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5 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DOS JORNAIS E DA LEGISLATURA

6.3 Análise dos editoriais do jornal O Estado de S Paulo

6.4.5 Análise do enquadramento “Alterações nas regras eleitorais”

Quatro editoriais adotam o frame Alterações nas regras eleitorais, mas nem todos serão analisados aqui, conforme já foi feito em outros enquadramentos dos dois periódicos. A FSP demonstra incômodo sobre a necessidade de criar mais uma legenda, no editorial “O partido de Kassab”, de 10 de fevereiro de 2011. “(...) cabe perguntar sobre a natureza e relevância dessa agremiação, mais uma a se juntar às 27 atualmente registradas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) -das quais 22 têm ao menos um representante no Congresso Nacional” (idem, ibidem). O periódico interpreta que a criação do novo partido serve a interesses particulares e tem a ver com a estruturação do sistema partidário brasileiro. Seria “(...) uma manobra personalista, na qual o novo partido serviria antes a interesses de ocasião do que a demandas da sociedade - sintoma típico de um sistema político-partidário ainda frouxo e invertebrado” (idem, ibidem).

Em “Voto distrital”, de 23 de fevereiro de 2011, a Folha de S. Paulo defende a adoção deste tipo de sistema para eleições proporcionais. O jornal menciona diversos exemplos de

desvios ocorridos em Legislativos de todos os níveis da Federação e acredita que o sistema político é um dos culpados.

São diversas as causas dessas mazelas -da tradição patrimonialista à ainda escassa experiência democrática brasileira. Entre elas, pode-se citar também a contribuição do sistema eleitoral. Pelo modelo vigente, deputados disputam de forma individual o escrutínio dos eleitores dispersos em colégios gigantescos. Uma vez eleitos, representam da maneira que lhes aprouver os interesses de seus Estados, partidos e apoiadores (Folha de S. Paulo, 23 fev. 2011, p. A2).

A Folha critica a proposta do PT, do voto em lista fechada, por acreditar que ela reforça as cúpulas dos partidos. Não considera adequado, também, o fim da escolha proporcional, como defendido por Michel Temer, pois “coligações e "puxadores" de voto podem criar distorções na distribuição de cadeiras” (idem, ibidem). Para a publicação, o voto distrital misto permitiria criar “(...) um mecanismo fiscalizador mais eficiente sobre a atuação do legislador -seus eleitores no distrito e os adversários que anseiam por substituí-lo” (idem, ibidem). O jornal percebe que a reforma política está na agenda de discussões e procura emplacar a solução que julga mais adequada. “A reforma política parece ser uma das prioridades do novo governo no Congresso. É a oportunidade para discutir o aperfeiçoamento das regras para eleições legislativas no país. Não há razão para excluir o modelo distrital misto dos debates” (idem, ibidem).

O partido de Gilberto Kassab é novamente abordado no editorial “Cálculo eleitoreiro”, de 30 de abril de 2012. Desta vez, a Folha de S. Paulo se opõe à tentativa do PSD, partido criado pelo ex-prefeito, de receber uma parcela das verbas do Fundo Partidário. O jornal interpreta o movimento como uma estratégia para as negociações envolvendo as eleições.

O pedido jurídico faz parte de uma estratégia política. A demanda pelos recursos do fundo não é a pretensão mais importante para a legenda. O verdadeiro objeto de cobiça do PSD é o tempo de propaganda gratuita em rádio e TV -também proporcional ao tamanho da bancada. Com mais espaço na mídia, a sigla aumentaria seu cacife nas negociações de alianças já para as eleições deste ano (Folha de S. Paulo, 30 abr. 2012, p. A2).

A Folha de S. Paulo procura apresentar-se como defensora do cidadão, protegendo os recursos públicos, que são pagos pelo contribuinte, além de preocupar-se com os impactos da manobra de Kassab no sistema político.

O direito aos recursos que saem do bolso do contribuinte deve ser prerrogativa apenas de partidos que já provaram sua capacidade de representar eleitores. Reforçar financeiramente a manobra de Kassab seria estimular novos artifícios para burlar a regra da fidelidade partidária (idem, ibidem).

Nos editoriais acima, a Folha de S. Paulo defende alguns elementos das regras eleitorais brasileiras, mas sugere alterações nelas. Uma preocupação frequente durante os textos é com a

criação de novos partidos que surgiriam apenas para dar suporte aos interesses eleitorais de seus dirigentes, mas custariam ao cidadão, por meio do Fundo Partidário.

O tópico seguinte analisa editoriais com o enquadramento “Escândalos políticos”.

6.4.6 Análise do enquadramento “Escândalos políticos”

Dois editoriais trazem o frame “Escândalos políticos”. Em “Oposição na míngua”, de 30 de março de 2012, está em pauta o envolvimento de Demóstenes Torres com o contraventor Carlos Cachoeira. A Folha de S. Paulo recorda a trajetória do ex-senador, que tinha papel importante como oposição ao governo. “Caiu-lhe bem o figurino de liderança revigoradora e aguerrida, que parecia trazer à fragilizada oposição algum alento. Ao que tudo indica, os velhos vícios da política brasileira se revelaram mais fortes que a promessa de renovação” (Folha de S. Paulo, 30 mar. 2012, p. A2). O periódico procura demonstrar distância da política partidária, ao comentar a possibilidade de Demóstenes ser expulso do DEM.

