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primeiros sinais rodoviários iniciativa privada

208 Eco, op.cit., p.153.

5.3 origens históricas: da sinalização e pictografia à sinalética moderna 1 pictogramas e modernos sistemas de signos

5.3.2 sinalização viária e Código da Estrada 1 da Antiguidade ao século

5.3.2.2 primeiros sinais rodoviários iniciativa privada

Se os primeiros sinais são devidos aos ciclistas, a verdadeira história dos sinais de trânsito começa, no entanto, com a invenção e difusão do automóvel.

À medida que a população cresce, sobretudo nas grandes cidades, a circulação humana também aumenta e, mais tarde ou mais cedo, o Estado toma a decisão de intervir, introduzindo um código que regule o tráfego rodoviário, condicionando e normalizando a circulação de peões e automobilistas. O Código da Estrada (se bem que posterior à sinalização marítima e ferroviária) é, ainda hoje, o exemplo más universal e significativo da sinalização.

Todavia, nos inícios do século XX, as necessidades de sinalização que hoje nos parecem tão evidentes, não se haviam ainda imposto às autoridades encarregadas da construção e manutenção de estradas; foi a iniciativa privada quem primeiro se apercebeu da necessidade de soluções novas suscitadas pela rápida expansão do automóvel. Assim, a Michelin, Renault, Citroen ou o Touring Club en Itália, são os primeiros a tomar a iniciativa de colocar placas sinalizadoras, nas quais incorporam

o nome das respectivas associações ou marcas comerciais. 63

Estes painéis rectangulares possuíam, na parte superior, um espaço semi-circular ou de outro tipo, que servia para colocação do emblema do Touring Club

responsável; na parte inferior, podia colocar-se o nome do doador privado.64 Como foi referido acima, parece caber à Itália o mérito de ter desenhado os primeiros sinais rodoviários modernos. 65 Estes remontam a 1895 e, em breve irão substituir as habituais inscrições utilizadas até então nos painéis para assinalar a proximidade de perigo. As recomendações dos já mencionados congressos da Liga Internacional para o Turismo, efectuados no virar do século (Londres e Paris), vão nesse sentido: as inscrições deveriam ser suprimidas e substituídas por símbolos.

61

Aicher e Krampen, op.cit., p.27.

62 Ibid.; cf. também p.106.

63

J. Costa, op.cit., p.54.

64 Aicher e Krampen, op.cit., p.27.

65

Entretanto, continuam as iniciativas dos Touring Clubes nacionais: em 1904, por exemplo, o de França manda colocar os primeiros paineis de prescrição para ciclistas e automobilistas.66 Por essa data, os sinais de circulação podem já subdividir-se em sinais de orientação, de redução de velocidade e de perigo. Em Itália, por volta de 1904, havia nove desses sinais em uso, enquanto que na Alemanha, c.1907, utilizavam-se oito. 67

Os problemas do atravessamento de fronteiras e das cartas de condução válidas a nível internacional exigiam, porém, uma estrutura cujas competências fossem além

das dos Automóvel Clubes nacionais,68 e que pudesse igualmente dar resposta à

questão premente da unificação internacional dos sinais de trânsito.

- 1er. Congres International de Ia Route

Em Dezembro de 1908 69, sob iniciativa do governo francês, organiza-se em Paris

o 1er. Congres International de Ia Route, congregando diversos países europeus. No decorrer dos trabalhos,

“fue aprobado un Convenio Internacional sobre la Circulación en Automóvil. EI artículo 8 decía: "Cada Estado participante se compromete, en cuanto se lo permita su poder, a vigilar que, a lo largo de las carreteras y como marca de lugar peligroso, que se coloquen únicamente aquellas señales cuya representación ha sido

autorizada por este Convenio."70

Tratava-se dos primeiros quatro pictogramas, ainda em uso na actualidade: lomba ou valeta; curva e contra-curva (curva perigosa); passagem de nível com guarda; e cruzamento. (Estes sinais, aliás, já circulavam em vários países, introduzidos por iniciativa dos Automóvel Clubes.) As placas seriam colocadas na direcção do obstáculo - do lado direito da via, nos países onde se circula pela direita, e do lado esquerdo, nos países onde se circula pela esquerda. Os pictogramas eram a branco sobre fundo azul mas a forma das placas era circular para distingui-las das vulgares placas rectangulares de direcção; deste modo, a própria forma das placas era um sinal/advertência da proximidade de perigo.

Figura 5.7: pictogramas do 1.er Congres International de Ia Route, de Dezembro de 1908

O documento foi ratificado pelos governos da Inglaterra, Alemanha, Austria, Bélgica, Bulgária, Espanha, França, Itália e Mónaco. As placas continuarão ainda, no entanto, e durante longos anos, a ostentar as referências “Touring-Club de France”, ou de outra associação congénere; além dos quatro pictogramas, continuam a utilizar-se, paralelamente, indicações de advertência pura e simples, anunciando a proximidade de locais de perigo. 71

66 J. Costa, op.cit., p. 54.

67

Aicher e Krampen, op.cit., p.106.

68 O Automóvel Clube de Portugal foi criado em 15 de Abril de 1903, na Sociedade de Geografia, em Lisboa.

69

J. Costa, op.cit., p. 54; 1909, segundo Aicher e Krampen (op.cit., p.106).

70 Aicher e Krampen, op.cit., p.106.

71

- a Sociedade das Nações

Terminada a I guerra mundial, a Sociedade das Nações retoma o problema da unificação internacional dos sinais de trânsito. Em 1926, de novo por iniciativa do governo francês, tem lugar em Paris uma Conferência Internacional sobre

circulação rodoviária em que estiveram presentes representantes de 53 Estados, e que representa mais um esforço na unificação/normalização dos sinais de perigo. Retomam-se os sinais estabelecidos no Convénio de 1908 sendo, no entanto, introduzidas algumas modificações. Assim, acrescenta-se, por exemplo, o pictograma indicativo de <passagem de nível sem guarda> (locomototiva). Pela primeira vez, adopta-se para os sinais de perigo a forma geral do triângulo debruado a vermelho.

Fica, no entanto, por solucionar o problema dos sinais urbanos, os quais consistiam fundamentalmente em situações de obrigação e proibição. Com este objectivo celebra-se em Viena, no ano 1927, um encontro do Comité de Circulação da Sociedade das Nações. Na acta dos trabalhos, publicada em 1928, o número de sinais aumentara já para dezoito. Da acta, destacam-se ainda as seguintes resoluções:

“3. Las señales de prohibición se dividen en tres grupos: un disco rojo prohíbe a todos los vehículos el acceso a una calle. Un disco rojo con el pictograma en blanco de un tipo de vehículo determinado prohíbe el acceso a los tipos de vehículos descritos por el pictograma. Un disco rojo con una franja blanca (o inscripción correspondiente) prohíbe el acceso en una dirección [sentido prohibido].

4. Las direcciones obligatorias se anuncian en un disco azul con una flecha blanca. 5. Estacionamiento prohibido: disco azul con orla roja.

6. Estacionamiento permitido: disco azul con una P blanca.” 72

Em 1931 tem lugar uma nova conferência da Sociedade das Nações, desta vez em Genebra, com a participação de representantes de 25 Estados. Esta conferência ocupar-se-á definitivamente do problema da unificação dos sinais, e a convenção internacional, saída da conferência, é ratificada por Portugal.

As formas triangular (para sinais de perigo) e circular (para sinais de prescrição absoluta –proibição e obrigação) são definitivamente adoptadas. Pela primeira vez surge uma placa rectangular azul, no caso com uma cruz vermelha (ou “crescente vermelho”, no caso do Egipto e Turquia) para <primeiros socorros>. Ou seja, há agora três tipos de sinais: de perigo, triangulares e de cor amarela; prescrição, circulares e de cor vermelha; informação, rectangulares e de cor azul. Introduzem- se também placas rectangulares, mas dispostas no sentido horizontal, para os sinais de indicação de localidade. O número total de sinais passa de 18 para 26. Em 1934 é proibida a publicidade nos painéis, proibição que manteve até à actualidade. 73

- a sinalização luminosa

72 Aicher e Krampen, op.cit., p.107.

73

O aumento do número de veículos em circulação nas grandes cidades conduziu à necessidade de introdução de sinais luminosos (semáforo) para regulação do tráfego.

Os antepassados do semáforo estão na sinalização marítima e ferroviária. Os diversos povos que, desde a Antiguidade, cruzavam as águas do Mediterrâneo, desde cedo se viram obrigados a estabelecer determinadas convenções, quer em termos de navegação comercial quer em situações de guerra: cor do velame, luzes de alarme, colocação de faróis de navegação, verdes a estibordo e vermelhos a bombordo.74

Em 1818, a Inglaterra, potência reinante nos mares, toma a iniciativa de codificar todos os sinais marítimos e, um pouco mais tarde, adopta a mesma política para a sinalização ferroviária. Os primeiros ensaios com luzes, efectuados em Londres em 1838, constavam de três cores: vermelho, verde e branco. Este sistema foi depois aplicado (1868) como tentativa de regular o confuso e agressivo trânsito de

Londres. 75

Em 1914, os E.U.A., em plena expansão da indústria automobilística, descobrem por sua vez o uso da sinalização luminosa. Em Cleveland, os semáforos são bicolores mas, um pouco mais tarde, em Nova Iorque, têm já três cores.

Em Paris, apenas em 1926 se instalam os primeiros semáforos e, de início, têm apenas uma cor: vermelho. O sinal podia ser mudado através de um simples interruptor rotativo manual. Rapidamente se descobriu que este sistema era perigoso e que a regulação do trânsito requeria o controle de um agente policial. Concluiu-se também da necessidade de introdução do verde; só a alternância de cores permitia indicar, sem margem para dúvida, se a passagem se encontrava livre. No entanto, o súbito aparecimento da luz vermelha obrigava a paragens bruscas que causavam numerosos acidentes. Finalmente decidiu-se antepor ao vermelho o amarelo, luz de aviso que permitia reduzir a velocidade.76 Este sistema alargou-se depois aos restantes países europeus.

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