• Nenhum resultado encontrado

METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS

No documento Pesquisa em Mídias na Educação (páginas 96-102)

(17) O delineamento da pesquisa é descrito completamente

Um delineamento de pesquisa, conforme define Kerlinger, é “o plano e a estrutura da investigação, concebidos de forma a obtermos respos- tas para as perguntas da pesquisa” (1980, 94). Assim, delinear uma investigação é definir e/ou explicar como ela foi (ou será) realizada na prática, a partir dos fins de conhecimento desejados. O delinea- mento corresponde, por isso, a um guia da pesquisa, em termos da experimentação (se houver), coleta e análise de dados. Ao mesmo tempo, delinear implica estruturar os dados da pesquisa, dando for- ma à mesma. Como nota, novamente, Kerlinger (1980, 105):

Sem conteúdo – boa teoria, bom problemas, boas hipóteses – o deline- amento de qualquer pesquisa é vazio. Mas sem forma, sem estrutura adequadamente concebida e criada para os propósitos da pesquisa, pouca coisa de valor pode ser realizada.

Outros termos são utilizados com o mesmo sentido de delinea- mento – como design ou planejamento da investigação, protocolo, abordagem ou plano da pesquisa. O que se destaca em todos, porém, é sua característica de evidenciar “o desenvolvimento da pesquisa, com ênfase nos procedimentos técnicos de coleta e análise de dados”, como afirma Gil (2002, 43). Nessa perspectiva, o mesmo autor obser- va que é a definição do delineamento pelo pesquisador é feita com o objetivo de confrontar a visão teórica do problema com os dados da realidade, permitindo a verificação empírica da pesquisa (GIL, 2010, 49). Isto se relaciona, como já se discutiu , ao teste de hipóteses ou à análise das premissas e asserções em relação ao contexto empírico investigado.

Conforme essa discussão, percebe-se a importância metodológica, em termos da indicação e explicitação de como a pesquisa foi (ou será) realizada, que o delineamento possui. Ele informa, afinal, os procedimentos mais técnicos de realização da pesquisa, o que inclui os procedimentos e instrumentos de pesquisa, além das estratégias de análise e interpretação dos dados. Por isso, uma forma comum de identificar e tipificar os delineamentos de pesquisa é quanto aos mé- todos de coleta de dados.

Os delineamentos também podem ser entendidos, utilizando a nomenclatura de Bell (2008), como estilos, tradições ou abordagens de pesquisa, que, como nota a autora, possuem determinadas caracterís-

Cf. o tópico 13.

ticas (métodos de coleta de dados, estratégias analíticas, etc.) próprias, porém não eles são absolutamente estanques. Em outras palavras, nada impede – a não ser os critérios de coerência lógica – que um pesquisador utilize métodos mais associados a uma abordagem de pesquisa em combinação com os de outra. O que importa, funda- mentalmente, é a relação de adequação que deve existir entre o pro- blema/objetivos da pesquisa e a abordagem utilizada com mais ou menos flexibilidade. Ou seja, é importante que a pesquisa empírica consiga cumprir as metas de conhecimento que foram estabelecidas. É imprescindível, assim, que “a escolha da abordagem esteja a serviço do objeto de pesquisa, e não o contrário, com o objetivo de daí tirar, o melhor possível, os saberes desejados” (LAVILLE e DIONNE, 1999, 43).

Deslauriers e Kérisit salientam que vários fatores influem na esco- lha e elaboração do delineamento de uma investigação:

A pesquisa pode visar à exploração, à descrição ou verificação ; ela pode ser realizada em um meio que se presta à experimentação, ou, ao contrário, em um local que o pesquisador não pode controlar. O deli- neamento variará, portanto, não apenas em função do objetivo da pesquisa, mas também segundo as possibilidades e os limites nos quais esta se desenvolve. (2008,128)

De qualquer modo, o que é fundamental é que a escolha da aborda- gem ou delineamento se faça com clareza sobre o que se quer inves- tigar e, igualmente importante, com suficiente conhecimento sobre as características básicas de cada um dos desenhos de pesquisa mais usuais. Porém, é necessário, para tanto, aprofundar-se sobre as carac- terísticas das abordagens metodológicas. Cada uma delas, como nota Bell (2008), possui vantagens e desvantagens. Determinada opção pode colaborar mais com alguns tipos de objetivos do que com ou- tros, assim, é útil estudar os diferentes tipos, buscando outras leituras – além do que se discute aqui. Indicações adicionais para conhecer melhor essas abordagens específicas serão citadas a seguir.

