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investigação qualitativa por recurso a métodos quantitativos

"...o pensamento deve apontar mais além do seu objecto, precisamente porque nunca o alcança; o positivismo é acrítico na sua esperança de o alcançar e ao imaginar que as suas vacilações se devem apenas à escrupulosidade."

Th. W. Adorno, Minima Moralia 56

A inquirição sobre o tipo de representações de género passíveis de serem encontradas nos pictogramas de sinalética urbana, requer uma identificação de determinadas características, um reconhecimento, delimitação, discriminação e enumeração de dimensões observáveis nessas imagens, além de um juízo sobre a frequência com que essas mesmas características ocorrem nas imagens que nos propusemos estudar. Isto é, requer uma análise de conteúdo.

Efectua-se de seguida uma breve descrição dos pressupostos, técnicas, aplicações práticas, vantagens e limitações em que assenta a análise de conteúdo enquanto método de investigação.

- definição

A análise de conteúdo designa, originalmente, um conjunto de técnicas visando descrever, de forma sistemática, rigorosa e objectiva, o conteúdo manifesto de um texto, comunicação ou mensagem. Mais tarde, contudo, passará a designar também a

descrição ou o estudo do seu conteúdo latente.57 E se habitualmente, ou mesmo

54

Ibid., p.257.

55 O termo inglês serendipity foi criado por Horace Walpole (1771-1797), a partir de um conto persa tradicional, As três

princesas de Serendip (=Sri Lanka), em que se narra a busca de algo inútil e o achado de muitas outras coisas valiosas

que não se procuravam. Designa a descoberta acidental, a qual tem um papel importante em ciência.

56

Lisboa: Eds. 70, 2001, p.129.

57 Bisquerra, op.cit., p.113. Cf. também L. Pardal e E. Correia, op.cit., pp. 72 e s.; L. Bardin, Análise de Conteúdo,

preferencialmente, este modo de análise utiliza métodos quantitativos58 (e.g. a medição da frequência de ocorrência de determinado/s termo/s numa mensagem ou conjunto de mensagens) ele funciona sobretudo como uma espécie de "hermenêutica controlada" cujo objectivo é "inferir sobre uma outra realidade que não a da

mensagem."59

Os diferentes tipos de análise de conteúdo (e eles são vários, como veremos de seguida) têm-se revelado particularmente adequados ao estudo do não dito, do

implícito, tendo sido aplicados em campos tão variados como a análise das ideologias, das representações e dos sistemas de valores, a análise dos processos de difusão e de socialização (manuais escolares, publicidade) ou o estudo das produções culturais e artísticas 60, constituindo, desde há décadas, um dos métodos mais utilizados nos Media Studies (televisão, cinema e rádio). 61

À progressiva utilização desta técnica de análise não serão certamente estranhos os recentes avanços da linguística, das ciências da comunicação e da informática. Todavia, a análise de conteúdo não visa o estudo da língua ou do discurso enquanto tais (como sucede na linguística, por exemplo), mas enquanto indicadores de

eventuais significados sociais, políticos ou ideológicos. Por outras palavras, ela não visa o produto, mas as suas "condições de produção". 62

Do nosso ponto de vista, esta intenção deverá, porém, ser sempre temperada por um enfoque oriundo dos cultural studies, i.e. que se recuse a ver nos textos e práticas culturais meros reflexos ou sintomas de um conjunto prévio de determinações sociais.63 Na verdade, a relação entre uns e outros assemelha-se, de certo modo, àquilo a que Sherry Ortner chamou "um eficiente sistema de feedback":

"…various aspects of woman's situation (physical, social, psychological) contribute to her being seen as closer to nature [than man], while the view of her as closer to nature is in turn embodied in institutional forms that reproduce her situation. The implications for social change are similarly circular: a different cultural view can only grow out of a different social actuality; a different social actuality can only grow out of a different cultural view."64

Ao longo da presente dissertação quisemos insistir sempre neste papel constitutivo da cultura em termos dos modos de ver, classificar, narrar, e investir o mundo de

significado, bem como na sua função potenciadora de mudança/manutenção das relações de poder existentes em torno das questões de género, sexualidade, classe social ou etnia. Aliás, como refere L. Bardin65, é sobretudo o facto de as inferências serem deduzidas a partir de dados fornecidos num base descritiva, que leva alguns

"Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de

conhecimentos relativos às condições de produção/recepç ão (variáveis inferidas) destas mensagens" (ibid., p.42).

