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Análise e discussão dos resultados sincrônicos do PE

CAPÍTULO III – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3.2 Análise e discussão dos resultados sincrônicos do PE

Como havíamos salientado na seção 2.4 do Capítulo II, analisamos todos os dados de construções com variação na concordância verbal de terceira pessoa, extraídos de cada uma das dezesseis entrevistas que fazem parte da nossa amostra do PE, perfazendo um total de 807 dados.

Do total de dados obtidos, 742 apresentaram marcas de concordância nos verbos, correspondendo a 91,95% da amostra, e 65 dados, 8,05% do total, apresentaram a variante zero de plural nos verbos, como mostra o gráfico 3.18 a seguir.

Concordância 91,95%

Não concordância

8,05%

Gráfico 3.18: Distribuição geral dos dados do PE

A seguir, apresentamos o mapeamento da variação na concordância encontrada em cada uma das localidades do PE investigadas. O mapa 3.2 retrata as freqüências de uso da CV na fala de cada informante que faz parte da nossa amostra.

Mapa 3.2: Distribuição da marcação da concordância verbal no PE

3.2.1 Variáveis lingüísticas

Consideramos as seguintes variáveis lingüísticas na nossa análise: saliência fônica, paralelismo formal, posição do sujeito em relação ao verbo, traço humano no sujeito, tipo de verbo e tipo de sujeito. Dentre estas variáveis, o Programa Goldvarb (2001) selecionou, por ordem de relevância: traço humano no sujeito, posição do sujeito em relação ao verbo e tipo de verbo94. As variáveis saliência fônica, paralelismo formal e tipo de sujeito não foram selecionadas95.

94

Considerando todas as variáveis controladas, o Programa Goldvarb (2001) selecionou ainda, em último lugar em ordem de relevância, a variável social idade/escolaridade que será discutida posteriormente. 95

Assim como para a amostra do PB, também fizemos rodadas separadas com informantes da zona urbana e informantes da zona não-urbana da nossa amostra do PE, com o objetivo de confirmar os resultados que consideraram todos os informantes, que serão discutidos nesta seção. Na rodada só com informantes da zona não-urbana, o Programa Goldvarb (2001) selecionou os seguintes grupos de fatores, por ordem de relevância: posição do sujeito em relação ao verbo, traço humano no sujeito e redes sociais (mobilidade). Na rodada com informantes da zona urbana, os seguintes grupos de fatores foram selecionados, por ordem de relevância: traço humano no sujeito, posição do sujeito em relação ao verbo e idade/escolaridade.

Vamos agora aos resultados e à discussão das variáveis lingüísticas.

3.2.1.1 Traço humano no sujeito

O grupo de fatores traço humano no sujeito foi selecionado como estatisticamente relevante em primeiro lugar.

Confirmando nossa hipótese, quando a sentença possuía um SN [+humano], a probabilidade à concordância verbal foi maior (96% de freqüência e .61 de peso relativo) do que em sentenças com SNs [-humanos] (71% de freqüência e .11 de peso relativo), como mostram os resultados na tabela 3.18.

Traço humano no sujeito Apl/Total96 % PR

SN [+humano] 632/653 96% .61

SN [-humano] 110/154 71% .11

Total 742/807 91%

Tabela 3.18: Freqüência e probabilidade de CV no PE, segundo a variável traço humano no sujeito

Nossos resultados confirmam os resultados encontrados em Naro e Scherre (2007) para textos escritos do PE antigo com o traço [+ humano] do sujeito condicionando a marcação da concordância verbal.

Podemos observar, nos resultados do gráfico 3.19 a seguir, que, no cruzamento entre traço humano e diazonalidade, o ambiente mais favorecedor da CV é o traço [+ humano] na zona urbana e o menos favorecedor é o traço [- humano] na zona não urbana. 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% SN [+humano] SN [-humano]

Traço humano no sujeito

P e rc e n tu a l

Zona não-urbana Zona urbana

Gráfico 3.19: Freqüência de CV no PE, segundo o cruzamento entre as variáveis traço humano no sujeito e diazonalidade

96

Assim como salientamos para os resultados do PB, consideramos em todas as tabelas o percentual fornecido pelo Programa Goldvarb que parece não aplicar a regra de arredondamento decimal.

