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Coleção Português Língua e Cultura (PLCult)

4.1 Descrição das coleções de Língua Portuguesa voltadas para o Ensino Médio

4.1.4 Coleção Português Língua e Cultura (PLCult)

A coleção “Português, Língua e Cultura” (FARACO, 2013) é seriada, ou seja, há um volume destinado para cada série do Ensino Médio. Diferentemente das outras coleções até aqui analisadas, não tem uma divisão tradicional em língua, literatura e produção de texto, mas é inovadora, seguindo a divisão em cinco blocos: “Gêneros textuais”, “Enciclopédia da linguagem”, “Almanaque gramatical”, “Guia normativo” e “História da literatura”.

O bloco “Gêneros textuais” parte do ensino da diversidade de textos como crônica, contos, romances, poemas, notícias, reportagens, editorias, artigos e outros; o bloco “Enciclopédia da linguagem” busca a reflexão da linguagem apresentando uma posição crítica ao aluno sobre o tema preconceito linguístico; o bloco “Almanaque gramatical” apresenta “tópicos da gramática, sem ser exaustivo com a nomenclatura” (BRASIL, 2014, p. 52. Guia) com dois capítulos sobre léxico e outros dois sobre sentenças simples e complexas; o bloco “Guia normativo” apresenta tópicos da língua-padrão no Brasil, baseado na sociolinguística; o bloco “História da literatura” traz aspectos culturais das literaturas africana, portuguesa e brasileira e além desses cinco blocos, a coleção PLCult conta com uma seção de “Apêndice” que apresenta algumas regras da língua com relação à ortografia das palavras, acentuação e pontuação.

O volume 1, referente ao 1º ano, é composto por 15 capítulos; o volume 2, referente ao 2º ano, é composto por 13 capítulos; e o volume 3, referente ao 3º ano, é composto por 13 capítulos. Os blocos “Enciclopédia da linguagem” e “Guia normativo” discutem a variação linguística, o preconceito linguístico e a língua-padrão, considerando os dois blocos, são nove capítulos que apresentam os temas variação e norma com base na sociolinguística.

4.1.4.1 Avaliação da proposta da obra no Guia do PNLD 2015 (BRASIL, 2014)

Esta obra é organizada em forma de compêndio, em que a coleção “leva o aluno a refletir sobre os fatos de linguagem em contexto de uso” (BRASIL, 2014, p. 50). A oralidade está presente em todos os volumes, em diversos capítulos, mas o trabalho com a oralidade é uma problemática apontadas pelos avaliadores da obra, no sentido de trazer apenas leitura de conversa ou drama, além de indicações de debate. Quanto ao funcionamento da língua, a obra traz reflexões, mas tem abordagem transmissiva. No entanto, ao falar dos conhecimentos linguísticos da obra, os avaliadores encontraram tanto conteúdos tratados de forma reflexiva, quanto os conteúdos relacionados à gramática normativa, sendo transmissivos.

É uma obra que se preocupa com as funções socioculturais, o que faz com que esteja situada no campo do sociointeracionismo, com reflexões sobre os fatos da linguagem em contexto, além de origem da língua, variação linguística, linguagem verbal e não verbal. O que os avaliadores destacam como importante nesta obra é o eixo de conhecimentos linguísticos, no qual se evidenciam os fenômenos de língua/linguagem com conhecimentos da variação linguística, mas sem se esquecer de sistematizar as regras de uso da gramática, com vistas à língua-padrão como parte dessa variabilidade linguística.

Finalmente, para os avaliadores, o ponto forte da coleção é a articulação da leitura com outros eixos, como da gramática; por sua vez, o ponto fraco é que a obra trabalha com a oralidade, mas com propostas mínimas de gêneros orais. O destaque da obra é que os capítulos estão voltados para a variação e o preconceito linguísticos.

4.1.4.2 O tratamento do tema variação linguística em seções específicas da coleção PLCult

A coleção trata do tema variação linguística nos blocos “Enciclopédia da linguagem” e “Guia normativo”. Por serem nove capítulos na análise do tratamento específico ao tema, buscamos descrever brevemente cada um deles, observando o objetivo do autor em apresentar os temas em dimensões sociolinguísticas que contribuam, de fato, para a questão em debate: o tratamento de variação linguística e norma na coleção.

