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Análise dos grupos (ii) e (iii) do volume 3 – coleção PCIS

4.2 Análise das atividades de variação linguística

4.2.1 O tratamento de variação linguística em proposição de atividades sobre os gêneros

4.2.3.6 Análise dos grupos (ii) e (iii) do volume 3 – coleção PCIS

A análise dos gêneros segue conforme os grupos (ii) de adequação e (iii) de fenômenos. Não há ocorrências agrupadas em (i).

Quadro 48: Grupo (ii) e (iii) exercício de adequação; exercício de fenômenos linguísticos Leia com atenção o diálogo na tira abaixo para responder às questões de 1 a 3.

2. Você aprendeu que variedade linguistica é cada um dos sistemas em que uma língua se diversifica, refletindo diferenças regionais, sociais, etc. Há, na tira, exemplos de duas variedades distintas. No caderno, transcreva as falas representativas de cada uma delas.

Resposta: Variedade 1: "Gatinha!!! Quando te vejo, cada partícula do universo se torna mais viva e cintilante!". Variedade 2: "Gatinha! As coisa fica brilhentar.

a) Qual das variedades que você transcreveu tem maior prestigio social e costuma ser empregada em situações de maior formalidade?

Resposta: "Gatinha!!! Quando te vejo, cada partícula do universo se torna mais viva e cintilante!" b) Considere o prestígio social de cada uma das variedades transcritas e explique por que o ratinho teria escolhido empregar a variedade que aparece nos dois primeiros quadrinhos para falar com a ratinha.

Resposta: Como a intenção de Níquel Náusea é impressionar bem a ratinha para conquistá-la, ensaia dizer algo em uma variedade linguística mais prestigiada que a sua. O que se vê, no entanto, é que Níquel acaba "retornando" à sua própria variedade no momento em que encontra a amada. Diante do olhar de espanto da ratinha, conclui que precisa "ensaiar mais" para evitar que o seu modo de falar prevaleça.

3 Do ponto de vista da gramática normativa, o que chama a atenção na fala representativa da segunda variedade? Explique.

Resposta: A fala representativa da segunda variedade não parece seguir as regras da gramática normativa. Há um artigo plural (as) seguido de um substantivo singular (coisa), quando a gramática normativa prevê que o substantivo também esteja no plural. O mesmo ocorre no caso da relação entre o verbo e seu sujeito. Flexionado na 3a pessoa do singular (fica), o verbo faz referência a um sintagma nominal (as coisa) que tem um sentido plural, conforme indicado pela flexão de número do artigo. Além disso, o adjetivo que desempenha a função de predicativo do sujeito (brilhenta) não faz parte do léxico da variedade culta da língua.

Fonte: (ABAURRE et al., 2013c, p. 260).

Há, na tira, exemplos de duas variedades distintas. O interlocutor, mesmo não se lembrando espeficadamente do conteúdo, conseguirá apresentar alguma resposta, pois

entende, a partir da afirmação, que variedade linguítica reflete a diversidade, e no caso da tirinha o rato disse duas sentenças diferentes que fazem referência ao mesmo fato.

A atividade 2 mostra ainda que essas duas formas diferentes de se dizer o mesmo pode ter uma aceitação também diferente, de prestígio social, ligando esse prestígio a situações de fomalidade. Por isso, Níquel queria fazer uso dessa variedade, mas não conseguiu, retornando à variedade que realmente faz uso e concluindo que deve “ensaiar mais”. Por meio desse exercício, pode ser trabalhada a ideia de monitoramento linguístico e adequação, para as diferentes situações.

A terceira atividade enfoca o desvio em relação à gramática normativa com a fala de Niquel. Na sentença, “Gatinha! As coisa fica brilhenta”, há desvio, pois a regra geral de concordância, neste caso, em que os componentes do sintagma devam ir todos para o plural, foi violada. Mesmo que o interlocutor ache a frase “feia”, Abaurre et al. (2013c) introduzem um boxe sobre preconceito linguístico, defendendo a ideia de que a frase é possivel e não é errada, pois Níquel pertence a uma comunidade linguística cuja regra de concordância é diferente da regra imposta pela gramática normativa. Assim, podemos perceber um exercício elaborado a partir da variação diástratica, introduzindo ainda uma questão de preconceito linguístico a partir do (des)prestígio social de algumas variantes.