58 Cf. por exemplo, Jorge Vala, "A Análise de Conteúdo" in A. Santos Silva e J. Madureira Pinto (orgs.), Metodologia

das Ciências Sociais, Porto: Afrontamento, 1986, p.126: "Em nosso entender a análise de conteúdo quantitativa

permite ir mais longe do que a análise qualitativa." John A. Walker e Sarah Chaplin, Visual Culture: an introduction, Manchester e Nova Iorque: Manchester University Press, 1997, p.129: "[Content analysis] is essentially a quantitative operation involving measuring and counting."

59 L. Bardin, op. cit., pp. 9, 46.

60 Jorge Vala, op. cit., p. 107, nota 5; Quivy e van Campenhoudt, op. cit., p.227.

61 Philip Bell, “Content Analysis of Visual Images”, in Theo van Leeuwen and Carey Jewitt, Handbook of Visual Analysis,

Londres: Sage, 2001, p.13.

62 J. Vala, op. cit.,p.104; L. Bardin, pp. 22, 38-40.; L. Pardal e E. Correia, p.73. A expressão "condições de produção

dos textos" deve-se a P. Henry e S. Moscovici ("Problèmes de l'analyse de contenu", Langage, Setembro 1968, n.º II).

63 Cf. Martin Lister e Liz Wells, “Seeing Beyond Belief: Cultural Studies as an Approach to Analysing the Visual”, in Theo

van Leeuwen and Carey Jewitt, Handbook of Visual Analysis, Londres: Sage, 2001, p. 62. Sobre os cultural studies cf. infra, capítulo 2.

64

Sherry Ortner, “Is Female to Male as Nature is to Culture?” [1972], in Michelle Z. Rosaldo e Louise Lamphere,

Woman, Culture and Society, Stanford, California: Stanford University Press, 1974, p.87.

65

autores a falar de "condições de produção". Esta denominação, sendo suficientemente vaga para poder incluir desde variáveis psicológicas (do indivíduo emissor), até

variáveis culturais e sociológicas, ou mesmo relativas ao contexto de emissão da mensagem, apenas leva em conta a produção. Fica assim de lado a possibilidade de inferências sobre a recepção da mensagem, i.e. os eventuais efeitos e consequências que determinado enunciado irá provocar. Regressar às causas mas descer também até aos efeitos: é por esta razão que Bardin prefere a designação mais geral de "variáveis inferidas".

- qualitativo, quantitativo

A análise de conteúdo “é uma técnica de tratamento de informação, não um método. Como técnica pode integrar-se em qualquer dos grandes tipos de procedimentos lógicos de investigação (...) empírica.” 66 É aliás corrente67 classificar os estudos de análises de conteúdo em dois grandes grupos, consoante relevam de métodos quantitativos ou qualitativos: os primeiros seriam extensivos (análise de grande número de informações sumárias), os segundos intensivos (análise de um pequeno número de informações complexas e detalhadas). Esta distinção porém, apenas é válida de um modo muito geral. Resulta do facto de, até à primeira metade do século XX, se considerar que a especificidade da análise de conteúdo residia no rigor, logo, na quantificação; desde então tomou-se consciência de que o seu objectivo principal é a inferência, relativisando-se essa oposição.

Num dado contexto, por exemplo nos discursos de um governante político, o

surgimento de uma palavra inesperada, ou de uma expressão própria dos partidos da oposição podem funcionar como índice de peso desde que não sejam diluídos no decurso de uma análise frequencial68. Ou seja, na análise qualitativa é a presença (ou ausência) de uma dada característica (expressão, palavra, tema) que se toma em consideração; na análise quantitativa é antes a frequência com que ocorre essa característica.69 Esta última visa obter dados estatísticos através de um método

quantitativo; é mais objectiva, fiel e exacta, porém mais rígida. A abordagem qualitativa corresponde a um procedimento mais intuitivo, mais adaptável a índices não previstos, i.e. à evolução das hipóteses. Tem assim funções heurísticas, enquanto que a outra tem sobretudo funções verificativas ou de "administração de prova", em que os dados obtidos confirmam (ou infirmam) aquilo que se procura demonstrar. Todavia, e uma vez que se lida com elementos isolados ou de frequência fraca, a análise qualitativa implica regressar sempre ao contexto, ao tipo de mensagem, circunstâncias em que ocorre, etc.

