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Diretrizes curriculares para o ensino de Língua Portuguesa (2003)

2.1 O lugar da variação linguística nas políticas institucionais

2.1.3 Diretrizes curriculares para o ensino de Língua Portuguesa (2003)

As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica para o ensino médio apontam mudanças na legislação a partir da necessidade de criar um cidadão, oferecendo perspectivas culturais, autonomia intelectual, além do exercício dos direitos sociais. Essas diretrizes são mais abrangentes do que os PCNEM ou os PCNEM+ (BRASIL, 2000; 2002), pois abordam a regulamentação da educação como um todo. Para tanto, é discutido o desejo de atualização das diretrizes do parecer CNE/CEB nª 15/98 e Resolução CNE/CEB nº 3/98 (BRASIL, 2013, p. 144. Diretrizes).

Com a promulgação da Lei nº 9.394/96 (LDB), o Ensino Médio passou a ser configurado com uma identidade própria, como uma etapa final de um mesmo nível da Educação Básica, “na LDB, destaca-se que o inciso VI do art. 10 determina que os Estados incumbir-se-ão de ‘assegurar o Ensino Fundamental e oferecer, com prioridade, o Ensino Médio a todos que o demandarem’ (Redação dada pela Lei nº 12.061/2009)” (BRASIL, 2013, p. 146. Diretrizes).

A legislação, tanto pela LDB quanto por outras leis específicas à educação, determina componentes obrigatórias e que devem ser tratadas em uma ou mais áreas de conhecimento. De acordo com a LDB, é obrigatório o estudo da Língua Portuguesa e da Matemática com a finalidade de conhecer o mundo físico e natural, além de conhecer a realidade social e política da sociedade. Ainda nos termos da LDB, o ensino de Língua Portuguesa deve ser observado como um instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento, bem como cidadania.

Ainda sobre a Língua Portuguesa, a LDB coloca a necessidade de organizar o conteúdo para que o estudante demonstre “conhecimento das formas contemporâneas de linguagem” (BRASIL, 2013, p. 197, LDB). Além disso, destaca-se que neste parecer, cuja proposta é a mudança nas Diretrizes, o reconhecimento de que a educação básica vem assumindo características próprias. Exemplo disso, as escolas indígenas, bem como o fato de a legislação assumir a especificidade étnico-cultural de cada povo. Demonstra-se, assim que as realidades sociolinguísticas são destacadas e valorizadas.

Mais do que contextualizar a especificidade étnico-cultural de cada povo e suas realidades sociolinguísticas, as diretrizes também mostram a preocupação em valorizar e promover a diversidade sociolinguística brasileira, pois por meio do Parecer CNE/CEB nº 10/2011, recomendou-se uma política sociolinguística para os grupos indígenas em contexto escolar. Em vários tópicos da LDB, há referência a realidade sociolinguística da comunidade indígena. Independentemente disso, entendemos que as políticas linguísticas avançaram no

campo de legislar, ao reconhecer que existe o lugar de diversidade linguística que deve ser respeitada e valorizada, incluindo nisso a preocupação de “produção de materiais didáticos que reflitam as realidades sociolinguísticas, a oralidade e os conhecimentos dos povos indígenas” (BRASIL, 2013, p. 388, LDB).

O Edital PNLD expande as ideias de variação linguística no ensino de Língua Portuguesa e da realidade sociolinguística indígena exigindo, na produção do material didático escolar, conteúdos que trabalhem com a reflexão das modalidades oral e escrita com a finalidade também de valorizar as variedades orais e combater os preconceitos associados às variedades menos prestigiadas socialmente em todo o território brasileiro.

O edital também requer dos autores a consideração de sistematizar a proficiência da escrita com base no português em uso no Brasil e seus fenômenos linguísticos, como no caso dos pronomes pessoais e das conjugações verbais, os quais podem variar conforme as regiões do próprio país, por exemplo, nós vamos/nóis vai e a gente vai/a gente vamos. O PNLD também faz outras exigências, com base na leitura dos documentos oficiais já citados e sabendo que há vários outros fenômenos em variação.

Para deixar claras as ideias de variação linguística e norma presentes nos documentos oficiais que foram adotados nesta pesquisa, apresentamos um quadro síntese como fundamento de facilitar a discussão e análise dos dados dos LDP, em consonância com esses documentos oficiais.

Quadro 2: Síntese dos documentos oficiais com a temática da norma e variação linguística

Fonte: Elaborado pela autora.

