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3.4 Corpus da pesquisa

3.4.3 Da seleção dos dados

Investigamos como as atividades propostas pelos diferentes autores contemplam as concepções inovadoras do conhecimento linguístico, ou seja, que trabalham com a convergência entre o gênero e a gramática a serviço do texto, bem como as dimensões sociolinguísticas e as diferentes funções sociais do gênero. Para isso, destacamos, na amostra da pesquisa, as atividades que exploraram os fenômenos de variação do gênero discursivo ou, ao menos, fizeram alguma reflexão sobre o uso linguístico do texto.Nossa escolha do corpus parte da esfera de atividade, que é propiciado pelo gênero.

Os dados selecionados que compõem a amostra são: a) gêneros discursivos da ordem do narrar ou do relatar, das seções específicas sobre variação linguística, com fenômenos de variação seguidos de atividades que explorem a variação ou as diferentes normas, bem como os conceitos da área e os tipos de variação; b) gêneros discursivos da ordem do narrar ou do relatar, das outras seções, com fenômenos e atividades de variação que trabalham alguns tipos de variação e se voltam mais à adequação linguística em diferentes situações de comunicação.

3.4.3.1 A análise e a codificação dos dados

A primeira etapa da análise segue os critérios de seleção dos dados, também em dois momentos: a) as atividades que seguem os textos principais, na seção temática específica ao tratamento de variação, nas quais verificamos a correspondência teórica da Sociolinguística e da variação linguística, bem como a relevância da discussão, por meio dos termos e da conceituação ali expostos; b) as atividades que seguem os textos principais, em todas as outras seções, incluindo a seção específica. No primeiro momento, partimos da verificação da presença de fenômenos de variação no estilo dos gêneros dos agrupamentos da ordem do narrar e do relatar, como apresentamos, como exemplo, na Tabela 1.

Tabela 1: Exemplo de seleção de dados a partir de verificação da presença de fenômenos de variação no estilo dos gêneros dos agrupamentos da ordem do narrar e do relatar

Unidade Gênero

discursivo Fenômenos de variação Proposição de atividades

Fenômenos de variação dissociados da exploração do texto

SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO

CAP. 16 ROMANCE --- X --- X --- X

CAP. 18 CRÔNICA X --- X --- --- X

CAP. 19 ROMANCE --- X --- X --- X

CAP. 22 TIRINHA --- X --- X --- X

CAP. 23 CRÔNICA X --- X --- X

CAP. 24 NOVELA (fragmento) --- X --- X --- X CAP. 25 NOVELA (fragmento) X --- X --- X --- Fonte: Elaborado pela autora.

A tabela é apenas uma pequena amostra da análise que fizemos nos doze volumes. A cada capítulo selecionamos os gêneros da ordem do narrar e do relatar. A primeira análise investigou se, no gênero selecionado, há ou não fenômenos de variação. Depois se há ou não proposição de atividades, para, finalmente, investigarmos se haveria algum exercício em todo o capítulo que trabalharia o fenômeno de variação em uma questão dissociada do texto principal em análise. Assim, cada página dos doze volumes foi verificada. Essa etapa gerou uma amostragem quantitativa expostas em gráficos, pois verificamos quantos gêneros discursivos, por volume e coleção, foram analisados.

A segunda etapa constitui parte da verificação da primeira, pois, a partir da amostra quantitativa, seguimos com o tratamento das atividades, nas quais subjaz alguma reflexão sobre variação e norma, bem como se esta é adequada. Assim, temos uma amostragem mais específica para análise qualitativa, que evidencia os objetivos desta tese. Com a seleção das atividades, a análise voltou-se ao tipo de proposição da atividade, pois as atividades, nas diferentes coleções, trataram diferentemente os fenômenos linguísticos em variação. Assim, criamos diferentes grupos de atividades de exploração da variação.