A legenda perderia um de seus principais quadros, mas essa decisão cabe apenas ao DEM. O que interessa à sociedade é a reedição de comportamentos censuráveis, algo que nunca foi exclusividade da situação nem da oposição, mas que neste caso contribui para enfraquecer ainda mais a segunda (idem, ibidem). Dedica, ainda, o final do editorial a criticar a oposição brasileira, que faria o inverso do esperado, a saber: vigiar o poder e constituir uma alternativa ao governo vigente.

Parte da oposição brasileira segue no rumo inverso: muitos de seus integrantes migram para o terreno fértil do governismo, outros se paralisam diante do sucesso das políticas sociais petistas, enquanto outros mais se envolvem em escândalos que minam sua autoridade para fiscalizar os feitos e malfeitos da situação (idem, ibidem).

O segundo editorial é “Surpresas na CPI”, de 12 de abril de 2012, tratando da instauração da CPI do Cachoeira, sucedendo um período de acomodação com o Executivo que vinha desde o segundo mandato de Lula, apesar das relações tensas de Dilma com a base aliada, de acordo com o jornal. A interpretação da Folha de S. Paulo para o interesse do PT na abertura da CPI é semelhante à de O Estado de S. Paulo.

O novo cenário aguçou o apetite petista por retribuir na mesma moeda as investidas que o partido sofreu anos atrás. Não é o caso de mera vingança, contudo; há uma dose de cálculo na adesão da cúpula do PT à CPI. Ela proveria um anestésico para a reabertura das feridas do mensalão no Supremo Tribunal Federal (Folha de S. Paulo, 12 abr. 2012, p. A2).

O problema que poderia ser criado ao partido é trazer para a investigação correligionários da Presidente, como Agnelo Queiroz. Para a Folha de S. Paulo, as direções de Câmara e Senado devem contar com a capacidade de controlar as investigações para permitir a instalação da comissão. “As direções do Senado e da Câmara, ao concordar com o inquérito, parecem confiar na capacidade de controlá-lo -ou quem sabe fazer dele mais um espetáculo sem resultado ou conclusões” (idem, ibidem). A esperança do jornal parece ser, portanto, justamente os rumos inesperados que a investigação pode tomar. “Nunca se sabe, contudo, como as CPIs terminam, segundo reza o ditado brasiliense. O Congresso, mesmo que não queira, ainda pode surpreender a opinião pública” (idem, ibidem).

A Folha de S. Paulo também cobra a punição dos envolvidos nos escândalos políticos, assim como acredita que outros agentes políticos podem ser implicados neles com a criação de CPIs.

O próximo tópico analisa os editoriais pertencentes ao enquadramento “Respostas às manifestações.

6.4.7 Análise do enquadramento “Respostas às manifestações”

Em “Respostas às manifestações”, estão agrupados duas peças. O editorial “Brasília se agita”, de 27 de junho de 2013, aborda as respostas de diversas instituições às manifestações daquele mês. A Folha de S. Paulo inicia o texto afirmando que até o STF foi pautado pelo clamor das ruas, ao condenar o então deputado federal Natan Donadon à prisão imediata. Critica, também, a morosidade dos Três Poderes.

Coincidência ou não, ao decidir o caso nesta altura, o STF se sujeita ao questionamento que já se dirige aos outros dois Poderes: quanto mais frenéticos se mostram em providenciar medidas, agora, mais evidenciam quanto eram letárgicos, antes das manifestações (Folha de S. Paulo, 27 jun. 2013, p. A2).

O periódico demonstra maior surpresa, porém, em relação às reações do Congresso Nacional, o que representaria o susto causado pelas manifestações. “Foi o Congresso Nacional, no entanto, que se excedeu na repentina demonstração de apreço pela opinião pública. Como o Legislativo tem sido o Poder mais refratário a ela, fica patente o quanto Brasília tremeu diante dos protestos” (idem, ibidem). Para a Folha de S. Paulo, isso fica demonstrado nos resultados da votação da PEC 37 e na aprovação de projetos como a destinação de 75% das receitas do petróleo para a educação. Todavia, nem só de iniciativas positivas seriam compostas as ações do Congresso e do Executivo, avalia a Folha.

A agenda positiva do Congresso inclui outras iniciativas bem-vindas, como a extinção do voto secreto em sessões sobre perda de mandato parlamentar. Algumas proposições, contudo, sucumbem ao populismo barato. Encaixam-se perfeitamente nessa rubrica tornar a corrupção um crime hediondo e criar o passe livre para estudantes. O Congresso decerto não corre sozinho o risco de se sair com medidas de apelo popular e eficácia duvidosa. Desse mal também padece o governo Dilma Rousseff (idem, ibidem).