3.2.1.2 Posição do sujeito em relação ao verbo

A posição do sujeito em relação ao verbo foi o segundo grupo de fatores selecionado pelo Goldvarb. Podemos observar, através dos resultados apresentados na tabela 3.19, que a probabilidade de aplicação da regra de concordância foi maior quando o sujeito estava anteposto ao verbo, com 92% de freqüência e .56 de peso relativo, distanciando-se significativamente da posposição do sujeito, com 59% de freqüência e .18 de peso relativo, confirmando, desta forma, nossa hipótese.

Posição Apl/Total % PR

SN anteposto 354/381 92% .56

SN posposto 43/72 59% .18

Total 397/453 87%

Tabela 3.19: Freqüência e probabilidade de CV no PE, segundo a variável posição do sujeito em relação ao verbo

Nossos resultados indicam, como já evidenciado na análise do PB, que o sujeito quando posposto ao verbo passa a ser encarado como objeto pelo falante que não aplica a regra de concordância, já que não o considera sujeito da sentença.

Assim como fizemos na análise do PB, para confirmar os resultados apontados em Lemle e Naro (1977) e Scherre e Naro (1997) de que a não marcação da concordância verbal com sujeito posposto independe da escolaridade dos informantes, fizemos um cruzamento entre as variáveis posição e escolaridade, como podemos observar no gráfico 3.20, a seguir.

40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Ensino fundamental Ensino superior

Escolaridade P e rc e n tu a l SN anteposto SN posposto

Gráfico 3.20: Freqüência de CV no PE, segundo o cruzamento entre as variáveis escolaridade e posição do sujeito em relação ao verbo

Os resultados observados no gráfico 3.20, revelam que a marcação da concordância nos verbos é menor com SN posposto, tanto para os informantes com ensino fundamental, quanto para os informantes com ensino superior. Para os

informantes com ensino fundamental a queda da marcação do SN anteposto para o SN posposto é mais sensível, de 91% para 51%, já para os informantes com ensino superior a queda é menor, de 95% para 69%.

Vale ressaltar, ainda, o que Carrilho (2003) atesta para o PE no que se refere à relação entre concordância verbal e posição do sujeito, evidenciado no capítulo I, subseção 1.1.2. De acordo com a autora, a não-concordância verbal no PE aparece em contextos em que o constituinte ocupa posição pós-verbal. Nossos resultados confirmam também os resultados da pesquisa de Varejão (2006) com amostras de fala do PE e da pesquisa de Naro e Scherre (2007) com amostras de escrita do PE.

Observamos os resultados no gráfico 3.21, a seguir, para o cruzamento entre posição do sujeito e diazonalidade que, em relação ao SN anteposto, não há muita diferença entre zona urbana e zona não urbana, uma diferença de 2% de menos marca de CV na zona não urbana. No entanto, no que se refere ao SN posposto, a diferença é muito mais acentuada: 32% a menos de marcação da CV para a zona não-urbana em relação à zona urbana.

40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% SN anteposto SN posposto

Posição do sujeito em relação ao verbo P e rc e n tu a l

Zona não-urbana Zona urbana

Gráfico 3.21: Freqüência de CV no PE, segundo o cruzamento entre as variáveis posição do sujeito em relação ao verbo e diazonalidade

3.2.1.3 Tipo de verbo

O grupo de fatores tipo de verbo foi o terceiro a ser selecionado como estatisticamente relevante pelo Programa Goldvarb97.

97

Na rodada em que consideramos a construção verbo+se+ SN, o grupo de fatores tipo de verbo foi o primeiro a ser selecionado pelo Programa Goldvarb, que selecionou a posição do sujeito em segundo lugar, o traço humano em terceiro e a idade/escolaridade em quarto. No entanto, como queríamos uma amostra comparável a do PB e como não tínhamos dados dessa natureza nessa outra amostra, conforme salientamos no capítulo II, resolvemos não considerar tais dados; por isso, evidenciamos apenas os resultados nesta nota: verbo transitivo 319/325=98%, .76 p.r.; verbo intransitivo prototípico 57/58=98%, .77 p.r.; verbo intransitivo não-prototípico 12/13=92%, .41 p.r.; verbo inacusativo prototípico 41/45=91%, .37 p.r.; verbo inacusativo não-prototípico 154/167=92%, .41 p.r.; verbo cópula

Na tabela 3.20, a seguir, podemos observar os resultados para o tipo de verbo. O verbo cópula foi o ambiente que se mostrou menos favorecedor da marcação da concordância verbal, com 79% de freqüência e .28 de peso relativo.

