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5 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DOS JORNAIS E DA LEGISLATURA

6.3 Análise dos editoriais do jornal O Estado de S Paulo

6.3.9 Análise do enquadramento “Escândalos políticos”

Quatro editoriais compõem o frame “Escândalos políticos”. O primeiro deles é “Diferentes, porém iguais”, de 28 de março de 2012. Trata-se das revelações sobre a participação do senador Demóstenes Torres no esquema de Carlos Cachoeira, além de irregularidades envolvendo o então ministro Fernando Pimentel. O Estado de S. Paulo (28 mar. 2012, p. A3) afirma que o caso de Demóstenes

(...) é mais um que se inscreve na galeria dos recentes atentados à ética na vida pública. Independentemente de pronunciamento da Justiça sobre o episódio, o senador democrata já está em débito com as práticas saudáveis da política

republicana pelo simples fato de ter, até o momento, resistido à obrigação que sua condição de homem público lhe impõe de prestar amplo esclarecimento sobre as acusações extremamente graves que lhe têm sido feitas, como a de ter pedido ou aceitado dinheiro emprestado do bicheiro Cachoeira, preso em decorrência da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal.

O jornal menciona também o caso de Fernando Pimentel, acusado de aproveitar-se de sua proximidade com Dilma Rousseff para se beneficiar de contratos feitos com a Federação das Indústrias de Minas Gerais. O periódico coloca-se em uma posição de cobrar investigações e punições aos dois personagens, assim como avalia que os casos evidenciam os problemas éticos permeando a política brasileira.

Os casos de Demóstenes Torres e de Fernando Pimentel, idênticos na essência embora envolvam indivíduos que se situam em extremos opostos do quadro político-partidário, são mais uma eloquente e lamentável demonstração da lassidão ética que domina a vida pública, certamente alimentada pelo sentimento de impunidade que costuma embalar personalidades gradas da República (O Estado de S. Paulo, 28 mar. 2012, p. A3).

O editorial seguinte, “O bicheiro e seus amigos”, publicado em 11 de abril de 2012, aborda as conexões de Carlos Cachoeira para obter benesses. O jornal avalia que, na sociedade brasileira, “(...) o sucesso de cada qual ainda depende em larga medida do seu círculo de relações” (O Estado de S. Paulo, 11 abr. 2012, p. A3). Isto influenciaria, inclusive, na forma pela qual as malfeitorias de cada um são tratadas, com as praticadas pelos participantes do círculo de relações sendo “muitas vezes tratadas com uma leniência que não se estende a quem se fica conhecendo só quando aparece no noticiário policial” (idem, ibidem). O periódico reconhece, porém, que não é só isso que sustenta o esquema de Cachoeira, no qual a impunidade tem um papel importante.

Nem só a complacência e a boa-fé alheias, evidentemente, encorpam os Cachoeiras. Eles fazem fortuna porque remuneram de várias formas os políticos e funcionários que têm diante do patrimônio público a mesma atitude rapace dos seus pagadores. Ao princípio cínico do "aos amigos, tudo", acrescenta-se a senha para a lambança: "O que é de todos não é de ninguém". O círculo se fecha com a aposta - testada e aprovada - na impunidade. Daí o ceticismo com que tendiam a ser recebidas, no caso, iniciativas como o pedido, acolhido ontem, de abertura de processo para a cassação do mandato de Demóstenes Torres, o Catão do Senado, que ganhava mimos do contraventor com quem trocou nada menos de 298 telefonemas entre fevereiro e agosto do ano passado (idem, ibidem).

O Estado de S. Paulo cobra uma apuração em CPI sobre os contatos políticos de Cachoeira, para além do “banimento do desmoralizado Demóstenes” (idem, ibidem). Para a publicação, a sociedade tem papel importante para a instauração dela, ao pressionar os congressistas. “Líderes parlamentares do governo e da oposição, uns e outros lá com os seus

motivos, prometem trabalhar por ela. É pouco. Mais uma vez, tudo vai depender das pressões da sociedade sobre o Congresso” (idem, ibidem).

