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5 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DOS JORNAIS E DA LEGISLATURA

6.3 Análise dos editoriais do jornal O Estado de S Paulo

6.3.5 Análise do enquadramento “Tensões entre os Três Poderes”

No frame “Tensões entre os Três Poderes”, sete peças foram agrupadas. O editorial “A nova guerra do mínimo”, de 19 de fevereiro de 2011, trata sobre a fixação do salário mínimo por decreto presidencial. O jornal afirma que a Presidente Dilma ganhou facilmente a votação do salário mínimo na Câmara dos Deputados, “com a base aliada passando como rolo compressor sobre a oposição e as centrais sindicais” (O Estado de S. Paulo, 19 fev. 2011), mas ainda tem dois obstáculos “para completar a sua primeira grande vitória nos embates que terá com o Congresso” (idem, ibidem).

O primeiro deles seria a votação do projeto do salário mínimo no Senado, que “não causa maior temor, tal a amplitude da maioria governista naquela Casa” (idem, ibidem). O segundo obstáculo é o questionamento da constitucionalidade do projeto aprovado pela Câmara permitindo a fixação do salário mínimo por decreto presidencial até 2015.

Com o projeto aprovado pela Câmara quinta-feira, o Congresso perde a prerrogativa constitucional de determinar o reajuste anual do salário mínimo nos próximos quatro anos. Visando à derrubada dessa decisão, os líderes do PSDB e do PPS já anunciaram que, se o Senado aprovar o dispositivo que transferiu para o Executivo uma prerrogativa constitucional do Legislativo, levarão o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF). E, na Corte, vários ministros já endossaram esse entendimento (idem, ibidem).

O periódico cita trechos da Constituição para sustentar que a decisão da Câmara é inconstitucional e afirma que uma das funções do STF é “zelar pela constitucionalidade tanto das leis aprovadas pelo Legislativo quanto dos atos normativos do Executivo” (idem, ibidem). O Estado de S. Paulo reconhece que o tema é delicado e que pode levar à judicialização do salário mínimo, “desgastando o governo e gerando tensões que ele certamente pretende evitar nesse início de gestão” (idem, ibidem). A sugestão do periódico para a Presidente é de agir com prudência.

Se o Senado aprovar sem alterações o mesmo texto já votado pela Câmara, como se espera, ela poderá manter o valor do salário mínimo em R$ 545, bem como a regra adotada para determinar o piso nos próximos quatro anos - sobre a qual não há qualquer controvérsia jurídica -, e vetar o dispositivo que lhe transfere a prerrogativa de tratar da matéria por decreto. Com isso, o problema do salário mínimo só voltaria a aparecer em 2012, em outro contexto político (idem, ibidem).

O editorial “A ‘judicialização’ do salário mínimo”, de 25 de fevereiro de 2011, continua a discussão iniciada no texto analisado acima. O Estado de S. Paulo afirma que, com a aprovação da proposta pelo Senado, a polêmica cercando a matéria será transferida para o Judiciário, com uma mudança de foco.

Se no campo político a polêmica girou em torno do valor do mínimo e da regra adotada pelo governo para defini-lo nos próximos quatro anos, no plano judicial ela versará, basicamente, sobre a decisão do Congresso de abrir mão das prerrogativas que a Constituição lhe assegura (O Estado de S. Paulo, 25 fev. 2011, p. A3).

O periódico questiona – e apresenta outros agentes também questionando – a argumentação do governo de que haveria precedente para a definição do salário mínimo por decreto. Novamente, recomenda que Dilma deve vetar o dispositivo que permite tratar do assunto por decreto.

O editorial “Dez horas de cegueira”, de 11 de março de 2012, trata da derrubada das Medidas Provisórias pelo STF. O jornal afirma que os servidores do Ibama contestando a MP que criava o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) estavam corretos ao argumentar que ela continha um vício de origem:

(...) tramitou nas duas Casas do Congresso sem ter sido antes submetida a uma comissão de deputados e senadores que diria se ela atende aos requisitos de relevância e urgência. À falta disso não poderia ser votada, nem, muito menos, continuar em vigor a contar da data em que foi baixada. É o que determina o texto constitucional que trata dessa via expressa de legislação. A exigência foi reiterada em 2001, quando os congressistas fixaram prazos para a apreciação de MPs e proibiram o governo de reeditá-las (O Estado de S. Paulo, 11 mar. 2012, p. A3).

No entanto, julga que, por responsabilidade do Parlamento, as normas não estavam sendo seguidas – e se o STF considerasse a MP que cria a o ICMBio institucional, colocaria em risco todas as outras.

(...) sendo o Parlamento de há muito caudatário do Executivo - devido a entranhados arranjos de mútua conveniência que desmoralizam o princípio da independência dos Poderes -, o sistema de medidas provisórias virou uma esbórnia. Nenhuma das 460 MPs editadas e convertidas em lei desde a reforma de 11 anos atrás teve de passar por uma comissão mista que diria se ela deve ser acolhida ou devolvida ao Planalto, porque o seu objetivo pode ser atendido por um projeto convencional de lei. Mas, ao dar ganho de causa aos servidores do Ibama no processo sobre o Instituto Chico Mendes, o STF não conseguiu enxergar a floresta em razão da solitária árvore diante de si (O Estado de S. Paulo, 11 mar. 2012, p. A3).