Tipo de verbo Apl/Total % PR

Verbo transitivo 319/325 98% .60

Verbo intransitivo prototípico 57/58 98% .63

Verbo intransitivo não-prototípico98 12/13 92% .20

Verbo inacusativo prototípico 41/45 91% .54

Verbo inacusativo não-prototípico 154/167 92% .41

Verbo cópula 159/199 79% .28

Total 742/807 91%

Tabela 3.20: Freqüência e probabilidade de CV no PE, segundo a variável tipo de verbo

Nos gráficos a seguir, apresentamos o resultado do cruzamento entre a variável tipo de verbo e posição do sujeito em relação ao verbo, e tipo de verbo e traço humano no sujeito, evidenciando a relação existente entre os verbos inacusativos, a posposição do sujeito e o traço [- humano] do sujeito.

Os resultados no gráfico 3.22, a seguir, evidenciam que os verbos que apresentam a possibilidade de sujeito posposto, como os inacusativos e o cópula, têm freqüências menores, indicando o desfavorecimento da marcação da CV.

159/199=79%, .19 p.r.; construção verbo+se+SN 3/16=18%, .01 p.r.. Os dados de construção verbo +se+SN encontrados na amostra foram os seguintes: (1) fazia-se tipo umas marchas (PERCFVF04); (2) à véspera de Natal fazem-se as filhoses (PERCFVF04), (3) faz-se os bolos de natal (PERCFVS08), (4) faz- se os doces (PERCFVS08), (5) mas no São João, no Santo António, fazem-se (PERCFVS08), (6) fazem- se (PERCFVS08), (7) ouve-se os passarinhos (PERCFJF12), (8) reúne-se comerciantes (PESIMVF01), (9) coze-se as batatas (PEBEMVF02), (10) coze-se as couves (PEBEMVF02), (11) à noite, come-se mais umas porcarias, umas rabanadas (PEBEMVF02), (12) come-se azeitonas (PEBEMVF02), (13) no verão é melhor, apanha-se os polvos (PECAMVF03), (14) junta-se outras pessoas (PECAMVF03), (15) não sei se no Brasil diz-se asneiras (PECAFVS07), (16) elas não quero sacrificar, pois de manhã sei como é, pois custa-se a levantar (PECAFJF11). Vale ressaltar que dos 16 dados encontrados, 14 são de informantes mais velhos, o que parece indicar que essa construção também já não é freqüente na fala dos mais jovens. 98

Vale ressaltar que os resultados dos intransitivos não-prototípicos apresentaram alta freqüência de não concordância com resultados bastante semelhantes aos dos inacusativos não-prototípicos e aos dos inacusativos prototípicos, no entanto, se comparados aos intransitivos prototípicos e aos transitivos a freqüência da marcação desses verbos é baixa.

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Verbo transitivo Verbo intransitivo prototípico Verbo intransitivo não- prototípico Verbo inacusativo prototípico Verbo inacusativo não-prototípico Verbo cópula Tipo de verbo P e rc e n tu a l SN anteposto SN posposto

Gráfico 3.22: Freqüência de CV no PE, segundo o cruzamento entre as variáveis tipo de verbo e posição do sujeito em relação ao verbo

Nos resultados do gráfico 3.23, podemos observar que os verbos inacusativos e o cópula com sujeito com traço [- humano] são os que apresentam as menores freqüências de concordância verbal. 0% 20% 40% 60% 80% 100%

Verbo transitivo Verbo intransitivo prototípico Verbo intransitivo não- prototípico Verbo inacusativo prototípico Verbo inacusativo não-prototípico Verbo cópula Tipo de verbo P e rc e n tu a l SN [+ humano] SN [- humano]

Gráfico 3.23: Freqüência de CV no PE, segundo o cruzamento entre as variáveis tipo de verbo e traço humano no sujeito

Observando os resultados do gráfico 3.24, percebemos que o cruzamento entre o tipo de verbo e a diazonalidade indica diminuição da marcação da CV na zona não urbana com mais acento para os verbos inacusativos.

