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Análise dos grupos (i), (ii) e (iii) do volume 1 – coleção PLC

4.2 Análise das atividades de variação linguística

4.2.1 O tratamento de variação linguística em proposição de atividades sobre os gêneros

4.2.2.2 Análise dos grupos (i), (ii) e (iii) do volume 1 – coleção PLC

A análise dos gêneros segue conforme os grupos (i) de conceituação, (ii) de adequação e (iii) de fenômenos linguísticos. Iniciamos a análise com o maior número de ocorrências

agrupadas em (ii), que trabalham com a ideia de adequação da língua do formal ao informal, ou as implicações da fala para escrita, como podemos observar nos exemplos de fragmentos que seguem:

Quadro 25: Grupo (ii) exercício de adequação24

1) Em seu caderno, registre A para as características do texto 1 e B para as características do texto 2. a) Registro de fatos verídicos de interesse público.

b) Narrativa verossímel, possível de acontecer ou não, evolvendo personagens. c) Mescla de linguagem mais formal com termos coloquiais e gírias.

[...]

f) linguagem objeitva, impessoal.

Resposta: a) A; b) B; c) B [...] f) A

Fonte: (SETTE; TRAVALHA; BARROS, 2013a, p. 28).

Quadro 26: Grupo (ii) exercício de adequação

3) Em alguns momentos, o conto que você leu é caracterizado por uma linguagem mais familiar coloquial, enquanto em outros é usada uma linguagem formal.

a) Em que situação é usado o registro coloquial? Dê exemplos. Resposta: Nas falas do personagem principal com a mulher:"-Escuta minha filha [...]";"[...] estou o nenhum.";"Dá um ar de vigarice [...]”, [...] a gente”, “Deixa ele bater” (pronome pessoal do caso reto usado como objeto); “o sujeito da televisão[...]”.

b) Em que situação é usado o registro formal? Exemplifique. Resposta: Na fala da persongem principal com a vizinha: “Bom dia, minha senhora [...]”.

Fonte: (SETTE; TRAVALHA; BARROS, 2013a, p. 44-45, 49).

A atividade apresentada no Quadro 25 é diferente das até aqui trabalhadas na coleção PL. Assim, a coleção PLC traz exercícios objetivos que já exibem reflexões sobre o texto em análise. Por ser uma atividade objetiva, a reflexão já está apontada nas alternativas, pouco fica para o aluno apontar e pouco se explora da variação diafásica, de fato.

As atividades do Quadro 26 exigem apenas que o aluno identifique os tipos de registro. Vale ressaltar ainda que na “letra b”, do exercício 3, a única resposta sugerida pelos autores como registro formal, é “Bom dia, minha senhora”, quando o conto tem outras passagens de registros formais como “Explique isso ao homem”, “[...] ouviu que outra porta se abria atrás de si”, “Voltou-se [...]”.

24 Os textos utilizados nas atividades analisadas da coleção PLC estão no Anexo B, seguindo a numeração dos

Quadro 27: Grupo (ii) e exercício de adequação

3) O vocabulário é um dos elementos que ajudam a situar o texto em determinada época. Pomba!, que aparece no texto, é uma gíria que já foi muito usada.

a) o que essa gíria expressa? Resposta: Expressa espanto, impaciência.

b) De acordo com o sentido que essa gíria tem no texto, que palavra ou expressão poderia substituí- la?

Puxa = Resposta: “Ora!” “Que coisa!” “Nossa!”

4) A crônica “Comunicação” reproduz uma situação informal de fala. Identifiquem no texto algumas marcas de fala e registrem-nas no caderno.

a) Hesitações/interrupções que indicam dúvida.

Resposta: “comprar um...um” “um daqueles, daqueles...”, “de sorte que o, a, o negócio”, “sobre o, a, essa coisa”, “Bem...”

b) Interrupções que contam com a cooperação do outro no que se refere a completar o sentido. Resposta: “Infelizmente, cavalheiro...”, “Estou me esforçando, mas...”

Professor: chame a atenção dos alunos para o uso do travessão para marcar as falas, na crônica "Conversinha mineira", de Fernando Sabino, e o uso das aspas com o mesmo objetivo na crônica "Comunicação", de Luis Fernando Veríssimo.

Fonte: (SETTE; TRAVALHA; BARROS, 2013a, p. 343-346).