Quadro 49: Boxe sobre preconceito linguístico, cap. 13/unid. 4

Fonte: (ABAURRE et al., 2013c, p. 261).

O boxe destaca a estrutura “As laranja tá madura”, pontuando que não se configura em erro, mas no sistema de concordância da variedade desses falantes a regra geral determina a

flexão de número apenas para o determinante do sintagma, ou seja, apenas o artigo deve ir para o plural. Mesmo assim, corresponde à estrutura “As laranjas estão maduras”, em que todos os componentes do sintagma vão para o plural. Vale destacar que as autoras convidam os interlocutores a refletirem sobre as diferentes formas linguísticas que existem além da estabelecida pela norma, sempre considerando o contexto. Embora fique enfatizado que o esperado em situações formais é a norma gramatical.

Quadro 50: Grupos (ii) e (iii) exercício de adequação; exercício de fenômenos

linguísticos

2. No último parágrafo, o autor da carta explicita o motivo que o levou a escrever: a constatação de que "os plurais estavam sumindo". Transcreva no caderno as expressões que ele ouviu de diferentes pessoas e que o levaram a tal constatação.

- Considerando essas expressões, explique o que o autor da carta quer dizer ao afirmar que os "plurais estão sumindo".

Resposta: “Dez real", "dois real", "três cueca", "quatro quilo de batata", "seis limão", "os peixe tão fresco", "as sacola", "meus filho" e "das compra".

- O autor refere-se à conclusão que ele chegou após analisar as diversas ocorrências por ele mencionadas na carta. Nessas expressões, o plural foi marcado em apenas um dos termos do sintagma nominal ("dez real", "três cueca", "as sacola", "meus filho", etc.), contrariando o que a gramática normativa prescreve como regra geral de concordância nominal.

3. Na linguagem oral e em contextos informais, a estrutura a que se refere o autor da carta é comum e pode ser observada na fala de usuários de diversas variedades linguisticas. Ela não surge aleatoriamente. Leia novamente o texto e procure explicar a regra que poderia determinar essa estrutura.

Resposta: Segundo a gramática normativa da língua portuguesa, o núcleo de um sintagma nominal e os termos que a ele se referem devem concordar em número. Ajudar os alunos a perceberem que, no caso das frases mencionadas, os falantes marcam o plural apenas nos determinantes do núcleo do sintagnia nominal (artigos, pronomes possessivos, demonstrativos ou indefinidos, etc.), o que é suficiente para indicar que o sintagma traduz a ideia de plural. Além disso, em algumas expressões citadas na carta, a ideia de plural vem marcada pelo sentido plural do numeral ("dez real", "dois real", "três cueca") e não pela flexão de número do determinante

4. Com base no texto, é possível afirmar que o autor da carta considera o"sumiço do plural" um "erro gramatical" a ser corrigido. O que essa postura revela sobre o modo como ele encara a língua?

- o ponto de vista do modo como a língua é efetivamente usada na sociedade, essa postura pode ser considerada inadequada. Explique

Resposta: Essa postura revela que o autor da carta tem uma visão purista da língua, segundo a qual o "mau uso" de estruturas linguisticas deve ser corrigido. Para o professor, a língua é um sistema homogêneo, que não admite variações em diferentes contextos de uso. Por isso, leva em consideração apenas a perspectiva da gramática normativa.

- A postura do autor é inadequada porque, ao analisar estruturas linguisticas que diferem das estabelecidas pela gramática normativa, ele desconsidera seus contextos de ocorrência. Como sua visão de língua é fundamentada apenas pelo que é prescrito pela gramática normativa, o autor da carta sempre considerará "erro" qualquer estrutura linguística que não siga as normas gramaticais.

