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CAPÍTULO II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA

2.6 A variável dependente e as variáveis independentes

2.6.3 Os grupos de fatores extralingüísticos

2.6.3.1 Os grupos de fatores sociais

Embora não tenhamos levado em conta este grupo de fatores na composição da nossa amostra, pois o número de células ficaria maior do que o desejado e também por não ter sido significativo em nosso estudo anterior (MONGUILHOTT, 2001), a coleta se deu aleatoriamente com ambos os sexos. Desta forma, este grupo de fatores foi controlado de forma não sistemática.

Esperamos encontrar, nos resultados, marcação da CV maior por parte das mulheres, por elas se mostrarem mais receptivas à atuação normatizadora da escola, como apontam Oliveira e Silva e Scherre (1996) para o PB, tendendo ao uso das formas mais prestigiadas.

2.6.3.1.2 Idade/escolaridade71

Em relação a este grupo de fatores, controlaremos as seguintes faixas etárias e níveis de escolaridade:

• 04 falantes com idade entre 15 e 36 anos com ensino fundamental (da 4ª. série completa a 9ª. série completa) – jovem/ensino fundamental;

• 04 falantes com idade entre 22 e 33 anos com ensino superior concluído72 – jovem/ensino superior;

• 04 falantes com idade entre 48 e 74 anos com ensino fundamental (de 1ª. a 4ª. série incompleta a 7ª. série completa) – velho/ensino fundamental;

• 04 falantes com idade entre 45 e 76 anos com ensino superior concluído73 – velho/ensino superior.

Nossas hipóteses em relação às duas faixas etárias controladas, jovens e velhos, relacionam-se à diazonalidade. Acreditamos que os jovens da zona não urbana preservem mais as marcas de CV do que os velhos desta mesma zona. Já no que se refere à zona urbana, acreditamos que os mais velhos preservem mais a CV.

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Os grupos de fatores idade e escolaridade foram controlados conjuntamente. 72

Apenas uma informante do PE não havia concluído o curso superior, faltava um ano para a conclusão. 73

Os informantes do PB de 45 a 76 anos apresentam ensino superior concluído, no entanto, dos quatro informantes do PE apenas um apresenta o ensino superior concluído, os demais têm até o 12º ano. Como tivemos dificuldade em encontrar pessoas desta faixa etária com ensino superior concluído, resolvemos considerar o ensino médio destes informantes, já que contrastam com os informantes com ensino fundamental, o que era nosso objetivo. Em anexo, encontra-se o quadro 2.2 com o perfil de cada informante separadamente.

Nossa expectativa, em relação à zona não urbana, baseia-se em Baxter (1995) e Lucchesi (2006). Baxter, citando o trabalho de Bortoni (1985), aponta que, em dialetos rurais, os jovens usam mais marcas de plural do que os falantes mais velhos (op. cit., p.85). Lucchesi salienta tal relação (cf. apontado no capítulo I, seção 1.1.1.2), baseando- se nos resultados de Nina (1980), Vieira (1997) e Silva (2003). O autor aponta que a marcação da CV aumenta conforme a idade do falante diminui. Em relação à zona urbana, baseamo-nos também em Lucchesi (2006), que evidencia, a partir do trabalho de Graciosa (1991), que há queda na marcação da CV na fala dos mais jovens.

No que se refere à escolaridade, esperamos que, quanto maior o nível de escolaridade, maior seja a probabilidade de o falante utilizar marcas mais formais, no caso do nosso estudo a marcação da concordância verbal, pois a escola é um dos ambientes que privilegia a norma lingüística utilizada na escrita e, de acordo com estudos variacionistas envolvendo a variável anos de escolarização, existe correlação entre formas lingüísticas consideradas padrão (ensinadas na escola e reforçadas em outros ambientes - como TV, jornais) e maior escolaridade.

2.6.3.1.3 Redes sociais

Algumas pesquisas incluindo grupos de fatores que vão além dos aspectos do macro-nível (idade, sexo, escolaridade e profissão) têm apresentado resultados interessantes. Um desses grupos de fatores visa ao controle das redes sociais com o intuito de reconhecer as características mais específicas dos indivíduos e da comunidade, através de questões etnográficas e de práticas sócio-econômico-culturais.