A atividade é interessante, porque além de explorar marcas da modalidade oral, traz um box sobre as “Marcas da modalidade escrita” ao final da atividade 4, mostrando que a escrita tem regras próprias, o que a difere da fala, incluindo a pontuação. Assim, é uma atividade que marca de fato as diferenças entre fala e escrita, trabalhando muito bem a variação diamésica, bem como variação diafásica ao trabalhar com informalidade e até mesmo a possibilidade de uma variação diastrática ao pontuar a gíria.

Quadro 28: Grupo (iii) exercício de fenômeno linguístico 6) Que tipo de linguagem Bob usou no outdoor?

Resposta: Usou a linguagem popular, gíria: “Estou contigo e não abro”.

Fonte: (SETTE; TRAVALHA; BARROS, 2013a, p. 238-241).

A atividade explora apenas uma gíria, mas poderia explorar mais de um tipo de variação, pois esta gíria pode parecer “estranha” a um falante de determinada faixa etária, ainda mais para declarar o amor que sente, sendo assim, temos além de uma variação diafásica, em que o polo da informalidade é destacado, um tipo de variação diastrática, pois o

grupo social evocado é o do mais jovem. Nenhuma dessas observações é destacada pelas autoras.

Quadro 29: Grupo (iii) exercício de fenômenos de variação

5) Em 1943, época em que o cronista se alfabetizou, havia certa de 40 mil palavras na língua portuguesa, segundo Domício Proença Filho. Hoje, são mais de 400 mil palavras dicionarizadas. A que o texto atribui o aumento de vocábulos em nossa língua?

Resposta: segundo o cronista, as palavras surgem com os novos hábitos da população, as inovações tecnológicas, as migrações, as gírias, os estrangeirismos.

6) Releia o trecho a seguir e explique-o em seu caderno:

"Havia inevitáveis que acabaram se adaptando. Já tivemos goal-keeper (goleiro), goal (gol; o Estadão escrevia goal até os anos 1960), offside (impedimento, impedido), comer (escanteio), volleyball (voleibol, vôlei), basketball (basquete), surf (surfe) — e tantas outras."

Resposta: As palavras estrangeiras são incorporadas à língua e acabam sendo aportuguesadas. [...]

7) O que determina a permanência ou não de estrangeirismos ou gírias? Resposta: É o seu uso ou não pelos falantes da língua: o povo. "O povo falante há de peneirar o que merecer permanência"

Fonte: (SETTE; TRAVALHA; BARROS, 2013a, p.322-325).

As atividades exploram o uso de palavras estrangeiras, além de introduzir uma temática importante nos LDP: a língua viva é o seu uso e o que contribui para o processo de variação e mudança não são as políticas linguísticas, mas o povo que a usa.

Quadro 30: Grupo (i), (ii) e (iii) exercício de conceituação; de adequação; de fenômenos de

variação

1) A língua de Eulália é, segundo seu autor, uma “novela sociolinguística”. Nela as personagens fictícias expõem conceitos e teorias sobre a língua. No trecho que você leu é apresentado um conceito de norma padrão.

a) identifique-o. Resposta: A norma-padrão é aquele modelo ideal de língua que deve ser usado pelas autoridades, pelos órgãos oficiais, pelas pessoas cultas, pelos escritores e jornalistas, aquele que deve ser ensinado e aprendido na escola. Vejam bem que eu disse aquele que deve ser, não aquele que necessariamente é empregado pelas pessoas cultas. [...]

c) E você, o que pensa sobre isso? Resposta pessoal

Resposta: Espera-se que o aluno compreenda que nenhuma variedade é melhor que a outra e todas devem ser respeitadas. A questão é a adequação da variedade à situação de uso. Assim, há situações em que a norma-padrão deve ser usada. Comente que a informalidade não está relacionada somente ao uso oral da língua. Em textos orais ou escritos, em que se emprega a variedade padrão, podem ser encontradas marcas de formalidade.

2) De acordo com o texto, o que contribui para que determinada variedade linguística seja considerada padrão? Copie no caderno as alternativas corretas.

a) A descrição e a prescrição das regras de determinada variedade pelos gramáticos.

b) O registro dos significados precisos das palavras que compõem esse padrão pelos dicionaristas. c) O estabelecimento da ortografia oficial pela Academia Brasileira de Letras.

d) O uso da norma-padrão pelos setores dominantes: academia, falantes cultos e de posição social elevada. e) A proibição legal de outras variedades consideradas erradas.

Resposta: As alternativas a, b, c e d estão corretas.

4) Relacione no caderno as colunas:

(a) A afirmativa confirma a tese defendida pela personagem Irene. (b) A afirmativa contradiz a tese defendida pela personagem Irene. I Há uma unidade linguística no Brasil.

