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REVISÃO DA LITERATURA

No documento Pesquisa em Mídias na Educação (páginas 81-85)

(13) A revisão da literatura está bem organizada e é adequada A fase da revisão da literatura tem início já na elaboração do projeto de pesquisa – sendo fundamental neste momento, permitindo ao pesquisador construir seu problema – e pode continuar a ser feita, conforme o autor sinta necessidade, durante a realização da investi- gação. Este é um ponto em que, também, a colaboração e discussões com o orientador são muito importantes. A apresentação e a discus- são dos resultados de uma revisão da literatura científica serão partes do relatório final de um trabalho de pesquisa.

A importância da revisão relaciona-se às suas múltiplas funções numa investigação, assim é um meio do autor compartilhar os resul- tados de outros estudos com os quais o seu tenha alguma relação e dos quais retire subsídios; promove o diálogo entre a pesquisa que se faz e a que já foi realizada, evidenciando lacunas do conhecimento atual e possibilidades do novo trabalho, em tal contexto; proporciona ele- mentos para compreender a importância da pesquisa efetuada e para comparar seus resultados com o que se observa na literatura (CRESWELL, 2010). Moreira e Caleffe (2008) salientam diversos objetivos que uma revisão de literatura pode ter, entre eles: identificar tendências de pes- quisa, ajudar a conceber o problema da investigação, desenvolver hi- póteses para a mesma, colher sugestões sobre como realizar a pesqui- sa, evitando erros apontados ou percebidos nos estudos lidos.

Luna (2002) enfatiza a importância da revisão de literatura, notan- do, por um lado, que essa tarefa pode constituir, por ela mesma, um trabalho científico. Porém, nesse caso o problema de pesquisa deve decorrer de tal aspecto, e o pesquisador terá como objetivo realizar uma pesquisa bibliográfica. Mas esta, vale notar, deve também possuir um problema de investigação que o exame da literatura possa res- ponder. Por outro lado, o autor observa que a multiplicidade de ra- zões pelas quais a revisão é feita, bem como os diferentes estilos cognitivos e de exposição adotados pelos pesquisadores, tornam difí- cil que um único modelo possa ser visto como um padrão rígido.

Stake (2011) recomenda que, em fases de planejamento de um estudo, o pesquisador explicite em quadros os domínios de informa- ção ou assuntos ao qual se volta a pesquisa. Tais âmbitos poderão ser um início da revisão da literatura. E é possível que esta ação, ao alar- gar a visão do pesquisador sobre o tema, acrescente novas dimensões

necessárias ao que se pretende estudar. Tais quadros poderão, mais tarde, serem retomados, na reflexão metodológica sobre como obter as informações mais coerentes para os âmbitos selecionados. E, quan- do num nível de organização mais elevado do material, são percebi- das as relações entre os assuntos, revelando certa estrutura, esta pode permitir ao pesquisador ter maior compreensão a respeito do próprio trabalho e de seu planejamento de maneira geral.

Também bastante úteis são as recomendações de Alves-Mazzotti sobre a revisão ter “por objetivo iluminar o caminho a ser trilhado pelo pesquisador, desde a definição do problema até a interpretação dos resultados” (2006, 26). Nesse sentido, a autora nota que duas funções da revisão da literatura, dentre as outras, têm um caráter básico para a pesquisa: contextualizar o problema dentro da área de estudo e servir para a estruturação do referencial teórico da pesquisa. Quanto ao primeiro ponto, Alves-Mazotti (2006) nota que o co- nhecimento e a familiaridade com a literatura produzida permitirão ao investigador selecionar, a partir de critérios de relevância para o estudo, o que efetivamente deverá ser lido e incorporado ao texto da revisão da literatura. A utilidade para o estudo do que se lê é o mais importante critério sobre o que incluir ou não no texto de uma revi- são. Como nota Luna, “a revisão não é aleatória, nem deve constituir prova de erudição ou de trabalho exaustivo de leitura”, sendo os textos “selecionados porque contribuem com informações de alguma for- ma julgadas relevantes para o tema que está sendo analisado, e cabe ao autor demonstrar isso” (2002, 99-100).

Uma estratégia para fazer com que o texto da revisão evidencie a relação desta com a pesquisa, recomendada por Alves-Mazzotti (2006), é estruturá-lo em torno de questões relevantes ao estudo. Estes, aliás, podem e devem relacionar-se aos possíveis domínios que tenham sido apontados, inicialmente, num esquema como o proposto por Stake (2011) – os já mencionados quadros com informações. Essa operação facilita outro aspecto importante: favorecer a organização no discurso. O autor poderá, então, apontar os pontos de consenso ou controvérsia na literatura revisada, discutindo-os. No entanto, deten- do-se em análises individuais e mais pormenorizadas somente quan- do a contribuição lida tiver papel mais central na pesquisa.

Na maior parte dos casos, o que foi lido, excluindo os casos de simples descarte, pode ser apresentado de maneira mais sintética,

eventualmente em blocos temáticos. Observa-se, com respeito às re- visões bibliográficas, que “textos repetitivos, rebuscados, desnecessa- riamente longos ou vazios afastam rapidamente o leitor não cativo, por mais que o assunto lhe interesse” (ALVES-MAZZOTTI, 2006, 40). Des- taca-se aqui a necessária concisão que o discurso científico deve ter, que será aprofundada, sob outros ângulos, em tópicos posteriores.