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Verbo transitivo Verbo intransitivo prototípico Verbo intransitivo não- prototípico Verbo inacusativo prototípico Verbo inacusativo não-prototípico Verbo cópula Tipo de verbo P e rc e n tu a l

Zona urbana Zona não-urbana

Gráfico 3.24: Freqüência de CV no PE, segundo o cruzamento entre as variáveis tipo de verbo e diazonalidade

3.2.1.4 Saliência Fônica

O grupo de fatores saliência fônica não foi selecionado pelo Programa Goldvarb; por isso, apresentamos apenas os resultados percentuais.

Nossos resultados vão de encontro tanto com as nossas expectativas, quanto com os resultados de outros estudos que haviam controlado este grupo de fatores no PE (VAREJÃO, 2006; NARO e SCHERRE, 2007), com a oposição não-acentuada favorecendo mais a presença de marcas explícitas de plural nos verbos (93% de freqüência) do que a oposição acentuada (90% de freqüência), como podemos observar os resultados na tabela 3.21, a seguir com os fatores do nível 1 e do nível 2 amalgamados99.

Saliência Fônica Apl/Total %

Nível 1: Oposição não-acentuada 365/392 93%

Nível 2: Oposição acentuada 377/415 90%

Total 742/807 91%

Tabela 3.21: Freqüência de CV no PE, segundo a variável saliência fônica com amálgama dos fatores do nível 1 e nível 2

Agora observemos a tabela 3.22, que traz os resultados com as três categorias do nível 1 separadamente, assim como as três categorias do nível 2.

99

Acreditamos que nossos resultados talvez indiquem que a escala da saliência fônica no PE tenha suas particularidades e seja diferente da escala do PB em função da pronúncia distinta nessas duas variedades do português ou em função das diferenças relacionadas ao valor social das estruturas sintáticas com cópula nas duas variedades. Neste trabalho, não faremos uma análise considerando a pronúncia, mas traremos algumas reflexões sobre a sintaxe dessas construções no capítulo IV, a partir de uma nova rodada estatística dos dados do PE.

Nível 1: Oposição não-acentuada Apl/Total %

a. não envolve mudança na qualidade da vogal na forma plural

62/66 93%

b. envolve mudança na qualidade da vogal na forma plural

232/251 92%

c. envolve acréscimo de segmentos na forma plural 74/75 94%

Nível 2: Oposição acentuada Apl/Total %

a. envolve apenas mudança na qualidade da vogal na forma plural

73/79 92%

b. envolve acréscimo de segmentos sem mudanças

vocálicas na forma plural 154/159 96%

c. envolve acréscimos de segmentos e mudanças diversas na forma plural

150/177 84%

Total 742/807 91%

Tabela 3.22: Freqüência de CV no PE, segundo a variável saliência fônica

Como podemos verificar, os fatores pertencentes ao nível 1, oposição não- acentuada, apresentaram resultados percentuais bastante próximos. Na categoria a, temos 93% de marcação da CV; na categoria b, 92%; e na c, 94%. No nível 2, a categoria a apresentou 92% de marcação da CV; a categoria b, 96% e a c apresentou o menor percentual de marcação da CV entre todas as categorias, inclusive se comparada às categorias do nível 1, com 84% de freqüência.

Acreditamos que a diminuição da marcação da CV na categoria c do nível 2 se deva ao considerável número de verbos cópula (é/são) que apresentaram, conforme discussão anterior, no item 3.2.1.3, desfavorecimento da marcação da concordância nestes verbos.

Como pudemos constatar através dos resultados da tabela 3.22, houve inversão entre a categoria b e a categoria c do nível 2, apontada anteriormente. No entanto, diferentemente dos resultados do PB, observamos que essa inversão ocorre na zona urbana, como podemos observar nos resultados do gráfico 3.25, a seguir. Na zona não urbana, as freqüências são menores em todos os fatores, menos no nível 2c, que são os pares mais salientes. O que parece ocorrer no PE é que esses pares, embora salientes, não parecem apresentar estigma social.