Fonte: (ABAURRE et al., 2013c, p. 283).

No Quadro 50, a variação é explorada a partir do gênero discursivo crônica. Ressalte- se, entretanto, que a crônica tematiza “concordância nominal” desde o título “um futuro

singular”, o que, de certa forma, favorece a exploração de aspectos de variação como na sequência do texto que serão destacadas as variantes: “dez real", "dois real", "três cueca", "quatro quilo de batata", "seis limão" e "os peixe tão fresco".

Na tirinha que segue no capítulo, instaura-se a discussão de preconceito linguístico a partir do uso de uma variedade estigmatizada que volta à tona, a partir da variável concordância.

Quadro 51: Grupo (ii) e (iii) exercício de adequação, exercício de fenômenos linguísticos A tira a seguir serve de base para as questões 9 e 10.

[...]

9. Em uma das falas da tira podemos identificar o uso de concordância ideológica. Transcreva no caderno o trecho em que isso ocorre.

- Justifique o modo como essa concordância foi feita.

Resposta: Na fala do zelador, há uma silepse de pessoa na expressão "a gente somos bom só que porém discreto".

- Em "a gente somos", o zelador faz uma concordância ideológica, pois concorda o verbo (somos) com a ideia da pessoa gramatical nós pessoal do plural), apesar de essa expressão apresentar forma de 3a pessoa do singular.

10. Casos de concordância ideológica como o exemplificado na tira podem ser alvo de preconceito linguistico. Por quê?

Resposta: O uso da expressão a gente com o verbo flexionado na primeira pessoa do plural é geralmente visto de maneira preconceituosa porque ocorre em variedades linguisticas de pouco prestígio. Por isso, determinados falantes consideram essa concordância "inadequada".

Fonte: (ABAURRE et al., 2013c, p. 285).

A atividade 10 explica que a silepse, constituída de “a gente + somos”, é uma construção vista “de maneira preconceituosa porque ocorre em variedades linguísticas de pouco prestígio”, uma vez que essa ocorrência é vista como uma concordância inadequada.

Uma postura interessante de Abaurre et al. (2013c) é manter o uso do termo “inadequação” à gramática normativa, no lugar de “erro gramatical”, mas não com o sentido de correção, mantendo-se uma postura linguística inovadora, pois há várias referências à

princípios da Sociolinguística, além de mostrar que as inadequações, em sua maioria, são comuns à fala, às variedades linguísticas do PB.

O quadro a seguir focaliza regência verbal, com proposta de reescrita do enunciado para torná-lo adequado às regras da gramatica normativa. No entanto, não se pode falar em “inadequação”, considerando-se o contexto da fala na tirinha.

Quadro 52: Grupo (ii) e (iii) exercício de adequação, exercício de fenômenos linguísticos Leia a tira abaixo para responder às questões de 4 a 6.

[...]

5. Segundo as regras da gramática normativa, há uma inadequação de regência verbal em uma das perguntas de Calvin. Transcreva no caderno o enunciado em que essa inadequação ocorre.

Resposta: Posso assistir o filme 'Chacina no baile de formatura' na TV?" a) Reescreva esse enunciado, adequando-o às regras da gramática normativa. Resposta: Posso assistir ao filme...

b) Explique em que consiste essa inadequação

Resposta: A inadequação, segundo as regras da gramática normativa, está na escolha inadequada da regência do verbo assistir. Como transitivo direto (uso feito por Calvin), esse verbo significa ajudar, auxiliar. Para ter o sentido pretendido pelo menino (ver um filme), o verbo assistir deve ser usado como transitivo indireto, caso em que o objeto indireto (o filme) deve se ligar ao verbo por meio da preposição a.

6. Por que o contexto de ocorrência torna aceitável a estrutura sintática utilizada por Calvin?

Resposta: A fala de Calvin ocorre em uma situação informal, contexto em que essa estrutura é aceitável. Na fala espontânea, é frequente o uso do verbo assistir como transitivo direto na acepção de presenciar.

