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5 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DOS JORNAIS E DA LEGISLATURA

6.3 Análise dos editoriais do jornal O Estado de S Paulo

6.3.7 Análise do enquadramento “Interesses envolvidos nas decisões dos parlamentares”

O frame “Interesses envolvidos nas decisões dos parlamentares” conta com seis editoriais. O primeiro deles é “A promessa de cortes”, publicado em 13 de janeiro. Nele, O Estado de S. Paulo identifica a situação dos gastos públicos como problemática, o que exigiria cortes por parte do governo.

O jornal afirma que o Congresso aprovou uma proposta de orçamento com previsão de receita bem maior à original “para acomodar as despesas dos parlamentares” (O Estado de S. Paulo, 13 jan. 2011, p. A3). No mesmo texto, OESP argumenta que a liberação de verbas para emendas parlamentares é uma arma política para o governo, o que pode complicar a revisão do valor endereçado a elas. O periódico critica, ainda, a destinação dada às emendas pelos congressistas.

Emendas introduzidas por parlamentares são em geral de interesse clientelístico e paroquial e resultam em pulverização de recursos. Mas nem sempre a irrelevância em termos de planejamento em escala nacional é o maior problema. A história da política orçamentária é repleta de bandalheiras, como a destinação de verbas a entidades fantasmas e o desvio de dinheiro para compras fraudulentas (O Estado de S. Paulo, 13 jan. 2011, p. A3).

Outro editorial com elementos do frame é “A farra do Fundo Partidário”, publicado em 15 de janeiro. Neste, OESP vê como problema a prerrogativa do Congresso Nacional de poder aumentar o valor destinado às agremiações – e elas poderem quitar suas dívidas de campanha com o dinheiro que recebem do Fundo. O periódico afirma que não “há limites para as investidas dos políticos ao bolso dos contribuintes” (O Estado de S. Paulo, 15 jan. 2011, p. A3). Classificando a aprovação do Congresso de aumentar em R$ 100 milhões o valor destinado ao Fundo Partidário de “assalto ao erário”, o jornal afirma que todos os partidos participaram da manobra, por estarem interessados no crescimento da verba.

"O aumento do Fundo resultou em melhora para todos os partidos. E, quando todos são beneficiados, ninguém reclama", comentou um líder partidário que -

naturalmente - pediu para não ter o nome citado.

E haja benefício. Todo ano o Congresso eleva mais que proporcionalmente ao crescimento do eleitorado as verbas do Fundo (idem, ibidem).

Ao sugerir soluções para a situação, OESP apresenta a opinião do líder do PSDB na Câmara dos Deputados, João Almeida, defendendo o financiamento público de campanha, e a do cientista político Carlos Melo, afirmando que os agentes políticos preferem o sistema atual, “que não só os poupa de defender uma iniciativa impopular, como ainda lhes permite tanto receber doações privadas como cevar o Fundo Partidário” (idem, ibidem).

O editorial seguinte é “Os males das coligações”, de 8 de fevereiro de 2011, que defende o fim das coligações para eleições proporcionais. O Estado de S. Paulo (8 fev. 2011, p. A3) avalia que o sistema de coligações causa a “proliferação de legendas nanicas”, mas também é responsável por “algo ainda pior: o efeito perverso de distorcer a vontade do eleitor, portanto, reduzindo a representatividade das Casas Legislativas constituídas a cada ciclo eletivo”. O periódico atribui a persistência do modelo à sua conveniência para os agentes políticos.

Naturalmente, como tudo mais nas regras da competição política, o arranjo sobrevive porque convém aos competidores. Todo o resto sendo igual, as chances de um interessado em “servir ao povo” são maiores à sombra de uma coligação do que em raia partidária exclusiva. Mas numa situação pelo menos, a aberração joga os políticos uns contra os outros e ajuda a promover a polêmica intervenção do Judiciário na esfera político-parlamentar. É o que acontece quando um parlamentar deixa a sua cadeira para ocupar um posto no governo ou quando se elege, digamos, prefeito. Quem deve preencher a vaga aberta? O primeiro suplente que pertença ao mesmo partido ou o primeiro da lista da coligação, qualquer que seja a sigla a que pertença? (idem, ibidem).

O jornal comenta a decisão do STF de que os suplentes sejam dos mesmos partidos dos titulares que se afastaram, afirmando que é uma visão aparentemente coerente, embora não resolva “um paradoxo inerente ao sistema de coligações proporcionais” (idem, ibidem), pois os suplentes beneficiados nos casos julgados tiveram menos votos que os primeiros da fila de espera da coligação. O periódico afirma que “É nisso que dá a perpetuação de uma norma eleitoral que, além dos seus malefícios, não presta para nada” (idem, ibidem).

Em “Veto aos ‘conta-sujas’”, de 18 de março de 2012, O Estado de S. Paulo critica a oposição de partidos governistas e de oposição contra a exigência de que os agentes políticos tenham as contas aprovadas para receberem o registro de candidatura.

A inédita união de 18 partidos governistas e da oposição - que os coloca "todos num rumo só", como disse o presidente de uma das agremiações - contra uma resolução adotada no início do mês pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) destina-se a proteger milhares de políticos que pretendem disputar as eleições municipais de outubro, mas dificilmente poderá ser interpretada como um ato de defesa dos eleitores. Os partidos uniram-se no apoio à petição apresentada pelo PT ao TSE para a revisão da decisão da Corte eleitoral que veda a candidatura dos "contas-sujas", ao impor a exigência da aprovação da prestação das contas de campanha para a obtenção de novo registro da candidatura (O Estado de S. Paulo, 18 mar. 2012, p. A3).

