiro/ CIDTFF

1. O conceito de “representação” e sua propriedade em Didáctica de Línguas O conceito de “representação” tem adquirido uma crescente importância no

2.2. Análise e discussão dos dados

Uma primeira análise dos textos redigidos em grupo acerca da PLM e do ILE permite-nos concluir que os alunos do 7.º e do 11.º ano possuem representações

Quadro 1 – Dados analisados 7.º ano 5 4 11.º ano 5 6 Textos redigidos em grupo – PLM Textos redigidos em grupo – ILE Quadro 2 – Categorias para tratamento das imagens das línguas (Pinto, 2005: 102) C1.1. Facilidade/dificuldade de aprendizagem e uso C1.2. Distância/proximidade linguística com a LM ou com outras LE

C1.3. Auto-regulação do processo de aprendizagem

C1.4. Auto-avaliação das competências linguísticas e conhecimen- tos adquiridos

C1.5. Experiências de aprendizagem

C1.6. Conhecimentos declarativos sobre a língua C2.1. Relação afectiva aluno/língua/cultura C2.2. Imagem sonora da LE

C3.1. Poder sócio-cultural C3.2. Poder económico-profissional

C4.1. Relação língua/história de um povo/cultura

C4.2. Condição para a construção e afirmação de identidade e sentidos de pertença

C5.1. Comunicação e socialização com o Outro C5.2. Internacionalização da língua

C1. Língua como objecto de ensino-aprendizagem

C2. Língua como objecto afectivo

C3. Língua como objecto de poder

C4. Língua como instrumento de construção e afirmação de identidades individuais e colectivas

C5. Língua como instrumento de construção das relações interpessoais/intergrupais

diferenciadas sobre a língua materna e a língua estrangeira em estudo, conforme se pode constatar pelo gráfico abaixo.

Relativamente ao ILE, os alunos de ambos os anos de escolaridade parecem entender esta língua essencialmente enquanto instrumento de construção das

relações interpessoais/intergrupais, com especial incidência na internacionalização:

“É a língua mais falada em todo o mundo” (7.º ano); “O inglês é a porta para o mundo” (11.º ano).

Os alunos do 7.º ano demonstram representações relacionadas com a aprendizagem formal da língua, essencialmente no que concerne à facilidade/dificuldade deste processo: “É muito vasta e um pouco difícil” (7.º ano). Já os alunos do 11.º ano percepcionam-na, de seguida, como objecto afectivo, com o qual estabelecem relações emocionais de proximidade: “Está nas relações amorosas, quem nunca disse ‘I love you’?”. Constatamos, nos nossos resultados, que quanto mais elevado for o nível de escolaridade dos alunos mais frequentemente manifestam expressões afectivas em relação à língua estrangeira em estudo.

Nesta análise relativamente ao ILE, de realçar ainda que os alunos do 7.º ano não o percepcionam como instrumento de construção e afirmação de identidades

individuais e colectivas, o que se poderá justificar pela sua faixa etária e respectivo

desenvolvimento sócio-cognitivo. Já os alunos do 11.º ano estabelecem uma clara relação entre a língua e a história do povo, mostrando compreendê-la também enquanto manifestação cultural através da qual se caracteriza uma nação: “É uma língua de batalhas, conquistas e cheia de histórias incríveis e mágicas”.

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Como se pode verificar pelo gráfico acima, o ILE não surge destacadamente enquanto objecto de poder aos olhos dos nossos sujeitos, embora esta percepção seja mais proeminente no discurso dos alunos do 7.º ano.

Quanto ao PLM, destacamos o facto de os dois grupos de alunos o percepcionarem, primordialmente, enquanto objecto de ensino-aprendizagem, o que traduz o peso das representações escolarizadas das línguas, mesmo no caso da LM. Assim, referem- se frequentemente às dificuldades de aprendizagem da língua, embora nunca as especificando concretamente: “É uma língua difícil” (7.º ano); … “uma língua difícil de se aprender” (11.º ano). De salientar que as dificuldades de aprendizagem sentidas por alunos do 7.º ano os levam a proceder a uma auto-regulação do seu processo de

aprendizagem nomeadamente realçando estratégias de aprendizagem mobilizadas:

“Para treinar a língua portuguesa é preciso ler e escrever”. Já os alunos do 11.º ano estabelecem relações entre o PLM e outras línguas, particularmente relações no que concerne às semelhanças tipológicas: “Já ouviste o espanhol? É ligeiramente parecido.”