60% 70% 80% 90% 100%

Nível 1a Nível 1b Nível 1c Nível 2a Nível 2b Nível 2c Saliência P e rc e n tu a l

Zona não-urbana Zona urbana

Gráfico 3.25: Freqüência de CV no PE, segundo o cruzamento entre as variáveis saliência fônica e diazonalidade

A seguir, apresentamos os resultados do cruzamento entre a variável saliência fônica e a escolaridade, para verificarmos se há influência dos anos de escolarização dos falantes na nitidez da escala da saliência, como comprovado em Scherre e Naro (1997).

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Nível 1a Nível 1b Nível 1c Nível 2a Nível 2b Nível 2c Saliência P e rc e n tu a l

Ensino fundamental Ensino superior

Gráfico 3.26: Freqüência de CV no PE, segundo o cruzamento entre as variáveis saliência fônica e escolaridade

O que os resultados do gráfico 3.26 parece evidenciar é que, para essa amostra do PE, a escala da saliência não se mostrou significativa, nem para os falantes com nível fundamental, nem para os falantes com nível superior.

3.2.1.5 Paralelismo Formal

O paralelismo formal, no nível clausal, não foi selecionado como significativo na análise do Programa Goldvarb; por isso, salientaremos os resultados em termos percentuais.

Os resultados atestaram nossas hipóteses. Como podemos observar na tabela 3.23, a marcação da concordância foi maior para o fator sujeito nulo com anafórico com presença da forma de plural explícita, apresentando 97% de freqüência. O fator presença

da forma de plural explícita no último elemento apresentou 87% de marcação da CV e o fator que apresentou a menor freqüência de CV foi presença da forma zero de plural no último elemento com 80% de freqüência, como previam nossas expectativas.

Paralelismo Formal Apl/Total %

Presença da forma de plural explícita no último elemento

398/454 87%

Presença da forma zero de plural no último elemento

4/5 80%

Sujeito nulo com anafórico com presença da forma de plural explícita

340/348 97%

Total 742/807 91%

Tabela 3.23: Freqüência de CV no PE, segundo a variável paralelismo formal

Vale ressaltar que não foram encontrados dados na amostra do PE para os fatores: presença de numeral terminado em /s/ no último elemento, presença de numeral não terminado em /s/ no último elemento, sujeito nulo com sujeito anafórico com presença da forma de plural zero no último elemento, sujeito nulo com sujeito anafórico com presença de numeral terminado em /s/ no último elemento e sujeito nulo com sujeito anafórico com presença de numeral não terminado em /s/ no último elemento. Desta forma, estes fatores não puderam ser considerados na análise.

Nos resultados do gráfico 3.27, a seguir, observamos que a zona não urbana apresenta freqüências menores de marcação da CV para as três categorias consideradas para o grupo paralelismo formal.

60% 70% 80% 90% 100%

Presença da f orma de plural explícita no último elemento

Presença da forma zero de plural no último elemento

Sujeito nulo com anafórico com presença da forma de plural

explícita Paralelismo formal P e rc e n tu a l

Zona não-urbana Zona urbana

Gráfico 3.27: Freqüência de CV no PE, segundo o cruzamento entre as variáveis paralelismo formal e diazonalidade

3.2.1.6 Tipo de sujeito

Embora o grupo de fatores tipo de sujeito não tenha sido selecionado como estatisticamente relevante, vale salientar os resultados em termos percentuais.

Em nossa análise, confirmando nossas expectativas, o sujeito pronome pessoal teve o maior percentual de marcação da CV, 98%, seguido pelo sujeito nulo, 97% e pelo sujeito pronome indefinido amalgamado ao quantificador, 93%, o que não esperávamos, em função da nossa hipótese de que ocorreriam mais à direita do verbo desfavorecendo as marcas de CV. Os fatores foram amalgamados em função dos resultados (93% de CV para os indefinidos e também para o quantificador). O SN + pronome relativo (que) apresentou um percentual um pouco menor (90%) de concordância, mas ainda assim alto, o que confirmou nossa hipótese. Os sujeitos pleno simples, pleno nu e pleno composto foram os que menos preservaram as marcas de CV, com 84%, 60% e 40% de marcação, respectivamente, confirmando nossas expectativas para estes fatores.