Verificamos, por meio do quadro síntese dos documentos oficiais que desde as diretrizes há regulamentação para o trabalho com a linguagem contextualizada. Todavia, com as reformulações e novas orientações aos PCNEM temos exigências pontuais que perpassam a concepção Sociolinguística. Assim, os PCNEM+ (2002) regulam que se deve avaliar a adequação ou inadequação de registro em diversas situações e se deve aplicar as diferentes regras entre modalidade oral e modalidade escrita; além de compreender os valores sociais a

6 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Ministério da Educação. Secretaria de

Educação Básica. Diretoria de currículos e educação integral. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013. p. 187, 197.

7 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio – Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Brasília, 2000. p. 16-23.

8 BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. PCN+ Ensino Médio: Orientações Educacionais Complementares Aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Linguagens, Códigos E Suas Tecnologias. Brasília, 2002. p. 82.

9 Edital De Convocação 01/2013 – CGPLI. Edital de Convocação para o processo de Inscrição e Avaliação De

Obras Didáticas Para O Programa Nacional Do Livro Didático PNLD 2015. p. 45-46.

DIRETRIZES6 PCNEM7 ORIENTAÇÕES

COMPLEMENTARES AOS PCNEM8

EDITAL PNLD 2

EDITAL PNLD

20159 (01/2013)

Garantir, nos termos da LDB, ações que promovam educação tecnológica básica, compreensão do significado da ciência, das letras e das artes;

Considerar a LP como representação simbólica de experiência humana manifestas na vida social. Avaliar a adequação ou inadequação de registro em diversas situações; Favorecer a reflexão entre modalidades oral e escrita combatendo os preconceitos associados às variedades orais;

Conhecer formas contemporâneas

da linguagem; Compreender e usar a LP como língua materna, geradora de significação e integradora da própria identidade;

Compreender os valores

sociais a partir dos falares; Considerar as relações entre linguagem verbal e outras linguagens para o processo de construção de sentido;

Contextualizar a especificidade étnico-cultural de cada povo ou comunidade e às realidades sociolinguísticas; (contexto indígena) Confrontar opiniões sobre as diferentes linguagens e determinadas manifestações;

Entender o preconceito aos falares populares em detrimento aos falares de grupos sociais favorecidos;

Sistematizar a

proficiência da escrita com base no PB e seus fenômenos linguísticos; Valorizar e promover a diversidade sociolinguística brasileira; (contexto indígena) Trabalhar a língua portuguesa diante das práticas sociais da linguagem.

Aplicar as diferentes regras entre oralidade e escrita na produção de textos;

Abordar fatores socioculturais e políticos no estabelecimento de padrões linguísticos;

Produzir material didático que reflita a realidade sociolinguística, a oralidade e os conhecimentos dos povos indígenas.

Basear o ensino /aprendizagem de LP na proposta interativa língua/linguagem no processo discursivo da construção do simbólico. Avaliar as diferenças de sentido e valor em função de marcas típicas do processo de mudança histórica da língua como o arcaísmo, neologismo polissemia, empréstimo.

Considerar a língua- padrão no contexto de variação linguística, sem estigmatizações.

partir das variedades linguísticas, evitando o preconceito às variedades populares em detrimento da norma culta, trabalhando também com a mudança histórica da língua a partir do arcaísmo, neologismo, polissemia e empréstimo linguístico. Sendo assim, são apresentados parâmetros para a inovação do ensino de língua materna, bem como para as exigências de conteúdos reformulados ao LDP.

O edital PNLD 2015 (BRASIL, 2014) parece congruente com os tópicos pontuais dos documentos oficiais, exigindo que no LDP, no que diz respeito à variação linguística, tais parâmetros sejam atendidos para a aprovação da coleção, são eles: favorecer a reflexão entre modalidades oral e escrita, combatendo os preconceitos associados às variedades orais; sistematizar a proficiência da escrita com base no PB e seus fenômenos linguísticos, ou seja, explorar fenômenos linguísticos variáveis apresentando a diversidade de variantes linguísticas no PB; abordar fatores socioculturais e políticos no estabelecimento de padrões linguísticos, ou seja, explorar os conceitos de norma, além de abordar a adequação linguística e grau de monitoramento; considerar a língua-padrão no contexto de variação linguística, sem estigmatizações.

Este último apresenta incongruência com relação aos termos, pois o termo “língua- padrão” remete à “norma-padrão”, mas em contexto de variação parece referir-se à “norma culta”, que é um tipo de variação de prestígio. Desse modo, fica marcada a problemática dos documentos oficiais: flutuações terminológicas referentes à norma e as divergências nas significações desse termo.