Tabela 2: Exemplo de análise das atividades e do tratamento da variação que elas propõem

UNID. DISCURSIVO GÊNERO TÍTULO AUTOR

Fenômenos de variação dissociados da exploração do texto Explora termos e conceitos Explora adequação para a comunicação Explora Fenômenos de variação CAP. 18 CRÔNICA Declaração de amor em outdoor Carlos Drummond de Andrade --- --- X CAP. 25 NOVELA (fragmento) A língua de Eulália - que

língua é essa? [...] Marcos Bagno

X X X

Fonte: Elaborado pela autora.

Assim, após o cotejamento dos dados, analisamos a situação das atividades selecionadas. Agrupamo-las em: (i) exercícios de conceituação, nos quais observamos desde os textos explicativos de autoria dos autores do LDP, até as atividades que acompanham esses textos para conceituar norma e variação; (ii) exercícios de modalidade e registro, levando em consideração os três contínuos de Bortoni-Ricardo (2005)19 em que observaremos exercícios

de adequação das variedades às situações de comunicação, diferença entre fala e escrita, diferença entre grau de formalidade e informalidade, além do preconceito linguístico; (iii) exercícios de aplicação dos fenômenos linguísticos, em que há reflexão sobre os tipos de variação linguística, pluralidade linguística no Brasil e/ou do português no mundo selecionados pelos LDP.

Para finalizar, a amostra qualitativa nos deu parâmetros para trabalhar os tipos de variação por atividade proposta. Assim, resumimos os dados em tabelas de análise por coleção, a partir dos tipos de variação que foram explorados ou que deveriam ser explorados nas atividades propostas, como no exemplo.

19 Bortoni-Ricardo (2005) cria um modelo de análise das variedades linguísticas em três contínuos: continuum rural/urbano – oralidade/letramento – monitoramento de fala. O primeiro contínuo, chamado contínuo de urbanização, tem o objetivo de entender as variedades dos falantes que coexistem no sistema saindo do polo rural, passando pelo “rurbano” (em que as variedades são influenciadas pelos dois polos) e urbano; o segundo contínuo é o de oralidade-letramento, em que o pólo de oralidade está ligado a eventos de fala e variedades, enquanto o pólo de letramento está ligado à escrita e norma-padrão; e o terceiro é o contínuo de monitoramento estilístico, que também está ligado à situação de comunicação e ao grau de formalidade que tal situação exige.

Tabela 3: Exemplo de tipo de variação na coleção PLC

VOL. DISCURSIVO GÊNERO TITULO

Fenômenos de variação Sem fenômenos (trata de “norma- padrão”) Variação diacrônica Variação diatópica (geográfica) Variação diastrática (social) Variação diamésica Variação diafásica 1 CRÔNICA Declaração de amor em outdoor --- --- --- 1 NOVELA (fragmento) A língua de Eulália - --- ---

Fonte: Elaborado pela autora.

As análises apontaram que os fenômenos de variação nos gêneros discursivos selecionados não são apenas estereotipados como já vimos nas pesquisas de tratamento da variação linguística nos LDP, retomadas aqui, mas são fenômenos próximos ao que se tem na realidade linguística, embora não sejam abordados nas atividades.

LEGENDA

Variação explorada pela atividade

Variação que poderia ser explorada pela atividade

---

Variação não explorada, pois não aparece nos fenômenos de variação do texto principal

4 MAPEAMENTO E ANÁLISE DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NAS COLEÇÕES

Neste capítulo, serão apresentadas as coleções didáticas selecionadas. Iniciamos com a descrição da estrutura e organização das coleções, seguida da resenha dos avaliadores do “Guia de livros didáticos PNLD 2015: Língua Portuguesa – ensino médio” (BRASIL, 2014)20

e, por fim, o tratamento do tema “variação linguística” nas atividades que seguem os gêneros discursivos da ordem do narrar e do relatar.

O levantamento e a análise da amostra ocorrem neste capítulo, primeiro por meio da investigação dos capítulos destinados especificadamente à “variação linguística”, enquanto cumprimento do edital PNLD 2015 (Edital 01/2013) e segundo, por meio da investigação das atividades sobre as marcas de variação linguísticas nos gêneros discursivos selecionados.