"Por vezes torna-se necessário distanciarmo-nos da crença sociológica na significação da regularidade." 70 O raro, o acidental, têm frequentemente um significado que não deve obliterado. No presente estudo pudemos verificar isso mesmo ao analisar os pictogramas de acordo com as categorias de género masculino, feminino, misto e indeterminado. Distribuída a totalidade dos pictogramas pelas quatro categorias, e verificada a fraca percentagem de pictogramas femininos relativamente aos restantes, foi contudo possível detectar a sua presença/ausência na ilustração do conceito "serviços de limpeza" (hotel). Dado o número ínfimo de ocorrências (3 ocorrências), estas apareciam diluídas no cômputo final estatístico. Trata-se contudo de um dos raros casos em que a figura feminina é representada isolada (se exceptuarmos casos

66 J. Vala, op.cit., p.104.

67

Cf., por exemplo, R. Quivy e L.Van Campenhoudt, op. cit. p.225.

68 Análise frequencial: medição da frequência de ocorrência de determinados temas ou características num texto ou

conjunto de texto. Cf . infra, análise categorial e análise temática.

69 Bardin, op. cit., pp. 115-116.

70

como "WC mulheres", por exemplo); que tal tenha ocorrido nestas circunstâncias, que o conceito ilustrado tenha sido este e não outro, é por si só, bastante significativo.

Quivy e Van Campenhoudt 71 propõem três grandes categorias de análise de

conteúdo:

1. as análises temáticas, que visam desvendar as representações sociais, atitudes ou os juízos de valor dos locutores. Assim a análise categorial, que “consiste em calcular e comparar as frequências de certas características (na maior parte das vezes, os temas evocados) previamente agrupadas em categorias significativas. Baseia-se na hipótese segundo a qual uma característica é tanto mais frequentemente citada, quanto mais importante for para o locutor. O procedimento é essencialmente quantitativo." Assim também a análise de avaliação que consiste no estudo das atitudes (negativa, positiva, neutra, etc.) do locutor relativamente a determinados objectos;

2. as análise formais, que incidem sobre a forma e encadeamento do discurso. Assim a análise da expressão, cujas características (vocabulário, tamanho das frases, mas também a presença de determinadas formas e cores numa mensagem visual, por exemplo) poderão ser reveladoras de determinada estrutura mental ou ideológica; ou a análise de enunciação (especialmente utilizada na entrevista não directiva, assenta numa concepção do discurso como palavra em acto);

3. as análise estruturais, “que põe a tónica sobre a maneira como os elementos da mensagem estão dispostos. Mais do que as outras, tentam revelar aspectos

subjacentes e implícitos da mensagem.” Assim a análise de co-ocorrência, que estuda já não a mera frequência de aparição de determinado elemento ou elementos no texto, mas a sua ocorrência simultânea (se estatisticamente significativa, constitui um índice de pensamento do seu autor); ou a análise estrutural propriamente dita, que procura descobrir “os princípios que organizam os elementos do discurso, independentemente do próprio conteúdo destes elementos”.72

No trabalho de investigação, de que agora se apresentam os resultados, recorreu-se sobretudo a uma análise do primeiro tipo, i.e. uma análise categorial, ou de

ocorrências, embora ocasionalmente se teçam considerações que indiciam a possibilidade de uma análise formal dos pictogramas – qualitativa, que não

quantitativa. Considerando que, como observa J. Vala, “não há modelos ideais em análise de conteúdo", devendo as regras de processamento "ser ditadas pelos

referentes teóricos e pelos objectivos do investigador” 73, procurou-se, de acordo com os objectivos atrás enunciados, determinar a frequência de representação de cada um

71 Op.cit., pp. 225-227.

72 J. Vala (op.cit., pp. 118-120) sugere: 1) análise de ocorrências (o m.q. análise categorial); 2) análise avaliativa; 3)

análise estrutural (? análise de co-ocorrências). Em contrapartida, L. Bardin (op. cit., pp. 153-222) distingue: 1) análise

categorial (que abrange a análise temática); 2) análise de avaliação; 3) análise de enunciação; 4) análise de expressão

(? análise formal); 5) análise das relações (que inclui a análise das co-ocorrências); 6) análise estrutural e 7) análise

automática do discurso.

