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5 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DOS JORNAIS E DA LEGISLATURA

5.2 Breve histórico do jornal Folha de S Paulo

A Folha de S. Paulo nasceu em 19 de fevereiro de 1921, ainda como Folha da Noite – a primeira das três que viriam a ser unificadas em 1960 para formar o jornal nos moldes em que se organiza atualmente (LATTMAN-WELTMAN, 2003; PILAGALLO, 2012). O então

70 Editorial “As hipóteses que restam”, publicado em 30 de junho de 1992. Disponível em

http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19920630-36049-nac-0003-999-3-not. Acesso em 17 dez. 2015.

71 Disponível em http://www.estadao.com.br/noticias/geral,editorial-o-mal-a-evitar,615255. Acesso em 13 dez.

2015.

72 Disponível em < http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,a-razao-contra-a-baixaria-e-a-apelacao-imp-

,1559888> e em <http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,alivio-e-esperanca-imp-,1572728>. Acesso em 23 set. 2015.

73 Disponível em <http://www.anj.org.br/maiores-jornais-do-brasil/>. Acesso em 23 set. 2015.

74 Disponível em <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,estado-e-lider-em-circulacao-em-sao-paulo-imp-

proprietário do jornal era Olival Costa, em sociedade com Pedro Cunha75. A existência de diversos proprietários, o que era responsável por mudanças na linha editorial, torna difícil que se destaque uma continuidade marcante na história do periódico (DIAS, 2012). Talvez, as mudanças de posição de acordo com as circunstâncias podem ser o traço mais forte da Folha de S. Paulo. “(...) em mais de 80 anos de vida nunca deixou de se caracterizar por oscilações de posição política e pela contínua renovação das formas de conceber e fazer jornalismo.” (LATTMAN-WELTMAN, 2003, p. 345)

A Folha da Noite ocupou o espaço deixado pela versão vespertina de OESP, o Estadinho, voltando-se ao pequeno comerciante e ao funcionário público e adotando “uma linguagem menos empolada” e privilegiando “assuntos urbanos” (PILAGALLO, 2012, p. 62). A criação do periódico, por sinal, está imbricada com o jornal da família Mesquita, pois quase todos seus fundadores eram redatores do Estadinho, Júlio de Mesquita Filho redigiu o “programa” da Folha da Noite e a publicação era impressa nas oficinas de O Estado de S. Paulo (PILAGALLO, 2012). Embora o Jornalismo opinativo na Folha não tenha, ao longo do tempo, recebido a mesma importância conferida a ele por O Estado de S. Paulo, Pilagallo (2012) registra que a Folha da Noite e a Folha da Manhã se opuseram à Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas à Presidência, ao contrário do que fez OESP. A sede do periódico chegou a ser depredada. A Folha aderiria, porém, ao governo – e foi comprada, em 1931, por Octaviano Alves de Lima.

Durante o Estado Novo, “A Folha da Manhã e a Folha da Noite simplesmente se calaram sobre temas políticos” (PILAGALLO, 2012, p. 112), além de terem aumentado consideravelmente suas tiragens. Segundo Hermínio Sachetta, secretário de redação da Folha da Manhã no período, a tiragem do periódico aumentou de 15 mil para 80 mil exemplares diários76.

No final do Estado Novo, os jornais mudariam de mãos mais uma vez, passando a Nabantino Ramos, que procurou “pôr fim ao caráter anárquico da produção dos jornais, codificando procedimentos e regulamentando as etapas do processo redacional” (LATTMAN- WELTMAN, 2003, p. 347). À época, as Folhas procuraram posicionar-se no centro do espectro político, condenando as pressões para renúncia de Getúlio Vargas, a tentativa de um golpe para impedir que Juscelino Kubitschek assumisse a Presidência ou aquelas que procuravam impedir que João Goulart assumisse o cargo após a renúncia de Jânio Quadros (PILAGALLO, 2012).

Em 1962, Octavio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira Filho adquirem a empresa e Dias (2012) afirma que, a partir daquele momento, ela passa a assumir características próprias e do que viria a se consolidar futuramente. “O fato inicial se dá com a concretização da Folha de S.

75 Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/historia_20_30.htm. Acesso em 20 jan. 2016. 76 Disponível em <http://almanaque.folha.uol.com.br/memoria_6.htm#>. Acesso em 25 set. 2015.

Paulo como o principal jornal do grupo, antes fragmentado em três edições diárias” (DIAS, 2012, p. 56, grifo do autor).

Devido às transições pelas quais a empresa passava à época, o golpe de 1964 foi apoiado discretamente pela Folha de S. Paulo, que assumiu papel periférico (LATTMAN-WELTMAN, 2003; PILAGALLO, 2012). Ainda assim, “(...) o golpe foi bem recebido nas páginas da Folha visto que o jornal dependia, ainda, e muito, de capital externo para se estabilizar. Ideologicamente, também não havia muita discordância entre o empresariado e o governo militar que tomou posse em 1964” (DIAS, 2012, p. 56, grifo do autor).