O primeiro, “Linguagens e linguagens”, capítulo 10, bloco enciclopédia da linguagem, volume 1, e o segundo, capítulo 11, bloco enciclopédia da linguagem, volume 1, mostram que, apesar de não serem temáticos quanto à variabilidade linguística, centram o debate no preconceito linguístico; na diferença da língua e dialeto; no estrangeirismo; bem como nos puristas da língua que surgiram para impor o uso do português sem inserir palavras de outros idiomas; além de dar início ao tema gramática e às diferenças entre fala e escrita.

O terceiro “A complexidade das línguas”, no capítulo 12, bloco enciclopédia da linguagem, volume 1, inicia a discussão da complexidade das línguas; introduz também a seção “Estrangeirismos”. O quarto capítulo “A flexibilidade das línguas”, capítulo 13, bloco enciclopédia da linguagem, volume 1, apresenta o fato de que a língua não existe sem princípios organizacionais e que possui infinitas possibilidades de produção de enunciados, destacando que a língua possui um princípio da flexibilidade. Para o autor, essa flexibilidade se correlaciona com o estilo, ou seja, escolhas individuais de alternativas para se dizer ou se escrever um enunciado.

O quinto capítulo “A Variação linguística”, capítulo 10, bloco enciclopédia da linguagem, no volume 2, é a seção que mais especificamente trata do tema variação. Faraco (2013b) destaca no material os níveis de variação entre dois países, como Brasil e Portugal: nível fonético, sintático e lexical.

O autor segue o texto trazendo dados linguísticos reais, baseado em pesquisas da sociolinguística. Fala do movimento migratório que ocorreu em algumas regiões do país, no passado, o que explica o fato de algumas regiões apresentarem mais de uma variedade no mesmo espaço. O autor ainda lembra que as marcas linguísticas regionais são marcas da própria identidade, por isso deve-se respeitar todas as variedades, o que o autor chama de “preconceitos sociais” ou ainda “preconceito linguístico” motivado pela forma diferente que uma pessoa fala (FARACO, 2013b, p. 160).

Em seguida, conceitua variação social e variação contextual, introduzindo ainda uma subseção sobre “A língua-padrão”, explicando a necessidade da padronização linguística para a interlocução. Para o autor, “a padronização não pode jamais ser entendida como visando aniquilar a diversidade” (FARACO, 2013b, p. 164), mas deve ser cultivada e difundida para ser usada no ensino e na mídia, por exemplo, além de estar ligada à escrita.

Com o título “Tópicos de língua-padrão”, nos volumes 2 e 3, o autor enfatiza o fato de a língua-padrão ser mais uma dentre as várias variedades da língua com função de intercâmbio social e que não se deve “decorar formas, mas vivenciar o padrão em seus contextos de uso” (FARACO, 2013b, p. 190). Além disso, apresenta uma reflexão a respeito da competência linguística na prática social, tanto na situação comunicativa cotidiana de fala quanto na atividade de escrita, pois esta exige regras determinadas, no plano gramatical, trazendo uma discussão do plano interacional, que considera, no processo da escrita, o leitor; e no plano textual, que além da linguagem adequada ao contexto, volta-se às características dos gêneros.

Os três volumes do PLCult somam 41 capítulos, dos quais nove buscam a exposição gramatical numa dimensão sociolinguística, mas dos nove em análise, dois são introdutórios e não explicitam isso diretamente, assim temos sete capítulos que mostram a gramática na fala e na escrita; as diversas variedades e a variação-padrão; a língua-padrão como um termo chave para norma culta, do falar culto e norma-padrão para o modelo de língua ideal, o que equivale a 15% de tratamento específico de variação na coleção.

Vale ressaltar que, diante das realizações dos termos utilizados na seção, entendemos que o próprio autor da coleção considera utilizar alguns dos termos de modo inadequado, como “variedade-padrão”, por isso passa a se referir às normas padrão e culta, como língua-

padrão, pois não considerará, no material didático, distinção entre elas. Todos os conceitos são introduzidos por situações conhecidas de uso, além dos textos bases como artigos, músicas, poesias, crônicas, conto que exemplificam ainda mais o que o autor expôs no texto teórico.