Em relação ao Executivo, o periódico sugere o corte de ministérios, de cargos de confiança e o abandono da ideia de construir um trem-bala ligando São Paulo ao Rio de Janeiro. A interpretação da Folha de S. Paulo é de que falta uma direção para as ações dos agentes políticos. “Os políticos foram tirados da inércia. Precisam, como se vê, encontrar o rumo certo” (idem, ibidem).

O último editorial a compor o corpus é “Não é só pelo dinheiro”, publicado em 29 de junho de 2013, tratando da quantidade de verbas prometidas para as áreas de saúde e de educação após as manifestações de junho de 2013. A Folha de S. Paulo (29 jun. 2013, p. A2) critica a proposta de repassar 10% do valor do PIB em educação, pois não haveria verba suficiente, mesmo com os lucros da exploração do pré-sal.

(...) seria mais prudente aumentar o dispêndio com educação de forma escalonada, sem fixar um número mágico como meta inarredável. Aliás, exatamente em qual projeto educacional se despejariam tantos bilhões? Como de hábito, o poder público se preocupa mais com o aumento de verbas do que com mecanismos para tornar seu uso mais eficiente.

Situação parecida viveria a saúde, com projeto em debate no Congresso prevendo destinação de 10% das receitas da União para a área. Seria necessário, na avaliação do periódico, um programa de reforma gerencial para a saúde e para a educação. “Nenhum processo de mudança do Brasil pode deixar saúde e educação em segundo plano. Pouco adiantará torná-las prioridades, no entanto, se o poder público não abandonar a leviandade com que trata os recursos do contribuinte” (idem, ibidem).

Ao mesmo tempo em que vê com simpatia as manifestações e os efeitos causados por elas junto aos agentes políticos, a Folha de S. Paulo preocupa-se, assim como OESP, com as consequências das propostas apresentadas.

Na próxima seção, é examinado o enquadramento “Tensões entre os Três Poderes”.

Um editorial traz o frame “Tensões entre os Três Poderes” na FSP. Ele é “Desequilíbrio perene”, de 14 de março de 2012, abordando a decisão do STF de declarar inconstitucional a medida provisória criando o Instituto Chico Mendes. Assim como O Estado de S. Paulo, a Folha de S. Paulo elogia o fato de a corte ter voltado atrás no dia seguinte e validado a MP. Para o periódico, o Supremo estava procurando sanar uma afronta à Constituição causada pelo Congresso. “Não é ocioso lembrar que a iniciativa de legislar cabe ao... Legislativo. No Brasil, onde o equilíbrio entre Poderes é ficção, ela costuma ser usurpada pelo Executivo” (Folha de S. Paulo, 14 mar. 2012, p. A2). A publicação atribui à Câmara e ao Senado o papel de verificar a urgência e relevância das MPs.

Pois é isso o que não vinha ocorrendo. Dezenas de medidas seguiam diretamente para votação dos parlamentares, que, de modo subserviente, aprovam quase tudo o que a todo-poderosa Presidência envia para deliberação. O Congresso raramente se levantou para denunciar, com atos, a óbvia falta de urgência (quando não de relevância) de várias medidas (idem, ibidem).

Diante da situação, o periódico considera necessária a intervenção do Supremo, a fim de equilibrar os Poderes. “Menos mal que o terceiro Poder da República, na figura de sua Corte Suprema, tenha reagido contra tal descaso (ainda que com incaracterística falta de cuidado)” (idem, ibidem).

No tópico seguinte, são esmiuçados as peças agrupadas no enquadramento “Relações entre Congresso e Judiciário”.

6.4.9 Análise do enquadramento “Relações entre Congresso e Judiciário”

O editorial “Em busca do equilíbrio”, de 22 de abril de 2012, traz uma discussão sobre o protagonismo do STF em decisões polêmicas e o reflexo disso nos seus integrantes, sendo o único que traz o frame “Relações entre Congresso e Judiciário” na FSP. O jornal lista uma série de assuntos analisados pelo tribunal, como liberação da interrupção de gravidez de fetos anencéfalos e reconhecimento da união homoafetiva, e outros que estariam por ser julgados, como o mensalão e a constitucionalidade de cotas raciais em universidades públicas. Ainda que considere haver certo declínio do debate e do poder de iniciativa no Congresso, o jornal não interpreta o fato de tais decisões estarem nas mãos do STF como fragilidade institucional.

(...) o protagonismo do STF não constitui, por si só, um sintoma de fragilidade institucional. Mesmo um Congresso excepcionalmente ativo poderia ver judicialmente contestadas as suas decisões, numa sociedade democrática e complexa como a brasileira. É sinal de vigor democrático, afinal, o interesse com que o público acompanha as decisões do Supremo. Transmitidas

diretamente pela televisão, as sessões do tribunal expõem, por outro lado, não apenas os argumentos técnicos empregados pelos magistrados a cada voto, mas também seus rompantes e suas suscetibilidades (Folha de S. Paulo, 22 abr. 2012, p. A2).

Dentre as peças da FSP analisadas, foram encontrados 13 enquadramentos. No próximo capítulo, apresenta-se a discussão sobre os resultados da pesquisa.

6 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS DESCOBERTAS DA PESQUISA

7.1 Discussão geral dos resultados e comparação entre as coberturas da Folha de S. Paulo e

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