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5 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DOS JORNAIS E DA LEGISLATURA

5.1 Breve histórico do jornal O Estado de S Paulo

O Estado de S. Paulo, fundado com o nome de A Província de São Paulo, é um dos mais antigos jornais brasileiros ainda em circulação, criado em 1875, tendo a primeira edição publicada no dia 4 de janeiro daquele ano, sob comando de Rangel Pestana (PILAGALLO, 2012; PONTES, 2015a). Durante a sua existência, o exercício do Jornalismo opinativo tem sido uma das marcas da publicação. O periódico nasceu ligado aos interesses dos cafeicultores republicanistas, após a Convenção de Itu, mas não assumiu o papel de porta voz do grupo. (GOMES, 2015)

Capelato e Prado (1980, p. XIX) destacam algumas características de O Estado de S. Paulo que são singulares em relação à maioria da imprensa brasileira. São elas:

(...) constância e coerência na trajetória de “defensor dos postulados liberais”, sua constante autodefinição como “órgão de oposição” aos governos constituídos. Ressalte-se ainda a permanente e sempre reiterada preocupação política do jornal de – para além de sua função informativa – se apresentar como “órgão modelador da opinião pública”.

Para além das peculiaridades em relação ao conteúdo do jornal, A Província constituiu uma tentativa de construir uma imprensa industrial no Brasil (SODRÉ, 1999). De acordo com Eleutério (2008), o jornal conjugava a ideologia elitista das classes dirigentes com um veio de defesa do cidadão. A Província se sustentava, como muitos outros periódicos, por meio de anúncios e de assinaturas, além de ter inaugurado a venda avulsa em 1876 (SODRÉ, 1999).

Embora tenha declarado imparcialidade em relação ao republicanismo, mantendo alguma distância do Partido Republicano Paulista (PRP) e do próprio movimento, isto muda à medida em que a Proclamação da República mostra-se inevitável (PILAGALLO, 2012). O nome do periódico foi alterado para O Estado de S. Paulo com o fim da monarquia.

Em 1891, Júlio de Mesquita assume a direção do periódico e, segundo Capelato e Prado (1980), faz coexistir no jornal o jornalismo e a política. Além das agitações políticas, o final do século XIXtambém marcou a mudança no caráter da imprensa brasileira. Ela se aproximava, aos

poucos, “dos padrões e das características peculiares a uma sociedade burguesa” (SODRÉ, 1999, p. 261). OESP, que já era uma empresa estruturada, procurou continuar acompanhando os progressos técnicos. À época, a tiragem do jornal chegava a 8 mil exemplares diários (SODRÉ, 1999), avanço significativo para um periódico que começou a circular com 2.025 exemplares (O Estado de S. Paulo, 2015).

Com a eclosão da Guerra de Canudos, em 1897, OESP envia Euclides da Cunha ao centro dos acontecimentos como correspondente, algo até então inédito no jornalismo brasileiro. Antes mesmo da virada para o século XX, já são percebidas as alterações trazidas por OESP para o ecossistema midiático brasileiro, com uma maneira diferente de comercializar as edições e de cobrir certos acontecimentos. A cobertura da Guerra de Canudos, em especial, é reflexo de uma imprensa que começa a refletir as insatisfações sociais, ainda que de forma incipiente (SODRÉ, 1999).

Em 1902, Júlio de Mesquita torna-se o único proprietário de O Estado de S. Paulo (SODRÉ, 1999). Oito anos depois, na época da candidatura de Rui Barbosa à Presidente da República, o periódico posiciona-se em favor do agente político, seguindo as elites políticas paulistas e baianas (SANT’ANNA, 2015). OESP apoiou, novamente, sua candidatura em 1919 (SODRÉ, 1999). O candidato não ganhou nenhuma das duas eleições.

Durante a Primeira Guerra Mundial, o periódico passou a publicar uma edição vespertina do jornal, o Estadinho, com as informações que recebia por telégrafo referentes ao front e com análises de Júlio de Mesquita sobre o conflito (GODOY, 2015; SODRÉ, 1999).

Em 1930, o periódico aderiu à Aliança Liberal, que levaria Getúlio Vargas à Presidência (CAPELATO; PRADO, 1980; SODRÉ, 1999). OESP participou, inclusive, de campanha para colaborar com o pagamento da dívida externa brasileira pelo governo de Getúlio (LIRA NETO, 2013). Com a demora de Getúlio em convocar uma Constituinte e com a indicação do governo de um interventor para o estado (PILAGALLO, 2012), OESP apoiou o movimento Constitucionalista de 1932 (PONTES, 2015b). O envolvimento na revolta renderia o exílio de alguns dos principais proprietários do jornal, como Júlio de Mesquita Filho – filho do antigo proprietário – e Francisco Mesquita (SODRÉ, 1999; PONTES, 2015b). Em 1934, porém, Getúlio convoca a Constituinte e anistia os participantes da revolta.