A CPI do Cachoeira é pauta no editorial seguinte, “A CPI deve ir em frente”, de 13 de abril de 2012. O Estado de S. Paulo avalia que a Comissão pode tomar rumos inesperados, inclusive implicando figuras próximas ao governo e ao PT, que propôs a sua criação, a depender do resultado das disputas políticas para comandá-la.

Um dos lugares-comuns mais duradouros, porque verdadeiro, do jargão político é o de que se sabe como uma CPI começa, mas não como termina. De fato, a menos quando submetidos a rigorosa rédea curta, de difícil manejo pelas lideranças das maiorias de turno, os inquéritos parlamentares podem ter desfechos desconfortáveis para quem os patrocinou na expectativa de lucrar politicamente com eles, às expensas dos antagonistas. Um depoente confiável pode deixar escapar, sob pressão dos inquisidores do outro lado, verdades desastrosas para a banda que se imaginava apta a conduzir o inquérito ao destino que lhe conviesse. Surpresas inconvenientes podem resultar também de uma quebra de sigilo bancário e telefônico - o rol de incertezas é infindável. No caso da chamada CPI do Cachoeira, em vias de ser instalada para apurar as ligações entre o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e agentes públicos e privados, as dúvidas são ainda maiores. Além de não se ter a mais remota ideia de como poderá terminar, não se sabe nem como começará nem como se desenrolará; logo, de que estragos será capaz. A sua agenda é vaga e o seu trâmite dependerá de quem a controlar na liga majoritária encabeçada pelos aliados rivais PT e PMDB. Salvo nas raras ocasiões em que o seu objeto vai além das fronteiras partidárias, CPI são instrumentos da oposição. Esta tem a inédita peculiaridade de ter sido desencadeada pela liderança do partido do governo no Senado, com a aquiescência do governo e o incentivo do ex- presidente Lula (O Estado de S. Paulo, 13 abr. 2012, p. A3).

O jornal menciona, como em editorial analisado anteriormente, os motivos de cada partido apoiar a instauração da CPI, além de indicar que dois petistas poderiam estar envolvidos no esquema de Cachoeira. No entanto, avalia que o perigo dos rumos inesperados tomados pela investigação seria para os cidadãos.

(...) o clima que cerca a investigação é "de vaca não reconhecer bezerro". Petistas estariam fazendo ato de contrição por tê-la proposto. O presidente do Senado, José Sarney, julga os seus promotores "irresponsáveis". Já a sociedade não tem por que temer o imponderável, mas receia que um arreglo faça da CPI uma pizza antes até de começar (idem, ibidem).

O último editorial a utilizar o enquadramento analisado é “A CPI que o Planalto quer”, de 26 de abril de 2012. Nele, são explorados os interesses do PT na CPI do Cachoeira, além das tentativas do governo de a manter sob controle.

Mais do que os políticos de outros partidos, os petistas parecem ter uma curiosa propensão para queimar a língua, abrindo jogos que os seus próprios interesses aconselhariam a manter fechados. Há duas semanas, por exemplo, talvez por um misto de soberba e de servilismo para com o primeiro-companheiro Lula, o presidente do PT, Rui Falcão, proclamou que a agremiação pretendia usar a

chamada CPI do Cachoeira, ainda em gestação, para apurar "esse escândalo dos autores da farsa do mensalão" (O Estado de S. Paulo, 26 abr. 2012, p. A3).

O periódico acredita que a declaração de Rui Falcão influenciou para que o PMDB tomasse a “prudente atitude” de se distanciar da CPI e que seu relator deixou claro que há “determinação da presidente de controlar a CPI”, a fim de explorar os maus feitos da oposição. Isto não seria possível, porém, devido às ligações de Cachoeira com agentes políticos próximos ao governo.

Os editoriais trazendo o frame “Escândalos políticos” se notabilizam por cobranças por punições aos envolvidos. O Estado de S. Paulo explora, ainda, os motivos das diversas agremiações nas apurações dos casos, assim como imagina que partidos que julgariam não serem alcançados pelas denúncias possam estar envolvidos nos esquemas.

O próximo tópico analisa editoriais trazendo o frame “Relações entre Congresso e Ministério Público”.

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