73

J. Vala, op. cit. p.126.

Figura 1.3, da esquerda para a direita: JOMu (1972); ERCO, 1976); e IPS (1995)

dos géneros nos programas da amostra, cruzando-a com outros indicadores, e.g. a representação de determinados papéis sociais e de determinadas profissões. A possibilidade de uma análise de co-ocorrências, embora sedutora a princípio, revelar-se-ia impossível de concretizar, nomeadamente se tomados os pictogramas como unidade de análise. O cálculo de co-ocorrências poderia certamente ser

comparado com o factor acaso, mas haveria enviesamento de resultados. De facto, os programas de sinalética (unidade de contexto) obedecem a regras próprias - que de modo algum se compadecem com as do discurso falado (ou escrito), a que melhor se aplicam as definições de Osgood 74-, estando o conjunto de conceitos a ilustrar (avisos, proibições, indicação de serviços) determinado à partida, dentro de um leque restrito de possibilidades.

- hipótese

Estudar a forma como o masculino e o feminino são representados nos pictogramas da sinalética requer uma hipótese, uma suposição que permanece em suspenso enquanto não for submetida à prova de dados seguros, mas sem a qual o campo de estudo se mostra demasiado vasto e diversificado, mal-definido e, por conseguinte, incapaz de ser sistematicamente analisado. Assim, qualquer análise de conteúdo começará com uma hipótese de trabalho, uma afirmação que nos propomos verificar; ou seja, com uma expectativa sobre determinadas "variáveis" bem definidas

previamente. Estas últimas podem incluir desde o tamanho físico dos anúncios na página de um jornal, a idade e/ou o sexo dos modelos na capa de uma revista, o tipo de pose dos mesmos, a utilização de determinadas palavras ou cores na publicidade de um produto. Só após a formulação de uma ou mais hipóteses, ainda que

provisórias, se tornará aparente quais as variáveis relevantes à sua resposta.

No caso do presente estudo, a hipótese de que, por exemplo, o feminino se encontra subrepresentado nos programas de sinalética obriga a que estes se organizem, dividam e quantifiquem, de modo a estudar a frequência com que cada um dos géneros aí surge representado em termos de percentagem relativa; já a hipótese de que a sinalética reproduz ou reforça determinados estereótipos culturais de género, determina que se definam essas categorias e se estude a sua ocorrência, cruzada com a da categoria género, e/ou que se comparem as percentagens obtidas com as percentagens gerais relativas à frequência de ocorrência de cada um dos géneros, etc. Note-se que as hipóteses características da análise de conteúdo são geralmente de tipo comparativo. Como refere P. Bell,

"Obviously, if 20 per cent of women in television commercials are shown in 'outdoor' settings, these data tell the researcher very little unless the comparable frequency for men (in otherwise similar contexts) is known."75

Assim sucederá também ao investigar-se uma hipotética sub-representação do feminino nos programas de sinalética, uma eventual presença de estereótipos de género associados a papeis sociais, etc.

74 Ch. Osgood ,"The representational model and relevante research methods" in I.S. Poll (ed). Trends in Content

Analysis, Urbana, Illionis, 1959 (cf. infra, nota 85). Não queremos com isto dizer que a possibilidade de uma análise de

co-corrências nos programas de sinalética deva ser eliminada à partida; apenas que este tipo de análise não se coaduna com os objectivos do pres ente estudo.

- corpus de análise

Um segundo aspecto da análise de conteúdo reside na escolha do âmbito e escala do conteúdo a ser estudado. Este deve ser explicitamente descrito antes que se inicie qualquer observação detalhada quanto aos resultados. Assim, e em primeiro lugar, estabelecer a área de representação a investigar: jornais, livros escolares, baralhos de Tarot, outdoors; de seguida, determinar o tamanho da amostra: quantos jornais

(títulos), quantos números de cada jornal, etc. Este conjunto de documentos constituirá

o chamado corpus de análise.76

No nosso caso, o universo de documentos susceptíveis de análise estava determinado a priori, de acordo com o objectivo que nos propúnhamos: o estudo das

representações de género nos pictogramas de sinalética. Note-se, no entanto, que o objecto de estudo propriamente dito não são os pictogramas –ou, pelo menos, não os pictogramas isolados (casos desses foram, aliás, excluídos) – mas os programas, i.e. sistemas organizados de sinais.