II A norma-padrão é a melhor variedade linguística. III Não existe uma variedade linguística superior a outras.

IV Se houvesse investimento, qualquer variedade poderia ser considerada padrão. V A norma-padrão é uma das variedades linguísticas.

VI A norma-padrão é um modelo que deve ser seguido por todos os falantes. VII A língua muda com o tempo e varia no espaço.

VIII O conceito de certo e errado em relação ao uso da língua está fundamentado em preconceitos linguísticos sociais.

Respostas: I (b); II (b); III (a); IV(a); V(a); VI(b); VII (a); VII (a)

Fonte: (SETTE; TRAVALHA; BARROS, 2013a, p. 292-296).

As atividades do Quadro 30 exploram o texto “A novela sociolinguística”, de Marcos Bagno. São questões de interpretação de um texto literário, construído sob a forma de uma novela, e que explora conceitos da sociolinguística. O Quadro 30 ainda mostra a preocupação com norma-padrão em detrimento da variação. Nessa perspectiva, o texto foi usado como pretexto para explorar questões referentes a aspectos da sociolinguística. Consideramos a estratégia interessante, mas inadequada para a situação de introdução de uma temática nova ao aprendente.

Da mesma forma, os quadros 31 e 32, apresentados a seguir, evidenciam a utilização do texto como pretexto. Os gêneros são usados apenas para explorar aspectos de variação

como, por exemplo, os tipos de variação diacrônica e a diastrática, mas é explorado de modo superficial, já que são apenas indicados os tipos de variação e não comentados ou sistematizados.

Quadro 31: Grupo (iii) fenômenos linguísticos – tipos de variação (Passos Largos)

Os textos a seguir ilustram diversidades ou variedades vocabulares, regionais, geográficas, espaciais, históricas, sociais, de faixas etárias, de profissão etc. Leia-os e, com base nas informações e nos conceitos aprendidos anteriormente, identifique a variedade linguística empregada em cada um deles. Registre suas respostas no caderno.

a) Victoria orthophonica Resposta: variedade histórica (1927)

Victrola Orthophonica Porque?

Porque combina a beleza com a utilidade, a permanência com a novidade. A Cictrola Ortophonica é a dadiva que reúne todas as qualidades. E’ um instrumento que reuni a beleza do som e da fórma, a beleza infinita e indispensável da Musica, a beleza permanente de um instrumento único por sua construcção e sonoridade [...]

(revista Careta, Rio de Janeiro, Sabbado, ano XX, n.967, 1º jan. 1927, contracapa).

b)Resposta:Variedade de faixa etária (jovens, adolescentes roqueiros).

Quadro 32: A variedade empregada por Chico Bento 3)Leia a tirinha e as informações a seguir para realizar a atividade proposta.

Marcas da variedade linguística empregada pelo personagem Chico Bento:

redução do ditongo ou (duas vogais em uma mesma sílaba) para ô (vou – vô). Eliminação do r final: arrasar – arrasá.

Troca do e pelo i: me – mi; espantado – ispantado.

Troca de dígrafo lh por i, com supressão do r final: olhar – oiá.

A variedade usada na tirinha que você leu apresenta diferenças em relação ao padrão formal. Registre em seu caderno a alternativa que apresenta essas diferenças.

a) Lexicais ou de vocabulário.

b) Semânticas ou no sentido das palavras. c) Fonéticas ou na pronúncia das palavras. d) Sintáticas ou na organização das frases.

Resposta: Alternativa c: diferenças fonéticas ou na pronúncia das palavras.

Comente com a turma que a personagem Chico Bento é um menino de origem rural e que, em regiões do interior de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás etc. se usa essa variedade em situações de fala cotidiana.

Fonte: (SETTE; TRAVALHA; BARROS, 2013a, p. 300-301).

No Quadro 32, as autoras também expõem alguns fenômenos fonético-fonológicos como redução, apagamento, troca de letras para tornar perceptível a realidade linguística que os alunos sabem que existe, mas, muitas vezes, apenas assumem como “erro” da fala. Além de representar um erro técnico ao sugerir como resposta essas variantes ao Chico Bento, de origem rural, que se encontram nas regiões do interior de São Paulo, Minas Gerais e Goiás enquanto variedade utilizada em situação de fala cotidiana. Esse tipo de afirmação limita, tanto as regiões dessas variantes, como a situação de comunicação em que elas possam ser utilizadas, sem embasamento em pesquisas sociolinguísticas.