(18) O delineamento da pesquisa é adequado à discussão do problema Podemos entender a adequação do delineamento ou abordagem da pesquisa ao problema como o grau em que ele favorece responder a(s) pergunta(s) que motivam a investigação. Não é por acaso, pois, que de modo geral as formas de abordagens ou delineamentos sejam classificadas pelos tipos de dados que são coletados/produzidos, con- forme a sua estratégia e desenvolvimento. São estes dados que permi-

Cf. a discussão no o tópico 8.

tirão realizar a análise sobre os nexos que existem entre as hipóteses (ou asserções) e o contexto empírico estudado. O dado, a partir de determinada viés analítico, será então utilizado como evidência para sustentar argumentos sobre essa relação. Falando em “dado” convém explicitar o sentido sociológico desse termo: ele remete a toda infor- mação que um pesquisador produz através de instrumentos de pes- quisa – entrevistas, observações, etc. –, sendo este um dado primário – ou secundário quando utiliza de fontes existentes – por exemplo, estatísticas governamentais. Ambos podem ser qualitativos ou quan- titativos; de modo sintético alguns pesquisadores referem-se aos pri- meiros como os que estão em forma de “letras” – textos, mas também incluem-se aqui as imagens – e o segundo como sendo representados por “números”. Por outro lado, dados qualitativos podem ser subme- tidos a tratamentos e análises quantitativas (quadrante 2) e vice-versa (quadrante 3).

A Figura 6 organiza algumas das principais abordagens de pesquisa com base nos tipos de dados utilizados e modo como estes são anali- sados. Cabe notar que se trata de uma classificação pela tendência principal de cada tipo de pesquisa – e que há, portanto, exceções, usos diferenciados, bem como possibilidades de combinações de dados e a utilização de métodos mistos em determinadas investigações.

Quadrante 1

• Experimento / quase e pré- experimento • Pesquisa ex post facto • Pesquisa correlacional • Levantamento (survey)

Dados

Quadrante 2

• Análises quantitativas de dados qualitativos, p.ex., textos (análise automática

estatística de textos, análise de conteúdo)

Quadrante 3

• Análises qualitativas de dados quantitativos (sob determinada teoria,

p.ex., pesquisa crítica ou pesquisa de avaliação) Quadrante 4 • Pesquisa bibliográfica • Pesquisa documental • Pesquisa histórica • Estudo de caso • Etnografia • Pesquisa-ação / participante • Análise do discurso Quantitativo Qualitativo Análise Quantitativa Qualitativa

Figura 6. Esquema de abordagens de pesquisa agrupadas pela relação entre os tipos de dados e análise realizada

Falando dos tipos, o quadrante 1 agrupa as pesquisas que utilizam dados quantitativos e os submetem a análises estatísticas, e nesse caso, a pesquisa experimen-

tal é destacada. Esta, como já se discutiu , é, de fato, a abordagem

modelar em termos das análises quantitativas, que procuram demons- trar causalidades. Ela é fortemente calcada no padrão metodológico das ciências naturais para a produção do conhecimento científico, tendo relação com o paradigma positivista. Para os defensores deste, ela representa o delineamento científico por excelência. Decerto, suas possibilidades lógicas e demonstrativas, de “revelar causa e efeito e conhecimento que nos capacita a predizer e controlar eventos”

(MOREIRA e CALEFFE, 2008, 72), são realizações importantes da metodo-

logia científica. Além disso, sua consistência, em termos de parâmetros, torna o experimento, muitos vezes, replicável, o que aumenta a vali- dade dos resultados.

Em linhas gerais, no experimento típico são montados aleatoria- mente dois grupos, a partir de determinada população, com caracte- rísticas similares: um grupo X (experimental) que sofre a ação de uma variável (independente) e outro grupo Y (controle) que não. A com- paração entre os grupos, depois da ação da variável (por exemplo, um medicamento ou um método de ensino), mostrará se há influencia em determinado aspecto (que é a variável dependente; por exemplo, uma doença ou o aprendizado) relacionado com o tratamento feito. Diferentes testes estatísticos poderão mostrar se a associação entre as variáveis possui suficiente força, para que esta implique causalida- de – é necessário saber se o resultado foi maior que o que poderia ocorrer por acaso. Existem outros tipos de design de pesquisa estrita- mente experimentais, ou que aproximam desse modelo – como o delineamento pré-experimental, o quase-experimental e a pesquisa

ex post facto (“depois do fato”; também chamada “apenas-depois”, pelo

contraste com a situação do experimento mais típico que é “antes- depois”).