Uma vez que, como se disse, as hipóteses são geralmente comparativas, poder-se-ão também analisar dois períodos de tempo diferentes: assim os jornais de antes e depois da II guerra mundial, por exemplo. Ou o investigador pode optar por estudar as flutuações (evolução) da frequência com que surge determinada categoria ao longo de um determinado período de tempo: assim, os diferentes discursos de um governante político, desde a tomada de posse até à resignação ou fim de mandato - evolução que será mais facilmente apresentada sob a forma de gráfico de linhas, e já não de quadro estatístico.77 No nosso caso, e dado que os primeiros programas de sinalética fazendo uso de pictografia consistente remontam apenas a meados da década de 60 (Jogos Olímpicos de Tóquio, 1964; UIC, 1965), decidiu-se que a amostra fosse o mais exaustiva possível, ou seja, que incluísse todo o material que se afigurasse possível reunir, dividindo porém a análise em dois períodos temporais: décadas de 1960-80 e 1990-2000.

Problema decisivo é o da representatividade da amostra.78 Poder-se-ão generalizar os

resultados a partir da amostragem? É pelo menos necessário que o corpus seja representativo das "variáveis" especificadas como relevantes na hipótese. No caso do nosso estudo, o universo inquirido, se bem que mais ou menos homogéneo em termos de forma, afigurava-se relativamente heterogéneo em termos de época, distribuição geográfica, contextos culturais, etc. Determinou-se assim que a amostra fosse o mais exaustiva e não selectiva possível (49 programas e 2 848 sinais), havendo ainda uma especial atenção no sentido de que o corpus incluísse programas relativos a diferentes áreas: transportes, actividades de lazer/desporto, serviços de saúde.

Antes da análise propriamente dita, o material reunido deve ser tratado. No presente caso, o corpus foi expurgado de todos os pictogramas referentes a modalidades desportivas (e.g. na sinalética de Jogos Olímpicos, habitualmente dividida em dois grupos de sinais: modalidades desportivas e serviços), uma vez que a categoria "género" aí não era pertinente. As imagens foram organizadas por programa e

numeradas, sendo os programas identificados através de uma sigla. Dada a aparente dificuldade em encontrar programas completos, procurou-se reconstruí-los, na medida do possível, cruzando dados provenientes de mais de uma fonte; foram todavia

excluídos todos aqueles programas ou conjuntos de sinais cuja data e/ou contexto de origem eram impossíveis de determinar.

76 Bardin, op.cit., p.97.

77

Assim o estudo de J. Bogalheiro et al. ("Para um estudo metodológico da análise do discurso do poder", Análise

Psicológica ,2 (4), 1979, apud J. Vala, pp.118-119), em que se analisaram quatro discursos de Vasco Gonçalves no

que toca aos temas revolução, aliados e inimigos : do primeiro para o último discurso passa-se de uma "revolução sem inimigos" para uma "revolução sem aliados".

78

- frequência de ocorrência

A análise de conteúdo privilegia questões relacionadas com a visibilidade em termos de destaque, tamanho, ou repetição de determinados elementos relativamente a outros. A frequência de ocorrência, base da análise categorial ou temática, é, na prática, a medida mais geralmente utilizada. Corresponde ao postulado de que a importância de um elemento, tema ou categoria aumenta com a frequência de

aparição na mensagem. 79

Analisar é decompor em pedaços mais pequenos; dividir o todo nos seus elementos constituintes para que possam ser mais facilmente examinados, de acordo com a

famosa segunda regra do Discurso do Método.80 A análise de conteúdo consiste

basicamente em "operações de desmembramento" 81 de um texto (ou conjunto de textos) em unidades, posteriormente reagrupadas por analogia de significados. Estas unidades serão definidas, a um primeiro nível, pelo próprio medium no qual são produzidas as mensagens. Assim, as frases ou parágrafos de um texto escrito, as fotografias de uma revista de moda, os episódios de um programa de televisão. É habitual 82 designar estes elementos por "textos", à semelhança do código escrito.

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