Com a Intentona Comunista de 1935, porém, o jornal se curva “ante o medo da revolução social, mal maior a unificar os inimigos da véspera” (LUCA, 2008, p. 169), e apoia a reforma do texto constitucional, a fim de aumentar os poderes presidenciais. Pilagallo (2012) argumenta que, em um primeiro momento, as restrições à imprensa eram supérfluas, por causa do alinhamento das publicações ao governo. Após a divulgação do Plano Cohen e o início do Estado Novo,

porém, OESP manteve suas posições críticas ao governo de Getúlio Vargas, o que rendeu o exílio de Júlio de Mesquita Filho e uma intervenção do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) no jornal, a partir de 1940 (LIRA NETO, 2015; LUCA, 2008; PILAGALLO, 2012). O jornal seria restituído aos antigos donos em 1945, com a deposição de Vargas (SODRÉ, 1999). Lira Neto (2015) comenta que, em 1950, OESP posicionou-se frontalmente contra o retorno de Getúlio à Presidência. O periódico fez oposição a três dos Presidentes eleitos durante o período democrático que antecede a ditadura: Eurico Gaspar Dutra, Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek (PONTES, 2015c).

A oposição à João Goulart fica clara na participação de OESP no golpe civil-militar responsável por sua deposição, ainda que tenha passado à oposição no ano seguinte (MAYRINK, 2015).

Em 1964, “O Estado” apoiou o movimento militar que depôs o presidente João Goulart ao constatar que o mesmo já não tinha autoridade para governar. No entanto, entendia que a intervenção militar deveria ser transitória. Quando se evidenciava que os radicais de extrema direita aumentavam sua influência, objetivando a perpetuação dos militares no poder, O Estado retirou seu apoio e passou a fazer oposição (O Estado de S. Paulo, 2015).

O periódico foi censurado pelos militares entre 1968 e 1975 (MAYRINK, 2015b). Até 1972, as ordens sobre o que deveria ou não ser noticiado eram dadas por bilhetinhos enviados pelo governo à redação (PILAGALLO, 2012). Depois, o jornal passa a sofrer censura prévia69 e, “para sinalizar que está sob censura, O Estado passa a publicar versos de Os Lusíadas, de Luís de Camões, no lugar das notícias vetadas” (PILAGALLO, 2012, p. 182).

Com a redemocratização, OESP passou por um processo de modernização (ABREU, 2003). A redação, que ainda tinha máquinas de escrever, foi informatizada. Ocorreram, também, mudanças no visual do jornal, além de ele passar a ser dividido em cadernos (PILAGALLO, 2012). Manzano (2015) defende, também, que o jornalismo investigativo passa a ser uma das atividades do periódico. OESP alega, atualmente, estar sob censura devido à sua combatividade.

Essa combatividade teve um preço. O jornal está há 1.922 dias submetido, por decisão judicial, a uma censura ainda não revogada. Ela foi imposta em 2009 por um juiz do Tribunal de Justiça de Brasília, velho amigo do ex-senador José Sarney. Atendendo ao filho deste, o empresário Fernando Sarney, o juiz proibiu o jornal de divulgar qualquer informação sobre a Operação Faktor (antiga Boi Barrica) da Polícia Federal, que investigava irregularidades que o envolviam (MANZANO, 2015).

69 Interferência do governo no jornal, proibindo a publicação ou modificando seu conteúdo. Os censores tinham

acesso ao que poderia ser publicado antes de o periódico ser impresso, a fim de detectar conteúdos que ferissem os interesses do governo.

Com a retomada das eleições para Presidente, o periódico volta a explicitar seu apoio a certos candidatos nos editoriais. Em 1989, a candidatura de Fernando Collor foi endossada, mas o periódico terminaria pedindo a renúncia do então presidente em editorial (PILAGALLO, 2012)70. Nas eleições seguintes, em 1994, o periódico apoiou a candidatura de Fernando Henrique Cardoso (PILAGALLO, 2012), novamente em contraponto a Lula, com a diferença de que FHC não era um candidato desconhecido como Collor. Em 1998, o candidato do PSDB se elegeria no primeiro turno, sem grandes dificuldades.

Em 2002, OESP endossa a candidatura de José Serra, contra Lula – na eleição da qual o segundo sairia vitorioso (PILAGALLO, 2012). Próximo à eleição de 2006, em que Lula concorria à reeleição, o jornal foi um dos que estampou na capa a foto de pilhas de dinheiro que seria usado por pessoas ligadas ao PT para comprar um dossiê para incriminar os candidatos a Presidente e a Governador de São Paulo pelo PSDB, Geraldo Alckmin e José Serra, respectivamente. O episódio não é bem explicado, e, nesse contexto, pesquisa do Doxa indica que a proporção de matérias negativas a Lula na época era de 60%, um viés que não foi registrado na cobertura sobre a eleição de 2002 (PILAGALLO, 2012). Em 2010, o periódico assume apoio à candidatura de José Serra naquele pleito71. O endosso à candidatura do PSDB se repete nas eleições de 2014, na qual Aécio Neves era o postulante preferido do periódico72. Nas duas eleições, Dilma Rousseff saiu vitoriosa.

Em 2014, O Estado de S. Paulo tem uma circulação média de 237 mil exemplares73, sendo o periódico líder em circulação no estado de São Paulo74. Desde 2000, o grupo possui também um portal de notícias na internet.

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