Fonte: (ABAURRE et al., 2013c, p. 293-294).

As autoras tratam a não obediência às regras da gramática normativa como uma questão de inadequação, propondo a reescrita do trecho. No entanto, não se pode falar em “inadequação”, considerando-se o contexto da fala da tirinha. Além disso, consideram que a esse tipo de ocorrência é adequado a situações informais. Entretanto, não exploram aspectos

relacionados à mudança linguística, uma vez que a ausência da preposição em verbos como “assistir” já é reconhecida em muitas gramáticas normativas.

No quadro a seguir, a atividade explora colocação pronominal de forma similar à exploração de regência.

Quadro 53: Grupo (ii) exercício de adequação Leia atentamente as tiras abaixo para responder à questão 1.

1. Nas tiras apresentadas, verifica-se a recorrência de um determinado tipo de colocação pronominal. Transcreva no caderno essas ocorrências.

Resposta: Tira I: me deixe sair. Tira II: me dá

a) Qual é a posição ocupada pelo pronome oblíquo nessas ocorrências?

Resposta: Nas duas ocorrências, o pronome está proclítico.

b) Qual seria a colocação pronominal considerada adequada, nesses casos, de acordo com a gramática normativa?

Resposta: A regra de colocação pronominal determina que, em início de oração, como é o caso dos trechos transcritos, o pronome esteja enclítico.

c. O que explicaria, no contexto de cada tira, a opção por uma colocação pronominal que contraria o uso prescrito pela gramática normativa? Justifique.

Resposta: O uso dessa colocação pronominal se deve ao contexto de informalidade das situações apresentadas nas tiras. Embora a gramática normativa julgue incorreta, a colocação proclítica do

pronome em início de oração é usual no português do Brasil em contextos de fala e escrita informais.

Fonte: (ABAURRE et al., 2013c, p. 298).

Verificamos que os fenômenos são explorados de forma superficial, uma vez que não levam em consideração aspectos de mudança linguística. Na coleção PCIS, percebemos que

as atividades que exploram fenômenos de variação ganham um determinado espaço, principalmente as variedades sociais e regionais. A verdade é que há novas possibilidades de tratar os fenômenos de variação nos gêneros. Os exercícios exploram os fenômenos de variação, a adequação, a fala e a escrita e o preconceito linguístico de modo mais produtivo do que outras coleções fizeram.

Na coleção PCIS, após a análise dos três volumes, verificamos que não há atividades agrupadas em (i) que exploram o conceito. Acreditamos que isso decorra, porque os conceitos foram explicitados pelas autoras no transcorrer dos capítulos específicos, além das atividades estarem mais voltadas aos fenômenos para se entender os mecanismos ou contextos de variação.

4.2.4 O tratamento de variação linguística em proposição de atividades sobre os gêneros discursivos do agrupamento da ordem do narrar/relatar – coleção PLCult

Nos três volumes da Coleção “Português, Língua e Cultura” os textos principais são explorados apenas para leitura, ou seja, com poucas atividades. Assim, muitos textos são apenas um modelo de reflexão, ou para o próprio ato de ler, preservando o lúdico, sem exercícios que trabalham a linguagem dos gêneros discursivos da ordem do narrar e do relatar. Seguimos na coleção o mesmo método de investigação das outras coleções. Verificamos os termos específicos da sociolinguística, a concepção que o autor tem da área e a valorização que ele dá para as pesquisas sociolinguísticas realizadas, fazendo uso de dados e teóricos da área na coleção. Entretanto, a constituição a amostra linguística do PLCult é de fato limitada, pois Faraco (2013a; 2013c), nos volumes 1 e 3 não apresenta atividades de variação, e no volume 2, o autor só explora textos sobre a variação linguística, fazendo com que as atividades sejam de “observação” e “reflexão” sobre o tema. Assim, adiantamos que poucas foram as ocorrências dos gêneros dos agrupamentos da ordem do narrar e da ordem do relatar nesta coleção.