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Matriz de referência do Enem – correção de redações

2.1 O lugar da variação linguística nas políticas institucionais

2.1.5 Matriz de referência do Enem – correção de redações

Reconhecendo a importância do Enem, foi publicado um “Guia do Participante: A redação no Enem 2013” (BRASIL, 2013b), que teve como objetivos tornar mais transparente a metodologia de correção da redação e analisar as redações realizadas, informando o que se espera do participante diante das competências da matriz de referência.

O guia foi desenvolvido pela equipe da Diretoria de Avaliação da Educação Básica (Daeb), além dos especialistas na área de avaliação de textos escritos, é um documento que esclarece os critérios adotados no processo de avaliação das redações do Enem (BRASIL, 2013b), mas, para esta pesquisa, a leitura do guia tem o objetivo de conhecer a Matriz de referência da redação com a finalidade de observar o quanto a referência da matriz, de fato, está condizente com os documentos oficiais, quando da concepção de língua em variação no Brasil.

O guia traz cinco competências como matriz de referência para a elaboração e parâmetro de correção de redação do Enem. Por meio das competências, destaca-se a exigência, de modo geral, de demonstrar domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa; compreender a proposta de redação e desenvolver o tema dentro da estrutura do texto dissertativo-argumentativo; argumentar em defesa de um ponto de vista; – demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos de coesão e coerência para a construção da argumentação; elaborar uma proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos (BRASIL, 2013, p. 8. Guia).

As cinco competências exigem o uso de norma gramatical. Na verdade, tais competências são abordadas de modo prescritivo, porque são colocadas como um conjunto de

regras que devem ser obedecidas e, quando obedecidas, são notificadas de 0 a 200 por competência.

Dentre essas regras, destacamos duas que dialogam propriamente com o objeto desta pesquisa: a primeira, Competência 1, trata prioritariamente do domínio da modalidade escrita que deve ser a formal. Espera-se do candidato apenas a “[...] consciência da distinção entre a modalidade escrita e a oral, bem como entre registro formal e informal” (BRASIL, 2013, p. 11. Guia). A explicação sobre a competência, no Guia, não determina claramente o que é o “formal”, mas coloca de modo pontual as penalidades aplicadas ao desvio dessa formalidade.

Para tal competência, a avaliação é realizada a partir de regras estabelecidas pela modalidade escrita e registro formal da LP, são algumas delas: a) ausência de marcas de oralidade; b) ausência de registro informal; c) precisão vocabular; d) obediência às regras de concordância, regência, pontuação, flexão de nomes e verbos; colocação pronominal; grafia das palavras; e até mesmo o uso correto de translineação que é a divisão silábica na mudança de linha. Na forma de avaliação da Competência 1, é apresentado o seguinte demonstrativo:

Quadro 3: detalhamento da descrição e desempenho para avaliação da competência 1

PONTUAÇÃO DESCRIÇÃO

0 ponto Demonstra desconhecimento da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa.

40 pontos Demonstra domínio precário da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa, de forma sistemática, com diversificados e frequentes desvios gramaticais, de escolha de registro e de convenções da escrita.

80 pontos Demonstra domínio insuficiente da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa, com muitos desvios gramaticais, de escolha de registro e de convenções da escrita.

120 pontos Demonstra domínio mediano da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa e de escolha de registro, com alguns desvios gramaticais e de convenções da escrita.

160 pontos Demonstra bom domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa e de escolha de registro, com poucos desvios gramaticais e de convenções da escrita.

200 pontos

Demonstra excelente domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa e de escolha de registro. Desvios gramaticais ou de convenções da escrita serão aceitos somente como excepcionalidade e quando não caracterizem reincidência.

Fonte: A redação no Enem 2013: Guia do participante (BRASIL, 2013, p. 13).

O próprio detalhamento da Competência 1 assume que existe uma variação linguística na fala dos alunos e que pode ocorrer uma “escrita fonética”, refletindo a fala dos candidatos. Para neutralizar tal situação, o aluno deve ter conhecimento da modalidade escrita formal da língua e cometer o mínimo de desvios gramaticais e ortográficos para alcançar a pontuação máxima na avaliação da competência.

Interligada à Competência 1, temos a “Competência 4” que se preocupa com a “estruturação lógica e formal entre as partes da redação” (BRASIL, 2013, p. 19. Guia). Para tanto, a matriz de referência coloca a importância de se organizar as frases e os parágrafos com coesão dos elementos textuais e coerência de ideias. Por isso, a importância do uso adequado dos conectivos como as conjunções, preposições, advérbios, locuções adverbiais, expressões próprias para o desencadeamento do texto, dentre outros.

Conforme o exposto, fica óbvia a exigência do conhecimento da norma prescritiva da língua, mas também dos tipos de variação diamésica e diafásica. A variação diamésica é importante para se conhecer as marcas de oralidade e as marcas de escrita; há regras que se diferem e são específicas para cada modalidade. A variação diafásica é importante para o conhecimento do grau de formalidade. Ambas podem ser abordadas por diversos gêneros discursivos no LDP, preparando o aluno não só para a realização do Enem, mas também para as diversas situações de comunicação na sociedade.

A norma considerada como padrão (que já foi mostrado ser apenas uma idealização) é exigida nessa prova de larga escala, consequentemente, passa a ser cobrada no ensino de LP e nos instrumentos didáticos que se ocupam do conteúdo de português. Por isso, os PCNEM+ (2002) apresentam a ideia de ensinar a adequação linguística, monitoramento linguístico, regras das diferentes modalidades, com a finalidade de auxiliar na contextualização de variação linguística a esses alunos, ressaltando a importância dos conhecimentos sociolinguísticos.

As pesquisas sociolinguísticas estão em desenvolvimento desde o marco de 1968, com as pesquisas de Labov (2008), e nas últimas décadas resultam em mapeamentos linguísticos como observado no Projeto NURC e outros importantes bancos de dados existentes no Brasil.14 Essas pesquisas apresentam quantitativos de frequência de uso e/ou não uso

linguístico, catalogação de fatores que motivam determinadas variação, análise de fatores condicionadores da mudança linguística, dentre outros aspectos sociais da língua. A contribuição da Sociolinguística também está refletida, partindo das reformulações dos PCNEM, em estudos de variação sobre a língua na sala de aula e nos livros didáticos como nas pesquisas desenvolvidas por Coelho (2007), Bagno (2013), Goulart (2014) e Lima (2014).

14 VARSUL – Variação Linguística na Região Sul do Brasil (www.varsul.org.br)

VALPB – Variação Linguística no Estado da Paraíba (www.ibraed.com) ALIP – Amostra Linguística do Interior Paulista (www.iboruna.ibelci.unesp.br)

PROFALA – Projeto Variação e Processamento da Fala e do Discurso: Análises e Aplicações (www.profala.ufc.br)