A publicação acredita que, apesar de os agentes políticos negarem, eles fazem a defesa de candidatos ficha-suja e que “Certamente não se trata de oferecer ao eleitor e ao sistema político maior proteção contra a ação de candidatos mal-intencionados ou simplesmente negligentes” (idem, ibidem). OESP avalia que a exigência deve ser mantida, pois o eleitor só tem a ganhar com ela.

Afinal, se o candidato não trata com seriedade e correção os recursos colocados à sua disposição durante a campanha eleitoral, o que não fará quando passar a gerir a coisa pública? Trata-se, portanto, de medida essencial para tornar o processo eleitoral mais sério, evitar o abuso do poder econômico e, sobretudo, garantir mais lisura ao processo eleitoral (idem, ibidem).

O editorial “Quem não queria a ‘CPI do PT’”, de 19 de abril de 2012, trata da CPI do Cachoeira e as motivações dos diversos partidos para apoiá-la. O texto inicia mencionando a convergência para a existência da CPI e traz o seguinte trecho: “Dizem os cínicos que o máximo que se pode esperar dos políticos é que os seus interesses coincidam com a vontade geral da sociedade. Se assim é, está-se diante de um desses raros casos” (O Estado de S. Paulo, 19 abr. 2012, p. A3). O jornal atribui um papel essencial ao cálculo político de perdas e ganhos para que a Comissão alcançasse as assinaturas necessárias para ser instaurada.

Não se quer dizer com isso que todos os 340 deputados e 67 senadores que subscreveram o pedido da CPMI - um número impressionante, vindo de onde veio - foram movidos por razões menos limpas do que a da busca da verdade no que parece ser um arranha-céu de corrupção com andares inteiros compartilhados pelos Poderes da República, delinquentes profissionais e empresas associadas a uns e outros. Mas não resta dúvida de que o cálculo político foi o que mais pesou na decisão de recorrer à mais poderosa ferramenta de investigação ao alcance do Legislativo - para bem do interesse público (idem, ibidem).

O Estado de S. Paulo explica o que cada um dos partidos teria a ganhar com a instalação da CPI. Para o PT, a vantagem seria “se desforrar do seu mais respeitado detrator no Congresso, o senador por Goiás Demóstenes Torres”, “vingar-se do governador goiano Marconi Perillo” e “ter algo com que ofuscar o julgamento dos delitos dos seus principais companheiros” (idem, ibidem). Para o DEM, seria uma “questão de sobrevivência ir a fundo na apuração das malfeitorias do senador”, além de ser uma oportunidade para explorar o envolvimento do governador petista Agnelo Queiroz no esquema de Cachoeira. O PSDB, por sua vez, teria a chance de atingir o governo federal devido aos contratos com a empreiteira Delta. Ainda por uma questão de cálculo político, o PMDB rejeita a investigação, “alegando os riscos imponderáveis que cria pelo governo”, para preservar Sergio Cabral, então governador do Rio de Janeiro.

O último editorial com o enquadramento “Interesses envolvidos nas decisões dos parlamentares” é de 22 de abril de 2012, “Os ladinos, os bobos e a esperança”, e também trata da CPI do Cachoeira. O Estado de S. Paulo (22 abr. 2012, p. A3) apresenta os interesses envolvidos para o desenrolar da investigação. “A rara convergência das forças parlamentares do governo e da oposição a favor da instalação da CPI do Cachoeira seria uma notícia auspiciosa se não se soubesse que o que cada banda pretende não é mais do que colocar a outra na linha de fogo”. Para o periódico, tanto o governo como o PT e a oposição teriam interesses a resguardar na CPI, ao contrário dos cidadãos.

O Partido dos Trabalhadores, atiçado por Lula, entra na refrega com a faca nos dentes, sequioso por demonstrar que os criadores da "farsa do mensalão" não têm idoneidade para acusá-lo de nada. Os oposicionistas querem botar lenha na fogueira de um novo "mensalão", talvez como recurso derradeiro para obstar a hegemonia política do lulopetismo nas próximas décadas. O PMDB, com astúcia, permanece atento às oportunidades que certamente surgirão para aumentar seu cacife na partilha do butim. E o Palácio do Planalto, comprometido com as reiteradas manifestações de Dilma Rousseff a favor da "transparência", atua discreta e diligentemente para manter a CPI sob controle. Para o distinto público resta a esperança! (idem, ibidem).

Os editoriais analisados nesta seção enfocam os interesses dos parlamentares em diversas ações, o que pode determinar as decisões que serão tomadas. De acordo com as vantagens das quais possam dispor, os deputados e senadores podem optar ou não por fazer mudanças na legislação eleitoral ou por instaurar uma CPI. Pelos editoriais examinados, os interesses dos agentes políticos são o que move as decisões, pouco importando os impactos sociais dela. O periódico também não faz distinções entre os partidos, inclusive afirmando que, no caso de algumas medidas a beneficiar os parlamentares, todos eles as defendem.

No tópico a seguir, será analisado o frame “Relações entre Congresso e Judiciário”.

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