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uma terceira hipótese que, diferentemente das anteriores, não pode ser

"testada" por recurso a métodos quantitativos de análise de conteúdo, é a de que os factos descritos nas hipóteses I e II, não se devem a uma reprodução pura simples de significações preexistentes na sociedade ou na cultura; eles são, pelo menos em

132 Cf. por exemplo, Bell, op.cit., p.26.

133

Ibid.

134 Metodologia da Pesquisa-Acção, São Paulo: Cortez Editora, 1988, p.56.

135

Quivy e Van Campenhoudt, op.cit., p.120.

136 Ibid., p.137.

137

parte, determinados pelas própria características da pictografia sinalética, enquanto médium de comunicação.

1.6 Apresentação do plano da tese

A dissertação consta de duas partes, sendo a primeira designada por Enquadramento Teórico e a segunda por Estudo de Casos e Apresentação dos Resultados.

A presente Introdução, ou capítulo 1, apresenta a problemática associada ao tema das representações do masculino e do feminino no design de sinalética, o problema, objectivos, metodologia utilizada e hipóteses que servem de suporte a toda a

dissertação. Segue-se o Enquadramento Teórico, composto pelos capítulos 2, 3, 4, 5 e 6.

O capítulo 2 discute a tentativa, ocorrida em inícios dos anos 90, de criação de uma nova área disciplinar, a que se convencionou chamar Design Studies.

Ao longo da presente dissertação, as questões de análise histórica (e.g. a identificação e datação dos programas de sinalética), sendo embora importantes, enquadram-se num âmbito mais alargado de preocupações e matérias, como sejam a relação entre design e género, ou a influência das práticas discursivas na reprodução e/ou

questionamento de estereótipos sociais. Também os Design Studies substituem a tradicional história do design, consubstanciada numa lista escolhida de grandes nomes e de obras isoladas, por uma abordagem interdisciplinar, que toma em linha de conta as contribuições oriundas dos cultural studies, da antropologia e da semiótica. O design é aí reconhecido como uma actividade múltipla e complexa, acto colectivo de produção e troca de significados, mais do que de fabricação de objectos.

O capítulo 3 apresenta a(s) teoria(s) e epistemologia(s) feministas, cujo contributo se revelaria fundamental para uma correcta enunciação do problema, e correspondente delimitação e caracterização do objecto de estudo. Elemento-chave do feminismo contemporâneo, o conceito de “identidade de género” permitiu compreender que os significados de masculino e feminino, mais do simples resultado da diferença sexual anatómica, configuram um conteúdo incerto que varia com as diferentes sociedades e culturas, ou com os contextos discursivos que, dentro de uma mesma sociedade e cultura, têm lugar. O feminismo não constitui, todavia, um movimento unificado, antes se caracterizando por uma pluralidade de abordagens e estratégias organizativas, uma diversidade de perspectivas teóricas acerca das causas da subordinação e opressão das mulheres, bem como dos possíveis caminhos para a sua eventual superação. Igualmente tratada é a questão do género do investigador, e.g. a possibilidade de um conhecimento feminista masculino.

O capítulo 4 relaciona o aparecimento da moderna pictografia sinalética com a

prevalência, no período pós-II Guerra Mundial, de uma visão ingénua, mecanicista e linear da comunicação, encarada como mero meio de transmissão de informação. O carácter icónico dos pictogramas obscurece o facto de toda a linguagem assentar num código. Quer a pictografia, quer o código escrito, não são um mero conjunto de etiquetas ou de nomes que se colocam nas coisas (concepção “transparente” da linguagem) mas um sistema organizado de signos, uma realidade cultural construída por homens e mulheres em função da sua relação com o mundo e que apenas existe enquanto processo multidireccional e dinâmico. O capítulo passa assim em revista, de uma forma resumida, diversas teorias e conceitos utilizados no estudo da

O capítulo 5 estuda a origem histórica, evolução e desenvolvimento dos diversos

sistemas de símbolos gráficos, enquadrados dentro das respectivas épocas e contextos de utilização; discute ainda os conceitos de “símbolo gráfico”, “pictograma” e “sinal”, e distingue entre “sinalização” (sistema predefinido e de aplicação universal independentemente das características do meio envolvente) e “sinalética” (sistema criado ou readaptado a cada caso particular).

O capítulo 6 reflecte sobre as várias tentativas de equiparar uma linguagem visual, composta de imagens-silhueta e formas geométricas arquetípicas, a um sistema análogo (embora simultaneamente distinto) da língua verbal.

A confusão entre pictograma e ideograma constituiu um primeiro equívoco daqueles que quiseram ver, na pictografia sinalética e na aparente “naturalidade” das imagens por ela utilizadas, o ideal cumprido de uma linguagem universal. Convergiam nessa ilusão a teoria da “linguagem-retrato”, elemento central do neo-positivismo lógico de Viena (de que fez parte O. Neurath, criador do Isotype), bem como os primeiros esboços de ergonomia cognitiva ditados por uma Gestalttheorie que favorecia a percepção à custa da interpretação e o inato e o biológico a expensas do cultural e do adquirido.

A segunda parte, designada Estudo de Casos e Apresentação dos Resultados, é constituída pelos capítulos 7 e 8.

O capítulo 7 dá conta da constituição do corpus de análise. Seleccionando de entre

uma pletora de elementos

disponíveis em meio urbano ou editados em CD-Rom (na maioria dos casos programas compósitos, constituídos a partir de imagens preexistentes, e/ou

impossíveis de datar), o presente estudo assenta sobretudo em compilações de signos pictográficos editadas em livro, mas também em catálogos comerciais, artigos

publicados em revistas da especialidade, ou mesmo programas de sinalética divulgados pela internet. 49 sistemas pictográficos, compreendendo um total 2 848 sinais foram ordenados de acordo com a fonte e assinalados pelas suas iniciais, em maiúsculas, seguidas do nome por extenso, país de origem, data e nome(s) do(s) designer(s) e/ou empresa respectiva, quando conhecidos.

O capítulo 8 desenvolve uma análise de conteúdo do corpus de programas acima enunciado. Dos 2 848 sinais iniciais, oriundos de diversos países e representando quase meio século de sistemas pictográficos, dos anos 60 à actualidade, foram seleccionados 767 envolvendo a representação de uma ou mais figuras humanas (vd. “Apêndice de imagens”). Estes últimos foram seguidamente divididos em dois grandes grupos: programas e sinais correspondentes às décadas de 60-80 e programas pertencentes às décadas de 90-2000.

A análise global, quantitativa e descritiva dos programas, é acompanhada duma análise qualitativa e interpretativa, e.g. por comparação iconográfica de casos singulares. O objectivo é descobrir de que modo o feminino se encontra

subrepresentado (ou não) nos programas; averiguar o papel desempenhado pela sinalética na reprodução de modelos estereotipados de masculino e feminino, e.g. a associação entre género e determinadas profissões e/ou papéis sociais

(parentalidade); e verificar a utilização (ou não) do “falso neutro” ou masculino genérico, e do feminino como forma "marcada" daquele.

Por último, o capítulo 9, “Conclusões e comentários”, faz um balanço dos resultados obtidos (confirmação das hipóteses), e sugere algumas recomendações para o futuro no sentido de corrigir ou, eventualmente, minorar os problemas detectados. Mantém- se todavia a convicção de que a pictografia sinalética, tal como tem vantagens

relativamente à linguagem falada ou escrita, tem também algumas limitações que não são facilmente ultrapassáveis.

A dissertação é complementada por uma lista bibliográfica e por um anexo de imagens contendo os 767 pictogramas que foram objecto de análise.

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