As redes sociais são definidas por Milroy (2003) como os relacionamentos criados pelas pessoas para suprir as dificuldades da vida cotidiana. Tais redes podem variar de um indivíduo para outro e ser constituídas por ligações de diferentes tipos e intensidades. Chambers (1995) indica que os elementos que enriquecem as redes são basicamente os mesmos em todo o lugar, sejam eles, o grau de parentesco, a ocupação (ambiente de trabalho) e a amizade. Milroy (2003) distingue, ainda, redes de primeira e de segunda ordem. Constituem as redes de primeira ordem a família e os amigos; e as de segunda são compostas por pessoas com as quais o indivíduo passa boa parte do tempo, no entanto, não confia a elas segredos ou conselhos. Ainda de acordo com Milroy (2003), estudos feitos por Labov (1963) e Cheshire (1982) mostraram que

quanto mais integrado o sujeito está a uma rede, mais freqüentemente tende a usar variantes locais/regionais.

Buscamos, no nosso trabalho, analisar a rede social dos informantes com o intuito de compreender o fenômeno de variação da concordância verbal de terceira pessoa do plural por permitir investigar as diferentes práticas sociais de que nossos informantes fazem parte.

Inicialmente analisamos as redes em termos da densidade e da plexidade das relações entre os informantes. Em seguida, analisamos em termos do localismo e da mobilidade dos informantes. Para definirmos a densidade, a plexidade, o localismo e a mobilidade dos informantes, coletamos informações durante as entrevistas (algumas das questões que surgiram ao logo das entrevistas estão no quadro 2.3, em anexo) e fizemos também questionamentos que fazem parte das suas fichas sociais74.

Em relação à densidade e à plexidade, temos como hipótese que os informantes da zona não urbana fazem parte de redes sociais mais densas e multiplexas, o que possibilita o uso de padrões valorizados localmente, menos formais, no caso do nosso estudo, a não marcação da concordância verbal, diferentemente dos informantes que fazem parte da zona urbana que tendem a apresentar redes menos densas e uniplexas, por isso, tendem ao uso de padrões mais valorizados socialmente, no caso, a marcação da concordância verbal.

No que se refere ao localismo e à mobilidade, acreditamos que os indivíduos que se identifiquem com a sua localidade apresentem tendência à valorização da cultura local, bem como dos usos lingüísticos locais, diferentemente dos indivíduos que não se identifiquem com a localidade da qual fazem parte, que tenderão a adotar padrões lingüísticos externos. Quanto à mobilidade, esperamos que os indivíduos que apresentem alta mobilidade adotem padrões lingüísticos mais valorizados socialmente para que possam ser aceitos nas diversas instâncias que percorrem, diferentemente daqueles indivíduos que apresentarem pouca mobilidade, que deverão tender ao uso dos padrões valorizados localmente.

Para que pudéssemos categorizar os dados para submetê-los às rodadas estatísticas, definimos dois subfatores para as redes sociais: o localismo e a mobilidade. Em relação ao localismo, qualificamos se os indivíduos que fazem parte da amostra eram bem integrados ao bairro em que moravam (se participavam das atividades do bairro, se gostavam de morar no bairro), mais ou menos integrados (se participavam das

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atividades do bairro, mas gostariam de residir em outro bairro, ou se gostavam de residir no bairro, mas não participavam das atividades que o bairro oferecia), e se pouco integrados (não gostavam de morar no bairro, nem participavam de atividades no bairro). No que se refere à mobilidade, controlamos também três fatores, se o indivíduo tinha pouca mobilidade (se trabalhava ou estudava no bairro, se fazia compras no bairro), se tinha média mobilidade (se trabalhava ou estudava no bairro, mas fazia compras fora do bairro) ou se tinha muita mobilidade (trabalhava ou estudava fora do bairro).

2.6.3.2 Os grupos de fatores geográficos75: