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ANÁLISE DE DADOS

No documento Pesquisa em Mídias na Educação (páginas 156-160)

(24) Foram relacionados métodos apropriados para a análise de dados “A despeito do que a sabedoria convencional nos diz, os fatos não falam por si. Mesmo os dados quantitativos precisam ser interpreta- dos” (ANGROSINO, 2009, 90). Sendo assim, é evidente que os dados das pesquisas requerem análises que permitam ao investigador elaborar interpretações defensáveis. Isto se relaciona à possibilidade do méto- do de análise escolhido ser adequado e relevante ao tipo de dado pro- duzido.

A Figura 6, anteriormente apresentada, já sugeriu certo nível de adequação entre abordagens de pesquisa e análises (qualitativa ou quantitativa). No entanto, conforme foi dito, trata-se de tendências e, igualmente importante, as combinações de técnicas não são incomuns. Desse modo, a depender do problema, diferentes estratégias de análi- se dos dados poderão ser utilizadas numa investigação. Porém, de maneira geral, é possível, por um lado, dizer que as análises de dados distinguem-se a partir das duas abordagens mencionadas, ou seja, a quanto aos dados em forma de “letras” ou de “números”. Por outro, ressalta-se que a coleta e a análise de dados bem sucedida é aquela que permite esclarecer as questões geradoras da pesquisa.

Assim, quanto ao primeiro aspecto mencionado, embora as análi- ses qualitativas possam combinar-se a análises quantitativas, cabe distingui-las, retomando certos aspectos já discutidos. Feito o trata- mento dos dados, assunto abordado posteriormente, o pesquisador poderá transformar em tabelas/gráficos os dados numéricos, subme- tendo-os a análises estatísticas descritivas ou mais complexas (para tanto recomenda-se o exame da literatura indicada). Este tipo de aná- lise será fundamental para se estabelecer causalidades, sendo tam- bém importante na verificação de correlações entre variáveis. No en- tanto, a tarefa de análise dos dados quantitativos prossegue, já que, para interpretar os resultados,

o pesquisador deve ir além da leitura apressada, para integrá-los em um universo mais amplo em que poderão ter um sentido. Esse univer- so é o dos fundamentos teóricos da pesquisa e o dos conhecimentos já acumulados em torno das questões aí abordadas. Em suma, trata-se da bagagem que levou o pesquisador à sua hipótese e que vai agora ajudá-lo a dar uma significação ao que a pesquisa trouxe, a captar os mecanismos das relações percebidas e a compreender o como e o por-

quê de sua presença. (LAVILLE e DIONNE, 1999, 213)

A organização e a análise dos dados têm, portanto, como função permitir a verificação de hipóteses e/ou a discussão das questões que nortearam a investigação. Nesse sentido, vale reforçar que o nível fundamental em que se pode avaliar a adequação dos métodos de análise à pesquisa é quanto a essa capacidade. É comparando os resul- tados observados na análise com aquilo que se esperava – a partir de hipóteses, por exemplo – que o pesquisador buscará entender e ex- plicar as relações observadas, inclusive em possíveis diferenças. Algu- ma outra variável poderá chamar a atenção e conduzir o pesquisador a organizar outros dados, quantitativos e/ou qualitativos, que permi- tam estabelecer e compreender melhor certa correlação. Poderá, a partir daí, elaborar novas hipóteses que os dados disponíveis permi- tam analisar. Em certos casos, ainda, como notam Quivy e Cam- penhoudt (1992), o pesquisador notará que necessita de mais dados, e por isso deve fazer outras observações.

Este último ponto destaca, novamente, o caráter interativo entre as fases de uma pesquisa. Isto significa, na prática, que o pesquisador que, num primeiro momento, estabeleceu seu problema e planejou como decompor, em indicadores e índices, os conceitos e variáveis que pretendia observar ou medir relativos ao mesmo, na análise, irá discutir os resultados sistematicamente alcançados. Ele conecta as ideias iniciais, do projeto da pesquisa, ao que foi obtido na coleta de dados e à análise destes. No entanto, essa conexão e sequencialidade são menos rígidas do que pode parecer. Muito menos são estanques: para bem atender os objetivos de construção de conhecimento, o in- vestigador geralmente fará com que elas dialoguem entre si e, talvez, se modifiquem.

Quando um pesquisador vai a campo com determinada hipótese ou premissa e percebe que ela terá pouca valia, poderá, sobretudo na pesquisa qualitativa, alterá-la ou eliminá-la; outras questões poderão emergir e mostrar a necessidade de teorias de apoio, etc. Este caráter interativo entre as fases de uma pesquisa, maior ou menor conforme o tipo de abordagem utilizada, evidencia-se também no momento da análise, como indicado. Em particular, em certas técnicas e métodos que compreendem dados qualitativos, como a observação partici- pante e a etnografia, a análise começa já antes do término da coleta de dados. Ao mesmo tempo, as análises vão informando e dirigindo essa

coleta. Algumas abordagens, como a da chamada teoria fundamenta- da ou enraizada (grounded theory), uma corrente metodológica surgida na década de 1960 nos Estados Unidos, chegam a prescrever que a coleta e a análise de dados caminhem juntas – uma boa introdução a essa vertente, em sua variedade interior de enfoques e debates, é feita por Tarozzi (2011).

Enfim, avançando, vamos discutir agora, especificamente, a análise dos textos ou discursos – que devem ser entendidos em sentido am- plo: dados de entrevistas, de observações, das questões abertas de ques- tionários, etc. Estes serão analisado a partir das diferentes possibilida- des de análises de conteúdo voltadas a textos. Cabe notar que esse método possui enfoques variados (análise de categorias temáticas, de formas de enunciação ou composição do discurso, etc.), podendo inclusive associar-se a uma quantificação de trechos ou temáticas, em análises que realizem comparações quantitativas. A escolha do tipo de análise de conteúdo que será feita se dá, igualmente, a partir dos objetivos da pesquisa. Porém, se o campo de aplicação da análise de conteúdo é amplo, o mesmo não ocorre com cada método da mesma, em particular. “Na realidade, não existe um, mas vários mé- todos de análise de conteúdo” (QUIVY e CAMPENHOUDT, 1992, 229).

Por essa razão, a escolha deve se dar de maneira refletida e, no caso de quantificações, exigindo o conhecimento básico de estatística des- critiva, para a feitura de tabelas adequadas à análise. No caso das aná- lises mais propriamente qualitativas, a importância do conhecimen- to teórico acumulado para a análise dos dados é relevante. A partir dele é que se poderá ter mais clareza sobre aquilo que nos discursos se relaciona com as variáveis e termos de interesse mais próprios das investigações. E, aqui também, a análise não se esgota nas constatações mais evidentes, mas exige aprofundamento, a partir do diálogo do que se analisou com o estado de conhecimento sobre o tema e com as teorias sobre este.

Para descrever um dos tipos comuns de análise de conteúdo, é váli- do explicar o princípio de codificação – central a grande parte das análises textuais. Nele, tendo lido o texto transcrito – de uma entre- vista, por exemplo –, o autor identifica “códigos” que possuem uma ideia teórica ou descritiva comuns. Tais códigos, também chamados por alguns autores de “categorias”, “índices” ou “temas”, podem ser construídos de maneira indutiva, dedutiva ou com ambas estratégias.

Numa estratégia dedutiva (ou codificação fechada), o autor cons- truirá um livro de códigos com base nas categorias que tenha projeta- do como de interesse. Estas estarão relacionadas, tanto à decomposi- ção dos conceitos e variáveis, quanto ao pensamento analítico sobre o tema. Neste caso, as teorias utilizadas são logo mobilizadas para a análise, pois a estrutura dos códigos a refletirá, em boa medida. Na prática, o investigador lerá o material e marcará (rotulará) os trechos conforme digam respeito a certas ideias/conceitos. Os códigos de di- ferentes rótulos serão agrupados e a análise se dará, essencialmente, por meio de comparações e pela verificação do modo como reforçam ou não aquilo que o pesquisador tinha como hipótese ou premissa.

No procedimento indutivo, chamado também de codificação aber-

ta, o autor lê o material e vai identificando noções, ideias, práticas

relacionadas ao fenômeno – que associará a um código – que os dis- cursos evidenciem. Assim, diferentes conjuntos de trechos, cada qual associados a uma ideia, terão diferentes rótulos. Por exemplo: “au- sência de formação (para o uso de mídias)”, “experiência enriquece- dora (com o uso das mídias)”, etc. Esta operação é inicialmente des- critiva, mas o pesquisador tentará, agrupando diferentes códigos e refinando-os, dar teor mais analítico às categorias. Estas irão se tornar códigos temáticos (que reúnem vários códigos similares) e a etapa subsequente será o estudo dos dados agrupados pelo pesquisador, usan- do principalmente a análise comparativa – por exemplo, o que se diz de positivo sobre o uso de mídias nas aulas e o que se disse de negati- vo; quais os entraves apontados e as práticas que os confirmam, etc.

A teoria fundamentada defende análises como essa, acreditando que desse processo indutivo seria possível derivar ideias teóricas ou hipóteses, a partir da realidade empírica estudada (por isso, a teoria seria “enraizada” nos dados). Os autores que defendem essa aborda- gem afirmam que a teoria pode, no trabalho com os dados, funcionar como uma espécie de viés. Não descartam o trabalho teórico, a rela- ção dos dados com o conhecimento existente, mas desde que feito a

posteriori. Vale dizer que essa abordagem exige provavelmente certa

solidez científica para que não gere resultados de senso comum – já na análise.

Por outro lado, mesmo os autores que defendem a teoria funda- mentada, ou abordagens similares (como a fenomenológica), “reco- nhecem que uma abordagem completamente tábula rasa não é rea-

lista. A questão é [...] não impor uma interpretação com base em teorias preexistentes” (GIBBS, 2009, 68).

Essa advertência é sem dúvida importante, e talvez por isso boa parte das análises qualitativas que usem codificações acabem utili- zando estratégias nas quais as categorias prévias são somadas às que emergem dos dados e têm alcance explicativo. Nessa perspectiva, cer- tas propostas de análise qualitativas da teoria fundamentada são inte- ressantes, como a do pesquisador realizar comparações constantes entre os códigos ou fazer codificações linha por linha, no material

No documento Pesquisa em Mídias na Educação (páginas 156-160)