Sobre o papel da revisão da literatura na constituição de um quadro teórico de referência, cabe inicialmente ressaltar que este, quando bem constituído, permite, como nota Gohn (2005, 263), “desenvol- ver um percurso que seja o fio condutor da pesquisa, ele sugere e lança luzes sobre as explicações”. Retoma-se aqui, com outras pala- vras, a importância já assinalada quanto à questão do problema da pesquisa e sua articulação com a teoria na construção da investigação . Avaliação similar à de Gohn é feita tanto por Luna (2002) que nota que a revisão teórica colabora com a delimitação do problema dentro de certo quadro teórico que pretende explicá-lo.

Sobre a forma como deve ser apresentado o quadro referencial teó- rico, não há norma: pode estar em capítulo ou tópico de uma revisão de literatura, capítulo à parte ou ser, fundamentalmente, discutido conforme se dá a análise dos dados. Essa forma, que tende a tornar o discursivo mais elegante, é, porém, mais complexa, do ponto de vista do autor, exigindo maior competência do mesmo. Inquestionável, porém, sendo prova de adequação e relevância da revisão, do ponto de vista teórico, é que o referencial conforme um todo integrado com os dados da pesquisa. Em outros termos, o referencial teórico deve ser útil à interpretação dos dados da pesquisa, assim como as pesquisas anteriores devem orientar a construção do objeto, favorecendo a com- paração e a elaboração de conclusões no estudo que se realiza (ALVES-

MAZZOTTI, 2006).

Outro aspecto que merece precaução, sobretudo em campos de investigação interdisciplinares, que “importam” teorias de discipli- nas diversas, como no caso da pesquisa em mídias na educação, é sobre a compatibilidade dos conceitos utilizados. Estes decorrem de paradigmas e teorias que, nem sempre, são compatíveis, em termos lógicos, e certas combinações podem ser contraditórias, como já se discutiu a propósito dos paradigmas . Por exemplo, a adoção de uma teoria da aprendizagem que valorize a ação e criatividade dos indiví- duos, combina-se mal ao uso de conceitos que considerem que os

Ver o tópico 7. Cf. o tópico 7.

receptores da mídia são passivos e manipulados por ela – já que, por implicação lógica, eles deveriam ser, também, menos ativos frente à instituição escolar, o que a conceitualização anterior nega. Nesse pon- to, a importância da leitura mais rigorosa, preocupada com as articu- lações entre os textos, e crítica (destacada adiante) demanda atenção. A revisão da literatura subsidia uma pesquisa não somente do pon- to de vista teórico, mas de maneira mais geral. Nesta perspectiva, Moreira e Caleffe (2008) falam sobre papel de uma revisão metodo-

lógica, que pode fornecer elementos para que o pesquisador desen-

volva sua própria abordagem, sob esse aspecto. Aspecto que também é enfocado por Stake, ao notar que uma “revisão de literatura deve dar um pouco de atenção ao modo como outros pesquisadores coletaram dados para questões de pesquisa similares” (2011, 103).

Creswell (2010) recupera de Cooper a noção de uma revisão

integradora, que é quando o pesquisador busca resumir temas am-

plos da literatura que digam respeito ao seu estudo. Neste caso, a revisão pode se aproximar da revisão de pesquisa empírica, que é, con- forme nota Luna (2002), a revisão e análise de pesquisas já feitas sobre o tema de interesse. Este tipo de revisão pode ajudar a esclarecer uma série de aspectos que interessem ao pesquisador – inclusive do ponto de vista metodológico, como já se sugeriu.

O principal aspecto da “adequação” de uma revisão bibliográfica é sua relação com a pesquisa, o quanto colabora no desenvolvimento da mesma. Sobre esse aspecto, Becker (2007) recomenda que a teoria não se torne um substituto do pensamento convencional e que, por isso, a “lente teórica”, isto é, o enquadramento observacional e analí- tico proporcionado pelas teorias não cegue o pesquisador quanto a aspectos do fenômeno em estudo, sobretudo àqueles que a contrari- em. Em verdade, a teoria deve dialogar com o mundo empírico, pois essa é uma condição para o seu desenvolvimento. A observação sobre seus possíveis limites pode ser uma conquista de conhecimento de certa pesquisa. Para isso, a teoria tem que ser utilizada criticamente e ser confrontada com as questões e observações do estudo.

Outro aspecto pertinente, sobre a adequação da literatura, é o quan- to a revisão foi suficiente em termos de abrangência, aspecto a ser aprofundando no último tópico do quesito da “Revisão da Literatura”. Por sua vez, a “organização” da revisão, sua forma dentro de um relatório de pesquisa, embora não seja passível de regras fixas, pois,

como já dito, depende do estilo adotado por um autor, é favorecida pela pertinência dos aportes efetuados, pela economia e uso articula- do dos dados e informações obtidos, nos textos lidos, ao trabalho. Em termos mais gerais, pode-se falar, assim, em um uso substantivo, não acessório, do que é descrito e utilizado. Com efeito, o caráter analítico da revisão da literatura merece ser acentuado como um fator que também aperfeiçoa a organização discursiva, justificando a revisão e dando maior qualidade à mesma. Este ponto é discutido a seguir. (14) Os estudos/autores utilizados são analisados criticamente É inevitável que um autor se posicione ao fazer uma pesquisa: é ele que escolhe um tema, enquadrando-o em determinada perspectiva disciplinar, elabora um problema e desenvolve certa abordagem, se- lecionando determinadas teorias e não outras, para esclarecê-lo. Des- se modo, o pesquisador se coloca em diálogo com uma tradição –

No documento Pesquisa em Mídias na Educação (páginas 81-85)