Se, em um primeiro momento, o envolvimento da FSP com o regime militar foi limitado, isto muda à medida que a ditadura vai se tornando dominante. No período ditatorial, a empresa manteve importantes relações com o Estado, sendo ele um de seus principais anunciantes. “Disto decorre o fato de que a grande expansão tecnológica da empresa, momento em que o jornal obtém lucros expressivos, se deu exatamente durante o período caracterizado pelos ‘anos de chumbo’ do regime” (DIAS, 2012, p. 58).

Até a edição do Ato Institucional n° 5, FSP e OESP possuíam posições semelhantes em relação à ditadura. Após o AI-5, OESP opõe-se ao regime de forma mais aberta, enquanto a FSP evita fazê-lo. Disto decorre que a Folha de S. Paulo não sofreu censura prévia do material do jornal, mas os jornalistas praticavam a autocensura (DIAS, 2012). Existem, ainda, denúncias de que o periódico teria emprestado veículos próprios para ações da repressão do regime militar (PILAGALLO, 2012).

Dias (2012, p. 60) identifica que, na segunda metade da década de 1970, a FSP procura definir, de forma mais clara, seu projeto “político-editorial”. “Com suas dívidas sanadas e uma maior independência financeira, a empresa começa a praticar uma política de ‘avanços e recuos, assumindo uma postura mais crítica e menos omissa em relação ao governo militar’”. Estas mudanças estariam, porém, ligadas aos interesses do regime militar e a questões mercadológicas.

Ao se iniciar o processo de abertura política do regime militar, com a posse em 1974 do general Ernesto Geisel na presidência da República, o jornal de Caldeira & Frias recebeu dos novos donos do poder a sinalização de que seu crescimento em termos de status seria bem-vindo e suscetível de apoio. Abria- se assim para a Folha de S. Paulo a possibilidade de ascender ao patamar de “jornal de opinião nacional”, apto a influir nos principais debates da agenda política e econômica nacional. Interessava ao governo garantir um certo equilíbrio entre os órgãos formadores da opinião pública na cidade economicamente mais importante do país, onde até então pontificava isoladamente O Estado de S. Paulo. (LATTMAN-WELTMAN, 2003, p. 248, grifo do autor)

Nos anos 1980, o descolamento da FSP do regime militar já se mostra mais visível, por meio da cobertura das Diretas Já!, até porque o periódico foi o primeiro a engajar-se na campanha e a abrir espaço condizente com sua importância (PILAGALLO, 2012). A cobertura das Diretas é, para Dias (2012, p. 61) o “(...) marco inicial da nova postura crítica do jornal em sua relação com o processo de transição democrática”.

Outro marco na história da Folha de S. Paulo é o Projeto Folha, posto em prática com a entrada de Otavio Frias Filho na redação, constituído como “um projeto de redação que buscasse alterar o modo de se produzir jornalismo no país, baseado no apartidarismo, na ‘independência jornalística’ e no espírito crítico” (DIAS, 2012, p. 61). O Manual de Redação da Folha adquire uma importância significativa para a produção jornalística do periódico, até porque não se limita a indicações de cunho técnico, também apontando como o profissional deveria se portar ou questões políticas da empresa (ALBUQUERQUE; HOLZBACH, 2008).

A implementação do Projeto Folha pode explicar o tipo de Jornalismo praticado pela Folha de S. Paulo após a redemocratização do país. Pilagallo (2012) descreve que, ao contrário de outros periódicos, a FSP preocupou-se em cobrir a campanha de Fernando Collor sem conferir privilégios ao candidato – o que rendeu, depois, retaliações quando ele assumiu a Presidência. A FSP ainda se engajou na campanha pela renúncia do então Presidente.

Nos anos seguintes, a prática do Jornalismo investigativo tornou-se uma das marcas do jornal, que trouxe denúncias envolvendo diversos governos, como a compra de votos para aprovação da emenda da reeleição pelo governo FHC, o mensalão no governo Lula (PILAGALLO, 2012) e, mais recentemente, o escândalo da Petrobras, no governo Dilma. Isto não significa, evidentemente, que a FSP não tenha preferências partidárias, mas a existência delas não faz com que, obrigatoriamente, se expressem na cobertura informativa – embora possa acontecer, especialmente, em períodos atípicos, como nos eleitorais.

Apesar de não ser um periódico que costuma endossar candidaturas em editoriais, como faz OESP, a opinião jornalística não está ausente da Folha de S. Paulo. As mudanças de posição em relação a diversos assuntos ao longo de sua história demonstram que o periódico expressa suas agendas também no teor da cobertura e nas escolhas editoriais que adota.

Em 2014, a FSP registrou a segunda maior tiragem do Brasil, com média de circulação acima de 350 mil exemplares por dia77. O Grupo Folha também possui outras empresas de comunicação, como o portal UOL, além do portal oficial do jornal78.

77 Disponível em <http://www.anj.org.br/maiores-jornais-do-brasil/>. Acesso em 25 set. 2015. 78 Disponível em <http://www.folha.uol.com.br/>. Acesso em 25 set. 2015.

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