Seguidamente, verificamos que os alunos do 7.º ano percepcionam a sua LM como

instrumento de construção das relações interpessoais/intergrupais, principalmente

no que toca à sua importância para comunicar e socializar com os outros: “Serve para facilitar a comunicação, para socializar e facilitar a vida”. No que concerne aos alunos do 11.º ano sobressai, de seguida, a representação da língua enquanto

objecto afectivo, com destaque para ocorrências em que enfatizam a sua beleza

(“Língua única e bonita”) e sonoridade (“O português tem uma sonoridade muito bonita”). Embora com menor número de ocorrências, os alunos do 7.º ano também estabelecem relações de carácter afectivo e vinculativo com a língua materna: “… sem ela não seríamos felizes”.

Em terceiro lugar, e para os dois grupos de alunos, surge a representação do PLM enquanto instrumento de construção e afirmação de identidades individuais e colec-

tivas, destacadamente mais evidente nos alunos do11.º ano. Em ambos os grupos, so-

bressai a relação que os alunos estabelecem entre a língua e a história da nação/povo: “Língua com sabor a mar e cheia de aventuras e conquistas” (11.º ano); “Cresceu com o país e ganhou feitiços de som em Angola, Moçambique e no Brasil” (7.º ano).

Tal como aconteceu com o ILE, a representação do PLM enquanto objecto conferidor de poder parece não povoar os imaginários linguísticos dos sujeitos em análise.

A nossa análise permite-nos concluir, antes de mais, que ambos os grupos de alunos evidenciam uma percepção fortemente escolarizada da língua materna que é entendida, primordialmente, enquanto objecto que se aprende em contexto formal, o que vai ao encontro das conclusões de outros estudos, tal como o de Simões (2006). Concordamos com Pinto (2005) quando refere que “A relevância adquirida por este tipo de imagem não é de todo surpreendente, uma vez que as línguas [também] são

objectos de aquisição formal, com os quais os sujeitos contactam, essencialmente, na escola, na universidade, reflectindo, por isso, uma metalinguagem escolar” (2005: 190). Apesar desta enraizada percepção do PLM enquanto objecto de apropriação em situação escolar, constatamos que as representações relativamente a ela são mais diversificadas, apontando para relações de crescente complexidade e intimidade. Assim, podemos constatar que os alunos do 7.º ano mostram possuir dela uma visão mais pragmática (língua como veículo de comunicação) e que os alunos do 11.º ano revelam uma consciência mais apurada da relação língua/história/cultura, estabelecendo com ela relações de afectividade mais fortes e valorizando-a no seu papel de construção de identidades individuais e colectivas (cf. Feytor Pinto, 1998; Araújo e Sá, 2006).

Que o ILE seja primordialmente percepcionado pelos dois grupos de alunos enquanto instrumento de construção das relações interpessoais/intergrupais é um resultado que também não nos surpreende. De facto, os sujeitos sublinham e valorizam o seu carácter veicular, o que conduz à construção de uma representação da língua desligada de referências culturais (essencialmente no 7.º ano). Este resultado é corroborado por outros estudos que evidenciam representações da língua inglesa relacionadas com o seu grau de internacionalização, o que a torna uma importante ferramenta na comunicação globalizada (cf. Giota, 1995; Melo, Araújo e Sá & Pinto, 2005). Um outro aspecto a realçar relaciona-se com o facto de o ILE passar de um objecto de ensino-aprendizagem no 7.º ano para um objecto afectivo no 11.º ano, o que nos leva a avistar a existência de uma articulação entre um crescente contacto com a língua e a representação desta enquanto objecto simbólico/estético.