Podemos observar estes resultados na tabela 3.24, a seguir.

Tipo de sujeito Apl/Total %

Sujeito pronome pessoal 89/90 98%

Sujeito nulo 341/350 97%

Sujeito pronome indefinido + quantificador

29/31 93%

SN + pronome relativo (que) 77/85 90%

Sujeito pleno simples 196/231 84%

Sujeito pleno nu 6/10 60%

SN pleno composto 4/10 40%

Total 742/807 91%

Tabela 3.24: Freqüência de CV no PE, segundo a variável tipo de sujeito

Embora os resultados não tenham confirmado nossas expectativas na totalidade em termos da marcação da CV, podemos observar no gráfico 3.28, que os resultados confirmam nossas hipóteses, baseadas em Zilles (2000), no que se refere aos percentuais de posposição relacionados aos tipos de sujeito da nossa amostra. Os sujeitos pleno nu, pleno composto, pronome indefinido + quantificador e pleno simples apresentaram os seguintes percentuais de posposição do sujeito com 70%, 40%, 41% e 20%, respectivamente. Já os sujeitos pronome pessoal e SN + pronome relativo (que) não apresentaram dados de posposição. É interessante notar que, embora o sujeito pronome

indefinido + quantificador tenha apresentado 41% de posposição do sujeito, também tenha apresentado alto índice de marcação da concordância, 93%.

0% 0% 41% 20% 40% 70%

Sujeito pronome pessoal SN + pronome relativo (que) Sujeito pronome indef inido + quantificador Sujeito pleno simples SN pleno composto Sujeito pleno nu T ip o d e s u je it o Percentual

Gráfico 3.28: Freqüência de posposição do sujeito no PE, segundo a variável tipo de sujeito

Verificamos que há uma diferença maior na freqüência de marcação da CV entre a zona urbana e a zona não urbana no sujeito pleno nu.

0% 20% 40% 60% 80% 100% Sujeito pronome pessoal

Sujeito nulo Sujeito pronome indefinido + quantif icador SN + pronome relativo (que) Sujeito pleno simples Sujeito pleno nu SN pleno composto Tipo de sujeito P e rc e n tu a l

Zona não-urbana Zona urbana

Gráfico 3.29: Freqüência de CV no PE, segundo o cruzamento entre as variáveis tipo de sujeito e diazonalidade

3.2.2 Variáveis sociais

Dentre as variáveis sociais controladas, sexo, idade/escolaridade e redes sociais (mobilidade e localismo), somente a variável idade/escolaridade foi selecionada como estatisticamente relevante pelo Programa Goldvarb. A variável foi selecionada em quarto lugar.

3.2.2.1 Idade/escolaridade

Como evidenciamos anteriormente, este foi o único grupo de fatores sociais selecionado como estatisticamente relevante.

Os resultados mostram que, no ensino superior, os mais jovens preservam mais a CV (94% de freqüência e .61 de peso relativo) do que os mais velhos (92% de freqüência e .59 de peso relativo). Já no ensino fundamental, os informantes mais velhos preservam mais as marcas de CV (90% de freqüência e .49 de peso relativo) do que os mais jovens (89% de freqüência e .30 de peso relativo), como podemos observar na tabela 3.25, a seguir. Idade/escolaridade Apl/Total % P.R. Jovem/ensino superior 204/216 94% .61 Velho/ensino superior 158/170 92% .59 Jovem/ensino fundamental 171/191 89% .30 Velho/ensino fundamental 209/230 90% .49 Total 742/807 91%

Tabela 3.25: Freqüência e probabilidade de CV no PE, segundo a variável idade/escolaridade

Podemos observar, no gráfico 3.30, a seguir, o cruzamento entre idade/escolaridade e diazonalidade. Os informantes com nível superior da zona não urbana, tanto os mais jovens, quanto os mais velhos, tendem a menor uso de marcação da CV em comparação aos informantes da zona urbana. Já os informantes com nível