O jornal comemora que o Supremo voltou atrás na decisão e determinou que as próximas leis originárias de MPs só seriam válidas caso fossem aceitas pela comissão mista do Congresso, como previsto na legislação. Embora a decisão significasse que os governos teriam de negociar mais com o Parlamento para garantir a aprovação das leis, O Estado de S. Paulo vê a mudança de forma positiva.

Um efeito colateral da mudança é que os governos terão de trabalhar mais para emplacar as suas medidas provisórias. Já não lhes bastará ganhar as votações nas duas Casas do Congresso. Antes, a cada vez, terão de formar maioria nas comissões mistas. Outra oportunidade de barganha para os políticos, dirão os céticos. Para a democracia, em todo caso, melhor assim (idem, ibidem).

O editorial “A lei, ora, a lei”, de 20 de março de 2012, repercute a decisão do STF sobre as MPs. O Estado de S. Paulo (20 mar. 2012, p. A3) atribui responsabilidade ao Congresso pela tramitação incorreta das medidas provisórias, além de considerar que o Executivo se beneficia disso.

(...) desde 2001, depois que aprovaram o texto constitucional em vigor relativo ao assunto, os legisladores decidiram, tacitamente, que a lei, ora a lei, é uma

coisa muito relativa e que nem sempre precisa ser acatada. Ficou combinado, portanto, que, se o Executivo quer, é porque a matéria deve ser mesmo urgente e relevante - e então não é necessário perder tempo com comissões especiais que, além de tudo, dão um trabalho danado, visto que, só nos últimos 12 meses, foram encaminhadas ao Congresso 35 MPs. Para o Executivo, tudo bem, é claro. Do Planalto nunca se ouviu uma queixa. Até porque, com a inexistência de comissões que eventualmente podem cismar que alguma MP trata de assunto rotineiro e banal, o governo tem uma instância a menos com a qual negociar projetos.

O periódico julga que a decisão do STF desagradou “a elite dos laboriosos parlamentares governistas” (O Estado de S. Paulo, 20 mar. 2012, p. A3) e critica a argumentação deles. Diante das críticas de deputados governistas, a publicação defende que “As leis podem - e às vezes devem - ser alteradas. Mas precisam, antes de mais nada, ser respeitadas. Legisladores deveriam saber disso” (idem, ibidem).

O último editorial trazendo o enquadramento ora analisado é “Falas irresponsáveis”, de 23 de maio. Neles, são criticadas declarações do então Presidente do STF, Joaquim Barbosa, e da então ministra Maria do Rosário, que chefiava a Secretaria dos Direitos Humanos. O jornal admite que a avaliação de Barbosa do Congresso aproxima-se do que os cidadãos pensam da instituição e que traz prováveis verdades, mas continua julgando-a irresponsável.

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, endossou o que a grande maioria dos brasileiros acha do Congresso Nacional e dos partidos políticos. O Congresso, disse ele segunda-feira em palestra na faculdade onde leciona, em Brasília, é ineficiente e inteiramente dominado pelo Poder Executivo. Isso porque os partidos são de mentirinha, desprovidos de consistência doutrinária e querem o poder pelo poder (O Estado de S. Paulo, 23 mai. 2013, p. A3).

Para OESP, o chefe de um Poder não pode dizer em público o que pensa de instituições que formam os outros Poderes, independentemente do fundamento da avaliação, além de ele ser considerado uma figura peculiar no Judiciário.

O comportamento de Barbosa contém ainda duas agravantes. Em primeiro lugar, devido à sua conduta no julgamento do mensalão, ele conquistou entre a opinião pública prestígio decerto sem precedentes entre os seus pares, a ponto de ser falado como o presidente da República ideal para o Brasil. O eco de seus pronunciamentos, naturalmente, é proporcional ao apreço de que desfruta. Em consequência, a esta altura não serão poucos os que, além de verem respaldado o seu desdém pelos políticos, devem estar aplaudindo a franqueza do ministro, sem se dar conta da transgressão institucional que cometeu. A segunda agravante é o efeito "gasolina no fogo" das palavras de Barbosa. Congresso e STF (...) andaram-se estranhando mais do que de costume nas últimas semanas (idem, ibidem).

O periódico critica, ainda, a justificativa do ministro de que falara como acadêmico, sem juízos de valor e a fala seria apenas um exercício intelectual. Para O Estado de S. Paulo, não há dissociação entre o ministro e o acadêmico.

Membros do STF não vestem ou tiram a toga quando lhes aprouver. Ela está como que colada à sua pele. Obriga-os a calar sobre política quando esta não transborda para o âmbito de suas funções. E, se a referência a partido "de mentirinha" não é um juízo de valor, o que mais poderá ser? (idem, ibidem).

Os editoriais trazendo o frame “Tensões entre os Três Poderes” abordam, quase em sua totalidade, conflitos entre o Legislativo, Executivo e Judiciário. O Estado de S. Paulo atribui aos arranjos entre governo e base aliada a necessidade de o STF interferir em assuntos que, a princípio, diriam respeito apenas ao Legislativo. A preocupação maior do periódico parece ser a de resguardar as regras e as instituições da democracia, defendendo a atuação das instituições quando necessário, bem como rechaçando a interferência de um Poder no outro quando não houver justificativa.

No tópico seguinte, a análise prossegue abordando os editoriais que adotam o enquadramento “Respostas às manifestações”.

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