A primeira (pré-experimental) caracteriza-se por ser realizada com um único grupo; a segunda (quase-experimental), por não haver dis- tribuição aleatória dos indivíduos pelos grupos, nem medida prévia à ação da variável, e a pesquisa ex post facto, também chamada de cau- sal-comparativa, busca “explorar uma possível relação de causa e efei- to, pois não pode demonstrar causa e efeito. [...] A questão básica a ser

Cf. o tópico 10. A “validade” é discutida no tópico 23. Abordagens experimentais ou similares

Quadro 3. Delineamento experimental e abordagens de lógica similar Experimento típico Grupo Experimental Grupo Controle Ação da variável (intervenção) ___ Mensuração (antes): X Mensuração (antes): Y Mensuração (depois): X’ Mensuração (depois): Y’ Pré- Experimento Grupo Experimental Ação da variável (intervenção) Mensuração (antes): X Mensuração (depois): X’ Quase-experimento Grupo Experimental Grupo Controle Pesquisa ex- post-facto ___ ___ Ação da variável (intervenção) ___ Mensuração (depois): X Mensuração (depois): Y Grupo Experimental Grupo Controle Ação da variável (já houve, sem intervenção do pesquisador) Mensuração (depois): X Mensuração (depois): Y ___ ___ ___

Análise compara resultados de (x’–x) e (y’–y)

Análise compara resultados de x’e x

Análise compara resultados de x e y

Análise compara resultados de x e y

explorada é: ‘O que está causando o efeito que está sendo observado?’”

(MOREIRA e CALEFFE, 2008, 83). Nesse caso, não há manipulação da

variável independente, que já exerceu o seu efeito, e a pesquisa, por isso, se concentra na análise deste, utilizando dados quantitativos, como ocorre em todos os casos discutidos até aqui. O Quadro 3 sintetiza a lógica de construção dessas experimentações, que, no entanto, podem ser mais complexas, com outras etapas de mensuração, por exemplo.

Os livros de Kerlinger (1980) e Kidder (2007) são fontes importantes para o estudo dos delineamentos experimentais na pesquisa social. Recomendáveis, ainda, são leituras sobre o uso da estatística na investigação, como os trabalhos de Barbetta (2007) e Costa (2004). Em verdade, se a abordagem experimental tem vários méritos, in- clusive a da busca de generalizações, ela é incomum nas ciências sociais, e mais rara ainda em investigações conduzidas por professo- res. Ao discutirem esse tipo de pesquisa, Laville e Dionne (1999) explicam a razão do que foi exposto, notando, em primeiro lugar, que é bastante difícil que as pesquisas sociais consigam respeitar os cânones do experimento, já que os seres humanos não podem ou devem ser manipulados como ratos de laboratório ou partículas de matéria. Os experimentos são na maioria das vezes feitos em laboratórios, em condições controladas, de modo a que outras condições não interfi- ram nas medidas e, portanto, na análise das relações entre variáveis. Grande parte dos fenômenos humanos, em sua riqueza, não podem

ser submetidos a medições, com tal nível de controle, ou ainda de modo a refletir de maneira fidedigna sua complexidade, sem uma perda que comprometa a capacidade de compreender os mesmos.

Além disso, a causalidade linear é um tipo de relação que não é suficiente, na maior parte das vezes, para fazer jus à mencionada complexidade da realidade.

É por isso que os autores citados reconhecem a importância do experimento, mesmo para as ciências sociais – fazendo úteis reco- mendações e discussões sobre o uso da lógica de demonstração expe- rimental na investigação social –, mas notam que “a mais séria pes- quisa não é necessariamente a que mais se aproxima dos modos das ciências naturais, mas sim aquela cujo método é o mais adaptado ao seu objeto, por mais difícil que seja delimitá-lo” (LAVILLE e DIONNE, 1999, 139).

Laville e Dionne (1999) também fazem uma interessante distinção entre os tipos de abordagem de investigação, preferindo classificá-las entre aquelas que envolvem “dados criados” pelo pesquisador e “da- dos existentes”. No primeiro caso, há algum tipo de intervenção deli- berada do investigador para produzir alguma mudança, que se refle- tirá no dado obtido, a posteriori, por ele. Já a baseada em dados exis- tentes, é aquela em que o pesquisador produz os dados sem tentar modificá-los. Na situação experimental, o dado é geralmente criado, e os autores citados dão alguns exemplos dessa possibilidade na pes- quisa social (cf. LAVILLE e DIONNE, 1999, 138-147).

Aqui, preferiu-se uma exposição dos delineamentos, mais detalha- da, e pela natureza de dados e da análise, por razões didáticas. Desse modo, continuando, outros delineamentos que utilizam dados quan- titativos e análises deste tipo são os da pesquisa correlacional e os levantamentos (survey), também chamados de enquetes. Ambos os casos são mais viáveis na pesquisa social e no ambiente escolar, como explicitam Moreira e Caleffe (2008). A pesquisa correlacional busca explorar relações que existam entre variáveis, sem estabelecer uma necessária relação causal, por isso alguns a consideram uma possível etapa anterior a uma pesquisa experimental que verifique a relação. Um exemplo seria uma investigação que, através de mensurações, procurasse perceber se a variável “uso de computador” se associa, possui correlação, com a variável “desempenho escolar na disciplina X” em determinada série de uma instituição de ensino.

O experimento no laboratório e no ambiente natural

No documento Pesquisa em Mídias na Educação (páginas 96-102)